CALMARIA
Maria,
Maria!
Maria?
Maria.
Maria;
Maria …
Maria
Calma, Maria
Calma.
Desde a primeira vez em que eu ouvi falar em Maranhão do Sul que a idéia me pareceu muito boa e olha que isso já faz mais de vinte e cinco anos.
Já na Assembléia Nacional Constituinte votei a favor da criação do novo estado por acreditar que seria o melhor a ser feito. Desde então tenho defendido esta idéia e levantado esta bandeira, e vejam bem, não tenho nenhum interesse político ou eleitoral naquela região.
Na semana passada muito se falou sobre este assunto. Li textos nos blogs dos jornalistas Décio Sá e Marco DEça falando sobre isto e li os comentários dos seus leitores. Havia um texto do Marco intitulado Porque apoiar o Maranhão do Sul? e resolvi fazer um comentário a respeito e participar deste importante debate também ali naquela pagina.
Na sexta-feira, dia 16 de março, recebi um e-mail de um amigo que continha um link para um comentário em áudio que o Arnaldo Jabor fez na rede CBN de rádio, sobre este projeto. Depois de ouvir o que disse o comentarista, achei que deveria enviar-lhe uma mensagem esclarecendo alguns pontos.
Jabor ao invés de defender sua posição ou atacar construtivamente o projeto, perdeu-se em elucubrações sobre nossa política local com o único intuito de denegrir a imagem do senador Sarney e de seu grupo político.
Rechacei seu comentário de maneira direta e clara, mas elegantemente: Primeiramente me apresentei e disse que até, que gostava do cineasta, do letrista e do escritor Arnaldo Jabor, às vezes até do comentarista. Mas precisava informar-lhe que o projeto de criação do Estado do Maranhão do Sul teve sua primeira versão concebida no inicio do século passado. Depois, foi levado a plenário na Assembléia Nacional Constituinte pelas mãos do falecido deputado Davi Alves Silva. Mais recentemente este projeto foi defendido pelo deputado Sebastião Madeira, antes de ser apresentado, pelo senador Edison Lobão.
Continuando na linha informativa, comuniquei-lhe que o grupo Sarney, ao contrario do que ele imagina ou do que lhe foi informado, não detém o controle político-eleitoral absoluto da região sul do Maranhão. Disse-lhe que na principal cidade desta região, Imperatriz, que deverá ser a futura capital do novo Estado, a senadora Roseana Sarney amargou decisiva derrota nas ultimas eleições, onde só obteve um de cada quatro votos. Um dos principais motivos dessa derrota!? Ser contra a criação do novo estado.
Por fim disse-lhe que gostaria que ele soubesse que tanto o senador Sarney, quanto sua filha, que mesmo derrotada conseguiu quase um milhão e trezentos mil votos, menos de cem mil que o governador eleito, Jackson Lago, os dois, José e Roseana, e a grande maioria dos políticos ligados a eles são terminantemente contra a divisão do Maranhão, assim como ele, Jabor, que desavisadamente se coloca contra os anseios emancipatórios de um povo e de uma região que nem conhece.
Na verdade aquele alegre e gracioso comentário só se prestou mesmo para tentar atingir Sarney e seu grupo. Esta foi sua única motivação ao fazê-lo, se assim não o fosse, tal assunto nem lhe teria despertado interesse.
Disse-lhe que os jornalistas e os comentaristas, assim como os políticos, não podem agir de forma casuística e interesseira. Disse-lhe que gostaria muito de ver, de sua parte, uma analise desinteressada, profunda, correta, sem caras e bocas, feita sobre as mais novas unidades federativas, Mato Grosso do Sul e Tocantins, dois exemplos de progresso e prosperidade, como bem podem ser o Maranhão do Sul, Carajás e algumas outras.
Políticos, jornalistas e comentaristas deveriam sempre, o mais que lhes fosse possível, se armar da verdade, coisa que apesar de ser diferente da realidade, já resolveria bastante. Deveriam abandonar de uma vez por todas esta falta grave que é a sedução pelo fácil, pela versão.
Para finalizar fiz uma parodia de uma belíssima poesia de sua autoria: Amor é verdade; Sexo é versão. Ou seria Sexo é verdade; Amor é versão.
Na ultima quarta-feira, 21 de março, submeti a apreciação da Assembléia Legislativa dois requerimentos. Um criando uma Comissão para promover estudos e debates com o objetivo de subsidiar a proposta de criação do Maranhão do Sul e um outro propondo a realização de uma audiência pública com técnicos de diversos setores da administração e de todos os poderes para que possamos esclarecer e aclarar algumas duvidas que tenhamos sobre o processo de emancipação de um estado.
Esta audiência pública deverá ter um objetivo técnico, nada política, no sentido de se defender ou atacar a proposta de criação do Maranhão do Sul. Esta audiência nos ajudará a entender melhor esta situação incomum em que nos encontramos e nos possibilitará um melhor juízo sobre este assunto tão sério e importante.
Estes são tempos difíceis. O mundo, neste inicio de século e de milênio sofre de uma gravíssima doença. Não é a fome, o aquecimento global nem as guerras, todas estas doenças também muito graves. Estamos padecendo também pela falta de grandes personalidades, de grandes lideres, de grandes figuras que possam nos guiar numa hora tão difícil como esta.
Que saudade do século passado, do tempo em que numa mesma sala, em Yalta, uma cidadezinha da Criméia, ao sul da Ucrânia, na costa norte do mar Negro se poderia encontrar Franklin Roosevelt, Josef Stalin e Winston Churchill e não George W. Bush, Vladimir Putin e Tony Blair.
Mesmo os primeiros sendo uma espécie de Getulio Vargas americano, um sanguinário filho de sapateiro e uma velha raposa aristocrata, não dá para compará-los com um alcoólatra ignorante, um espião malaco e um pequeno burguês trabalhista, né?
Chega ou quer mais? Então vamos para o outro lado daquela época conflituosa. Representando seus paises que então formavam o Eixo estavam Hiroíto, Hitler e Mussolini e não Akihito, Merkel e Berlusconi.
Mesmo que os três primeiros sejam reconhecidamente personalidades repudiadas por seus atos abomináveis, os outros três não dão nem pra saída, não acha!?
Entre Fugéncio Batista e Fidel Castro prefiro o barbudo, mesmo sabendo que ele não é o que se poderia chamar de democrata, não é meu caro amigo Fernando!? Bom, já que citei apenas o primeiro nome de um dos maiores biógrafos do país, tenho que pedir pra vocês ai me arrumarem alguém tão ruim quanto o deplorável, imbecil, falastrão, déspota embrutecido, Hugo Chaves, amigo de meu bom amigo Fernando Morais! Ninguém é perfeito, né Fernando!?
Tudo bem que a Bolívia não tem um histórico de lideres excepcional, mas quem é tão pior que Evo Morales?
Vamos deixar o setor político um pouco de lado, vamos ver o que ocorre com o pessoal das artes, da cultura, das ciências, do humanismo.
Mostrem-me um pintor melhores que Miró, Dalí ou Picasso, isso pra falar apenas dos espanhóis.
Gershwin, Berlin, Porter, Ravel, Lobos, Mahler, Debussy, Rachmaninoff, Prokofiev, Jobim Quais compositores de hoje estão a altura destes? Philip Glass? Vixi!
Apontem-me escritores melhores que Proust, Faulkner, Wells, Pessoa, Joyce, Borges, Hammet, Woolf, Mann, Orwell, Amado, Pirandello… Será que Dan Brown, JK Rowling e Paulo Coelho se candidatam? Tudo bem que os três juntos devem ter vendido mais do triplo de livros que os outros doze somados.
Cientistas como Curie, Pasteur, Einstein, Fermi, Bohr, Rutherford, Bell, Edison… Bill Gates faz frente?
Quem na Índia de hoje, no mundo de hoje, pode se comparar a Gandhi? Quem na terra do tio Sam pode se comparar a Martin Luter King? Quem na sua Macedônia de nascimento ou em sua Calcutá de adoção pode se comparar com aquela Teresa, aquela que nasceu Agnes Gonxha Bojaxhiu!? Tem alguém por ai comparável a Mandela?
Este papo está ficando chato. Afinal estou tentando mostrar a enorme carência de grandes personalidades em nossos dias só pra falar de um ato praticado pelo nosso governador Jackson Lago que considero bastante infeliz. O fato dele ter participado de uma manifestação popular onde um boneco simbolizando o presidente de uma nação soberana é enforcado e queimado.
Imagino que o governador Jackson Lago realmente não queria ter participado da queima e do enforcado do boneco do presidente americano George W. Bush, e por isso mesmo, tal fato acaba sendo muito pior e mais grave, pois comprova que o nosso governador ainda não desceu do palanque, ainda não se convenceu que agora representa os mais altos interesses do povo maranhense e não mais apenas os interesses de um determinado grupo político ou mesmo de um pequeno grupo de manifestantes.
Saber como se portar frente a uma situação destas, saber dizer não a certos exageros por parte de alguns correligionários é o mínimo que devemos esperar de um governante. Não queremos para nos dirigir alguém inconseqüente como George W. Bush nem um idiota como Hugo Chaves. Vice-versa quanto aos adjetivos dos dois.
A maioria constitucional do povo Maranhense elegeu para dirigir os nossos destinos um conceituado médico, um experimentado político, eleito anteriormente três vezes prefeito da nossa capital, esperando que ele e seus colaboradores, muitos deles meus amigos particulares, conseguissem um dia descer do palanque e começassem a transformar o Maranhão num lugar melhor para se viver, como passaram os últimos quarenta anos dizendo que poderiam fazer. Tá na hora de começarem a fazer alguma coisa neste sentido.
À má crendice
ao faturamento
à pergunta que você não fez
ao amor conjugal de duas pessoas que se odeiam
à carta de um suicida na hora da última ciranda
à quem sabe o que é melhor
ao herói
ao covarde
à missa dos fariseus
à resposta não publicada
à procissão dos omissos
aos que amam
aos que odeiam
ao primeiro interrogatório de si mesmo
ao segundo interrogatório de todos
aos que ouvem
aos que falam
à ecologia
à fome
à miséria
à liberdade
à viúva
ao órfão
ao morto
meus pêsames.
Joaquim Nagib Haickel
Deputado estadual e membro da Academia Imperatrizense de Letras.
Alguns amigos e leitores andam reclamando que há muito tempo não escrevo nem publicado nada de novo, principalmente nada sobre política. Acho que eles têm razão, então lá vai, depois não reclamem heim!
Minha abordagem de hoje terá quatro tópicos:
1 – Uma frase, na verdade uma sentença na real acepção da palavra ecoa em meus ouvidos há mais de um ano, quando um importante chefe político do meu partido me disse que apesar de eu ser um sujeito culto e inteligente, um deputado competente, um político coerente, responsável e respeitado, carregava comigo um grave defeito que segundo ele me inviabilizaria definitivamente o futuro promissor, que eu até poderia ter, se não fosse como sou.
Você deve estar se perguntado, qual tão grave defeito será que tem esse rapaz!? Segundo ele, o defeito que fará com que eu não assuma os mais altos postos da minha carreira se deve ao fato de eu não aceitar o sistema de liderança cega, surda e muda, como aqueles macaquinhos com as mãos tapando os olhos, os ouvidos e a boca.
Se for verdade que para alguém ter sucesso na política, tenha que se submeter cegamente, surdamente e mudamente a um líder, quem quer que seja ele, então estou realmente lascado. Isso não faço não. Não porque não queira, mas porque simplesmente não sei como agir assim. Não consigo não ver o que me mostram, não consigo não ouvir o que me dizem e principalmente, não consigo deixar de dizer o que penso, de dar minha opinião.
2 – Tenho me sentido muito incomodado com o comportamento de alguns amigos jornalistas que estão fazendo o que mais condenávamos nos jornalistas adversários tempos atrás. Esta dança das cadeiras propiciada pela mudança no comando dos destinos de nosso estado, bem demonstra a forma absurdamente errada que os nossos adversários agiam antes, mas infelizmente serve para comprovar que somos nós agora os errados na forma de praticar o jornalismo político.
Não é porque estamos fora do governo que vamos simplesmente passar a agir como agia a imprensa que antes achávamos tendenciosa e sectária. Dona de uma visão estreita, intolerante e intransigente. Agora somos nós a oposição e agir como agiam aqueles a quem tanto condenávamos é um absurdo sem falar que é uma grande burrice. Os caminhos e a formas mais fáceis e cômodas de defender algo, quase sempre são os mais passíveis de insucesso. Vide os nossos adversários.
3 – Estive em Imperatriz no dia 8 de março, dia internacional da mulher. Fui para a sessão da Academia Imperatrizense de Letras que comemorou aquela festiva data e depois fui ao Teatro Ferreira Gullar onde mais comemorações alusivas ao dia da mulher aconteciam.
Foi uma noite divertida e interessante. Entre uma atração e outra eram feitas homenagens a importantes personalidades femininas da cidade, do estado, do país e do mundo. Perguntas do tipo quem foi a primeira mulher a se eleger deputada federal no Brasil eram feitas e quem respondesse corretamente ganhava um presente. Muito interessante e educativo.
Encerrada a festa fomos eu, o confrade Domingos César e o presidente regional do PC do B, Gerson Pinheiro sentar na porta do teatro. Lá pelas tantas Domingos se vira e diz que aquele teatro foi o melhor presente que a Roseana poderia ter-lhes dado. Imediatamente retruquei, pois não sei agir de outra forma. Disse que acreditava, mas perguntei-lhe que se isso era verdade, porque será que sendo o dia internacional da mulher, e tendo em vista todas aquelas homenagens feitas para tantas mulheres tão importantes e merecedoras de nosso respeito e de nossa gratidão, porque não houve nem uma simples alusão ao nome da primeira governadora eleita e reeleita em um estado brasileiro, já que foram homenageadas a primeira deputada federal do Brasil, a primeira prefeita de um município brasileiro, a primeira vereadora do município de Imperatriz!? Ele sorriu como se concordasse.
Sectarismo! Visão parcial, estreita, intransigente e intolerante. As promotoras da festa pertenciam a uma corrente política contraria a ex-governadora Roseana, mas não poderiam jamais desconhecer que ela é mulher e como tal, aquele dia também era seu, e se estavam homenageando tantas e todas as mulheres porque não homenagear até mesmo uma que apesar de ser adversária, construiu e reformou o teatro que servia de palco para aquela comemoração?
4 Dito isso, quero me dirigir àquele importante líder de meu partido que disse que jamais eu alcançaria posições de destaque na política porque não idolatrava um líder, não tinha um chefe. Olha, já cheguei onde jamais pensei que pudesse chegar. Estou na política desde 1982, 25 anos, bodas de prata. Só irei adiante inteiro, completo, vendo, ouvindo e falando. Se tiver que me mutilar para galgar um degrauzinho a mais, ficarei onde estou. Estou bem aqui.
Integro. Quero poder ser capaz de criticar leal e abertamente meus amigos para poder com todo o respeito e com toda a moral que tenho e que as pessoas têm por mim, defendê-los, quando eles realmente precisarem, não quando simplesmente, por algum capricho eles o quiserem.
Procuro ser um bom político. Jamais seria um capacho.
Rosto barroco de mulher
refletido
feito fotografia antiga
no vidro fosco
do petisqueiro da cozinha.
Cheiro
papel/plástico
abafado de brinquedo
nos becos
da memória infantil.
Saudade.
Casquete.
Xulipa.
E eu aqui
no meio do mundo
roendo a gravata
babador adulto.
Na praça do mercado de Nazihr, uma cidadezinha próxima a Agra, na Índia dos marajás, numa certa manhã de outono, um jovem de nome Vasti, exibia seu coração, que todos achavam o mais bonito do lugar. Uma grande multidão em torno dele admirava seu coração, pois ele era perfeito. Não havia nele um único sinal que lhe prejudicasse a beleza. Todos reconheciam que realmente era o coração mais bonito que jamais haviam visto. Vasti estava vaidoso e ostentava seu coração com crescente orgulho. De repente um velho homem, um tanto eremita, conhecido pelo nome de Mehta, montado em seu cavalo, surgiu no meio da multidão, desceu do cavalo e bradou: Seu coração nem de longe é tão bonito quanto o meu! Todos olharam para o coração do velho homem que Batia regular e fortemente, mais era cheio de cicatrizes. Havia lugares onde faltavam pedaços e também partes com enxertos que não se encaixavam bem, e tinham as laterais ressaltadas.
A multidão se espantou! Como aquele homem podia dizer que seu coração era mais bonito?
Vasti olhou para o coração do velho Mehta e disse, rindo: O senhor deve estar brincando! Compare seu coração com o meu e veja. O meu é perfeito e o seu é uma confusão de cicatrizes e emendas!. Disse-lhe então o velho homem: O seu tem aparência perfeita mais nunca trocaria o meu por ele. Estas marcas representam pessoas a quem dei o meu amor. Eu arranquei pedaços do meu coração e dei a elas e, muitas vezes, elas me deram pedaços de seus corações para colocar nos espaços deixados no meu; como esses pedaços não eram de tamanho exato, hoje parecem enxertos feios e grosseiros, mas eu os conservo como lembranças de amor que dividi com aquelas pessoas. Algumas vezes eu dei pedaços do meu coração e as outras pessoas que o receberam não me deram em retorno pedaços dos seus. Esses são os buracos que você vê. Dar amor, dar o coração, é arriscar. Embora esses buracos doam, eles permanecem, aí, abertos, lembrando-me do amor que tenho por aquelas pessoas, e tenho esperança que um dia elas me dêem retorno desse amor e preencham os espaços que ficaram vazios.
O jovem Vasti, tendo então entendido o que é realmente o significado da beleza, em silêncio, com lágrimas rolando pela face, caminhou na direção do velho homem, olhou para o próprio coração e arrancou um pedaço, e com as mãos trêmulas ofereceu-o a ele. Mehta pegou aquele pedaço, colocou no seu coração e tirando dele um outro pedaço, colocou-o no espaço deixado no coração do jovem. Coube, mais não perfeitamente, já que havia irregulares beiradas.
Vasti olhou para o seu antes tão perfeito coração, já não tão perfeito depois disso, mas, no entanto muito mais bonito do que sempre fora.
Diante da multidão que os observava em respeitoso silêncio, eles se abraçaram e saíram andando lado a lado, seguidos por Gita, o cavalo do homem velho, cujas patas batendo no solo emitiam o som de corações pulsando.
* Crônica adaptada de uma estória antiga, mas pautada em acontecimentos recentes.
Dois litros (Johnnie Walker) d’água pelo meio – um manchado de batom.
Numa lata de salsichas (Wilson), só duas.
Uma caneca (de alumínio) emborcada num prato. Um talher enrolado num guardanapo de papel. Três fôrmas de gelo (vazias) na prateleira do meio.
Numa frigideira o resto do jantar de ontem (arroz, feijão, ovo, macarrão e salsicha).
Uma panela de arroz tampada com um prato. Uma lata de feijão (Wilson) na porta.
Na gaveta, dois tomates (mínimos), uma banda de limão, um pedaço de cebola e dois dentes de alho.
Os ovos que não foram almoçados ontem estão na fôrma. Da manteiga restou a mantegueira.
Em baixo, na porta, uma lata de óleo (Salada) e duas garrafas de Brahma (cerveja).
O açúcar contra a formiga (e o poeta contra ó mundo?). Leite condensado (Moça?).
1/4 de mamão (família).
Dois parafusos dos pés da geladeira e quatro pilhas (Ray-o-Vac) médias no congelador.
Há também um fusca (desmontado) atrás da geladeira.
Vai procurar…
Feito fantasma vou aparecer…
E o fiapo de alma que levo comigo
assombrará mais
que o espectro que imaginavam
dono de mim.
E nunca foi.
Vai procurar sim…
Como zumbi aparecerei…
Morto vivo,
olhos fixos,
carregando um enorme vazio dentro do peito
estraçalhado por uma saudade estranha.
Saudade daquilo que nunca tive.
Vai procurar,
fantasma ou zumbi,
e vai achar.
Ruim,
vai ser quando
procurar por si mesmo
e descobrir
que tu é quem arrasta correntes,
noite após noite,
no sótão de uma vida
escura
triste
e sozinha.
Que não consegues sequer
refletir um simples brilho de luz
num misero espelho
com o qual passou toda a vida
flertando.