Pequeno e rápido explicador *.

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A propósito da febre de dicionários que assola o país, aqui vão algumas perolas de significados e citações:

HISTÉRICO:
Do grego hysterikos, referente ao útero. Adjetivo. 1. Relativo à ou próprio da histeria. 2. Quem tem histeria. 3. Do popular irritadiço, zangadiço, nervoziço.
Citação: “Chamar-se de histérico o indivíduo que ainda consegue indignar-se com as mazelas, as hipocrisias, as injustiças, e as safadezas deste mundo, longe de ser um insulto, é grande louvação”.Trecho do discurso proferido pelo Senador Afonso Arinos em comemoração ao dia do Jornalista em 1946.

DESINFORMADO:
Adjetivo. 1. Que, a respeito de determinada coisa não está informado ou está mal informado. 2. Diz-se daquele que foi mal informado. 3. A quem foi prestada informação falsa.
Citação: “Dizer que um cidadão é desinformado não diminui a culpa do detentor da notícia. Mal formado ou deformado, é normalmente aquele que detentor de um poder maior, sofisma, frauda e ilude, semeando notícias falsas, fazendo proliferar a mentira, terreno fértil da corrupção”.Do mesmo discurso do Senador Afonso Arinos citado acima.

BURRO:
1.Sinônimo de asno, jerico, jumento. Brasileirismo nordestino, jegue. 2. Mu. 3. Adjetivo. Individuo bronco, curto de inteligência, estúpido, imbecil.
Citação: “…E o burro, como todo prepotente, pensando na impunidade, mudou a colocação das peças no tabuleiro de xadrez, esquecendo-se que todo jogo é anotado lance a lance.” Do livro A Procura de Bob Fischer de George Greenhood.

DESONESTO:
Prefixação, des + honesto = não honesto. 1. Diz-se do indivíduo que não é honesto, que não tem qualidade ou caráter honesto. 2. Sem honra, sem dignidade, sem probidade, sem decoro, sem decência. 3. Aquele que não é probo, não é conveniente, não é virtuoso, não é íntegro.
Citação: “…Desonesto mesmo, não é só aquele que rouba. Não é só aquele que ontem nada tinha e hoje tudo tem, mesmo sem ter trabalhado, herdado, ou ganho nas apostas. Desonesto não é apenas aquele que enricou diminuindo o soldo das legiões ou desviando o pecúlium das viúvas. Não é só aquele que fraudou, corrompeu e que burlou. Desonestos são principalmente aqueles que dentre vós aceitam tudo isso.” Discurso de Caio Graco no Senado Romano em 78 AC.

MOLEQUE:
Do Quibundo, mu ’ leke, menino. 1. Negrinho. 2.Indivíduo sem palavra ou sem gravidade. 3. Canalha, patife, velhaco. 4. Brasileirismo, menino de pouca idade. 5. Adjetivo engraçado, pilhérico, trocista, jocoso. Aquele que vive de molecagens.
Citação: “Todo mundo, um dia já fez das suas, já colou chiclete sobre o assento da cadeira do cinema, já colocou laxante no ponche da festa em que entrou de penetra ou já esvaziou os pneus do carro do namorado chato da irmã mais velha. Mas há aqueles que não só fizeram tudo isso ao seu tempo, mas que continuaram fazendo durante toda a vida. Há aquele que não conseguiu se livrar do seu moleque primordial”.Do livro, Infância: A Raiz dos Problemas, do Psicólogo Walmir Penteado Mourão.

* Em Portugal, os portugueses chamam dicionário de explicador. Enquanto isso aqui no Brasil, meias palavras bastam.

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Os pichadores que se pichem.

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Apresentei na Assembléia Legislativa um projeto de lei que normatiza a venda de tinta spray. Tomei essa iniciativa como forma de ajudar a combater os efeitos danosos das pichações. Nem tanto para minha surpresa, mas principalmente para a definitiva constatação de que realmente existem pelo menos dois tipos de lei, a lei justa e necessária e outra legal e nem sempre eficaz, a Comissão de Constituição e Justiça da ALM, baseando-se apenas no ponto de vista processual, deu parecer contrário ao meu projeto.
Consumir drogas é crime, logo cheirar cola de sapateiro, à luz da lei vigente, é crime. Criaram-se então leis para dificultar que uma pessoa cheire cola de sapateiro. Seguindo o mesmo raciocínio, fazer pichações é crime, mas será possível que não se pode criar uma lei para inibir o crime das pichações?
O espírito do projeto não é outro senão o de contribuir para a preservação do nosso patrimônio, individual e coletivo, conservar monumentos históricos e obras de arte que são alvo fácil do vandalismo. Com a regulamentação da venda da tinta spray, pretendia-se desarmar os pichadores, pôr fim aos ataques dos vândalos, que emporcalham monumentos históricos e até prosaicas fachadas e muros de casas de pessoas simples.
Ora bolas! se é proibido bandido portar arma de fogo – e o cidadão respeitável também – como é que podemos permitir que um bandido, de outra espécie, porte uma lata de tinta spray, arma com a qual pode vir a ferir gravemente o patrimônio de alguém ou mesmo o patrimônio publico.
E aqui cabe contar-lhes uma história que aconteceu comigo mesmo: Uma vez, ao chegar no meu escritório, deparei com o muro totalmente emporcalhado por uma pichação. Mandei imediatamente retocar o muro. No outro dia ele amanheceu pichado novamente. Tive então uma idéia, um tanto maquiavélica, devo reconhecer, resolvi quebrar economicamente o vândalo, repintando o muro tantas vezes quantas fosse pichado, pois imaginei que deveria eu ter mais condições de comprar cal para caiar o muro que ele para comprar tinta para suja-lo. Foram quase duas semanas nessa lenga – lenga. Ele sujava, eu mandava limpar. Certa manhã, recebi um telefonema do vigia, o nosso muro não havia sido pichado. Tive uma maravilhosa sensação de vitória, havia vencido, não pelo cansaço, mas pela dificuldade econômica que impingi ao meliante. Estava tão satisfeito que larguei o que estava fazendo e fui ate lá, para ver com meus próprios olhos. Chegando lá constatei que o nosso muro realmente não estava pichado, mas fiquei furioso ao ver que o muro e a parede externa da casa do vizinho estava completamente rabiscada, e com certeza este não teria a mesma disponibilidade para enfrentar essa guerra suja, de tinta.
A pichação é um tipo de vandalismo cada vez mais freqüente e que cresce sob as barbas da polícia. Apresentei esse projeto como proposta de resistência à praga dos pichadores, para manter o vandalismo à distância, longe dos nossos muros e monumentos. A tinta spray, como bem se sabe, é a principal ferramenta das gangues de pichadores. A praga do spray hoje atormenta a maioria das cidades brasileiras. No Rio de Janeiro, as gangues sujaram até a cúpula da Igreja da Candelária e picharam o Cristo Redentor. Em São Paulo, a turma da sujeira também avança como uma epidemia. Em São Luís as gangues – pelo que fui informado – são dezenas e têm nomes estranhos, como GKP, Oi, GNC, GVF, Garotos do Anjo, dentre outras.
É bom que se ressalte que grafiteiro não é pichador. Os pichadores espalham mensagens que irritam pela poluição visual, o desrespeito ao patrimônio público e também por não fazerem nenhum sentido. Mas não é difícil entender os mecanismos que impulsionam esse festival de selvageria que enfeia as nossas cidades. De um lado, pode-se dizer que os adolescentes são assim mesmo, passam por aquela fase em que desafiam as regras da família e da sociedade. Entre os rapazes de boa família, rouba-se o carro do pai para disputar “pegas” em avenidas mal-iluminadas. Entre os filhos de famílias pobres, eles levam uma vida dura, sem dinheiro para se divertir – e encontram nesse tipo de “programa de índio”, digamos assim, uma espécie de emoção que costuma faltar em seu cotidiano difícil e modorrento.
Há uns 20 anos, um estudante que pichasse muros com slogans como “Diretas já”, por exemplo, estava exercendo seu elementar direito de expressão – proibido pela censura e pela polícia da época. Os pichadores de hoje são simples marmanjos arruaceiros que destroem impunemente o patrimônio público – por pura diversão. E ninguém faz nada.

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Os filhos de “seu” Bras

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Meses atrás quando assisti a excelente interpretação do ator Jamie Foxx no filme Ray, que narrava a vida do ícone da musica americana, Ray Charles, fiquei imaginando quantas histórias semelhantes temos em nosso país. A magnífica interpretação do musico cego valeu a Foxx o Oscar de melhor ator deste ano, quando foi protagonista de uma outra grande façanha. Concorreu também, ao premio de melhor ator coadjuvante por seu impecável desempenho em Colateral, onde contracena com Tom Cruise.
Mas o filme Ray não se sustenta apenas na interpretação de um brilhante ator. O filme é o resultado de anos de pesquisa e trabalho árduo, inclusive com a participação do próprio Charles, que pouco antes de falecer, pode comprovar a qualidade do trabalho comandado pelo diretor Taylor Hackford.
O filme mostra a trajetória do garoto negro, nascido num estado segregacionista, que ainda criança, aos sete anos, perde a visão, e que pelas mãos de um pianista de sua cidade, descobre a própria genialidade. Ray Charles foi um virtuoso autodidata, um destes magníficos gênios das artes que brotam de tempos em tempos.
Não preciso aqui comentar a grande capacidade e competência da indústria cinematográfica americana em produzir e contar historias. No caso de Ray não poderia ser diferente.
Digo isso para poder entrar no meu assunto de hoje. Quero aqui afirmar e comprovar que temos em nosso país histórias tão interessantes quanto às americanas ou européias. Histórias que só agora o nosso cinema, muito mais pobre e menos experiente que o deles, começa a mostrar. Histórias exemplares e universais das vidas de personagens anônimos ou famosos. Histórias que são preciosas pérolas da vivencia de nossa gente.
Vou dar-lhes apenas dois exemplos disso. Existem mais de cem filmes falando sobre Billy “The Kid”, personagem que até hoje não se sabe ao certo se existiu e o que aconteceu com ele. A vida de Billy “The Kid”, se historicamente comparada a Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, escorreria por entre nossos dedos, como as areias do tempo.
A historia do bandido brasileiro é bem mais substancial e mais rica do que a do facínora americano, mas mesmo assim existe apenas uma dúzia de filmes que tratam do advento do cangaço no sertão nordestino. Se Lampião tivesse nascido no Texas ou no Kansas seria conhecido e admirado em todo mundo, como Búfalo Bill ou Eyatt Erpp.

Outro exemplo disso é o mais recente sucesso do cinema nacional. Trata-se de 2 filhos de Francisco, uma primorosa produção que vem comprovar definitivamente o quanto os nossos personagens e as suas historias são ricas. O quanto elas merecem e precisam ser contatadas. E bem contadas como esta foi pelo diretor Breno Silveira.
Os filhos de seu Francisco Camargo, Mirosmar e Welson, ou melhor, Zezé e Luciano, nos dão conta e comprovam o quanto tem valor as histórias de vida dessa “brava gente brasileira”.
Quando vou ao cinema, não tenho a menor vergonha de rir ou de chorar. Na sala de exibição atinjo a minha plenitude como pessoa. Presto atenção, me revolto, afundo na poltrona, me envolvo na trama. Viajo. Vou, mas volto.
Na última quarta-feira fui ao cinema com Vanessa e Ian. A sala estava totalmente lotada, e o mais interessante é que a platéia era composta por pessoas das mais variadas idades, principalmente pessoas mais velhas. Tivemos que sentar separados, mas próximos o suficiente para ouvirmos o som abafado de nosso choro.
Sentei-me entre um garoto de uns dez anos e uma senhora de uns cinqüenta. Ele passou o tempo inteiro atento a tudo que acontecia na tela e às dicas que a avó, ao seu lado, lhe dava. Do outro lado, a senhora às vezes levava as mãos ao rosto e soluçava, talvez vendo ali um pouco de sua realidade, um pouco da realidade de pessoas como ela. Em determinado momento, depois de tanto ela quanto eu termos ido às lagrimas, nos entreolhamos, e ainda com os olhos mareados, sorrimos, como que reconhecendo um no outro, a maravilhosa capacidade humana de entender e de se emocionar.
Saí do cinema com um sentimento estranho. Um misto de orgulho por nossa capacidade de fazer bons filmes. De honra por pertencer a uma nação de valorosos Franciscos que se atrevem a sonhar com um futuro melhor para seus filhos. E uma profunda angustia por constatar a grande quantidade de outros Franciscos, que carregam consigo os fracassos que a vida impõe, uns por falta de oportunidade, outros por falta de condição de continuar lutando.
Assistir a Ray ou a 2 filhos de Francisco e não chorar não significa ser um forte, mas vê essas historias e não se emocionar, isso sim é tema para um filme. Um filme de ficção cientifica, sobre uma pobre criatura aleijada, desprovida de alma.

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Os dez do século

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A mãe, a princesa, o estudante, o ideólogo, o psicólogo,
o cientista, o estadista, o pacifista, o prisioneiro e o peregrino

Escolher a mulher mais bonita do século é fácil. Qualquer um escolhe. É uma simples questão de gosto. A minha é Ava Gardner, mas mesmo assim lembrei-me de pelo menos outras dez que poderiam com ela disputar. Agora, apontar as personalidades mais marcantes, mais importantes, mais influentes, deste século, são outros quinhentos. Primeiro porque cada pessoa tem sua própria perspectiva de julgamento. Segundo, que em se tratando de personagens que fizeram a história recente da humanidade, o que não faltam são nomes. Aliás, surgiram nas últimas semanas, listas e mais listas com um vasto arsenal destes personagens, nos principais veículos tanto da imprensa brasileira como da internacional.
Na avaliação que se faça de figuras históricas é preciso, sem dúvida, considerar o grau de idealismo, a honestidade pessoal e a coerência de propósitos – vale dizer, a correspondência entre pensamento e ação – de cada personagem. Não se pode deixar de lado, no entanto, o grau de acerto de sua visão de mundo, o descortino ou, ao contrário, o equívoco histórico fundamental em que tenham caído, por mais que se dispusessem ao sacrifício pela promoção de seu ideal. Fica claro para mim também, que esse tipo de escolha não deixa de ter grande influência da personalidade de quem escolhe. Na minha concepção, por exemplo, fazer listas é sempre injusto, porque toda lista tem, previamente, um tamanho definido e isso por si só, já é um fator excludente. Também sou daqueles que acha que o valor maior das pessoas, consiste no uso que elas fazem do seu direito mais individual e primordial, do seu livre arbítrio. Posto isso, declaro a minha característica de dar mais importância, àqueles que influenciaram nosso mundo e nosso tempo, mais por causa de suas ações, sejam individuais ou coletivas, motivados por sua escolha antropológica, sociológica, psicológica ou ideológica e menos por causa de suas atribuições profissionais ou funcionais. São os casos dos cientistas, artistas, esportistas e estadistas, pelos quais, apesar de ter grande admiração e profundo respeito, não fazem nada mais que suas obrigações, quando agem apenas e tão somente, no estrito cumprimento de seus deveres e das suas funções.
Madre Teresa de Calcutá, a mãe dos desamparados, pobres, miseráveis e doentes, mulher que encarnou os ensinamentos da bondade, distribuiu conforto aos desvalidos e provou que mais vale doar, mesmo tendo muito pouco, que negar, ficando com um tudo mesquinho. Lady Diana Spencer, princesa da Inglaterra, mãe do futuro rei. Rica e famosa, usou seu imenso prestigio e sua privilegiada posição na mídia internacional para agir na defesa de causas humanitárias. Sun Yat-Sen, que ninguém saberá de quem se trata se não for explicado: quem não se lembra daquelas imagens emocionantes transmitidas ao vivo, para todo o mundo, direto da praça da paz celestial em Pequim, onde um jovem chinês enfrenta uma linha de tanques, portando como armas, apenas seu grande espírito e aquele seu frágil corpo, posicionado como se quisesse tirar aquelas enormes e pesadas máquinas de guerra para uma contra-dança. Era ele. Por isso é que estes personagens são para mim alguns dos mais importantes de nosso século.
Coisa curiosa acontece no que diz respeito aos homens que ocupam o cargo mais importante da terra, a presidência dos Estados Unidos: pelo fato de que, essa posição já é muito importante, os seus ocupantes só se sobressaem verdadeiramente quando são realmente excepcionais ou então quando algum grande acontecimento ocorre durante o seu mandato. Por isso, quase todos os presidentes americanos deste século foram importantes, (Theodore Roosevelt, Truman, Eisenhower, Kennedy, Nixon, Carter, Reagan, Bush e Clinton), porém, o que realmente fez a diferença, no seu e no nosso contexto, foi Franklin Delano Roosevelt, o homem que, mesmo em cadeiras de rodas, tirou seu país da falência e ajudou o mundo a livrar-se do flagelo do nazismo.
Em todas as listas de que tomei conhecimento, há um destaque especial para Marx, Freud e Einstein, que são apontados como os três pensadores que moldaram o século 20. É bem verdade que cada um, à sua maneira, virou o mundo de cabeça para baixo. Eles merecem uma distinção especial. Marx, mudou o mundo pelo ponto de vista da ideologia política e social, a ditadura do proletariado. Freud, por sua vez, muda o nosso entendimento do homem como individuo e como parte da engrenagem psico-antropológica, visto através da psicanálise. Enquanto o cientista mais matemático, mais físico dessa lista, com certeza, o mais importe de todos os tempos, (mesmo assim, ficou reprovado duas vezes no ginásio) passa para historia como o maior humanista deste século, pois mais do que qualquer um, este homem, que tinha tudo para se distanciar de Deus e das explicações metafísicas da nossa existência, ao contrário, atesta que não há incompatibilidade entre a fé a ciência.
Três homens de cor, estão entre os mais importantes deste século. Três príncipes: um príncipe amarelo, defensor internacional dos direitos humanos e da não violência. Mahatama Gandhi; um príncipe negro dos africanos do sul. Nelson Mandela; um príncipe branco da Cúria Romana. Karol Wojtyla,ou melhor, João Paulo II .
Gandhi, na primeira metade do século e para todo o sempre, representa a esperança de todo aquele que busca a justiça através da paz e simboliza a imensa força que pertence aos mais fracos.
Mandela, que mesmo aprisionado por 28 anos, foi o líder – talvez o último de uma espécie em extinção, a dos heróis salvadores de seu povo – que, com seu carisma e obstinação, conseguiu desencadear em seu país um dos mais fascinantes processos políticos deste século: a desmontagem da apartheid, regime que dividia, por lei, negros e brancos na África do Sul.
Já o polonês Karol Wojtyla, o papa que um dia foi chamado de Atleta de Deus e que, depois de chegar à todo-poderosa Cúria Romana, teve papel importante na dissolução do comunismo. Primeiro papa não italiano depois de cinco séculos, João Paulo II chega ao alvorecer do ano 2000 com um fascínio todo especial porque, mesmo alquebrado pela doença e sob o peso da idade, ele insiste em ser o admirável peregrino do mundo, onde prega a paz a união e a fraternidade entre os povos.
Estes dez nomes, formam no meu entender, a galeria de maiores personagens de nosso tempo.
Que as pessoas do futuro procurem supera-los sempre, pois só essa tentativa já fará com que nosso mundo se torne um lugar melhor para se viver.
Um feliz ano 2000 para todos nós.

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O eterno amor de Pai

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Havia em Susa, nos tempos do rei Assuero e da rainha Esteér, um homem muito trabalhador e muito rico, que possuía muitas terras e muitos bens: um grande rebanho de cabras e ovelhas, muito gado, plantações de milho, trigo e cevada. Imensos pomares de uvas, maçãs, damascos, tâmaras e figos, além de vários empregados a seu serviço.
Abbdulla era o seu nome, e ele tinha um único filho, Haman, um herdeiro que, ao contrário do pai, não gostava de trabalho nem de compromissos. O que ele mais gostava era de jogar cartas, participar de festas como seus amigos e de ser bajulado por eles.
Abbdulla sempre dizia a Haman que alguns de seus amigos só estavam ao seu lado enquanto ele tivesse o que lhes oferecer, sem isso, o abandonariam. Os insistentes conselhos do pai lhe entupiam seus ouvidos, mas logo se ausentava sem dar o mínimo de atenção.
Um dia, o velho Abbdulla já com idade avançada, disse aos seus empregados para construírem um pequeno celeiro e dentro dele, ele mesmo, tratou de fazer uma forca e junto a ela, uma placa com os dizeres: “Para você Haman nunca mais desprezar as palavras de teu pai”.Mais tarde chamou o filho, levou-o até o celeiro e disse: “Meu filho eu já estou velho e, quando eu partir, você tomara conta de tudo que é meu e, eu sei qual será o teu futuro. Você vai deixar as terras nas mãos dos empregados e irá gastar todo o dinheiro com teus amigos. Irá vender os animais e os bens para se sustentar e, quando não tiver mais dinheiro, teus amigos vão se afastar de você e, quando você então não tiver mais nada, vai se arrepender amargamente de não ter me dado ouvidos. Foi por isto que eu construí esta forca. Ela é meu presente para você e quero que me prometa que se acontecer o que eu disse, você se enforcará nela”. O jovem sorriu, achando um absurdo, mas, para não contrariar o pai, já tão velho e alquebrado, prometeu, mas pensou consigo mesmo que isso jamais pudesse acontecer.
Passado algum tempo, Abbdulla morreu e seu filho Haman passou a ser o dono de tudo, mas, assim como seu pai havia previsto, o jovem gastou rapidamente o que o pai passara a vida toda construindo. Vendeu os bens, perdeu os falsos amigos e a própria dignidade.Desesperado e aflito começou a refletir sobre sua vida e viu que havia sido um grande tolo. Lembrou-se das palavras de seu pai e começou a chorar e dizer: “Ah, meu pai… Se eu tivesse ouvido os teus conselhos… mas agora é tarde demais.”
Pesaroso, o jovem levantou os olhos e, ao longe, avistou o pequeno celeiro. Era a única coisa que lhe restava. A passos lentos, se dirigiu até lá e entrando, viu a forca, a placa empoeirada e pensou: “Eu nunca segui as palavras do meu pai, não pude alegra-lo quando estava vivo, pelo menos desta vez, farei a vontade dele. Vou cumprir a minha promessa. Não me resta mais nada…”. Então ele pegou um banquinho e subiu nele, colocou a corda no pescoço e pensou: ”Ah, se eu tivesse uma nova chance…” Então se atirou do banco. Por um instante, sentiu a corda apertar sua garganta. Era o fim. Mas o braço da forca que seu pai fizera especialmente para ele era oco e quebrou-se facilmente e o rapaz caiu no chão. Sobre ele, caíram jóias, esmeraldas, pérolas, rubis, safiras e brilhantes, além de muitas moedas de ouro. A forca estava cheia de pedras preciosas, dinheiro e o mais importante, um bilhete deixado ali anos antes por seu velho pai: “Haman, meu querido filho, aí esta a nova chance que com certeza tu iras almejar. Saiba que teu pai te ama muito e para sempre”.

* Crônica adaptada de uma estória antiga, mas pautada em acontecimentos recentes.

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O assunto de hoje é amizade

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Certa vez, seguindo o conselho do mestre Shakespare, procurei não achar impossível, algo que só me parecia improvável.

Como já cantava o grande Milton Nascimento “amigo é coisa pra se guardar”. O difícil é fazer a diferença! De tudo. De quem é realmente amigo. De onde e de como guardar cada tipo de amizade que nos aparece.
Por favor, não encare a frase a seguir apenas como mais um clichê tolo. “Cada um de nós precisa desesperadamente de pelo menos um verdadeiro amigo”. Todo mundo sabe disso, não é?
Posso ser mal interpretado e até crucificado pelo que vou dizer agora, mas vou correr o risco: acredito que a amizade é um sentimento mais importante que o amor. O amor não é um sentimento puro, cristalino, sem misturas. É na verdade é um híbrido resultante da combinação de sentimentos unitários e indivisíveis. Se o amor fosse uma cor, não seria uma cor primária. Nem amarelo, nem azul, nem vermelho. O amor seria branco, cor que possui em si todas as outras cores, menos o preto que é a ausência de cor, a ausência de luz.
É muito fácil, senão provar, pelo menos defender essa tese. Sem amizade não há amor. Sem respeito não há amor. Sem compreensão não há amor. Sem lealdade não há amor. Sem companheirismo não há amor. Sem dedicação não há amor. Pelo menos no que diz respeito ao amor, suas partes são mais importantes que seu todo, pois sem uma única dessas partes, não há um todo. O que há é um pedaço, que até parece ser grande, mas que na verdade é pequenino e triste, porque esse amor se torna um sentimento equivocado e falso. É por isso que digo que a amizade é maior que o amor.
Existem vários tipos de amizades e de amigos. Existe aquele amigo que você conhece desde o colégio, na infância, e que depois nunca mais vê, mas que quando reencontra sente que há algo que os une. Esse algo ou é o companheirismo de uma época em que tudo na sua vida era ilusão e sonho, ou é a amizade que se consolidou em anos de convivência.
Existe aquele amigo que era como unha e carne conosco. Nossos companheiros de alcatéia, de jogos de basquete, e até dos embalos de sábado à noite. Amigos que a vida e suas circunstâncias trataram de afastar, mas se esse sentimento é verdadeiro, ele reverbera dentro de você quando reencontra o amigo.
Há os amigos de ocasião, os de precisão e os de opinião.
Há o amigo inesperado, que você jamais pensou que fosse tão amigo.
Há amigos que ligam toda semana apenas para almoçar ou para ir ao cinema. Com quem não aprofunda muito a amizade, mas sabe que há respeito, vontade de conviver e camaradagem.
Há o amigo que lhe dá o filho para batizar, não porque você é rico ou poderoso, mas porque acredita realmente que você possa vir a ser uma referência para aquela criança, para aquela pessoa.
Há um tipo de amigo que te ajuda a ganhar dinheiro, mas que, além disso, do dinheiro que ganham juntos, você sente que há uma coisa mais forte que os une. Uma coisa mais forte que o vil metal.
Há também um tipo de amigo muito estimado, por quem você daria seu braço direito, aquele amigo que não mediria esforços para vê-lo bem e feliz. É esse que importa. Por isso, muito cuidado para não ser injusto nem ingrato com os amigos que realmente importam.
Há amigos incondicionais como seus pais e seus irmãos, de quem você pode até discordar e divergir, com quem você pode até brigar, mas aos quais sempre que você recorrer, estarão do seu lado, para o que der e vier.
Chego à conclusão que eu sou um sujeito de muita sorte, pois tenho grandes e bons amigos. De pessoas pobres, simples e humildes até gente rica, sofisticada e poderosa. Mas eu não faço distinção de minhas amizades segundo esse critério. O critério em que me baseio para aferir uma amizade é o critério da reciprocidade. Sei que esse não é o melhor critério, mas é o meu, é o que aprendi a usar.
Ando meio ressabiado com certos tipos de amigos que tenho visto por aí. Há aquele a quem você sempre se dedicou, foi companheiro e defensor e lhe troca por outro, temporariamente mais bem colocado que você. Existe um que imaginamos ser amigo mesmo, e por um desentendimento besta, lhe atinge no lado pessoal. Ou então aquele outro que lhe era tão caro, em quem depositava tanta confia, a quem tanto se dedicava, quando você liga para ele buscando conforto, diz não poder lhe atender naquele momento, pois está assistindo sua telenovela favorita. Por fim, há aquele que ama canjica e lhe troca por um bom prato dela. Você se quiser, que espere essa canjica esfriar.
Amigo é realmente coisa pra se guardar do lado esquerdo do peito e nos dois hemisféricos do cérebro. Amigo de verdade.
Sabe o que deveria se fazer com certos tipos de amigos? Descartá-los como se faz com rei em jogo de burro ou ralá-los junto com o milho para fazer uma gostosa canjica. E eu odeio canjica.

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Notícias da estrada 2.

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Semana passada, comecei a listar algumas anotações que tenho feito enquanto viajo em campanha por esse Maranhão afora, nessa que se não é a mais esquisita é a mais curiosa de todas as campanhas políticas de que já participei e da que já tive noticia. Como a lista não era pequena, resolvi dividir em duas partes para que pudesse ser publicada como se fosse crônica.
Espero que você tenha gostado da parte um, no domingo passado. Ai vai a segunda parte dessas minhas notícias da estrada.
7- Outro dia, em São Domingos, tive a oportunidade de assistir a propaganda eleitoral gratuita na televisão, graças ao advento da Mirante Sat. Uma coisa chamou muito minha atenção: Alguns candidatos não apenas pedem os votos dos telespectadores, eles chegam mesmo a implorar. Só faltam se ajoelhar no vídeo. Foi ai que a minha propaganda apareceu na telinha da TV. Falei durante quase 30 segundos e nem pedi votos. Se depender da propaganda eleitoral na televisão para que alguém escolha em quem votar pra deputado… Meu amigo!!!… Vai ter muito voto nulo e branco. Nessa campanha, em termo de propaganda eleitoral, só meu amigo Bira do Pindaré tem conseguido se sobressair. Em minha opinião, ele foi o único que ganhou pontos na televisão e no rádio.
8- Dia desses, mamãe me levou para participar de uma palestra, a convite do padre Antonio, ali do seminário, no cantinho do céu, na Cohama. A principio fiquei preocupado, podia pôr tudo a perder. É que sou, ao meu modo, muito franco e direto, às vezes as pessoas não estão preparadas para isso. Mamãe deve ter ficado preocupada também. Pensou que pudesse dar algumas das minhas opiniões ecumênicas demais… Sabe como é… Mas no final deu tudo certo. Aquela reunião serviu para provar pra mim mesmo, definitivamente, que ser verdadeiro, consciente e coerente nos torna respeitáveis e até aceitáveis, inclusive para aqueles que não pensam da mesma forma que nós.
9- Estou nesse troço de política desde que me entendo por gente. Mais precisamente desde 1978 quando comecei a assessorar meu pai, então deputado federal. Em 82 concorri pela primeira vez a um cargo eletivo e de lá pra cá tenho aprendido muito sobre a vida, com a lida política. Talvez não seja a maior, mas com toda certeza, essa é uma das grandes lições que tive em termos de eleição. Falo a respeito da força que se tem de fazer numa reeleição. Quando você se candidata pela primeira vez, tudo é novidade, tudo é simples e fácil. Depois de quatro anos, mesmo se você tiver feito o seu trabalho direitinho, seu dever de casa, vai descobrir que se reeleger é fo…go!!! Tarefa Hercúlea. Não por que você foi um mau parlamentar, um político omisso, uma figura apagada. Não por isso, ou melhor, menos por isso, mas principalmente porque na reeleição você concorre é consigo mesmo, não é com outros candidatos. Você concorre é com as expectativas que você causou, com a idéia que as pessoas faziam de você antes e a idéia que tem de você agora.
Pra se reeleger com relativa tranqüilidade algumas coisas importantes devem ser observadas: 1 – Escolher uma legenda que alem de se identificar com suas metas possa facilitar e não dificultar sua reeleição. 2 – Se manter coerente. Fazer com que o que você tem na cabeça coincida com o que você tem nas mãos. Com que as suas intenções coincidam com suas ações. Alinhar, balancear e equalizar seu discurso e sua pratica política. 3 – Por fim e mais importante de tudo, não pensar, de modo algum, que os amigos, os correligionários, o povo de modo geral sejam bestas. Besta é quem pensa que o povo é besta. Portanto não andem por ai mentindo.
Agora, depois de reler o que acabei de escrever acima, descubro que se isso tudo for realmente verdade, reeleger-se é bem mais fácil do que eu mesmo imagino, e não é…
10-Tenho recebido muitos telefonemas de amigos, de jornalistas e até mesmo de vários candidatos, a respeito do levantamento prévio que sempre faço sobre o resultado das eleições. Isso foi algo que aprendi vendo e ouvindo alguns mestres dessa arte, e olha, eu tive bons professores! Alem de meu pai que era um crânio na aritmética, tive aulas grátis com um dos mestres da lógica, da sátira e da ironia, o velho professor Pedro Neiva de Santana. Colei grau, com louvor, no curso que me foi ministrado durante os anos em que Clodomir Milet foi amigo de meu pai. Aproveitei todas as oportunidades que tive de conversar e apreender os ensinamentos de Tácito Caldas. Convivi desde menino com Ivar Saldanha, Baima Serra, Raimundo Leal, Bento Neves, Celso Coutinho, Cid Carvalho… Depois tive a impagável oportunidade de ser amigo e colega de todos estes, com quem sempre procurei aprender. Por fim fiz minha pós-graduação com Edison Lobão e Zé Sarney. Mas nos últimos anos, tenho dividido com meu amigo Fernando, as melhores informações sobre o quadro político-eleitoral de nosso Estado. Sem a menor sombra de duvida é ele quem, hoje, mais conhece a nossa realidade eleitoral e política.
As contas são simples. É resultado de algum conhecimento da geopolítica municipal maranhense, somado a um conjunto de informações bastante confiáveis, aliado a um profundo senso de critica e auto-critica, levando-se muito em consideração o desenrolar da campanha, e os fatos novos que constantemente se apresentam.
Esse levantamento que fazemos não é uma profecia ou um vaticínio, é apenas um estudo do momento eleitoral, mas tem se mostrado correto em pelo menos em 85% dos casos.
Como dizia um dos mestres com quem aprendi um pouco do que sei de política, “é só uma questão de tempo, quem viver, verá!”

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Notícias da estrada 1.

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Há semanas tento escrever uma crônica sobre as peripécias da campanha política, mas a única coisa que consegui até agora foi fazer algumas anotações. São observações e reflexões sobre a vida de um candidato e curiosidades sobre a estrada. Quando digo estrada, falo num sentido mais amplo. Estrada como metáfora de vida, de suas circunstancias e de suas conseqüências.
Ai vão algumas destas anotações. Espero que assim, listadas, virem uma crônica boa de se ler e suficientemente boa pra se refletir um pouco sobre nosso atual momento político.
1- Ao sair de um torneio de futsal, depois de jogar num time que foi vice-campeão, fui chamado por um rapaz que me pediu que lhe presenteasse um par de tênis. O meu, aquele em que eu estava calçado. Fiquei pasmo, mas como tenho resposta pra quase tudo, imaginei faze-lo desistir de seu intento, dizendo que meu tênis não caberia em seus pés. Perguntei-lhe qual sua pontuação e ele disse calçar 41. Então disse a ele que como calço 45, meus tênis não iriam lhe servir. Com isso pensei que ele se desse por satisfeito, mas qual nada… “Não tem problema, me dê ele assim mesmo!” Só me restou então sorrir, entrar no carro e ir embora. Fui, mas me sentindo angustiado e constrangido. Era como se o meu valor, o valor do meu trabalho, se restringisse ao preço de um surrado par de tênis.
2- Nos últimos anos a prática da traição, que é comum na política, tornou-se ingrediente indispensável em nosso cardápio. Foi um tal de “filho” apunhalar “pai”, insultar “irmã”, rejeitar “irmão”, cuspir nos pratos em que comeu. A epidemia se alastrou de tal forma que chegou ao cumulo de ter esposa que desconheceu todos os compromissos para com o esposo. E olha que neste caso não estou falando simplesmente de fidelidade, mas de lealdade. E as coisas foram além. Políticos até então considerados sérios resolveram abandonar aqueles que sempre estiveram do seu lado, muitos em troca de benefícios para seus municípios, outros simplesmente a troco de ganhos pessoais. Foi um verdadeiro festival de punhaladas. Umas maiores, outras menores. Umas de canivete, outras de facão. Uma com aviso prévio, outras na mais completa surdina. Teve de tudo, pra todos os gostos. Teve até aquele prefeito que por muitos anos foi funcionário do gabinete de um determinado deputado, o mesmo deputado que sempre esteve ao seu ao lado, ao lado de sua família e de seus correligionários em todas as horas, e ainda assim o tal prefeito abandonou seu deputado da forma mais cruel que possa existir, para alguém que mais que um cabo eleitoral, era um verdadeiro amigo, quase um irmão.
Mas como diz o ditado, o que é do homem o bicho não come, a grande maioria dos que foram, já voltaram. Os que não chegaram, estão a caminho.
3- A legislação eleitoral vigente trás boas inovações como o fim do showmicio, mas em compensação proíbe aquela, que em minha opinião, é a melhor das propagandas. As camisetas. Com ela o cidadão veste a camisa e mostra a foto do candidato, seu nome e o seu numero. Em que isso pode configurar abuso de poder econômico? Já que carros de som, panfletagem, pichação de muros, cartazes de todos os tamanhos, tudo isso também configura gasto! De verdade!? Será que alguém vota num candidato apenas por ter ganhado uma camiseta!? Se um candidato tem mais recurso financeiro que outro terá mais carros de som, por exemplo. O mesmo aconteceria com as camisetas. A única justificativa é o fato de que a camiseta passa a ser propriedade do usuário. Mas se analisarmos do ponto de vista da propaganda, este é um pagamento bem menor que o efetuado àquelas pessoas que participam de bandeiraços, panfletagem ou carreatas! Falta conhecimento pratico aos teóricos “legisladores eleitorais” de nosso país.
4- A Academia Imperatrizense de Letras é com toda certeza, proporcionalmente, a instituição que mais contribuiu com candidatos nesta eleição. A Academia tem quarenta membros e seu presidente, o pastor Luis Porto, é candidato a vice-governador. Dr. Fiquene é candidato a suplente de senador. São candidatos a deputado estadual, alem deste humilde cronista que vos fala, os acadêmicos Adalberto Franklin, Domingos César e Edmilson Sanches. Para deputado federal, temos um pai de candidato, caso de Sálvio Dino. São 15% ou seja, seis de seus membros na disputa por uma das 64 vagas em jogo. Esta é mais uma prova de que o Estado do Maranhão do Sul é apenas uma questão de tempo, e quando vier, estará bem alicerçado.
5- O deputado Nagib Haickel, que entre outras coisas era meu pai, morreu faz treze anos e mesmo assim, aonde chego, todo mundo ainda se lembra dele. Dos bom-bons que ele distribuía de dentro de seu fusquinha vermelho, passando pelo jogo de futebol que irradiava nos palanques e terminando nas historinhas engraçadas que costumava contar nos comícios. Ninguém esqueceu dele nem dos milhares de empregos que ele distribuiu durante os quase vinte e oito anos em que foi deputado. Em Guimarães um grupo de barrigudos jogadores de futebol de meia idade se orgulha muito de seu atual preparo físico, alguns chegam a dizer que sua atual boa forma deve-se ao fato de que quando criança, saírem em desabalada carreira atrás dos bom-bons que Nagibão jogava. Em Matinha, uma senhora se lembra com orgulho de que, com o emprego de professora que meu pai lhe conseguiu em 1972, no governo Pedro Neiva, ela pôde criar e educar os seis filhos, “quatro dos quais são hoje doutores”.
6- Fomos eu e o ex-prefeito de Primeira Cruz, João Neto, que não é apenas um correligionário, mas um amigo, numa festa na cidade de Humberto de Campos. Lá fomos recepcionados por Dona Neide Sabóia, sua família e seus amigos. Quando entramos na praça, do show havia uma multidão de pessoas. Eu fui passando e notei que uma moça na casa dos vinte quase trinta, não parava de me olhar. Fui cumprimentando a todos e quando cheguei nela, ela sorriu e disse: “Já conheço o senhor. O senhor escreve aos domingos no Jornal O Estado do Maranhão. Não perco nenhuma de suas crônicas. Tratam sempre dos assuntos do cotidiano das pessoas. Sou sua fã.” Naquela hora ganhei o dia. Na verdade ganhei a semana, o mês, o ano. É muito bom quando você consegue atingir seus objetivos, e acredito que através da literatura também possamos mudar a nossa cidade, o nosso estado, o nosso país, o mundo.

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Meu pai, Alexandre Dumas.

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Faz algum tempo, cheguei à conclusão de que foi Alexandre Dumas, com seus personagens inesquecíveis, quem mais marcou a história da minha infância, a juventude de meu pai, e a nossa convivência em família e imagino que assim como a nossa, ele povoou e preencheu a vida de muitos outros. Por essa razão, vinha pensando em prestar este merecido tributo ao escritor francês, criador daquela velha história que mistura injustiça, cobiça, e usurpação e que leva da alegria do amor à tristeza da prisão, um certo “Conde de Monte Cristo”, ou aquela outra história, que baseada em fatos verídicos, traz até os nossos dias, os amores e desventuras de uma certa “Rainha Margot” ou ainda aquela outra história, protagonizada por “Três Mosqueteiros”, que na verdade eram quatro.
Vou me fixar naqueles quatro destemidos espadachins que sempre me vêm à memória, restituindo a mim mesmo, o garoto que fui. Por vezes, me pego pensando que sou um deles, um dos Mosqueteiros do rei, ou todos eles, de maneira conjunta, esparsa ou simultaneamente.
Com a releitura de “Os Três Mosqueteiros” de Dumas, sinto a emoção das histórias de capa e espada com a descrição de vibrantes exibições de esgrima combinadas a romances de nobres apaixonados. Para mim, esse clássico da literatura mundial é muito mais do que a história em que é contada a trajetória venturosa do jovem D`Artagnan, que parte de sua terra, a Gasconha, rumo a Paris, para juntar-se aos mosqueteiros do Rei Luís XIII.
Na trama, D`Artagnan torna-se amigo da trinca inseparável formada por Athos, Porthos e Aramis, exímios espadachins e grandes apreciadores dos prazeres da vida. Juntos, os quatro partem para uma difícil missão: tentar reaver o colar e os brincos de brilhantes que o rei deu a rainha, Ana da Áustria, e que esta, deu de presente a seu amante, o duque de Buckingham. Por sugestão do cardeal de Richelieu, que trama desmascarar a infidelidade da rainha, e com isso enfraquecer o rei e conseqüentemente consolidar a sua influencia na corte, Luís XIII é levado a organizar um grande baile onde as jóias devem ser exibidas. Numa corrida contra o tempo e lutando contra a espiã do cardeal, Milady (que no cinema, certa vez, foi interpretada pela maravilhosa Lana Turner), os mosqueteiros partem para tentar recuperar as jóias antes que ocorra uma tragédia.
Nessa história, cada um revela suas idiossincrasias. Athos é arrogante, autoritário, passional e questionador; Porthos é truculento e grosseiro, mas valoroso e amigo; Aramis é suave, elegante e até bastante mulherengo, mas também é religioso e politizado; o ultimo, D`Artagnan, é jovem e inexperiente, porém audacioso e destemido.
Todos que me conhecem, hoje, de certa forma, conhecem também o meu pai. Pois bem, meu pai, não era um sujeito muito dado a literatura. Em verdade vos digo, ele era muito pouco dado a qualquer forma de arte. Porem, ele adorava ouvir histórias e estórias, não se importando se ficção ou realidade, pois no seu modo todo especial de encarar a vida e suas conseqüências, ele sabia que muito pouca diferença entre realidade e ficção havia, ou melhor, há, no presente, por que meu pai pode ter morrido, mas as suas idéias assim como as de Dumas não morreram jamais, estão sempre no tempo presente.
Meu pai, e muitos de sua geração, de certa forma, são meio que filhos de Dumas e Verne. Alguns conseguiam ir um pouco mais adiante e se contaminarem por Hugo e Balzac, enquanto outros alcançaram Flaubert e Molière.

Talvez alguns de vocês, que acham que conheciam meu pai, imaginem que ele fosse incapaz de ter atingido tal grau de cultura, e estão certos quanto a isso, porém o que realmente pouca gente sabe, é que raros são os homens que, com tão pouca cultura formal e clássica, conseguem intuitivamente saber o significado de palavras como “Vestal”, “Messalina” ou mesmo de “Tartufo”, coisa que muito “Doutor”, por aí, não vai saber. Os humildes ou curiosos vão correr ao dicionário e os hipócritas e presunçosos vão dizer que sabem. Mas meu pai sabia realmente, e só ele sabia como aprendera.
Meu velho pai não era um sujeito culto, mas era inteligente o suficiente para, sabendo disso, suprir essa falta de alguma forma, e a melhor forma que ele encontrou foi fazendo amigos, reais e leais, dando tudo de si por seus ideais, buscando sempre a felicidade, mas sempre a um preço possível de se pagar com um só tipo de moeda: dedicação, empenho, trabalho.
Foi meu pai, que sem querer, incutiu em mim essa personalidade, essa forma de encarar a vida, como se na verdade fosse um personagem de Dumas, um misto de Athos, Porthos, Aramis e D`Artagnan. Os quatro, em um: questionador, amigo, politizado e audacioso.
Relendo Dumas, lembro daquele poeta que dizia que ler é como respirar e que é a percepção do leitor, que faz o livro. Sempre busquei a intimidade com os livros, portanto, reconheço nesses, os melhores guias para a extraordinária aventura do pensamento.
Repensando Dumas, lembro de meu pai, aquele homem grande, forte, pouco culto, mas consciente e esperto o suficiente para ensinar ao seu filho, o significado verdadeiro daquela frase: “um por todos e todos por um”.

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Homero, Mallory, Brown, Mainardi.

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Os dias que tenho passado preso na cama (na rede para ser mais preciso, pois apesar de ter em meu quarto uma cama que mede quatro metros quarados, só durmo em rede) têm servido para me dedicar a algumas das coisas que mais gosto.
Estando proibido pela minha condição clinica de dedicar-me a outras que tanto aprecio, e por estar sofrendo de falta de apetite proveniente dos medicamentos que tenho tomado, os únicos prazeres que me restaram e dos quais não tenho me fartado são os prazeres da mente.
Tenho tido mais tempo para ler e pesquisar para o livro sobre cinema, filosofia e psicanálise que estou escrevendo (muitas vezes esse trabalho parece mais uma briga de eu comigo mesmo).
Mas a coisa que mais tenho feito nestes dias é ver televisão. E que diferença da televisão de agora para aquela do tempo em que tive sarampo e tendo que ficar em repouso absoluto meu pai me deu o meu primeiro televisor. Lembro-me como se fosse hoje. Era um aparelho Telefunkem e a transmissão ainda era em preto e branco.
Naquela época só tínhamos a TV Difusora, canal 4 quatro (a TVE, canal 2 só exibia aulas). Hoje são mais de 200 canais de televisão, com uma programação variada e eclética.
Tem de tudo para todo gosto. São canais infantis, canais direcionados as donas de casa, aos desportistas, aos religiosos. Existem ate os canais que exibem os trabalhos dos três poderes da republica. E como não poderia deixar de ser há os canais dedicados aos cinéfilos de todas as espécies e aos loucos por informação, cultura e entretenimento.
Eu sou um destes que ama cinema independentemente do filme, do gênero, da nacionalidade… mas também sou fanático por documentários, biografias, reportagens e entrevistas.
Estes dias apesar de estarem sendo dias de dor, de ansiedade e de impaciência, pelo menos tem sido dias de distração. Pena que a grande maioria da programação eu já tenha visto. Mas não faz mal, isso reaviva o conhecimento e muitas das vezes nos dá uma outra percepção que não tivemos anteriormente.
Gostaria de comentar aqui alguns programas que vi recentemente.
O primeiro é sobre a guerra de Tróia, a Ilíada de Homero. O History Chanel está exibindo um documentário que enfoca essa história, meio mitológica meio real, de mais de três mil anos, e que até hoje ninguém sabe dizer ao certo se ela é, pelo menos em parte, fato ou mito. Uma história que só foi documentada 500 anos depois de supostamente ter acontecido, pois ate então não existia uma escrita grega que praticamente foi inventada, adaptando-se o alfabeto fenício e acrescentando-se as vogais, para registrar tais feitos. O fato mais incrível é que essa historia conseguiu manter-se em uma única linha de narrativa e de lógica, tendo sido muito pouco modificada durante todo o tempo em que passou sendo cantada e contada oralmente até ser ditada por Homero.
Outro documentário, no canal Mundo, conta uma historia muito mais recente, dois mil anos mais nova. A história do Rei Artur e da Távola Redonda que não se manteve tão fiel. Tem pelo menos uma dúzia de versões diferentes e mais de cem pequenos acréscimos ou decréscimos, dependendo de seu narrador, dentre os quais se destaca sir Thomas Mallory.
Mas duas coisas me chocaram nesse meu mergulho quase que forçado pelos canais de TV por assinatura. A primeira é a reportagem investigativa feita pelo Discovery Chanel sobre o tal Código da Vinci, livro de Dan Brown, o qual fiz questão de não ler, pois não gosto que alguém imagine que possa me enganar. Eu até posso me enganar, sabendo ou sem saber, mas não admito que um espertinho qualquer tente me enrolar com um papo velho e furado. Esse documentário expõe as vísceras, mesmo que milionárias, desse novo tipo de charlatão cultural.
A outra coisa que me causou indignação nesses dias de convalescença foi a participação de um cidadão pernóstico, chamado Diogo Mainardi no programa Manhatan Concection do ultimo domingo.
O arrogante e prepotente articulista conseguiu proferir opiniões deploráveis em não mais de dez minutos de aparição no programa. A primeira foi que, para o mundo, o projeto de Lula estaria acabado porque jamais ele poderia se sentar a uma mesa com lideres mundiais sem que estes não cochichassem sobre o dinheiro pago pelo PT a Coteminas (fabrica têxtil de propriedade de vice-presidente, José Alencar). O imbecil se esquece que à mesa que Lula sentasse ele deveria estar na companhia de Clinton, o da Mônica Lewinsky ou do Bush da guerra suja do Iraque e da Eron. Com o comprovadamente corrupto primeiro ministro Berlusconi, da Itália, com o simpático e carismático ditador cubano Fidel Castro, ou em outros tempos, até mesmo com o quase perfeito Nelson Mandela, que já foi casado com a dona Wine, aquela que mandou assassinar um militante.
Outro absurdo do Mainardi foi achar maravilhoso que o teatro da opera de Veneza, onde ele teve o privilegio de morar, tenha pegado fogo para poupá-lo de ver espetáculos enfadonhos. Além de dizer alguns impropérios contra a figura de John Lenon e música dos Beatles.
Moral da historia: Ficar doente nunca é bom, mesmo que se possa aproveitar para descansar, estudar, pesquisar e escrever.
Em meio a isso tudo a gente pode acabar encontrando um cidadão culto, bem educado, inteligente, mas que se mostra um chato, imbecil, arrogante e prepotente. É melhor estar bom, trabalhando e não perdendo tempo com esse tipo de figura.

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