A menina do balouço azul

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Usa unicamente um vestidinho
florido de girassóis,
um cheiro de alfazema,
um sorriso quase asiático que
lhe fecham os olhos e
entreabrem os lábios.
Seus cabelos voavam ao vento matinal.
Ela senta no balouço (calabouço),
segura-se nas correntes
sacode-se para frente e para trás
e voa!
vai
e vem
vai
e vem
vai
e vem
vai…
foi.

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Uma dor inexplicável.

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Acidentes de automóveis me chocam de maneira definitiva: o James Jean, o do meu tio Wilson , o de San Martin Sauaia, o de Aírton Senna, o do filho do meu amigo Altevir, e agora o que vitimou minha com-cunhada, Márcia.
Uma saveiro tentou desviar de um buraco na estrada, perdeu o controle e chocou-se de frente com uma bleizer. Isso tudo debaixo de um desses dilúvios que, nessa época do ano são comuns por aqui.
O carro menor conduzia produtos inflamáveis e após o choque incendiou-se matando tragicamente o condutor. O maior teve seu motor deslocado para dentro da cabine dos passageiros, matando, instantaneamente uma jovem e bela mulher; balairina, casada, mãe de dois filhos, filha de pais amorosos, irmã de bons irmãos e amiga de pessoas leais e dedicadas.
Promotora de justiça, 35 anos, Márcia Sandes Farias, nenhuma dor deve ter sentido. Nada, se comparado com a dor que o fato causou.
O irmão dela que viajava junto, teve algumas fraturas, o mesmo ocorreu com o marido, meu cunhado, que ficou em coma durante dias, devido o forte impacto que sofreu na cabeça.
Acidentes ocorrem diariamente, gente morre diariamente, diariamente pernas, braços, quadris, colunas são quebradas nas estradas, mas nunca havia acontecido tão perto, talvez por isso me choquei tanto.
Em que pese o amor e o parentesco, nós não mantínhamos um relacionamento muito próximo: eu sempre envolvido com os problemas das minhas empresas ou da política, Tonhão tratando de sua granja, Ivana pintando ou cuidando das meninas e Márcia, alem de cuidar dos dela, era promotora publica e trabalhava no interior.
Esse raio, essa tragédia caiu perto demais de nós, queimou nossa carne, quebrou nosso ossos, colocou em xeque a nossa fé: “tanto bandido, tanto marginal, tanto filho da puta pra morrer e ao invés disso quem nos deixa é alguém doce, inteligente, bondosa.” – comentava alguém revoltado.
Chega-se a pensar que Deus tirou umas férias ou quem sabe uma licença prêmio. Bem que ele merece. Mas se ele é onipresente, onisciente e onipotente como dizem, ele poderia muito bem estar num paraíso qualquer, de férias com a família e ao mesmo tempo lá, próximo a cidade de D.Pedro para não permitir que aquela tragédia acontecesse.
Não é blasfêmia não, eu creio fortemente em Deus, o Deus do bem e dos bons, o Deus daqueles que como Moema, Márcia, Ronaldo, Marco Túlio e tantos outros têm procurado ajudar a família nessa hora que mais precisam, creio no Deus do Joaquim, covarde, que tinha tanto medo de me aproximar de Tonhão quando este ainda não sabia que Márcia morrera e mais medo ainda de ser indagado por ele: “como vai Márcia, onde ela esta?”.
Por isso me guardo, rezando do meu modo muito particular, conversando com Deus, mesmo não conseguindo ouvir suas respostas, mas digo a ele tudo que sinto e que penso. Não sou capaz de ouvi-lo responder-me mas tenho certeza que ele me ouve e me responde de alguma forma. Esse Deus do Joaquim egoísta e covarde que se recusa a ir ver o seu colega de jaguarema que se tornou seu cunhado, só para não vê-lo sofrendo, não pela dor física, suportável, passageira, mas pela dor da perda irreparável que o acompanhará para sempre. Eu acredito muito nesse Deus, apesar de ser humano o suficiente para reconhecer que as vezes não consigo entende-lo e até chego a duvidar.
Depois dessa dor covarde e egoísta, uma dor inexplicável que estou sentindo, minha única preocupação passa a ser a dor dos pais inconsoláveis, a dor de Davi e Juliana, sem mãe e a dor de Tonhão que não tem mais aqueles olhos verdes, a sua energia, e doce mulher, meio-mãe, meio-irmã, talvez a única pessoa no mundo que realmente lhe respeitasse com granjeiro, lhe defendesse como pessoa e lhe compreendesse como homem.

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O poema ditado

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deitado
de lado.

O vento açoita a janela
e o sol começa
a invadir pelas frestas.

Bem-te-vis e curiós
entoam o que lembra
uma melodia de Vivaldi.

Agarrada a mim
ela não pára de tremer
pede pra eu não parar
e diz que gosta.

Asmática,
ensaia uma tosse
mas a hipófise vence os brônquios.

De que mais precisa um homem?
Vento, sol, passarinhos.
Uma mulher linda,
de pele branca.
Uma rosa tatuada,
nome de filme.
Doida para aprender
o que se faz
e como ver.

Luz artificial!?
Pra quê!?

Tudo lá fora
e ela comigo
aqui dentro,
aqui dentro.

Qualquer coisa a mais
é excesso.

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Para que não digam que só falo de política

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Há algum tempo atrás, flagrei minha mulher, às seis da manhã … , bom, deixe que eu termine, ou melhor, que eu comece de novo: minha mulher é artista plástica, e o sossego necessário para o seu trabalho só começa quando o dia, ou à noite acabam, por isso ela dorme muito tarde para o hoje e muito cedo para o amanhã, o que faz com ela acorde sempre na hora do almoço.
Não é piada não, é verdade! Nós tínhamos um papagaio, ou melhor, dois, primeiro um, depois o outro. O primeiro, o Horácio, evadiu-se há alguns anos. Cantava o hino nacional, as musicas das Xuxa, e até cânticos de igreja, chamava as pessoas pelo nome, mas não agüentou o stress de uma casa como a nossa. Masculino lá, só eu e ele, pois são seis mulheres, entre mulher, filhas e empregadas, sem contar a Gertrudes, a tartaruga.
Horácio, certo vez, foi passar um fim de semana na casa de minha mãe, e lá, bateu asas e voou. Resolvi, tempos depois que sozinho eu também não agüentaria e comprei outro papagaio, e o batizei de Rafael. Este era mais jovem, menos letrado, falava pouco, pelo menos no começo. Mais alguns meses depois já era dono da casa.
Pusemos a sua gaiola sem grades onde era a de Horácio, bem próxima ao quarto das empregadas e logicamente ao alcance de sua grandiosa audição estava a TV e o rádio delas.
Rafael aprendeu a falar, a chamar as pessoas pelo nome, aprendeu a dizer bom dia, cumprimento que ele repetia a qualquer hora. Era uma ave asseada, pois Avana, filha mais velha, dava-lhe banho regularmente. Rafael comia até filé (dizer isso me dói na mais profunda alma, pois Ruanda, Moçambique, Namíbia e Etiópia, partes de meu mundo, estão famintas, miseráveis e doentes).
Pois bem, Rafael veio para substituir a lacuna deixada por Horácio, para não deixar que eu só fosse o único ser masculino em minha casa, o que eu gostava muito, pois sendo ele o outro, seria inofensivo a qualquer propósito mais humano.
Certa vez fomos todos viajar e precisávamos deixar nossa tartaruga e o nosso papagaio na casa da mãe de Francisca, moça que minha mulher cria desde garota. Até ai tudo bem, o problema aconteceu na volta, quando ao trazermos Rafael para casa, descobrimos que ele havia aprendido a latir como o cachorro dela e a cacarejar como suas galinhas. Imaginem uma galinha verde ou um cachorro de penas.
Rafael passou a atormentar a todos e para completar, ficou tão traumatizado com as suas férias e a nossa distância que passou a querer a presença de alguém sempre por perto, senão começava a gritar, latir, cacarejar e estrilar as magníficas cordas vocais que a mãe natureza lhe deu.
Como precisava muito dele, resolvi ser seu psicólogo e ficava com ele. Cheguei até a impingir-lhe um gatilho psicológico: fiz com que o som da televisão, aos poucos fosse substituindo a presença humana que tanto requisitava. Porém de tanto me observar, Rafael ia aprendendo comigo. Notou minha compulsão e ansiedade por comida e copiou isso de mim, e sempre que estava só ou chateado se danava para gritar e latir.

De entretenimento, Rafael passou a ser um transtorno. Papagaio, carente, ansioso, obeso, tava querendo me irritar! Falava muito, gritava, não admitia que desligassem o rádio ou a tv. Realmente o nosso papagaio estava muito doente, estava com uma forte crise de identidade. E eu já não sabia se era ele ou eu.
Ninguém agüentava mais o papagaio, nem os vizinhos que eram incomodados com os seus cacarejos e latidos. Ainda bem que na casa da mãe de Francisca não tinha uma seriema ou um tetéu, pois senão estávamos em pior situação.
Rafael gritava: eu corria, conversava com ele, ligava a TV, dava-lhe uma bolacha de água e sal ele parava pelo menos por instantes.
Nossa vida estava um inferno, foi quando flagrei minha mulher escrevendo um belo texto sobre a nossa amada ave de estimação, que na noite anterior não havia a deixado trabalhar nem sequer dormir. Ai está o problema: Ivana, minha mulher, escreveu um texto muito bom sobre Rafael, e sua vida conosco e com ela principalmente. Fiquei chocado com a qualidade do texto, não porque não soubesse que ela fosse capaz, ela o é. Mas imaginava que ela preferisse se expressar em cores e formas.
Passados alguns dias, estávamos sós em casa, eu e Rafael, quando ele começou a gritar. Não pensei duas vezes, liguei o computador, localizei o arquivo com o texto de Ivana sobre Rafael, imprimi, e marchei até ele. Coloquei um banco em frente a sua gaiola e comecei a ler o que Ivana havia escrito sobre ele.
Incrivelmente o papagaio só interrompeu para pedir um pouco de biscoito, no que foi prontamente atendido.
Acabei de ler o texto, liguei a TV, coloquei alguns biscoitos na gaiola e pedi para ele um pouco de paz e sossego.
Dois dias depois, ao acordar, fui até a área de serviço e por não ter ouvido o sinal dele, nem o seu espanar de asas ou seus gritos, fui chamando-o, quando Jesus me disse que, quando ela ia chegando em casa, Rafael estava sobre o parapeito da janela, ela correu para pegá-lo e ele aparentemente atirou-se da janela como se pulasse para o suicídio, mas o instinto foi mais forte e antes de tocar o solo ele bateu as asas até a um pé de fícus próximo, voou até o telhado do prédio vizinho e dali para o mundo.
Nunca mais soubemos do Rafael.

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Quiron, o centauro.

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Normalmente começo escrever minha cônica de domingo na segunda-feira anterior, de manhãzinha, logo cedo, ao acordar. Dona Clarice, minha mãe, sempre me disse que é cedo, ao se acordar que o cérebro está mais capacitado a pensar e a aprender – “É que ele passou a noite inteira descansando, sonhando, viajando, meu filho… Quando acorda, ta bem disposto, apto a se exercitar, a aprender” – Argumento da mãe que botava o filho pra estudar de manhã, cedinho. Tanto ela insistiu que eu acabei aprendendo algumas coisas mesmo.
Durante toda essa semana, por mais cedo que eu acordasse não me vinha nenhuma idéia para minha crônica de domingo.
Na quinta-feira, 7 de dezembro, ao chegar em casa dei de cara Dona Clarice, minha mãe, sentada no sofá, lendo revistas. Tomei a benção e dei-lhe um beijo na testa. Já ia saindo quando ela me chamou de volta, e como faz toda semana, se põe a ler meu horóscopo. “Sagitário: É quase certo que a grande concentração de planetas em seu signo o tornará mais sagitariano do que nunca: Independente, atrevido, até mesmo exagerado. Tente valorizar suas idéias e desenvolve-las, porque você estará sempre a um passo de realizá-las”.
Depois de ouvir isso, tive uma leve idéia sobre o que escrever para minha crônica desta semana, que até então teimava em não sair.
Sou um apaixonado por história. Falo de história em Latum Sensum, Em seu sentido mais abrangente, como manifestação do testemunho sobre o registro evolutivo da sociedade humana e sua relação com o tempo e com o espaço. Em meio a essa paixão me transformei num grande apreciador das mitologias, principalmente a grega, de onde provem quase toda a base da cultura ocidental, inclusive muito do que sabemos sobre astrologia e horóscopo.
Aqueles que entendem desse negocio de astrologia dizem que alguém que nasceu às 06 horas e 30 minutos da manhã do dia 13 de dezembro de 1959, além de ter nascido sob o signo de sagitário, tem nele também o seu ascendente. E é ai que a coisa pega. Sol e lua juntos em sagitário no dia e na hora em que eu nasci significa que eu sou sagitariano duplamente e um legitimo afilhado do centauro Quiron, professor de Aquiles, grande amigo e rival de Hércules.
Para a astrologia Quiron é uma espécie de padrinho dos sagitarianos. Padrinho desses que põe a mão, as virtudes e os defeitos também. Segundo a mitologia grega, ele era um bem conceituado professor e um grande poeta. Aventureiro, destemido, idealista, competitivo, leal, generoso, independente. Sonhador, exagerado, ansioso, astuto, beberrão, passional, perdulário. Era galanteador, conquistador, sensual e apaixonado, adorava as mulheres e elas a ele. Inteligente e culto, ele dominava a oratória como poucos e convencia facilmente a quem se pusesse a ouvi-lo. Sempre alegre e espirituoso, mas criterioso, honrado e coerente. Era um verdadeiro líder. Todas essas características, boas e más, são encontradas abundantemente nos nascidos sob a influencia do signo que ele patrocina.
Todo sagitariano e principalmente esse sagitariano aqui, vive em função disso. Desenvolvo e valorizo minhas idéias, porque a qualquer momento poderei estar usufruindo do prazer de realizá-las ou de simplesmente sublima-las, essa forma sagitariana de sentir prazer sozinho e individualmente.
Sou um apaixonado por história. Falo de história em Latum Sensum, em termos amplos e abrangentes, manifestação do testemunho sobre o registro evolutivo da sociedade humana em relação ao tempo e ao espaço. No meio disso me transformei num grande apreciador das mitologias, principalmente a grega, de onde provem quase toda a base da cultura ocidental, inclusive muito do que sabemos sobre astrologia e horóscopo.
O centauro Quiron, meio cavalo, meio homem, é um dos mais fascinantes personagens da mitologia grega.
Imortal, em uma determinada batalha, Quiron foi ferido numa perna por uma flecha envenenada com o sangue da hidra de Lerna, que foi morta por Hércules num dos 12 trabalhos que este teve que cumprir como castigo que lhe foi imposto pela deusa Hera, esposa de Zeus. Uma única gota do sangue da hidra seria capaz de matar qualquer humano ou animal. Em Quiron o veneno não era fatal, mas causava-lhe uma dor insuportável.
Certa vez Quiron implorou para que Zeus o libertasse daquele sofrimento e tirasse-lhe a imortalidade, permitindo-lhe que parasse de sentir tanta dor e morresse com dignidade. Zeus negou-lhe o pedido, alegando que a simples morte de Quiron era uma perda desnecessária e um prejuízo grande demais para o Olímpo. No entanto Zeus propôs a Quiron uma outra solução. Ele o arremessaria aos céus e o transformaria em uma constelação de estrelas. A constelação de sagitário. Todos ficaram felizes. Quiron parou de sentir a insuportável dor que o afligia e Zeus pode presentear a humanidade com esse belíssimo conjunto de estrelas.
Uma coisa não saiu um instante sequer da minha cabeça desde que minha mãe leu o horóscopo pra mim até agora. O fato de o astrólogo ter dito “…Tente valorizar suas idéias e desenvolve-las, porque você estará sempre a um passo de realizá-las”. Parece que realizei… Pelo menos no que diz respeito a ter conseguido escrever minha crônica de hoje.

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O melhor para nossos jovens

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Hoje eu quero me dirigir especialmente àqueles cujos filhos estão na faixa dos 12 aos 18 anos, os pais dos tais adolescentes. Vocês têm ido ao cinema com seus filhos? Tenho certeza que não, porque olha… Eu estive num domingo desse aí no cinema e tenho certeza de que os filhos de alguns de vocês estavam lá, e posso prestar um depoimento sincero sobre o que é estar no cinema com eles: é um inferno.
Tenho certeza que vocês procuram educá-los da maneira mais correta possível, mostrando-lhes como devem se comportar no convívio social, mas quando eles fogem de suas vistas e concentram-se em grupo, perdem qualquer chance de ser perdoados. O filme era muito interessante, abordava um assunto intrigante: o convívio do ser humano com um bando de gorilas, na África, mas a platéia fazia com que o cenário, da tela, às vezes saltasse nas cadeiras do cinema, pois a sala parecia uma selva, e aqueles jovens, alguns dos quais, seus filhos, eram os primatas. Pior ainda, pois eles sabiam que estavam incomodando, sabiam que apesar de não serem os macacos da história, agiam como se fossem. Primeiro entraram no cinema quando o filme já tinha começado. Entraram não é bem o termo, acho que o mais apropriado é invadiram.
Adentraram falando, gritando e assim continuaram até se tocarem. Não sei. Será que se tocaram? De qualquer forma, este episódio serviu de mote para eu começar a indagar aos pais – pais, alguns que são amigos meus – sobre o comportamento dos filhos adolescentes. Conversando muito, escutando bastante, cheguei à conclusão de que os pais têm dificuldade de lidar com esses seres precoces e não escondem o quanto torcem para o tempo passar depressa. Querem se livrar do período da adolescência com o menor número de arranhaduras, neles próprios e nos filhos. Queixam-se de que os adolescentes se trancam demais no quarto, que falam demais ao telefone. Acusam os filhos de desatenção e também se queixam do excesso de gírias usado por esses jovens. Eu já passei por isso, e ainda estou passando.
O fato é que, nós os pais de hoje legamos um mundo complexo a nossos filhos. Há mais liberdade, independência, mas tudo isso tem um preço. Aliás, uma das coisas que mais me chamam a atenção é um certo vácuo de ideais na geração mais jovem de hoje. Certamente, ainda há espaço para idealismo. Mas as causas não são tão interessantes. Talvez falte alguma coisa mais forte para os nossos adolescentes acreditarem, além da conveniência de defender as baleias, o Rio Itapecuru ou as florestas da Amazônia.

Tudo leva a crer que os adolescentes de hoje estão mais unidos pelos bens que consomem do que por uma cultura comum ou pela sadia cumplicidade da vida em grupo. Nos anos 60, a geração que chegava às portas do mundo dos adultos tentou viver uma nova ética e fracassou. Nada aconteceu depois disso. A impressão que se tem é a de que os garotos e as garotas de agora estão ainda num intervalo de espera e possivelmente têm a sensação de que alguma coisa está para acontecer.
A imprensa, os meios de comunicação em geral têm alguma culpa nisso? Pode ser. Mas, nas novelas que estão na TV, os jovens são seres estranhos, sempre metidos em casos complicados com namoradas neurastênicas, mães e pais neuróticos, mordomos inúteis – e todo mundo louco, só pensa em sexo e romance o tempo todo. Eu e audiência gostamos, tudo bem, mas se sabe o que é brincadeira e o que é realidade.
O que pode estar faltando é um sonho qualquer, uma utopia. A geração dos pais deixou na estrada um monte de maus exemplos e outras maravilhosas invenções, alguém precisa mostrar-lhes a diferença. Juntamente com o carinho e a educação formal, ensinar a nossos filhos o caminho perdido do idealismo, é a nossa maior contribuição para as suas vidas e sua felicidade (e a nossa também).

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Imagem: nenhuma palavra, mil sentimentos.

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Sempre que passo na Beira-Mar, logo após aquela curva da Pedra da Memória, sinto a impressão de que falta algo naquele cenário. Logo me vem a lembrança da antiga Maria Celeste, que naufragou após um incêndio e cujos destroços fizeram parte, durante anos a fio, daquela parte da fisionomia da nossa São Luís. Muitas lembranças nos ocorrem ora por fatos que vamos puxando da memória ora por imagens marcantes que resistem à passagem do tempo.
Aliás, a partir do momento em que o homem descobriu que as imagens podem ser capturadas e guardadas, até os dias de hoje, o progresso foi notável com tecnologias avançadas – como a Internet -, através da qual é possível ter rápido acesso a bancos de imagens. É possível vasculhar arquivos de fotos que falam por si mesmas. Melhor do que as palavras, fotos que são capazes de traduzir a emoção, a alegria, à tristeza, à beleza, à simplicidade e até mesmo a complexidade de um fato.
Pela Internet, acessando bancos de imagens, pode-se ter um reencontro com fotos históricas, como a do estudante chinês na frente do tanque de guerra; imagens de momentos trágicos, como o da explosão do dirigível Hindemburg, em maio de 1937; ou de momentos alegres, como o da vitória do Brasil sobre a Suécia, na final da Copa do Mundo de 1958, e que dispensam maiores explicações.
Para quem gosta de apreciar estas imagens, o passado e o presente se cruzam, na tela do computador. Lá se pode encontrar aquela foto chocante que registra um dos mais bárbaros momentos da história: o então chefe da polícia sul-vietnamita mata com um tiro na cabeça, em local público e à luz do dia, um guerrilheiro vietcong capturado. Lá se encontram também flagrantes mais recentes, imagens que marcaram o ano passado, como aquela de João Gilberto mostrando a língua para a platéia durante a inauguração do Credicard Hall ou então uma outra imagem, não tão recente, de alguém mostrando a língua, só que para a eternidade e para o mundo, Einstein. São cartazes de filmes, pôsteres de artistas, cartões de natal inesquecíveis, rótulos de produtos e sua evolução.
Pois bem, já que se falou sobre a importância destas imagens, quero voltar a tocar num assunto correlato: o antigo projeto de criação do Museu da Imagem e do Som do Maranhão. Faz exatamente um ano que escrevi um artigo, publicado no “Alternativo” deste jornal, intitulado “Primeira semente do MIS”. Naquela ocasião, lembrei que este projeto, apresentado no ano de 1981 pelo então deputado estadual Marco Antônio Vieira da Silva precisava sair do papel. Desde então abracei a idéia desse projeto e passei a sonhar com este museu, que deverá ter um espaço físico que abranja estúdio para imagens, estúdio para som, um pequeno anfiteatro, um pequeno salão para exposições e bons arquivos para fotos e fitas, além de pessoal competente para a tarefa.
Agora, já avanço nesta idéia achando que este projeto pode ajudar a resgatar a nossa história, também gravando em áudio e vídeo depoimentos de personalidades que participaram – ou participam – da vida política, empresarial e cultural de nosso Estado.
O acervo, com certeza, poderá ser um dos mais ricos. Lá se poderá encontrar as fotos antigas da Avenida Pedro II, da Praça do Panteon, dos bondes, da Rua do Egito, da Praça João Lisboa, da igreja que havia onde hoje existe o Edifício Caiçara. Pode ser um espaço para guardar as fotos do Seu Azoubel e até mesmo servir para que, um dia, por lá eu encontre uma foto da velha Maria Celeste, que podia ser vista de frente para o mar, logo a partir de uma daquelas meias-laranjas do Cais da Sagração.

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Uma conversa sobre o caos

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Sempre que escrevo, costumo pensar no seguinte: existe o mundo, existem as palavras, existe a nossa experiência do mundo e a nossa experiência da palavra. Diante da página em branco, na tela do computador, encontro diante de mim o caos do mundo e o caos da palavra que vou tentando ordenar, operando, deste modo, uma passagem do caos para o ordenamento de meu próprio pensamento.
E penso sobre o caos, que pode ser aquele causado por pacotes econômicos do governo, que de vez em quando nos surpreendem, ou o caos ocasionado pelas chuvas, engarrafamentos, inundações. No mundo da Física, por exemplo, os cientistas insistem em pesquisar sobre um tipo especial de caos, que assola o mundo microscópico da matéria, provocando desordem entre os átomos de uma mesma substância.
Pois bem, para os cientistas, o caos também reina no interior da matéria, como nas grandes cidades brasileiras. Em determinadas circunstâncias, um tipo de desordem generalizada toma conta dos átomos (partículas básicas da matéria). E essa “rebeldia” atômica tem intrigado os pesquisadores que tentam decifrar a confusão desse micromundo.
Agora, quando o assunto é o caos da economia, a coisa se complica ainda mais. Entretanto, veteranos economistas e principalmente filósofos acreditam que o caos não é tão desorganizado. Há uma certa ordem escondida por trás da confusão aparente. E é possível aproveitar certos estados “organizados” do caos, estabilizá-los e devolver a harmonia à bagunça.
Aliás, já houve quem apontasse o tema caos como forte candidato ao Prêmio Nobel de Física. Mas não vingou. Ganharam os quarks, as menores partículas da matéria comum. Há uns 30 anos, o cenário era mais pobre. Cientistas achavam que não havia remédio para o caos. Mesmo a mais poderosa das matemáticas não poderia prever o futuro depois de instalada a desorganização. Com o status adquirido nas últimas décadas, o caos ganhou vigor e virou moda. Resultados teóricos e experimentais já comprovaram que até mesmo a passagem para o estado caótico é feita sob uma determinada ordem.
Outra coisa interessante: o caos pode ser pensado também à luz dos textos bíblicos. Aliás, apocalipse, como substantivo comum, evoluiu para o significado de “grande cataclismo: flagelo terrível”, está no Aurélio. E não sem razão. Adquiriu esse significado porque o livro bíblico que tem esse nome contém “revelações terrificantes acerca dos destinos da humanidade”, como lá diz o mesmo dicionário.
Mas é sempre bom lembrar que o Apocalipse, habitualmente encarado só como o anúncio da destruição da terra e do homem, é alguma coisa a mais, alguma coisa além de “revelações terrificantes”. Para as pessoas que me falam sobre a fé, e com as quais costumo conversar sobre o assunto, o Apocalipse é também a promessa da restauração do cosmo e do homem, na imagem de um novo céu e uma nova terra.
É claro que o Apocalipse, que é o último livro do Novo Testamento, atribuído ao apóstolo João, não foi escrito para amedrontar ninguém. Para alguns, é possível uma aproximação entre o Apocalipse e a destruição atual da terra, para a qual os ecologistas vêm chamando a atenção permanentemente e que é uma preocupação constante de todos os que amam a natureza. Os meios de comunicação diariamente dão conta das conclusões dos cientistas sobre a escassez de água no planeta, o desaparecimento de espécies animais e vegetais que constituem elos indispensáveis na cadeia da vida na Terra, a extinção da vida no mar, as graves alterações climáticas, entre outras coisas ainda mais violentas, como a ameaça nuclear, da qual começamos a ter um pálido retrato na dramática imagem de Hiroxima bombardeada, em 1945.
Diante dessas coisas, chego a pensar que o fim virá, sim, e modernamente os desastres ecológicos começam a nos mostrar isso com clareza. Só que a evolução da idéia do caos nos faz pensar na idéia da “renovação”, a idéia da recriação do mundo. Aliás, é o próprio Apocalipse, que retrata um cenário que vai além do horror e da destruição, que nos confirma esta esperança: “Eis que faço novas todas as coisas” (Ap 21,5).

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Futebol e Arrogância.

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Os embates das seleções nacionais na Copa do Mundo e, de maneira simultânea, o fio da navalha em que se equilibram os candidatos às eleições presidenciais deste ano proporcionaram uma excelente chance de se iniciar uma boa reflexão sobre estas disputas cruciais de nossos dias. Surgem os palpites de quem sairá e de quem ficará até o fim, para disputar a partida final da Copa. Se o Brasil vai mesmo virar o tão sonhado pentacampeão ou se uma outra equipe conseguirá a proeza de conquistar o título de campeã do Mundial.
É, portanto, tempo de especulações sobre vitórias e derrotas. Tempo de pesquisas que projetam dúvidas e indagações sobre quem serão, também, os vencedores das próximas eleições, quem enfim será o novo ocupante da cadeira de presidente da republica. É o tempo de quem encara estas disputas com maturidade e também de quem subestima os adversários numa postura típica de arrogância. Neste último caso, vê-se que, como desde sempre, os arrogantes acabam se dando mal.
Temos o exemplo recente das seleções da França e da Argentina, que entraram em campo posando como as principais favoritas para vencer a Copa do Mundo, e que acabaram decepcionando. Foram desclassificadas logo na primeira fase do Mundial, e de forma vergonhosa, a França não fez um único gol nas três partidas que disputou.
Cabe lembrar aqueles arrogantes, como Napoleão Bonaparte e tantos outros, que deixaram sua marca na História. Bonaparte, que se fez coroar imperador dessa mesma França, de Zidane, vestiu a capa de líder autoritário e deflagrou guerras que, na época, assustaram até a impávida aristocracia européia, mas um dia veio sua acachapante derrota. Muito a propósito disto, existe uma velha expressão – “encontrar seu Waterloo” – que significa sofrer uma derrota ou um desastre definitivo e irreparável. Isto porque foi em Waterloo que, em 1815, após a Jornada dos Cem Dias, depois de fugir da prisão na ilha de Elba, Napoleão foi derrotado fragorosamente pelas forças inglesas, comandadas pelo Duque de Wellington, com a ajuda dos prussianos comandados pelo marechal Gebhard Leberecht von Blucher, príncipe de Whalstatt.
No Brasil recente, a derrocada de Fernando Collor, o primeiro presidente eleito depois de quase 30 anos de autoritarismo, o homem que despertou esperanças formidáveis, ficou como exemplo, porque se viu que depois ele degradou a Presidência da República, submetendo-a a vexames inéditos na história republicana, tudo por causa de sua suprema arrogância.
Quem não se lembra também do todo-poderoso presidente da Câmara Federal, Ibsen Pinheiro, o homem que comandou a sessão do impeachment de Collor e que depois teve o mandato cassado quando a CPI do Orçamento descobriu mais de um milhão de dólares suspeitos em suas contas bancárias, advindos muito provavelmente de suas intimas relações com os ajudantes da Branca de Neve.
Mais recentemente ainda, assistiu-se à derrocada de Antônio Carlos Magalhães, um dos políticos brasileiros mais influentes e duradouros do último meio século. Vale lembrar que, no ano passado, além de ACM mais dois outros poderosos – José Roberto Arruda e Jader Barbalho – renunciaram ao mandato de senador, para evitar a cassação e a conseqüente perda de seus direitos políticos por oito anos. Todos se acreditavam inatingíveis.
Como na tragédia grega, quanto maior o homem, maior a sua queda. E muito a propósito disto, cabe esta reflexão: “O destino dos construtores é produzir, a longo prazo, grandes desmoronamentos”. Esta frase da escritora belga Marguerite Yourcenar (1903-1987) parece pessimista e paradoxal, porém se ajusta muito bem a certas armadilhas do poder e do jogo da vida.
Por tudo isso resolvi lembrar aqui uma outra frase – “Depois de mim, o dilúvio” – atribuída ora ao rei francês Luís 15, o Bem-Amado (1710-1774) ora a sua célebre amante, a marquesa de Pompadour (1721-1764), cujo nome era Antonieta de Poisson. O rei a teria exclamado essa frase diante do Parlamento, numa de suas notórias crises com o Poder Legislativo. Sua amante teria dito a mesma sentença quando posava para um retrato que estava sendo feito por seu pintor preferido, ela, entristecida pelas notícias de uma derrota sofrida pelo rei, que protegia ambos, modelo e artista. O dilúvio, porém, não veio nem depois dele, nem depois dela, nem depois de outros tantos arrogantes que pronunciaram esta mesma frase ou similares.

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EU TE AMO, MÃE!

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Muita gente me identifica instantaneamente como filho do falecido deputado Nagib Haickel, coisa que muito me honra e que de certa maneira é o meu “prefixo”. O que pouca gente leva em consideração é que meu pai precisou de uma mulher para me “produzir”, e nenhuma mulher neste mundo poderia ter me dado a luz, e eu, jamais teria tão maravilhosa luz se a mulher que me concebeu fosse outra senão essa “Clarice”, assim aspeada, Clarice de Clara, de translúcida, de transparente, mulher a quem devo muito mais do que o sobrenome, a quem devo o contrapeso, o equilíbrio, para que eu pudesse ser quem realmente eu sou, hoje.
Se meu pai me deu os traços árabes, se dele eu herdei o gosto pela política, pela história, meus pendores humanísticos devo a minha mãe, Clarice Pinto Haickel, que desde cedo incutiu em mim e em meu irmão as noções básicas da educação, do respeito ao próximo, dos valores familiares, do exemplo cristão de proceder, do dever de ser responsável por si, pelos outros e pelo bem comum. Se meu pai me deu a fibra, minha mãe me ensinou que, de nada vale a força e a tenacidade dessa fibra se ela não for flexível, pois é mais fácil quebrar um tronco de cedro do que um talo de bambu, que não oferecendo grande resistência à força, se dobra, se verga, mas dificilmente se quebra.
A bondade dessa mulher lhe precede e foi preciso que meu pai morresse para que muita gente notasse o que intuitivamente eu sempre soube: grande parte do sucesso de meu pai vinha dela. Pode parecer coisa de filho, mas podem acreditar, sem a minha mãe, meu pai seria mais um libanês louco, mais um político carreirista, mais um comerciante audacioso, mais um homem ou navio sem porto ou bandeira. Muito pouco ela fazia quanto aos negócios ou a política de meu pai, mas não precisava que ela o fizesse na política ou nos negócios, ela operava o milagre era nele, era em nós e em todos, com a sua bondade, com o seu carinho e com sua proteção. Hoje a impressão que eu tenho é que Deus deve ter uma grande dívida para com essa mulher e a paga que ele lhe dá é faze-la uma trabalhadora incansável na defesa das pessoas a quem se propõe proteger. O que estou dizendo pode parecer messiânico, mas tenho certeza de que, quem conhece a minha mãe irá concordar comigo, (para minha grande surpresa, nos últimos tempos descobri que ela é muito popular, pois onde quer que eu vá as pessoas perguntam por ela, quase como se fosse ela o animal político da família) ela não discursa, não fala para multidões, não desfralda bandeiras mas no pequeno circulo onde atua é considerada uma santa pessoa, por sua simplicidade, humildade, resignação, por sua preocupação para com os outros, seu amor fraternal, sua dedicação.
Neste dia das mães, eu que já tive seis (Clarice, Teté, Loló, Lúcia, Didi e Zezé) e que depois ganhei mais duas (Ivana, mãe da minha filha Laila. E Laila, minha filha, que segundo os oráculos foi minha mãe em vidas passadas) posso garantir a vocês que é maravilhoso ter tantas mães. Que se uma é bom, oito é muito melhor. E quero aproveitar a oportunidade para pedir, de público, perdão a todas elas por não ter sido tão bom, como elas mereciam que eu fosse, pois, por mais que nós, filhos, sejamos bons para com nossas mães, ainda assim, lhes estaremos devendo, no mínimo, as nossas vidas.
Obrigado mamãe, por mim mesmo, por meu irmão de sangue, por meus irmãos no teu amor e no teu carinho e até pelo teu filho mais velho, meu pai, que também te chamava de “mãe”.

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