Cirurgia

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A passagem pelo centro cirúrgico de um hospital, que deixa qualquer um temeroso da morte, me fez pensar seriamente, nas últimas semanas, sobre diversas questões que me deram fôlego para o aprofundamento de minhas reflexões.
Após a delicada operação cirúrgica a que me submeti, quando recobrei os sentidos, e como todo mortal que volta da anestesia, pude me sentir com a sensação de um grande alívio. Pude então dizer a mim mesmo: Bem-aventurado aquele que faz uma cirurgia eletiva e não compulsória.
Porque, depois de sair do centro cirúrgico, aquele mundo sombrio de tubos, fios, lâminas e agulhas, e já de volta a um quarto comum do hospital, pude refletir sobre o drama de pacientes vizinhos, submetidos a cirurgias compulsórias e que, em estado grave, também foram obrigados a passar por uma UTI.
Fiquei pensando na crueza do que significa a passagem por uma UTI. Lá, como se sabe, o ambiente é de dor e medo, gemidos e vozes estranhas. Mãos que limpam, lâminas que cortam. Um amontoado de tubos de plástico, máquinas computadorizadas, agulhas na veia, choques elétricos. A propósito disto, acho que poucos pacientes fizeram um retrato tão direto da vida numa UTI como o escritor João Ubaldo Ribeiro, que em julho de 1994 sofreu uma arritmia cardíaca. Numa crônica publicada em O Globo, João Ubaldo definiu seu estado como próximo da “demência completa” entre uma “senhora macilenta e esquelética, vestida, como eu, à la Auschwitz” e um paciente que passava o dia gritando por socorro, chamando uma filha e dizendo “estão querendo me matar!”
João Ubaldo não fala que teve alta da UTI, diz apenas “fui libertado”. Todo mundo sabe que uma UTI é também aquele ambiente em que uma pessoa encara a morte, mesmo que, depois, tenha a felicidade de retornar são e salvo.
Longe do drama vivido por João Ubaldo, pude sentir, entretanto, que a experiência de passar pelo centro cirúrgico de um hospital é um momento pessoal, íntimo e único.
Num centro cirúrgico, todos os pudores da vida em sociedade se esvanecem. Homens e mulheres expõem seus corpos, deixam enfermeiras manuseá-los, limpá-los. Elas o fazem com eficiência e frieza. É comum se dirigir aos pacientes como se eles fossem crianças. A fala das enfermeiras é repleta de diminutivos. “Uma picadinha aqui, tá? Fica bonzinho que não vai doer nada”.
Mesmo nos hospitais mais modernos, além da grande medicina, há lugar para santos e medalhas religiosas junto à cabeceira de alguns leitos. Ao lado de toda a tecnologia que sustenta a vida, também se aceita outro tipo de ajuda. Tanto faz ser em São Paulo ou em São Luís, os parentes e amigos mais crentes levam para dentro dos hospitais retratos de santos e pequenas medalhas religiosas. Esses objetos dão a entender que nem toda a salvação depende daquelas máquinas mirabolantes aperfeiçoadas com o auxílio da informática. Além disso, em todo hospital que se preza a UTI não tem leito 13, o número do azar.
Sorte para mim foi o alívio que senti quando chegou a hora de receber alta e ir embora. Pude dizer, também: Bem-aventurados aqueles que têm condições de ter um tratamento de saúde digno. Infelizmente, o sistema de saúde pública de nosso país tem uma doença crônica. Na maioria das vezes, tal sistema está em frangalhos: atende mal a população, paga mal a seus funcionários, desperdiça verbas e abriga fraudadores.
Empresas e funcionários, diante da falência da saúde pública, se associam para pagar planos privados, com os quais poucos estão satisfeitos. Nunca é demais brigar pela recuperação do sistema público de saúde, que tem a obrigação de atender às necessidades básicas da população, de maneira correta e decente.

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A voz do povo

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Hoje estou mais energético, mais vibrante, talvez por isso não esteja querendo usar minhas próprias palavras para expressar os meus pensamentos e sentimentos, talvez por isso vá lançar mão destas sábias palavras alheias que, de geração em geração, se incorporaram ao nosso espírito e que podem muito bem servir para iluminar os nossos caminhos.
Diz-me com quem andas, que te direi quem és.
Cada macaco no seu galho.
Deus ajuda quem cedo madruga.
Uma ovelha ruim bota todo o rebanho a perder ou então aquela outra, uma maçã podre estraga todo o cesto.
Uma andorinha só não faz verão.
Dizia o mestre Confúcio que, quem erra e não se corrige comete outro erro.
Não pode pedir clemência alegando ser órfão, aquele que matou os próprios pais, bradava Abrahan Lincoln.
Franguinho que não ouve tuco-tuco de mãe, gavião come.
Gato escaldado tem medo de água fria.
Dai a César o que é de César.
Pimenta nos olhos dos outros é refresco.
Depois da tempestade vem a bonança.
Deus dá rapadura a quem não tem dentes.
Mark Twain, grande escritor americano, dizia que o barulho não prova nada, muitas vezes uma galinha que pôs um simples ovo, cacareja como se tivesse posto um asteróide.
Quem planta vento colhe tempestade.
O pior cego é aquele que não quer ver.
Muitos serão os chamados mas poucos os escolhidos.
Deus não dá asas para cobra.
Jaboti trepado, foi enchente ou mão de gente.
Quem a boca do meu filho beija, a minha adoça.
Dizem que cada cabeça uma sentença, porém eu vos digo, cada sentença uma justiça.
Duvidando chegamos à verdade.
Quem calça sabe onde o sapato aperta.
Gato que usa luvas não pega ratos.Ou seriam outros bichos.
Santo de casa não faz milagre ou ninguém é profeta em sua própria terra.
Este aqui serve para mim, para quem não sabe, meu nome completo é Joaquim Elias Nagib PINTO Haickel: pé de galinha não mata pinto.
Dizia o filósofo grego Plauto que o homem é o lobo do homem, talvez seja por isso que o cão, o cachorro, é o seu melhor amigo.
De grão em grão a galinha enche o papo,ou então aquela bem parecida, de tostão em tostão se chega a um milhão.
O lobo ataca com os dentes, o touro com os chifres, o homem com o cérebro.
Luiz XI já dizia, só sabe reinar quem sabe dissimular.
Certa feita Alexandre Magno perguntou ao seu mestre Aristóteles: De que os reis necessitam mais? de coragem ou de justiça? A que lhe respondeu o sábio, aquele que possui justiça não precisa de coragem.
Todo sol tem seu ocaso, provérbio libanês.
Quem com o ferro fere com o ferro será ferido.
Cavalo dado não se olha os dentes.
Antes tarde do que nunca.
Pau que nasce torto morre torto.
Diz um antigo provérbio árabe: não é difícil reconheceres o malvado, a ele ninguém elogia em segredo e nem critica em público.
Faz por ti que eu ti ajudarei.
Quem faz um cesto, faz um cento.
O presidente americano Franklin Roosevelt, que era paraplégico, dizia preferir morrer de pé do que viver de joelhos.
Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura.
Quem salva o lobo mata as ovelhas.
Não julgues o grão de pimenta pelo seu tamanho, prove-o.
Dizia Erasmo de Rotterdam que as águias não caçam moscas.
Cabe aqui citar, o Hamlet de Shakespeare, que há mais coisas entre o céu e a terra do que sonha a nossa vã filosofia, ou então ser ou não ser….
Como dizia o grande Sócrates, um tolo quando erra queixa-se dos outros. Um sábio, queixa-se de si mesmo.
Quem avisa amigo é.
Ri melhor quem ri por último.
Para um bom entendedor, meia palavra basta.

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“Nós sempre teremos Paris”.

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Estava deitado na minha rede, pensando em um tema para minha crônica, algo mais ameno que o da semana passada, quando me lembrei de uma das minhas comunidades do orkut. “As melhores frases do cinema”.
Pode-se dizer, com quase toda certeza, que as melhores frases do cinema são também as melhores frases do nosso dia a dia, da nossa vida! Então, mergulhei na comunidade em busca das melhores frases que pudesse encontrar, tanto no cinema, quanto para retratar a vida. Veja só algumas perolas!
“Todo homem morre, mas poucos vivem de verdade”. Frase dita por Mel Gibson, como William Wallace em Coração valente.
“… Quando se ama alguém é preciso ser altruísta o bastante para dar o que essa pessoa quer.” Do filme Leis da atração.
Do filme Cidade dos Anjos, “De que adianta ter asas se eu não posso sentir o vento no rosto”.
Dialogo pinçado da primeira versão de A Fantástica Fábrica de Chocolates: “- Não se esqueça do que aconteceu com o homem que conseguiu tudo com que sempre sonhou. – O que”? – Foi feliz para sempre”.
Em Casablanca, Peter Lorre diz pra Humphrey Bogart, “Você me despreza não é?” ao que o galã responde, “Se eu pensasse em você, provavelmente desprezaria.”.
“Meu psiquiatra perguntou se eu achava o sexo sujo e eu respondi só quando bem feito.” Woody Allen em Assaltante Bem Trapalhão.
“Como eu escapei? Com dificuldade… Como eu preparei esse momento? Com prazer!” Edmond Dantes, falando pela boca de vários atores que já encenaram o clássico O Conde de Monte Cristo.
De Amor pra recordar: “Prometa que não vai se apaixonar por mim”.
De O Poderoso Chefão: “Não é pessoal, são apenas negócios”.
“Deus vai entender. Se ele não entender então ele não é Deus e não precisamos nos preocupar.” De Cruzada.
“Isso é mais informação do que eu precisava”, de Pulp fiction.
De Guerra nas estrelas, “Que a força esteja com você”.
“Você me faz querer ser um homem melhor”… Essa é do personagem de Jack Nicholson, que elogia a personagem da Helen Hunt, no filme “Melhor é impossível”.
Em um lugar chamado nothing hill, ”eu sou apenas uma garota parada em frente a um garoto pedindo a ele que a ame…”
Em fogo contra fogo Neil McCauley, personagem de Robert DeNiro diz “Não se apegue a nada que não possa largar em 30 segundos”.
Em Naufrago, Tom Hanks grita, ”Wilsoooooooon!!!”
Em Como perder um homem em 10 dias, “você não pode perder alguém que nunca teve”.
E.T. “… Go home…”
De Closer – Perto Demais, “Alô estranho!!!”
Em Guerra nas estrelas o Mestre Yoda diz, “Quando 800 anos você tem, bem você não parece”.
Salma Hayak diz em Frida para Diego Rivera: “Tive dois acidentes em minha vida… um carro e você…”
“Old boy”, um magnífico filme coreano, traz ótimas citações: “Ria, e o mundo irá sorrir com você. Chore, e chorará sozinho.” E também: “Não importa que seja um grão de areia ou uma pedra. Na água, ambos se afundam.”
Em E o Vento Levou Scarlett O’Hara deixa a pobreza e os problemas da guerra de lado e diz “Vou deixar pra me preocupar com isso amanhã …”
De Crepúsculo dos deuses vem uma das melhores frases sobre a vida e o cinema. “Eu sou grande! Os filmes que ficaram pequenos”
“… Não se pode ter Paz evitando a vida…” Nicole Kidman em As horas dando voz para Virginia Wolf.
Mas dentre tantas frases importantes na minha vida, e que são repetidas no cinema frequentemente, das maneiras mais diversas e em varias ocasiões, há duas que me são muito caras. Uma é quando Ilsa (lngrid Bergman) tenta consolar Rick (Humphrey Bogart) em Casablanca e lhe diz, E a outra é a frase que se tornou bordão da marinha americana, frase que era repetida constantemente por seu patrono John Paul Jones, num filme que no Brasil teve como titulo a própria frase, “Ainda não comecei a lutar”.
“The end…” Mas isso não é o fim, e você sabe muito bem disso, não sabe!?

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A aventura de ir ao cinema.

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No final de 1999, escrevi um artigo em que tratava do saudável programa familiar que deveria ser ir ao cinema, e que deveria passar a se constituir em um habito prazeroso e em um costume regular. Três anos depois, a situação que enfoquei mudou pouco, tenho até a impressão de que piorou em alguns aspectos.
Continuo um grande amante da sétima arte, um cinéfilo incurável, um grande apreciador de estórias, de seus contadores, de seus personagens, dos desempenhos dos atores, enfim, de tudo que esteja de alguma forma relacionada com o cinema.
A chegada a nossa cidade, da tecnologia de retransmissão de canais de tv digital via satélite e de uma empresa local de televisão a cabo, possibilitando que possamos, sem sairmos da segurança e do conforto de nosso lar, ter acesso a mais de 100 canais de programação de televisão, que cobrem quase todo o espectro do interesse humano, fez com que alguns mais apressados, imaginassem que o cinema, como local de entretenimento, estava com seus dias contados.
Mesmo com todo esse avanço, mesmo com toda essa tecnologia que esta a nossa disposição, não há nada como ir ao cinema, comprar pipoca, doces e assistir um bom filme, numa sala que tenha pelo menos um bom som, uma boa acústica. Mas já me dava por muito satisfeito se conseguisse assistir a um desses filmes de aventura, bastante popular em todas as faixas etárias, ao lado de uma platéia um pouco mais, digamos, civilizada, já que não podemos exigir muito mais que isso, de um certo grupo de jovens e adolescentes.
Recentemente, fomos eu, minha mulher e minha filha caçula assistir “ O senhor dos anéis – as duas torres” num cinema local. Era um lançamento nacional – nesse ponto as coisas melhoraram bastante – e a fila para compra de ingressos estava dando voltas desde duas horas antes do inicio da sessão e o clima era de descontração e de uma certa apreensão.
Comprei os ingresso bem sedo e cheguei quarenta e cinco minutos antes da hora marcada e ainda assim quando entramos na sala não havia quase lugares para sentarmos juntos. Tudo bem! Procuramos então por lugares separados e descobrimos que quase todos estavam reservados. Uma pratica muito nossa, onde se procura beneficiar os retardatários em prejuízo dos pontuais. Uma coisa muito desagradável.
Fico imaginando se eu fosse um daqueles sujeitos invocados e prontos a defender com unhas e dentes até os mais insignificantes de seus direitos, se resolvesse me sentar num daqueles lugares reservados e arrumasse a maior cascaria…no entanto resolvi o problema de uma forma bem nossa também: arrumei uma cadeira na sala do dono do cinema e sentei-me no corredor.

Se o caso dos lugares reservados não bastasse, com toda certeza bastaria o que estava para acontecer: o delírio flamenguista da platéia cada vez que aparecia uma sena, assim, um tanto mais intima: um beijo, um abraço, até mesmo uma troca de olhares mais romântica. Não digo nem o infortúnio de um dos personagens, que era realmente engraçado, mas os atos de bravura de um outro era recebido com gritinhos e exaltação completamente desnecessários, mas tudo bem! O ruim mesmo foi quando um dos personagens declara seu afeto e sua amizade a um outro… Foi triste e ridícula a demonstração de falta, não de maturidade, mas de compreensão do que realmente é a amizade. Esses sentimentos entre pessoas do mesmo sexo parecem estar expurgados do rol de sentimentos dessa tribo, daquelas tribos. Fiquei triste e furioso.
Apesar de não ter sido uma boa sessão de cinema, o filme não foi decepcionante, e eu e minha família fizemos o que muito nos apraz quando saímos de um programa assim, seja cinema, teatro ou espetáculo de qualquer natureza: vamos para algum lugar comer alguma coisa e trocar as nossas impressões, conversar, aprofundar os nossos conhecimentos, sobre nós e sobre o mundo. Esse é um dos melhores motivos pelo qual devermos cultivar o habito de levar nossa família ao cinema.

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Viva os Zé Robertos da vida.

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Desde o último dia 09 de junho o Mundo só pensa naquilo que ficou conhecido como o esporte bretão. Desde aquele dia, o Brasil e os brasileiros, efetivamente, respiram e transpiram futebol.
As cores nacionais, principalmente o amarelo, tingem os nossos dias, as nossas ruas, e até os semblantes das pessoas.
As emissoras de radio e de televisão estão explorando o tema futebol, à exaustão. A Rede Globo alem de transmitir os jogos da copa da Alemanha, nesse que é o maior evento futebolístico de todos os tempos, entope seus programas jornalísticos de matérias sobre futebol.
Há duas semanas e mesmo antes disso, o nosso país e o mundo só fala, só vive em função do futebol. Como eu não sou um cronista esportivo, apesar de ser um desportista, quero me aproveitar do tema sensação do momento para abordar um aspecto da vida diária que está inserido de forma clara e marcante também no mundo do futebol.
Quero tratar do coadjuvante, do escada, do carregador de piano. Daquele que não é um fenômeno, um virtuose ou um milagroso encantador de bola, mas que trabalha quase exclusivamente que para a equipe. Quero falar do formiguinha, do zangão, da operaria, não da abelha rainha. Quero falar do patinho feio, não do cisne.
Quero falar de Zé Roberto, não de Ronaldo. Quero falar de Gilberto Silva, não de Kaka ou de Ronaldinho Gaúcho. E olha que o Gilberto Silva, que foi titular absoluto em 2002, hoje é reserva nesse time de estrelas.
Sei que corro serio risco de ser duramente criticado pelos especialistas no assunto, mas tenho que lhes dizer que admiro da mesma forma, talvez ate mais, as recuperações e os desarmes de Zé Roberto que os maravilhosos dribles do gaúcho dentuço. Admiro tanto os apoiamentos de Emerson, quanto a puxada ou a limpada de bola de Ronaldo.
O futebol não é o esporte com quem eu mais me identifico, em que pese eu ter sido criando dentro do Moto Clube na época em que meu pai era um fanático Motense, presidente do Papão. Eu admiro um bom jogo, gosto de ver lançamentos precisos, passes que valem um gol, daqueles obtidos depois de dribles desconcertantes. Defesas de pontas de dedos salvadores dos quase sempre sacrificados goleiros.
Há uma coisa que eu aprecio muito especialmente nisso tudo. O esporte de um modo geral, e principalmente o futebol, consegue colocar em pé de igualdade o dramaturgo Nelson Rodrigues, o compositor Chico Buarque, o economista Luis Gonzaga Beluzo, o escritor Mário Prata, o genial Pelé, o Papa, “seu” Edmilson, motorista da Assembléia Legislativa do Maranhão e o flanelinha do arraial do renascença.
A copa vai terminar no próximo dia 09 de julho, terão sido trinta dias onde o mundo e o Brasil viveu em função do futebol, onde as belas crônicas do Pedro Bial e do Arnaldo Jabour, só falaram de bola, de chute, de gol. Onde as reportagens ricas e precisas de Marcos Uchoa e Regis Resing deram o tom dos acontecimentos. Onde até a minha mãe se vestia de amarelo e se punha em frente da televisão para ver a coreografia dos jogadores em busca do êxtase do gol.
Mas o meu tema de hoje não era, ou melhor, não é futebol. Queria, ou melhor, quero falar da importância de ser qualquer um dos onze jogadores de qualquer um dos times. Na Alemanha um que não seja Balaack. Na Inglaterra um que não seja Beckham. Na França um que não seja Zidane. Na Itália um que não seja Toti. Na Argentina um que não seja Riquelme. Em Portugal um que não seja Figo. Na Ucrânia um que não seja Shevechenko. No Brasil um que não seja um Ronaldo, qualquer que seja ele.
É que eu quero depender mais de jogadores normais, de pessoas normais, de políticos normais, que sejam mais próximos da realidade e de mim. Quero depender mais de um Zé Roberto qualquer da vida.
Não quero ter que depender exclusivamente do grande chef d’cusine, mas um pouco mais do seu fiel ajudante.
Gosto muito do efeito que causam nas histórias os personagens aparentemente secundários como o fiel escudeiro de Dom Quixote, o entanguido e redondo Sancho Pança. Neles se refletem o verdadeiro sentido da história e da vida. Simplicidade.

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Uma estória da Romênia

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Quinhentos anos atrás, Valáquia e Moldávia ainda não unificadas com o nome de Romênia, antiga Dácia de Trajano, teve sua história sintetizada na história de uma de suas famílias mais nobres, uma historia muito interessante que precisa ser contada.
“Vladimir, terceiro filho de um ferreiro fazedor de sabres, tomou por casamento os destinos de seus cunhados e implantou a sua dinastia”. Vlad foi um governante severo, mas justo, combateu com sucesso os turcos ao sul e os russos ao norte, mantendo a unidade interna de seus domínios, fator indispensável para resistir aos adversários internos e externos.
Conta à lenda que Ruben, seu irmão caçula, o seu preferido, certa vez, espancou, num mercado, um estrangeiro, um desses franceses vendedores de queijos, só porque o queijo que este o vendera estaria fedido. Vlad o levou então a julgamento, onde o jovem príncipe foi absorvido. Após a proclamação da sentença, Vlad que se encontrava no recinto, levantou-se, chamou sua guarda pessoal com um simples gesto de mão, aprisionou tanto o irmão quanto o juiz que o absolvera, levou-os para a praça central da cidade, amarrou-os em um obelisco, e ele mesmo infligiu-lhes o castigo que achava que mereciam: no irmão deu doze chicotadas, o dobro da quantidade de socos e pontapés com que ele agrediu o queijeiro; no juiz, um antigo amigo e aliado, foram dezoito chicotadas, metade a mais que no réu absolvido injustamente.
Vlad governou quase vinte anos e morreu ainda jovem, tinha pouco mais de cinqüenta. A causa de sua morte é incerta, uns acreditam que foi em decorrência de ferimentos de batalha, outros a atribuem a uma forma incomum de envenenamento onde o veneno teria sido introduzido em sua corrente sanguínea através de suas feridas.
Com a morte de Vlad, o justo, seu filho mais velho Otto depois conhecido como o sábio, passou a governar. Pouco dado a batalhas, preferia delega-las a seus generais, quase todos estrangeiros, para que nenhum amigo ou parente se encantasse pelo poder e tentasse uma sublevação contra ele. Otto governou com uma tranqüilidade incomum para aquela época, naquela região tão conturbada do mundo. Incentivou as artes e tornou o estudo obrigatório a todas as crianças pelo menos dos sete aos doze anos. Construiu hospitais, estradas e firmou pactos comerciais com paises da Europa ocidental. Casou-se com Miguela, uma princesa Moldava, que durante anos só procriou filhas e que faleceu ao lhe presentear o seu único filho varão, o futuro príncipe Dácio.
Otto casou todas as suas filhas com seus sobrinhos mais inexpressivos, garantindo assim que ninguém cobiçaria o seu poder, o poder que ele preparava para o seu herdeiro.
Depois da morte de sua esposa Otto jamais se casou novamente e criou seu filho Dácio, sem uma presença feminina, de mãe. Quando Dácio completou treze anos, Otto chamou Serguei Kostakov, seu mais fiel general e mandou-lhe com ele para Paris onde o jovem príncipe deveria estudar para se tornar o governante, não mais de um principado, mas sim de um país unificado e independente, que Otto preparava para ele.
Quinze anos se passariam até o príncipe voltar a Valaquia e a Moldavia, terras de seu pai e de sua mãe. Mas Dácio era como chamaríamos no inicio do século passado, um Jonatas, um almofadinha. O próprio pai se assustou quando o viu pela primeira vez, mas o amor de pai é maior que tudo, logo, o velho Otto só tinha olhos para as qualidades do seu futuro “Hospodar” como os romenos chamavam o seu governante.
Otto fez então o que nenhum outro governante fez antes ou depois dele, abdicou em nome de seu filho e ficou olhando Dácio administrar uma embrionária Romênia, somatório de da Moldavia, da Valáquia e agora também da Transilvânia, libertada de seus vizinhos húngaros.
Dácio porem, para tomar suas decisões, ouvia mais ao seu mentor Serguei Kostakov que ao seu pai, o sábio e amado governante. Sem raízes, Dácio começou a descartar os amigos de seu pai, desprestigia-los, desqualifica-los, chegou até a persegui-los e exilá-los. Isso tudo causou grande dor e angustia ao velho Otto, que, no entanto não deixava nunca transparecer seu desagrado com as atitudes temerárias e irresponsáveis de seu filho.
Apenas alguns poucos anos se passaram desde que o “Hospodar” Otto, o sábio, abdicara em nome de seu filho Dácio, o tolo e o povo da Romênia já se rebelava contra seu novo governante. Mas o estopim da grande crise que viria ocorreu quando Kostakov, sob ordens diretas de Dácio prendeu todos os seus cunhados, sobrinhos e alguns conselheiros sob a acusação de alta traição. Otto, então com setenta anos apresentou-se nas masmorras para onde foram levados os prisioneiros, para também ser preso com eles, pois como os outros, estava descontente com os rumos que tomara sua nação. Quando o povo soube disso, invadiu o castelo, e só não chacinou o tolo Dácio e seu prepotente mentor estrangeiro, graças à intervenção de Otto, que reassumiu o comando, prendeu e depois exilou o filho, e colocou em seu lugar, um neto, filho de sua filha mais velha, Anna, como “Hospodar”. Foi esse neto, Carlos, depois conhecido como Carlos, o grande quem consolidou a unificação da Romênia.

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Uma carta de 500 anos

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Recentemente, um grupo de pesquisadores contratados pela biblioteca de Florença encontrou uma carta de autoria de Nicolau Maquiavel endereçada a Francisco Vetori. Ela me chegou as mãos através de e-mail assinado por alguém que usa um sugestivo nickname, Conde Lerin, nome do nobre que livrou Navarra, Florença, Roma e o Mundo da nociva figura de César Borgia.
Dou-me o direito, neste domingo, de reportar-lhes apenas as passagens mais interessantes, pois é uma carta muito extensa e nem sempre trata de assuntos pertinentes aos nossos dias.

Magnífico oratori Florentino Francisco Vectori
Apud Summum Pontificem et benefactori suo
Romae,
Magnífico embaixador

Tardias jamais foram as graças divinas. Digo isto porque me parecia não ter perdido, mas sim estar apenas esmaecida a vossa graça, tendo estado vós muito tempo sem escrever-me; estava em dúvida de onde pudesse vir a razão de tal.
Readquiri, no entanto, essa graça pela vossa última de 23 do mês passado, pelo que fico contentíssimo e mais ainda com o seu pedido de enviar-lhe alguns trechos do livro que estou escrevendo sobre um determinado príncipe e que reluto e relutarei, até serem consumidas as minhas derradeiras forças, em publica-lo antes de meu próprio passamento, mesmo que o retratado já estiver perante o juiz supremo. Dante, tenho certeza, o teria incluído em seu poema.(…)
(…) Há um capitulo em que comento como deve agir um príncipe para ganhar uma disputa, qualquer que seja ela, “Se ele deseja conquistar uma determinada honraria, um cargo ou um titulo é de bom alvitre que tenha reconhecidamente por todos, povo, súditos, cortesãos e nobres, uma conduta impecável ou pelo menos razoável, onde o saldo seja-lhe sempre favorável, isto é, que ele tenha feito pelo menos, um pouco de coisas melhores que as piores coisas que ele com toda certeza o fez.” (… ).
(…) Em certa altura desse meu retrato eu pergunto e eu mesmo respondo, “se é melhor, ser amado ou ser temido”, nele discorro sobre as duas possibilidades de agir de um príncipe, através da distribuição do amor e de seus sentimentos complementares como a amizade, a liberdade, a sinceridade, a humildade, a abnegação, a bondade, a gratidão dentre outros ou pela consumação do medo e de seus correlatos, como a ganância, a usurpação, a força, o descaminho, a fraude e a falsidade, dentre tantas. “Se o dito poderoso sempre usou no trato com a sua gente, o caminho do amor, com toda certeza será guiado ao poder para sempre, até ele e através dele. Se foi o caminho do medo que usou em seu mandato, terá sucesso por algum tempo, mas um dia ele será defenestrado do poder como todo tirano, em qualquer lugar, a qualquer tempo”(… )
( … )” Se o príncipe tiver a oportunidade, de construir em torno de si, um grupo de aliados, por meio de um grande evento político, e não o fizer, predefinindo sobressair-se mais que todos, então esse será o começo do seu fim, pois é em eventos episódicos, numa guerra por exemplo, que os príncipes conseguem se afirmar. É onde a sua bravura, a sua coragem e a sua nobreza o colocam irremediavelmente no coração do povo e na mente dos nobres, seus pares. Mas se ele no meio da batalha, ao invés de procurar proteger os seus mais fieis colaboradores, distribuindo-lhes armamentos adequados, colocando-lhes em posições favoráveis no campo de batalha, se ao invés disso, ele só pensar em si, em si resguardar, em si proteger, em garantir que ele próprio sobreviva em detrimento dos demais, ai então o seu fim estará muito próximo”. (…)
(…)”Há uma outra coisa que poderá abreviar o reinado de um príncipe. É se ele no intuito de perpetuar-se no poder, tentar e conseguir mudar leis antigas, que o povo aprove, que se identifique com elas, aí então tudo estará perdido, principalmente se essa nova lei privilegiar aqueles de pouco caráter, se for uma lei que exponha ainda mais o fígado, as vísceras, de um Prometeu acorrentado que clama por uma mínima chance de pelo menos defender-se do bico, das garras daquela ave sinistra, colocada ali, há muitos anos, por um deus supremo, ou quase.
Apostar na fragilidade do caráter de seus iguais é um jogo muito perigoso, pois é pouca a diferença que há entre a conseqüência do amor e do medo, porque quem pode o mais, pode o menos. Quem pode hoje sustentar-lhe poderá um dia derrubar-lhe”. (…)
( … )” A essa altura, ele terá se transformado num transtorno: terá se expandido muito, pisado em muita gente, terá então uma grande população de asseclas dependendo exclusivamente dele, a quem ele terá que alimentar, vestir, cuidar da saúde, mas agora contará com um pequeno grupo de leais e mesmo nele, alguns de seus condes, cardeais e generais não o suportarão mais.
De sua maneira ele é leal com seus, mas cria muitas dificuldades e vai cobrar-lhes pelas facilidades que já são deles. Terá desagradado um exercito de nobres, arriscado-se à condenação da plebe, terá sido pego diversas vezes desviando para si, suprimentos do tesouro, e o que é pior, estará ameaçando uma coisa que para os seus é sagrada: a imagem deles. Ele será um vulcão, prestes a explodir a qualquer momento e não vai atingir quem se opuser a ele, mas pode liquidar quem a ele se aliar, quem por ele quebrar lanças.” (…)
( … )Desejaria, pois, que vós ainda me escrevêsseis aquilo que sobre estes assuntos vos pareça. A vós me recomendo. Seja feliz.

Florença, 10 de Dezembro de 1502
Niccolò Machiavelli

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Tertuliano ?

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Livre, porém honesta adaptação de um discurso com aparte.
Nomes e cargos foram onitidos e/ou trocados, para que uma obra política possa ser transformada em obra literária.

Um deputado destilava o seu comprovado talento para a critica …

“… Por mais que se discutam outros assuntos importantes e relevantes o assunto do momento na realidade é esse troca-troca de partidos. São deputados que estão se acomodando em outras legendas e de quinta-feira até ontem muita coisa ocorreu e parece que muita coisa ainda vai ocorrer. Fui informado que o próprio primeiro mandatário, ele próprio telefonava, ou procurava deputados para se filiarem ao seu partido, então me lembrei do barão de Itararé que dizia que “ há alguma coisa no ar além dos aviões de carreira ” , e havia . Tanto havia, que na convenção desse partido – presente estava o Presidente do de uma outra agremiação partidária e Líder maior, do maior Bloco Parlamentar desta casa – filiaram-se cinco deputados, inclusive três do próprio Bloco. Mas esse deputado, Presidente desta outra agremiação partidária, talvez tenha pensado consigo mesmo e dito que o “ bom cabrito não berra ”, foi a tribuna dizer que procuraria fazer do seu partido um grande partido ou talvez o maior partido do Estado .
Mas logo em seguida um senador que tinha vindo a essa Casa antes da eleição para a Mesa Diretora prestar o seu apoio ao Presidente vai à tribuna e assumindo os ares de pitonisa diz que os pequenos partidos, inclusive o do anfitrião iria acabar. Aí eu me lembrei de Shakespeare : “Há mais mistérios entre o céu e a terra do que sonha a nossa vã filosofia”.
Mas o deputado não passou recibo, homem católico foi para casa, se recolheu e consultou as escrituras e viu lá no evangelho segundo São Mateus que Jesus disse : “ quem não é por mim é contra mim ”. E tratou naturalmente de cair em campo para reforçar o seu partido. Filiou quatro deputados e ele com certeza deve ter dito a si mesmo, aquele provérbio árabe, “ Nada melhor que um dia depois do outro ”.
Isso naturalmente deve ter causado algum comentário no almoço lá no palácio, é possível que alguém tenha dito ao Governador “ Quem com ferro fere, com ferro será ferido ”. E o Governador deve ter comentado , “ Quem tem com que me pague não me deve nada ”. Lembrando de um ditado muito conhecido “ Quando a gente vê a barba do vizinho pegar fogo trata de colocar a nossa de molho ”. Como “ para bom entendedor meia palavra basta” , e como dizia um grande deputado do passado “ Quem viver verá ”.

Admirado com a verve do colega e sabendo de que o maior interesse do tribuno era fazer “o mar pegar fogo para comer peixe frito, um novato resolve aparteá-lo e citando Shakespeare,, para colocá-lo em cheque …

O nobre colega me lembra muito um Senador famoso, que faz discursos através de versos e rimas.Mas eu tenho certeza que V.Exa não decorou essa grande pérola da oratória maranhense, tenho certeza que isso tudo é feito de improviso. É por isso que eu gostaria apenas de citar Shakespeare em sua frase mais conhecida e talvez a mais forte: “ Ser ou não ser eis a questão ” .

E o macaco velho, astuto e matreiro, talvez o único que realmente tenha entendido o sentido do aparte , talvez o único que realmente saiba o endereço certo daquela profética frase, não se fez de rogado …

Eis a questão, deputado. Eis a questão. V.Exa certamente não vai se zangar comigo. É que V.Exa, atabalhoado, sempre com a melhor das boas intenções, ãs vezes me faz lembrar um velho poeta português, Guerra Junqueiro, que até foi excomungado porque era ateu . Ele é autor de um poema chamado a velhice do padre eterno, mas ele é autor também de uma pequena sátira que em parte, deputado, encaixa-se perfeitamente com o que V.Exa tem feito aqui e eu vou pedir mais uma vez perdão não é para ofender V. Exa, mas eu sou daqueles que “ perde o amigo mais não perde a piada ” e V.Exa vai me permitir dizer esse pequeno verso cujo o título é , e o poema dizia o seguinte: , frívolo e peralta que foi um paspalhão desde fedelho, tipo incapaz de ouvir um bom conselho, vivo ou morto não faria falta, um belo dia deixando de andar a malta foi ter a casa do pai honrado velho e na sala, diante ao espelho a admirar-se perguntou: , és jovem, és rico, és formoso, que mais no mundo se te faz preciso? E o pai que atrás de uma cortina ouvia tudo, respondeu : Juízo. É isso que falta para V.Exa, muito obrigado. ”

Ao outro, nada restou, a não ser levantar-se e aplaudir. Na saída, ao pé da escada, comentava com um terceiro colega : ainda bem que ele recitou , e não Morte e vida Severina ,pois naquele poema há muita dor ,miséria e seca .

“Não adianta chorar pelo leite derramado” , ou pela água . “ Alea jacta est,” Resmungou.

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Zapiando *

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Outro dia, zapiando pelos mais de 200 canais de televisão disponíveis, deparei-me com o governador eleito da Bahia, Jaques Wagner, dando uma entrevista no programa do Jô. Lá pelas tantas ele tentou resumir e simplificar os motivos que levaram o grupo liderado pelo senador Antonio Carlos Magalhães perder as ultimas eleições: “porque já era tempo de perder” disse ele explicando que Antonio Carlos já detinha o poder na Bahia há tempo demais e que chega uma hora que as coisas precisam mudar.
Quando ouvi o que ele disse, imediatamente, me lembrei de uma conversa bem parecida com essa que tivemos, eu, meu pai e meu tio Zé Antonio, logo depois de perdemos a eleição para Prefeitura de Pindaré.
O mesmo aconteceu em São Domingos. Um grupo deteve o poder por 16 anos e agora o outro já comanda o município há 18. Isso também é o que deverá acontecer nas próximas eleições municipais em São Bernardo, onde um único grupo tem se mantido no poder nos últimos 46 anos. Já ta na hora de perder, né!?
Imaginei que além do fator tempo, outras coisas contribuíram para a queda de Antonio Carlos na Bahia, então liguei para um amigo e ex-colega constituinte, que é intimo de ACM, pra saber dele quais os verdadeiros motivos que levaram o governador Paulo Souto a não se reeleger.
“Ele fez um mau governo?”, perguntei-lhe, ao que ele foi categórico em dizer que não, muito pelo contrario, fez um ótimo governo tanto política quanto administrativamente. “Então o que foi que houve?” Ele me enumerou alguns erros inacreditáveis de serem cometidos por um grupo que se imagina ser profissional na política.
Em primeiro lugar ele disse que havia certa sensação de já ganhou, o que prejudicou a todos, inclusive as bancadas na Câmara e na Assembléia. Em segundo lugar, a escolha dos candidatos à vice, a senador e seus suplentes foram grandes equívocos e até certo ponto arrogância e prepotência.
O candidato à vice, que foi nosso colega na constituinte e é uma grande figura, um político de primeira, era o nome mais indicado pra ser o maior puxador de votos na chapa para Câmara Federal. No lugar dele deveriam ter colocado alguém novo, ligado ao pólo petroquímico, um deputado estadual, um prefeito de uma cidade importante. O terceiro erro crucial do PFL baiano foi também um grande acerto do PT. A candidatura de Rodolfo Tourinho pesou muito na campanha, enquanto João Durval do PDT contava com o beneplácito do PT que não tendo candidato a senador, ficou livre pra pedir votos só para governador, o que agregou pra si, para o PT, muitos votos de todos os candidatos ao senado. Isso sem contar que muitos agregados de ACM e de Souto, trataram de se garantir e buscaram um mandato de deputado numa das duas esferas, o que ao invés de ajudar, acabou prejudicando. Poderíamos ainda citar um quarto erro, o fato de o grupo liderado por ACM, pela primeira vez em muitos anos, não ter se renovado, não apresentou novas lideranças capazes de motivar o eleitor a votar em suas propostas que também não foram renovadas. O grupo envelheceu.
Depois dessa conversa, resolvi ligar para dois outros velhos amigos meus, também ex-constituintes, para saber o que aconteceu nos seus Estados.
Liguei para um amigo no Para e para um outro no Paraná. Dos dois ouvi comentários bem parecidos.
No Para o governador Almir Gabriel posicionou-se contrario a criação do Estado de Carajás e ainda por cima optou por uma correligionária de Belém e da mesma legenda, quando poderia ter agregado um companheiro de outro partido e da região do futuro Estado do Ferro (Carajás). Esse erro foi apontado como decisivo para sua derrota. Mas Almir e o seu PSBD ainda são tão fortes que elegeram o senador Mário Couto com 52% dos votos, mas ainda assim perdeu para Ana Julia no segundo turno com 10% de diferença. Meu interlocutor também comentou que Almir Gabriel, em seus mandatos anteriores, tratou de desmontar toda a antiga base política paraense, a estrutura de sustentação do poder. Coisa do neoliberalismo. Quando ele mais precisou dessas bases, dos antigos caciques, não os tinha a seu lado, estavam do lado de Jader.
Foi comentado também que, em alguns Estados, aconteceram grandes e importantes rupturas de grupos dominantes ou simplesmente verdadeiras traições, como nos casos dos Estados do Ceara e do Tocantins.
No Paraná aconteceu a disputa mais acirrada do último pleito, 10.479 votos ou 0,10% de diferença. Aqui fica a impressão de que o fato do PMDB de Requião não ter tido candidato ao senado, e o PSDB do senador Álvaro Dias não ter tido candidato a governador, pode ter sido decisivo. Mas com uma diferença tão ínfima de votos, não há como apontar algum erro ou algum acerto mais ou menos importante.
A opinião unânime dos meus três interlocutores daquela noite é que perder uma eleição não significa necessariamente ser fraco, ruim, ou pior que o adversário. Todos concordaram que os eventuais erros ou acertos de um lado ou de outros foram menos importantes, concordaram muito mais com a explicação do governador eleito da Bahia, chega uma hora que tem de se perder mesmo. Teve um, evangélico, que citou até a bíblia: “… há tempo para tudo, pra plantar, pra colher…” E acrescentou, “pra ganhar e pra perder, mas tudo que Deus faz é bom, Deus é fiel…”.
Depois dessas conversas, voltei a zapiar até cair num canal de documentários, onde uma voz grave dizia aquela celebre frase: “Este filme é baseado em fatos reais. Alguns nomes e lugares foram modificados para facilitar a sua realização”.

* Zapiar é ficar trocando insistentemente de canal de televisão, em busca de um programa que mais lhe agrade.

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Salada de Shakespeare

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A doença do governador

Antonio Cliff
Postdoctoral Fellow de psicanálise da John Hopkins University

Passei alguns anos fora do Maranhão para fazer o meu doutorado em Baltimore, na John Hopkins University. Voltei para passar alguns dias e fiquei escandalizado com o que vi no nosso Estado. Era impossível pensar que o pupilo do Sarney, aquele a quem ele dera todas as oportunidades na vida, iria traí-lo da maneira mais ignominiosa e com inacreditável conduta. Mas isso me dá matéria para recordar um dos meus professores mais brilhantes, o doutor Moore sobre suas dissertações sobre a traição.
Freud buscou sempre seus exemplos patológicos em personagens literários. E, assim, valeu-se de Lady Macbeth para simbolizar a mulher destruidora que obriga o marido a matar o bondoso rei Duncan, seu virtual pai, para roubar-lhe o reino e fazê-la rainha. Essa mulher é a imagem de tudo que pode ser diabólico. Ela incentiva o marido ao parricídio e diz: “Tu não és homem? Mata. Eu te abjuro se não o fizerdes”. Macbeth assim se conduz e comete um dos maiores atos de traição. Depois, ele é atormentado pelo remorso e ela retruca: “O que foi feito não pode ser desfeito”.
O sangue não sai das mãos dele nem das dela. Ela procura lavá-las. Mas não consegue. “Elas jamais ficam limpas”. O odor da traição também não sai e Shakespeare, na tragédia de Macbeth, diz que nem todas as águas dos oceanos, nem todos os perfumes do mundo limparão a cor nem o cheiro da traição.
Macbeth é rei, ela é rainha, mas o remorso bate em seu corpo. E vem a maldição: “Não dormirás jamais”. E ele não dorme e exclama: “O inferno é escuro. Quem poderia pensar que o Velho tivesse tanta força? Ainda sinto o odor da traição”.
Levado pela mulher ele constrói sua grande desgraça e diz: “Não há remédio que cure uma consciência atormentada. Perdi a honra, a lealdade, o amor, os amigos”.
Ele fica doente preso pelo remorso, pelo ato vil que praticou. Assim está o governador. Por mais monstro que seja ele não pode deixar de sentir o que fez. Sua consciência o atormenta. Ela pode ser chamada de hepatite, depressão, quarto caído e aleijado. Mas o que tem realmente é aquilo que ele não pode, como Macbeth, afastar: o odor da traição, sua consciência queimando.
Quando voltar à universidade, vou relatar esse complexo clássico de Lady Macbeth e Macbeth, que Freud dizia que se fundiram na mesma desgraça. Ela suicida-se e ele desaparece por não ter filho varão.
O padre Vieira fez um sermão sobre as mulheres fatais que levaram os homens à desgraça: Herodias, Bersabé, Cleópatra e outras. Destas mulheres diz ele: “tu es diaboli janua”. (Tu és a porta por onde entra o diabo ao homem.)
A doença do governador José Reinaldo não precisa ser desvendada: é o complexo de Lady Macbeth de que falava Freud. Não tem cura, é a doença da traição.

Joaquim Nagib Haickel
Deputado estadual – PSB

Ligou-me na última terça-feira um amigo com quem não falava há muito tempo. Ele parecia preocupado. Ligou para me relatar uma conversa que teve com alguém de dentro do Palácio, na qual a pessoa lhe disse que todo mundo, por lá, estava comentando que eu seria o verdadeiro autor de um artigo intitulado A Doença do Governador, publicado sob o nome fictício de Antônio Cliff. Alusão a minha pessoa como o autor do referido artigo já havia sido feita anteriormente, na minha presença e de brincadeira, diga-se de passagem, por alguns amigos, em um vôo entre São Luís e Imperatriz.
Li o referido artigo que foi publicado neste jornal há algumas semanas atrás. Li e reli. Achei uma obra literária de ótima qualidade, e não pretendo aqui analisá-la pelo ponto de vista político, pois acredito já ter deixado bem clara, em várias ocasiões, a minha posição quanto a toda essa crise que assola o nosso Estado. Apesar disso, acho justo e oportuno dizer ao autor, quem quer que seja ele, que analisando as coisas pelo seu ponto de vista, mesmo não concordando in totum, reconheço que ele teve um grande senso de oportunidade e um timing preciso ao abordar a questão.
Quero deixar bem claro, em primeiro lugar, que, se tivesse sido de minha lavra tal material, por achá-lo excelente, bem concebido e bem executado, jamais o publicaria sob pseudônimo. Não daria o credito de algo que achasse tão bom a um cavalo, para usar aqui a terminologia apropriada ao candomblé, seus encostos e incorporações.
Todo mundo que leu o tal artigo concorda pelo menos em uma coisa: que ele é de ótima qualidade. Algumas destas pessoas imaginam que tenha sido eu o seu autor. Devo confessar que chego a ficar lisonjeado e envaidecido com isso, porem fico também duplamente triste. Comigo mesmo, pelo fato de não ter tido eu a idéia nem a competência para escrevê-lo. Depois, pelo fato de algumas pessoas imaginarem, erradamente, que eu usaria um pseudônimo para dizer o que penso, para defender uma idéia. Nunca precisei disso. Digo sempre o que penso e tenho a coragem de fazer isso amparado em meu próprio nome, dando a cara pra bater, se for o caso.
Nos meus artigos, uso e abuso das figuras de linguagem, principalmente das metáforas. De vez, em quando recorro ao artifício da comparação. Sempre que posso, traço um paralelo entre os fatos de nosso dia-a-dia com personagens literários, cinematográficos ou com fatos e figuras históricas. Como ocorreu no caso dos artigos Deu no New York Times, De Quem é a Culpa e Uma Carta de 500 Anos, para citar apenas três. Mas todos estes, apesar de polêmicos, foram escritos e assinados por mim.
Quem me conhece, sabe que sou uma pessoa direta e franca. Acredito que dizer a verdade é bem mais barato, mas acredito que o uso e a prática da verdade não significa o exercício da grosseria ou da deselegância, e isso eu aprendi desde cedo na vida.
O uso de um personagem de Shakespeare como estereótipo não é novo nem na literatura nem na psicanálise, e uma vez que o tal Antônio Cliff se diz pós-doutorando em Psicologia pela conceituada Universidade de Johns Hopkins, pelo menos ele deve ser sabedor disso, já que não soube escrever nem o nome da Universidade de que se diz estudante (É Johns e não John). A única ressalva literária que faço ao artigo é quanto ao fato do autor ter usado um nome que não é apenas fictício, chega a ser inverossímil, parece até sacanagem. Faz-me pensar que ele queria propositalmente menosprezar a nossa inteligência.
Quanto ao conteúdo do texto e aos personagens a que alude, gostaria de dizer ao doutor Antônio que existem outros personagens shakespeareanos que ele poderia agregar a essa história, para melhor exemplificar o momento caótico pelo qual passamos.
Lembro-me de saída do Yago, intriguento e dissimulado, que, visando apenas vantagens próprias, destrói através da calúnia e da difamação, a vida de seu senhor Otelo, o Mouro de Veneza. Tal qual Yago, temos dúzias, de todos os lados. Ou ainda o corcunda e o coxo Ricardo III, que, a certa altura de sua covardia, em meio a uma batalha decisiva, brada que trocaria seu reino por um cavalo. Deste, existem alguns por aí. E finalmente, poderíamos acrescentar a essa lista Catarina, de A Megera Domada (ao lembrar dela, só me vem à mente a fisionomia enlouquecida da Catarina interpretada por Elizabeth Taylor, que neste filme contracena com seu marido, Richard Burton).
Nessa nossa tragicomédia Timbira e bufa, se procurarmos bem, encontraremos figuras perfeitas para todos esses papéis, para cada um dos arquétipos e personagem de Shakespeare. Encontraremos vários Brutus de Júlio César; Goneril, Regane e Cordélia, as três filhas do rei Lear e o próprio rei; o Romeu e a Julieta, apaixonados e suicidas, da obra de mesmo nome. Shylok, o agiota do Mercador de Veneza; Há até o fantasma do pai de Hamlet, príncipe da Dinamarca. E por ai vai.
No final, o que todo mundo vai acabar descobrindo, até mesmo o doutor Antônio Cliff, é que há pelo menos um título de uma das obras do grande dramaturgo inglês que cabe como uma luva para definir tudo isso que estamos vivenciando: Muito barulho por nada.
Quem viver, verá.

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