Vivendo e aprendendo

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Tenho um bom amigo que me manda pelo menos 50 mensagens eletrônicas por dia, então resolvi compartilhar com vocês, sempre que for possível, algumas delas (apenas algumas…rsrsrsrs). Espero que apreciem. 

Aos 4 anos aprendi que peixinhos dourados não gostam de gelatina.
Aos 5 anos aprendi que gosto de minha professora porque ela chora quando cantamos Noite Feliz.
Aos 7 anos aprendi que meu pai pode dizer um monte de palavras que eu não posso.
Aos 8 anos aprendi que minha professora sempre me chama quando eu não sei a resposta. Aos 9 anos aprendi que se pode estar apaixonado por 4 garotas ao mesmo tempo.
Aos 10 anos aprendi que os meus melhores amigos são os que sempre me metem em confusão.
Aos 11 anos aprendi que se tenho problemas na escola, tenho mais ainda em casa.
Aos 12 anos aprendi que quando meu quarto fica do jeito que quero, minha mãe manda eu arrumá-lo.
Aos 13 anos aprendi que não se deve descarregar suas frustrações no seu irmão menor, porque seu pai tem frustrações maiores e mão mais pesada.
Aos 15 anos aprendi que os grandes problemas sempre começam pequenos.
Aos 20 anos aprendi que nunca devo elogiar a comida de minha mãe quando estou comendo alguma coisa que minha mulher preparou.
Aos 22 anos aprendi que se pode fazer num instante algo que vai lhe dar dor de cabeça a vida toda.
Aos 25 anos aprendi que para todo o lugar que vou, os piores motoristas me seguem.
Aos 27 anos aprendi que quando minha mulher e eu temos, finalmente, uma noite sem as crianças, passamos a maior parte do tempo falando sobre elas.
Aos 28 anos aprendi que casais que não tem filhos, sabem melhor do que você como se deve educar os seus.
Aos 29 anos aprendi que é mais fácil fazer amigos do que se livrar deles.
Aos 30 anos aprendi que não se deve casar com alguém que tenha mais problemas do que você.
Aos 31 anos aprendi que mulheres gostam de ganhar flores, especialmente sem nenhum motivo.
Aos 33 anos aprendi que não cometo muitos erros com a boca fechada.
Aos 34 anos aprendi que existem duas coisas essenciais para um casamento feliz: contas bancárias e banheiros separados.
Aos 36 anos aprendi que se quiser ser convidado a festas, tenho que dá-las.
Aos 37 anos aprendi que toda a vez que estou viajando gostaria de estar em casa e toda vez que estou em casa gostaria de estar viajando.
Aos 39 anos aprendi que a época que preciso realmente de férias é justamente quando acabo de voltar delas.
Aos 40 anos aprendi que nunca se conhece bem os amigos até que se tire férias com eles.
Aos 41 anos aprendi que se você está levando uma vida sem fracassos, você não está correndo riscos o suficiente.
Aos 42 anos aprendi que a pessoa que afirma que alguma coisa não pode ser feita, freqüentemente. interrompe alguém que está fazendo.
Aos 43 anos aprendi que você pode enrolar por quinze minutos. Depois disso é melhor que saiba alguma coisa.
Aos 45 anos aprendi que a qualidade de serviço de um hotel é diretamente proporcional a espessura de suas toalhas.
Aos 46 anos aprendi que crianças e avós são aliados naturais.
Aos 47 anos aprendi que se você quer saber quem manda numa família, só observar quem toma conta do controle remoto da TV.
Aos 48 anos aprendi que o homem tem quatro idades:
     1) quando acredita em Papai Noel,
     2) quando não acredita em Papai Noel,
     3) quando é Papai Noel e
     4) quando se parece com Papai Noel.
Aos 51 anos aprendi que o objeto mais importante de um escritório é a lata de lixo.
Aos 54 anos aprendi que é impossível tirar férias sem engordar cinco quilos.
Aos 55 anos aprendi que não posso mudar o que passou, mas posso deixar pra lá.
Aos 63 anos aprendi que a maioria das coisas com que me preocupo, nunca acontecem.
Aos 64 anos aprendi que nunca você deve ir para cama sem resolver uma briga.
Aos 71 anos aprendi que quando as coisas vão mal, eu não tenho que ir com elas.
Aos 80 anos aprendi que envelhecer é bom só se você for um vinho ou um queijo fedorento

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Diário de viagem – 2

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1 – Boston é de certa forma uma cidade bastante provinciana. Mais de três milhões de habitantes e ainda mantém nítidas as características comunitárias de pequena cidade. Notei que nesta parte o país, a Nova Inglaterra, o prefeito de certa forma é mais importante que o governador. Enquanto um faz projetos e executa obras, o outro é uma figura representativa, um magistrado.
Fiquei intrigado e perguntei ao Álvaro Lima, se já que o prefeito, seu amigo, é tão forte na capital do estado, tanto que vem se reelegendo há tantos anos, porque ele não se candidata ao governo, ao que ele me respondeu: “Ele acredita que é mais importante fazer um excelente trabalho na cidade que um trabalho apenas regular no Estado”. Se todos nós pensássemos assim no Brasil as coisas talvez começassem a mudar pra melhor.

2 – Estou impressionado com a imensa quantidade de imigrantes brasileiros, não só em Boston, mas em toda região nordeste os Estados Unidos. São segundo as mais conservadoras avaliações mais de 350 mil brasileiros por aqui. Alguns acreditam que sejamos 400 mil. È uma considerável corrente migratória que não pode ser desconhecida ou desconsiderada por nossos governantes e pelo que senti por aqui, nossos conterrâneos estão bastante queixosos com o Itamaraty, as pessoas se sentem abandonadas pelo nosso governo.

3 – Coisas incríveis acontecem a cada instante, em todo lugar e com qualquer pessoa. Comigo, as que acontecem eu costumo registrar.
Conhecer pessoas é uma das coisas que eu mais gosto de fazer na vida. É até difícil dizer o que eu mais gosto de fazer porque eu gosto de tanta coisa… Mas nesta viagem tenho conhecido pessoas muito interessantes.
Fui visitar minha prima Salwa e ao entrar no elevador dei de cara com uma senhora loira e um sujeito baixinho que carregava uma bike de corrida nas costas, usando uns óculos de sol minúsculos e fashion. Dei bom dia, olhei para o painel do elevador e fiquei completamente perdido. Tinha que ir para o apartamento 17 em um prédio onde cada unidade ocupa um andar inteiro e naquele painel não havia o 17° andar… Já me desculpando por meu inglês ruim, pedi ajuda ao cavalheiro. Quando lhe disse que queria ir ao “seventeen floor”, ele disse sorrindo, em um português bem pior que o meu inglês: “oucêi deviii cerrr jakin, prinnmou cineasssstou dii Salwa”. O baixinho invocado era o Bob, o milionário marido de minha prima. Ele então se virou para senhora ao seu lado e me apresentou pra ela, ao que eu respondi em meu inglês bem melhor que o português dele, simplesmente, “nice to meet you” (Ta pensando! Fiz bonito!).
Horas mais tarde, depois de um magnífico almoço genuinamente bostoniano, a base de lagostas, lulas, vieiras e mexilhões, num magnífico restaurante tradicional, na área do cais, comentei com Salwa que o motorista de táxi que me levará até sua casa havia me dito que naquele prédio morava a ex-mulher do senador Ted Kennedy. Bob então intercedeu e diz pra mim: “oucêi  parrecie kii eh dii Bacubal (ele se referia a Bacabal), ah sinhoura kii tii presenntei no levadorr irah Joan Kennedy!”. Tive então a reafirmação de duas antigas constatações e passei a ter uma outra certeza: De como esse mundo é pequeno e de como o tempo é implacável, além do que, meu inglês não é tão ruim assim, viu!?

4 – Domingo passado meu filme, “Pelo Ouvido” foi exibido pela primeira vez para o publico e isso aconteceu aqui no Boston Internacional Film Festival. Senti algo Maravilhoso ao ver meu trabalho naquela tela gigantesca, no maior cinema de uma das cidades mais importantes dos Estados Unidos. Por um instante tive a sensação do dever cumprido e tive vontade de voltar pra casa, pra minha vidinha, minha família, meus amigos, meu caranguejo toc-toc, pra lida enfadonha da Assembléia, pra tomar a frente da Fundação Nagib Haickel, do Museu da Memória Audiovisual do Maranhão… Foi quando me lembrei daquela famosa frase de César: Vim, vi e venci. O fato de meu filme ter vindo, de ter sido visto e apreciado por muita gente, já o faz um vencedor. Quanto ao resultado do Festival propriamente dito, isso é coisa que tanto eu quanto vocês só vamos saber depois, por que o os envelopes só serão abertos amanhã, por enquanto vamos comemorar uma outra vitória. O primeiro premio do filme “Pelo Ouvido” saiu hoje, foi o de melhor atriz dado pelo júri técnico do festival de Cabo Frio, para minha querida amiga Amanda Acosta por seu impecável desempenho no papel de Keyt.

Boston, 13 de junho de 2008.

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Diário de viagem – Intermezzo

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1 – A festa de abertura do Boston International Film Festival foi bem legal. Ela me fez lembrar de dirigir uma palavra especial ao meu amigo Euclides Moreira, alma o festival Guarnicê de Cinema, que faz o nosso Maranhão ser conhecido e respeitado em todo Brasil: É muito difícil fazer um evento destes em qualquer lugar do mundo, aqui nos Estados Unidos inclusive, imaginem só em nossa terra onde quase ninguém ajuda. Você, amigo Euclides, e os abnegados que lhe ajudam são uns gigantes por fazer isso, com sucesso, já há 31 anos. Meus parabéns! E muito obrigado. 

2 – O meu modesto conhecimento do idioma de Sheakespare me permite não morrer de fome, mas isso é coisa que um pouco de mímica e uma providencial ajuda de Benjamim Franklin ou de Ulisses Grant, se resolve. Dá até para assistir aos filmes do festival sem problema. É nessas horas que minha dislexia ajuda. Minha extrema familiaridade com o audiovisual supre boa parte da dificuldade com o idioma. Dá pra manter um contato inicial, me apresentar, perguntar algumas coisas, entender algumas respostas, falar sobre meu filme, mas é só. Mais que isso já fica complicado. Não dá pra aprofundar uma conversa. Gostaria muito que minha filha Laila estivesse aqui, ela poderia ser a minha voz.

3– Tenho sentido muita falta de minha família e de meus amigos. Viajo muito, e não me lembro de ter me sentido assim antes. Nas ultimas semanas tenho freqüentado toda terça feira uma Célula dirigida por Taliane Lima e que se reúne na casa de meu amigo Rafael Blume ou de algum membro do grupo. Na ultima terça ganhei uma Bíblia de letras grandes e de tradução acessível, presente de Daniel. Vou sentir falta deles nessa semana, mas na próxima estarei lá.

4 – Passei agora a pouco por uma senhora idosa, de cabeça branquinha, que passeava sozinha em um parque. Lembrei-me de dona Filuca, de sua energia e de sua vivacidade. Filuquinha vai fazer muita falta, mas ela já fez uma coisa incrível, reuniu um dia depois de seu enterro todos os seus filhos em sua casa da Rua do Sol, coisa que não acontecia há muito tempo. Gostei muito de ver todos ali: Amadeu, Carlinhos, Carmem e Mamalia, suas esposas e esposos, filhos e netos. Tenho certeza que tanto ela quanto velho Emanuel devem ter ficado muito contentes.

5 – Estou impressionado com a popularidade de Álvaro Lima, não só em meio à comunidade brasileira de Boston, mas principalmente em relação ao prefeito que já está no cargo há 16 anos e vai agora para o quinto mandato consecutivo. Alvinho, na administração da cidade, acumula as funções de secretario de planejamento e de secretario para desenvolvimento comunitário. Fiquei muito orgulhoso quando o acompanhei a uma reunião da associação de mulheres brasileiras e pude constatar ali todo seu o prestigio, o respeito e o carinho que ele desfruta por aqui. Outra pessoa muito influente na cidade é Salwa Aboud, ex-consul honorária do Brasil em Boston, que por aqui é conhecida por Madame Smith, sobrenome de seu marido Bob, uma figura simpaticíssima, divertido e engraçado, alem de ser um importante financista de Wall Street.  

6 – Ainda sobre Alvinho, fico imaginando quanta coisa esse maranhense extraordinário poderia fazer em beneficio de nossa gente e de nosso estado, executando aí algumas de suas idéias e colocando em pratica em terras maranhenses alguns de seus projetos e experiências tão bem sucedidas e desenvolvidas na administração de seu amigo prefeito de Boston, Thomas M. Menino. São coisas simples, tão simples que chegam a ser ridículas. Numa conversa com ele dei-me conta de que a radicalização do capitalismo americano somada a uma imensa noção de responsabilidade e humanidade transformou a cidade de Boston quase em uma sociedade socialista.

7 – O clima mudou radicalmente. Quando cheguei aqui fazia um frio de lascar, agora ta fazendo um calor digno de Santa Inês ou imperatriz. Estive aqui pela primeira vez vinte anos atrás, quando era deputado federal constituinte, participando de um congresso da Associação Americana de Jovens Lideres, para conhecer o modelo político, partidário e eleitoral dos americanos. Naquela época o então governador de Massachucetes, Michael Dukakis, concorria nas previas do partido Democrata para disputar a presidência da republica Yankee. A cidade que já era linda está agora magnífica. Boa parte da inteligência americana vive aqui e trabalha em duas grandes organizações educacionais e cientificas, em Harvard e no MIT.

8 – Meu filme fez sua estréia mundial nos circuitos dos festivais, aqui, no domingo e contou com uma grande quantidade de espectadores. Alguns brasileiros, outros americanos que convidados de Alvinho e Salwa, vieram ver o filme. Fiquei emocionado ao ver tanta gente que eu nem conheço, prestando atenção na historia de Keyt e Charlie. Depois fui sabatinado pela audiência. Queriam saber de quem era a historia, quanto tempo e quanto dinheiro foi investido para realizar o filme. Aparentemente todos gostaram muito, acharam um filme bastante profundo e sensível.

Ainda esse mês ele estará participando de festivais em Cabo Frio e São Luis, enquanto o “Padre Nosso” vai estar em Florianópolis, no festival de cinema do MERCOSUL.  

Boston, 09 de junho de 2008.

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Diário de viagem – Parte 1

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1 – Como sempre faço, passei a semana inteira me preparando para viajar. Fiz as contas dos dias que passaria fora, separei as roupas conforme as ocasiões, combinações, usos e possibilidades de cada uma. Começo fazendo um mapa do corpo, de baixo para cima: sapatos, meias, cuecas, sunga de banho, calções para dormir, bermudas, calças, camisetas, camisas, casacos e outras coisas tais como gravatas, lenços, bonés…

2 – Fiz tudo certo, vôo confirmado, hotel confirmado, até o transfer do aeroporto para o hotel confirmado. Só faltou combinar com o setor de manutenção da TAM… O vôo foi cancelado em Belém, tive que ir para o Rio, depois pra São Paulo pra só então chegar a Miami e fazer conexão imediata para Boston. 48 horas viajando.

3– No avião conheci duas pessoas muito interessantes: Wanderson, um brasileiro de Curitiba, que tem dupla nacionalidade, é também americano onde faz parte das forças especiais do exercito dos Estados Unidos. Um SEAL daqueles que só se vê em filmes de guerra. O cara é muito louco. Dizendo ele que era da Legião Estrangeira da França, um mercenário. Fala seis idiomas: Português, inglês, espanhol, francês, árabe e russo. Tem seus 130 quilos distribuídos em quase dois metros de altura. Falante, me mostrou todas as suas identificações, falou de como estão as coisas no Iraque e o principal, que estava voltando para se entregar, pois pirou, fugiu, desertou e agora fez um acordo pra voltar. Vai pegar uma cana, perder um pouco do salário e voltar pro Iraque onde deve ficar quinze meses, depois dá baixa e vai morar no Brasil. A outra foi Danw, uma simpática moça de Chicago que mora em Miami, trabalha na Caterpilla e passou 10 dias em Piracicaba fazendo marketing de seus tratores. Uma bela negra dona de um perfil que lembra Nefertiti. Extremamente inteligente e elegante. Parecia ser da CIA. Pensei estar em um roteiro de um filme da serie de filmes de Jason Bourne ou Jack Ryan.

4 – Ao descer em Miami, na imigração, peguei a fila errada e fui repreendido por um sujeito que mais parecia aquele obelisco de 2001, uma odisséia no espaço. Gigantesco e negro. O cara, quase que em câmera lenta, levantou-se de sua cadeira e foi olhar pra ver se eu estava na placa de identificação da fila em que eu me encontrava, então com certa ironia e bastante arrogância mandou-me mudar de fila, no que obedeci. Cena digna dos desenhos de Tom e Jerry, quando um daqueles cachorrões intimida o pobre e fraco bichano. O tempo passava rápido e as filas andavam muito devagar, até que um supervisor mudou um monte de gente de lugar e me recolocou novamente na fila em que eu estava antes, a do negão. Quando chegou a minha vez, quase que em câmera lenta, me aproximei dele, olhei bem em seus olhos, voltei pra ler o que estava escrito na placa e voltei-me a ele dizendo: ‘Oi! Veja como são as coisas, esse mundo é muito pequeno, eu voltei!

5 – Ao fazer a conexão pra Boston, uma moça da segurança olhou pra minha cara e me mandou ir por uma fila diferente da dos demais. Achei estranho mas fui, não tinha escolha. A revista nessa fila era redobrada, acho que tenho cara de terrorista! Depois de constatar que só a minha cara é um terror a moça me liberou.

6 – No saguão, esperando o vôo pra Boston, ouvi umas pessoas falando meu amado idioma. Essa é uma das melhores sensações que eu sinto quando estou viajando, encontrar alguém que fale minha língua. As pessoas que conheci eram a médica Luciana, o músico Fernando e sua mulher, a atriz Edel.

7 – No avião para Boston passou o filme “Antes de Partir” com Jack Nicholson e Morgan Freeman, dirigido por Rob Reiner. Como já havia visto, resolvi vê-lo, sem som. Lembrei-me de quase tudo, até chorei exatamente no mesmo lugar em que eu e Laila choramos junto, quando assistimos pela primeira vez. O casal ao um lado não entendeu nada.

8 – Depois disso tudo, cheguei e tenho que correr porque é hoje a abertura do Boston International Film Festival e meu filme “Pelo Ouvido” carrega a imensa responsabilidade de ser o único representante do Brasil. De repente estou me sentindo extremamente sozinho, mas ainda bem que vou encontrar com Álvaro Lima (filho de dona Zelinda e de seu Carlos Lima) e com Salwa Aboud (filha de dona Albertina e seu Eduardo Aboud) que moram aqui há muitos anos. De repente já estou me sentindo em casa. Só falta abiscoitar pelo menos um premiozinho no festival, se bem que já é um grande prêmio o fato de ter sido selecionado em meio a mais de dois mil trabalhos.

Boston, 06 de junho de 2008

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Carta de Laila

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Leiam o texto abaixo, escrito por minha filha Laila, e vejam se eu não tenho que realmente agradecer a Deus pelo acidente que aconteceu comigo na ultima quinta-feira, dia 22, Corpus Christie!? 

Medo. Medo de te perder por tão pouco. Um segundo muda tudo. Todo o curso de uma vida. Se talvez tu tivesse saído de casa trinta segundos antes ou depois não aconteceria nada. Eu não teria que segurar a náusea de escutar a voz da minha irmã trêmula ao telefone dizendo ‘teu pai sofreu um acidente’, nem ter os joelhos fraquejando fazendo eu me sentar sem eu mesma querer, nem não saber de onde saiu uma voz muito mais grossa e firme do que a minha de praxe ao perguntar vezes seguidas: ‘Cala a boca e me diz se ele tá bem. Ele tá bem? Ele tá BEM? ELE TÁ BEM? Me diz se ele tá bem’. O silêncio do segundo entre a pergunta e a resposta pareceu minutos, meus ouvidos não captavam nada, era o vácuo, era um precipício, ecoando meus últimos pensamentos antes de receber a ligação: tu, trajando a melhor roupa, em um tapete vermelho, e eu rindo das tuas falhas tentativas de se comunicar em inglês, o verdadeiro Tarzan.

Conhecendo bem a minha família, todos desabariam, todos enlouqueceriam, perderiam o senso, dramatizariam. E eu também não sei de onde tirei qualquer força pra não chorar. Tudo o que eu sabia era que se deixasse derramar uma lágrima, outras mil cairiam, todos os meus medos e anseios tomariam conta de mim e eu perderia qualquer controle, qualquer chance de passar força e convicção de que tudo mesmo estava bem às pessoas ao meu redor.

Eu odeio hospitais, tu sabes disso. Eu odeio hospitais por como as pessoas viram hipocondríacas em hospitais, em como hospitais levam as pessoas a falarem de tragédias e em acreditar piamente que alguma coisa tem que está errada. Hospitais são ambientes pesados, não existem sorrisos, não existem esperanças, quando o essencial seria ter, sendo um ambiente de cura, de descanso, de recuperação do corpo e consequentemente espírito. E eu odiei tudo naquele hospital. Eu não aguentei ficar na sala de espera com toda aquela gente. Eu só conseguia ficar andando de um lado pro outro, do lado de fora, respirando fundo, procurando manter minha calma. ‘Tá tudo bem…’.

Provavelmente foi estranho pra tantos me verem tão serena enquanto minha irmã se debulhava em lágrimas e expressões de preocupação que distorciam-lhe tanto a face que minha raiva aumentava só de estar perto. O sentimento errado, mas nisso não podemos escolher como nos sentir. Não sentia raiva dela, sentia raiva da situação. Não queria escutar ninguém falando, ninguém explicando as versões dos fatos, não queria ter que escutar as mil e uma histórias de pessoas que saíam de acidentes aparentemente bem e conscientes, mas com alguma hemorragia séria interna. Eu não precisava de nada daquilo, tudo já se passava na minha cabeça em um turbilhão. Graças a essa força, desconhecida por mim até aquele momento, eu fui capaz de suplantar todos os pensamentos negativos pela simples frase ‘ele tá bem’, pelo querer que aquilo fosse verdade.

Me enfiaram dentro da UTI. Tua preocupação em me ver ali, te vendo com o rosto coberto de sangue seco, preocupado de eu estar preocupada, me atingiu, mas mais uma vez, não sei como consegui manter uma expressão de calma e falar tão tranquilamente que eu só tinha entrado pra te dar um beijo e ao nem estar ali ao teu lado por cinco segundos, sair.

Isso me lembrou como quando eu caí do cavalo, naquela viagem que fizemos, em cima de uma pedra e tudo o que tu fizeste foi rir com tranquilidade e falar pra eu levantar dizendo que não tinha acontecido nada, quando meu maior medo era ter perdido o movimento das pernas. Eu e tu somos dramáticos, e sim, sempre pensamos no pior: ‘não vou andar mais pro resto da vida’ ou ‘meu cérebro deve estar à mostra mas eu não consigo sentir, afinal de contas, de onde vem tanto sangue?’. Percebo agora que tudo o que eu quis te passar ficando só cinco segundos ao teu lado, sorrir e dizer que eu tinha ido lá só pra te dar um beijo e que eu sabia que tava tudo bem, foi pra te passar uma segurança que eu sabia que tu não tinha. Nós dois além de dramáticos, somos muito, muito medrosos. Pelo menos não sou eu que passo mal só em ver sangue.

Eu tinha passagens compradas pra uma viagem em algumas horas daquela espera torturante de algum resultado de novos exames, pensei em não ir mais, em ficar, pensei que ainda assim poderia ter alguma coisa que os médicos não haviam captado, e no meio da viagem eu recebesse um telefonema muito pior. Eu tive medo, eu tive muito medo. Eu tanto esperava por uma certeza que estava realmente tudo bem, quanto um tempo só pra mim, pra que eu pudesse chorar o que tava preso por um nó dolorido aqui dentro.

Quando falei contigo de novo tu ainda quis saber o que eu ainda fazia ali! Vê se pode… E tu me disse pra eu ir cuidar de arrumar minha mala. E eu ri e te fiz rir. Te fiz prometer que tu não seria teimoso e dormiria no hospital senão eu não ia embora. Tu me prometer e eu dizer ‘Tu tá mentindo’ e tu responder ‘Eu to’ e rirmos me aliviou mais do que chorar. ‘E não ri, porque tu não pode rir, senão vai doer tudo!’. Não tem nada no mundo que eu goste mais de fazer contigo do que isso, rir dos nossos diálogos cômicos em momentos deveras inoportunos para comédias, mas que nós dois de alguma forma conseguimos encaixar um motivo pra uma risada.

Lembrar disso tudo e dos ‘o que poderia ter sido’ me faz tremer por dentro. Mas, ‘ele tá bem’. E eu vou rir muito da tua cara no tapete vermelho inglesando palavras em português e da tua empolgação infantil, assim como vou continuar com raiva da tua teimosia e da necessidade de dar pitacos em tudo que crio com essa mania de querer lapidar minhas pedras. Sim, nada vai mudar, e a isso eu não sei a quem agradecer, mas eu agradeço.

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Frase horrível, mas verdadeira: Há males que vem para o bem!

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Tempos atrás, publiquei neste mesmo espaço um texto intitulado “16 minutos”, onde relatava um incidente que ocorreu com um bimotor que transportava a mim e alguns diretores do Jornal O Estado de São Paulo, numa viagem entre Santa Inês e São Luis. Naquela ocasião falei da certeza que tive de que ainda não havia chegado à hora de empreender a minha grande viagem. Disse que o meu Deus não iria me guiar por essa vida para que eu acabasse ali, daquela forma. Prolongou-se durante intermináveis 16 minutos a apreensão e a duvida entre o que eu acreditava que iria acontecer e o que aconteceria realmente. Bem, ainda estou por aqui. Graças a Deus eu estava certo.

Deus tem e espero que ainda tenha algumas missões e provações para mim. Entre elas, uma que aconteceu na ultima quinta-feira, dia de Corpus Christie, quando tive outro encontro com o imponderável, com o imprevisível. 

Voltava para casa por volta das 14 horas, pela Avenida dos Holandeses, quando observei que uma Toyota SW4, branca, que trafegava no sentido Olho D’água/Calhau, começou a rodar na pista, do outro lado do canteiro central.

Ao perceber, tratei de me afastar do lado esquerdo da via, e como não vinha nenhum carro ao meu lado, rumei para a direita.

A SW4 nem estava em alta velocidade, mas como chuviscava, o controle do carro tornou-se mais difícil e na tentativa de controlar o veiculo, seu condutor tentou usar os freios, o que foi seu erro maior naquela situação. O carro projetou-se sobre o canteiro, tendo atingido-o de lado. Nesse momento perdeu uma de suas rodas e ao invés de continuar sua trajetória para frente e na diagonal, rodopiou e mudou de direção em uns 45 graus e chocou-se fortemente com a lateral da Pajero Sport que eu já desviara para a direita, na tentativa de sair de sua rota de colisão.

Nunca vou me esquecer do som daquele impacto, daquela visão. Tudo aquilo está gravado em minha mente, cinematograficamente, quadro a quadro, em câmera lenta, para sempre.

A princípio não acreditei no que acontecera. A manobra que fiz, sem nem ter aumentado a velocidade, era suficiente para me desviar do carro desgovernado, mas não contei com o fato imponderável dele ter mudado de direção ao chocar-se com o canteiro central da avenida.

Depois da colisão, tudo ficou mais claro e simples durante alguns segundos. O susto causou em mim um efeito estranho, um misto de paz e tranqüilidade. Primeiro olhei em volta e depois, com a mão direita apalpei meu peito que doía muito. Coloquei a mão direita debaixo do braço esquerdo e soube que aquele lugar estava bem machucado. Balancei levemente o pescoço, os ombros, a cintura, as pernas e os pés e vi que não havia quebrado nada, foi quando senti que escorria muito sangue de minha cabeça, pelo meu rosto, meu pescoço então olhei no retrovisor e vi a imagem de uma figura que parecia ter saído de um filme de guerra, um rosto completamente ensangüentado. Passei a mão pela cabeça e vi que todo aquele sangue provinha de uma pequena ferida em seu topo, onde uma lasca de vidro se impusera.

Não sei onde consegui tamanha tranqüilidade. Imagino que foi proviniente dos rostos amigos e dos olhares fraternais que imediatamente apareceram na minha janela estilhaçada. A princípio eram pessoas desconhecidas, mas extremamente preocupadas e que tentavam me ajudar e me confortar.

Apareceu uma moça que disse que era enfermeira e ficou conversando comigo e eu disse pra ela que eu estava bem e lhe pedi que fosse até ao outro carro ver se havia alguém ferido. Outra moça, esta bem forte, tratou de rasgar a minha camiseta que estava totalmente ensangüentada, foi quando de repente, aproximou-se de mim uma moça loura, que achei já conhecer. Ela chegou chorando, desesperada, pegou em meu braço sem saber que ele estava machucado e perguntou se eu estava bem. Depois eu vim saber que era ela quem dirigia o carro branco que colidira com o meu. 

Logo depois chegaram Felix Alberto, Elie Hachem, Carlos Adler, César Freitas, José Correa, Paulo Nagem, Marcio Assub, Claudinho Costa, Zé Antonio Almeida, Caetano Jorge e Pipoca, entre tantos outros.

Alguém me perguntou pra quem deveria ligar pra avisar do acontecido. Pensei em meu irmão, mas ele estava viajando. Minha mãe ficaria muito preocupada, minha filha Laila também, então eu disse “Ananda” e na mesma hora me lembrei do significado do nome dessa minha Filha, que se eu não a fiz, deveria tê-la feito. Paraíso, Ananda significa paraíso em sânscrito. Ananda não demorou a chegar.

Chamaram o resgate, mas antes dele chegar um rapaz bem forte e muito prático abriu a porta que me imprensava ao console e ao painel do meu carro. Força somada a bom senso às vezes ajuda bastante.

Sou um transgressor. Sortudo, mas um transgressor, mas acho que ninguém deve ser como eu sou. Estava sem cinto de segurança e tive a sorte de a colisão ter sido lateral e não frontal. A ausência do cinto, se me ajudou, poderia ter me matado. Estava falando ao celular e talvez isso tenha salvado a minha vida, mas com toda certeza salvou minha face, pois os cortes que tenho no cotovelo, no braço e no tórax, seriam em meu pescoço e em meu rosto, quem sabe até atingisse meus olhos.

Sorte, foi isso que eu tive, muita sorte. Não só eu, mas as pessoas que se encontravam num automóvel que vinha atrás de mim, pois se aquela camionete desgovernada não se chocasse com a minha que era do mesmo tamanho, teria passado por cima e destruído o pequeno carro que vinha logo atrás de mim.  

Fui levado para o hospital e na emergência, comecei a passar mal e resolveram me levar para a UTI, para onde não queria ir, pois lá com toda certeza, seria o paciente em melhores condições. Com toda certeza lá havia pessoas que realmente precisavam de cuidados intensivos, enquanto eu só precisava de cuidados emergenciais.

Por um instante imaginei como seria aquilo tudo se não tivesse dinheiro para fazer frente àquelas despesas!? Me senti muito mal. Foi essa a única hora em que chorei. Lembrei que meu amigo, Deputado Carlos Filho, havia me pedido para resolver o caso de uma senhora que veio do interior e estava, havia dois dias, em uma maca no corredor do Socorrão 2. Falei disso com o Dr. Yuri e com o Dr. Santiago que me atendiam e com minha amiga Dra. Raquel, que viera ficar comigo quando soube do acidente, e os dois últimos, que trabalham também no Socorrão 2, ficaram de resolver o problema da moça. Fiquei aliviado e naquele momento comecei a me curar, através da cura da responsabilidade e da culpa.

Se houve algo de bom nessa tragédia foi só a confirmação da imensa quantidade de amigos que tenho e de pessoas que gostam de mim.

Não saíram de perto de mim enquanto estive no hospital, Dona Clarice, minha mãe, minha ex-mulher e melhor amiga, Ivana, minhas filhas, Laila, Avana e Ananda, minha prima Cristina, meus motoristas, Neto e Marcelo, meus amigos, Paulo, Wadi, Rui, César, Zé Assub, Júnior Assub, Elie, Rômulo, Rogério, Felix, Correa, Pinto, Gilberto e Pêrôba, suas esposas, namoradas, minhas amigas Priscila, Mariana, Gabriela, Juliana, Bruna, Raquelzinha e Agnes e meu compadre Gafanha. Meus telefones não pararam de tocar nem por um minuto se quer.

Doeu, mas dos males o menor. Me machuquei, é verdade, mas pude ver e confirmar o que já sabia: tem um monte de gente boa que gosta muito de mim.

Muito obrigado amigos, por tudo!

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Quando acaba a paciência…

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Dizem que aconteceu em Minas Gerais, em Ubá, cidade onde nasceu o genial Compositor Ary Barroso. Na cidade havia um senhor cujo apelido era Cabeçudo. Nascera com uma cabeça grande, dessas cuja boina dá pra botar dentro, fácil, fácil, uma dúzia de Laranjas. Mas fora isso, era um cara pacato, bonachão e paciente. Não gostava, é claro, de ser chamado de Cabeçudo, mas desde os tempos do grupo escolar, tinha um chato que não perdoava. Onde quer que o encontrasse, lhe dava um tapa na cabeça e perguntava:- ‘Tudo bom, Cabeçudo’? O Cabeçudo, já com seus quarenta e poucos anos, e o cara sempre zombando dele. Um dia, depois do milésimo tapão na sua cabeça, o Cabeçudo meteu a faca no zombeteiro e matou-o na hora. A família da vítima era rica; a do Cabeçudo, pobre. Não houve jeito de encontrar um advogado para defendê-lo, pois o crime tinha muitas testemunhas. Depois de apelarem para advogados de Minas e do Rio, sem sucesso algum, resolveram procurar um tal de ‘Zé Caneado’, advogado que há muito tempo deixara a profissão, pois, como o próprio apelido indicava, vivia de porre. Pois não é que o ‘Zé Caneado’ aceitou o caso?

Passou a semana anterior ao julgamento sem botar uma gota de cachaça na boca! Na hora de defender o Cabeçudo, ele começou a sua peroração assim: – Meritíssimo juiz, honrado promotor, dignos membros do júri. Quando todo mundo pensou que ele ia continuar a defesa, ele repetiu: – Meritíssimo juiz, honrado promotor, dignos membros do júri. Repetiu a frase mais uma vez e foi advertido pelo juiz: – Peço ao advogado que, por favor, inicie a defesa.Zé Caneado, porém, fingiu que não ouviu e:- Meritíssimo juiz, honrado promotor, dignos membros do júri.E o promotor: – A defesa está tentando ridicularizar esta corte!O juiz: – Advirto ao advogado de defesa que se não apresentar imediatamente os seus argumentos… Foi cortado por Zé Caneado, que repetiu: – Meritíssimo juiz, honrado promotor, dignos membros do júri. O juiz não agüentou: – Seu moleque safado, seu bêbado irresponsável, está pensando que a justiça é motivo de zombaria?

Ponha-se daqui para fora antes que eu mande prendê-lo. Foi então que o Zé Caneado disse: -Senhoras e Senhores jurados, esta Côrte chegou ao ponto em que eu queria chegar… Vejam que: se apenas por repetir algumas vezes que o juiz é meritíssimo, que o promotor é honrado e que os membros do júri são dignos, todos perdem a paciência, consideram-se ofendidos e me ameaçam de prisão…, pensem então na situação deste pobre homem, que durante quarenta anos, todos os dias da sua vida, foi chamado de Cabeçudo!

Cabeçudo foi absolvido e o Zé voltou a tomar suas cachaças em Paz.

Mais vale um ‘Bêbado Inteligente’ do que um ‘Alcoólatra Anônimo! ‘

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A morte é simplesmente uma longa viagem!

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O que realmente é a morte? Como é que ela deve ser encarada? A quem ela atinge mais contundentemente, a quem vai ou a quem fica? São apenas algumas perguntas que eu tenho me feito recorrentemente sobre esse assunto, que sempre me causou bastante perplexidade.

Da morte sei, com absoluta certeza, sobre sua inexorabilidade. Ela é a única coisa certa que há na vida de uma pessoa. A vida pode ser boa, longa, produtiva ou absolutamente o oposto disso, mas ela, em algum momento, se extinguirá. O quando, o como e o porquê é que ficam por conta exclusiva das leis próprias da imponderabilidade.

Sobre essa imponderabilidade, meu pai me disse certa vez, após acabarmos de ver o filme “Lawrence da Arabia”, que apesar daquela história incrível, uma coisa lhe chamara bastante atenção, o fato de Lawrence não ter morrido na feroz Primeira Guerra Mundial, mas ter perecido depois das batalhas, em um simples e absurdo acidente de motocicleta. Desde então, passei a encarar tanto a vida como a morte de maneira bastante peculiar e pragmática.

A vida é tudo, substantivo, adjetivo, sujeito e predicado enquanto a morte é simplesmente a ausência, uma longa viagem.

Digo isso para falar da longa viagem que um querido amigo meu iniciou na ultima sexta-feira, dia 9.

Se eu disser pra vocês o nome verdadeiro dele, pouca gente vai saber de quem realmente se trata: Paulo Alberto Monteiro de Barros. Se eu disser o nome pelo qual ele ficou conhecido, muita gente vai se perguntar como é que eu pude ter ficado seu amigo e alguns até duvidaram de que realmente fui amigo de figura tão conhecida e importante: Artur da Távola.

Digo sempre que além de minha formação acadêmica de advogado, tive uma ótima formação de base, estudei em ótimos colégios e tive uma família que me proporcionou o aprendizado do que é a vida. No entanto, eu fiz também mestrado e doutorado em ciências políticas.

De 1983 a 1987 tive como mestres-orientadores Gervasio Santos, José Bento Neves e Raimundo Leal, dentre outros. No doutorado, de 1987 a 1991 tive o privilégio de ter como professores Florestan Fernandes, Afonso Arinos e Artur da Távola, para citar apenas três.

É sobre este último que eu desejo falar a vocês muito rapidamente, pois tenho que sair correndo pra ver se ainda o alcanço pelo menos na estação do trem que vai levá-lo nessa viagem, para tentar pelo menos acenar pra ele, olhá-lo mais uma vez e dizer-lhe o quanto aprendi com ele. Como ele me serviu de inspiração, desde quando ainda menino, sem conhecê-lo pessoalmente, ele me influenciou e como seu exemplo de pessoa humana, de homem, de político, fez com que eu costurasse minhas próprias roupas tendo as suas como exemplo de corte e elegância. Certamente não consegui me igualar ao mestre, mas só o fato de ter tentado, já me consola e apraz.

Queria poder, antes dessa sua viagem, ter sentado com ele para novamente ouvirmos as músicas que ele tanto amava. Os clássicos como Rachmaninoff, Gershwin e Prokofiev, mas com toda certeza ele não esqueceria de fazer tocar também a Bossa de seus ídolos e amigos, Tom e Vinicius.

Eu e Artur fomos colegas durante a Assembléia Nacional Constituinte, digo colegas porque ambos éramos deputados, mas ele, com idade pra ser meu pai – só era três anos mais novo que o meu pai – e capacidade de mestre, me propiciou alguns momentos antológicos, me apresentou pessoas incríveis, me ensinou coisas que pude praticar na minha vida, como político, como homem e como pessoa.

Há coisas que não se diz pra ninguém, mas depois de algum tempo essas mesmas coisas perdem o sentido e podem ser ditas pra todos. Paulo Alberto foi a primeira pessoa a notar meu problema de dislexia, o que de certa forma me libertou do estigma de ser simplesmente irrequieto e desatento, um leitor inapto e um escritor medíocre.

Não nos víamos já fazia algum tempo. Na verdade ele não me via, mas eu o via e o ouvia sempre em seu maravilhoso programa ‘Quem tem medo de música clássica?’, na TV Senado. E quando em Brasília ou no Rio, sempre ouvia seus programas de rádio, onde a sua música servia de bálsamo e de desculpa para que ele desse uma verdadeira aula de sensibilidade, cultura e humanismo.

Artur escreveu em seu último artigo publicado um dia antes de sair em viagem, intitulado “Papo dispersivo sobre a paixão”, depois de um pouco antes ter citado ninguém menos que Goethe, uma frase que é bem a cara dele: “… Amor é coisa muito diversa… Amor não clama nem reclama: amor dá”.

PS: Certa vez, conversando com Artur sobre a morte, disse para ele que gostaria de morrer de forma parecida com a que meu tio João havia morrido: dormindo. Na última sexta-feira, dia 9, ele usou a minha idéia e se foi, dormindo.

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Na mente dela, ninguém!

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O ombro dele
era o meu
na boca dela
que é minha.

A boca dele – não a minha – na dela
não a beija como a minha
não a morde
não a lambe
como a minha.
Como.
Minha.

A boca dela
no ombro dele.

Com toda certeza
a cadela
lembrou de mim.

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Correspondência quase suspeita.

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São Luis, 3 de maio de 2008.

Joaquim,

Dê só uma olhadinha no que essa minha filha anda escrevendo!

A “pikena” ta demais… Só queria ver a cara do pessoal daquela escola, uma das melhores da nossa cidade, que não tiveram nem um pouquinho se quer, de paciência e compreensão para com ela…

Minha menina vai longe. Parabéns para mim!

ITAAF

São Luis, 4 de maio de 2008.

Ivana,

Tenho visto! E lido. E conversado com ela.

Meu coração tem estado mais tranqüilo.

Minha vontade agora é que ela possa estudar, se formar e fazer o que ela mais gosta… Literatura, fotografia… Cinema quem sabe!?

Mas pra 19 anos ela ta muito bem obrigado!

Parece que fizemos um bom trabalho, e não vamos brigar pra saber pra quem ela puxou, se foi pra mim ou pra você!

JENPH

Donnie & Giu

Por Laila Haickel

Donnie era um cara misterioso e fazia questão de ser assim. Ele pensava que o mistério dele era simplesmente não deixar as coisas claras, e mal sabia o que realmente atraía aquela garota que ele falou a primeira vez no final de fevereiro daquele ano que veio pra mudar tudo.

Giu era uma sonhadora, sempre foi e provavelmente sempre será, mesmo que possa acabar se escondendo através de palavras demais impossibilitando o mundo de compreendê-la. E mal ela sabia também o que viria a se tornar.

Donnie tinha uma propensão genuína que ele desconhecia pelos obstáculos que se impunha, todos os escudos contra as essencialidades da vida que ele via como perda de tempo e contextualizava como fraqueza. Mal ele sabia que seus escudos que eram estúpidos e se tornaria mais um desses que escrevem canções de amor e cartas enquanto tomam doses de uísque.

Giu sempre escreveu canções de amor, mas pra alguém invisível, com toda a imaturidade de uma criança e todas as indagações de um adulto. Ela nunca soube onde estaria se metendo e nem como sairia disso. Na verdade ela nunca pensou em saídas, ela sempre pensou nos começos e nos meios, fins eram ocasionalidades tristes que ela preferia não pensar a respeito. Mal ela sabia que fins realmente existem.

Donnie procurou estabelecer regras pra organizar esse sentimento estranho ao seu corpo dentro da sua vida que nunca realmente precisou de nada disso pra valer à pena. Todas as regras se quebraram, tudo se espatifou e ele se perdeu em uma imensidão de horizontes vazios. Mal ele sabia definir como isso veio a acontecer, e riu pra si mesmo o sorriso mais triste que alguém já deu.

Giu flutuava ou boiava. Não tinha o pé fincado em lugar algum, não via diferença entre céu e terra, ficava assim… rodopiando em uma atmosfera de dor e perguntas sem resposta. Mal ela sabia que o que a envenenava seria aquilo que a faria crescer.

Donnie não conseguia controlar suas palavras agressivas, era o mínimo que ele podia fazer depois de ter se decepcionado tanto. E ele sentia raiva de si mesmo por apesar de tudo sentir saudades do cheiro da pele dela, mesmo que ele não admita sentir raiva por coisas assim. Mal ele sabia que ela conhecia todos os seus defeitos e os aceitava não porque pensava que merecia como penitência, mas porque amava suas qualidades muito mais.

Giu chorava todos os dias e por tudo, talvez ela seja assim até hoje, eu não sei ao certo. Ela sabia que merecia ser feliz mas não conseguia levá-lo pro mesmo abismo que ela se encaminhava, não era justo, porque ele não merecia aquilo, ele merecia ser feliz. De impulsiva se fez inconseqüente e cada segundo da sua vida em contagem regressiva vem uma sensação de claustrofobia que ela adquiriu com o passar do tempo. Mal ela sabia que a vida seria tão dura.

Donnie de vez em quando lembra da sua gargalhada enquanto fuma um cigarro no terraço, e ela ecoa até ficar tão distante que some, assim, inexistente como a presença dela. Ele percebeu que continuava com seus métodos frios mas também não queria mudar, ele pensava que assim que tinha que ser e guardava dentro de si um fiapo de esperança de felicidade tão frágil de se olhar… mas inquebrantável. Mal ele sabia que a vida não precisava ser tão dolorosa.

Giu não sabia mais no que pensar, no que acreditar, mas seguia em frente, sabe-se lá pra qual destino. Quem a olhava nos olhos podia perceber que ela tava lá no fundo, se arrastando, procurando uma brecha de luz. Ela se tornou uma pessoa ansiosa e sentia o coração pulsando cada vez mais acelerado. A agonia de não saber o que se espera a fazia esperar por coisas sem valor, como a hora que ela tivesse que sair de casa obrigada a enfrentar o mundo lá fora, simples coisas cotidianas. Mal ela sabia como era se sentir assim e que ele já havia passado por isso.

Donnie e Giu mal sabem de nada, mal sabem de tudo. Mal sabem como é sentar um de frente pro outro e jogar barriga inchada em um dia tedioso, mal sabem o que é nadar no mar juntos, mal sabem o que é pegar uma estrada só os dois, mal sabem o que é pegar um livro de receitas e tentar uma coisa nova, mal sabem quantas canções tristes de amor poderiam compor e mal sabem ainda mais que nem toda canção de amor tem que ter uma ponta de tristeza.

Mas Donnie sabe o que é rir da risada dela, o que é ir pro aeroporto e esperar que ela chegue e ainda vestindo uma roupa imprópria, sabe o que é ter que agüentar toda aquela teimosia que ela insiste em não largar, sabe que ela segura o garfo de maneira engraçada, sabe que ela não cala a boca um segundo e quando se cala alguma coisa ta errada, sabe por que ela gostou ou gostaria daquele filme, sabe que ela perde a vaidade de tempos em tempos, sabe que ela finge não estar com dor de cabeça pra poder fumar em paz, sabe como é dançar sem música com ela, sabe como ela é medrosa, sabe como ela pega no cabelo, sabe como fazer cócegas nela, sabe que ela é capaz de bater nele se estiver com raiva e falar mais palavrões do que ele já escutou na vida, sabe que ela fala alto demais e deixa-o com vergonha, sabe como é acordar e vê-la dormindo ao seu lado, sabe como é se entreolharem e não precisar de uma palavra pra compreender, sabe que ela bate o pé no chão quando quer alguma coisa e como ela fica um saco quando ta manhosa. Donnie sabe muito, sabe mais do que ela própria sobre si mesma.

E Giu sabe exatamente como a sobrancelha dele vai se mover, sabe que ele não ri pra fora quando tem uma crise de riso e pega tão forte no braço dela que fica a marca, sabe que a risada dele também muda de tempos em tempos e que ele já teve uma que mais parecia um porco, sabe que quando ele diz que tem uma surpresa pra ela é um porco rosa aliás, sabe como é sentir admiração só de ficar observando-o, sabe o que é ficar irritada com o silêncio dele, preso nos próprios pensamentos, sabe que ele fica com as costas encurvadas e ainda assim fica a mandando ajeitar a postura, sabe o que é ter que ficar ouvindo mil reclamações e querer mandar ele pra algum lugar não muito prazeroso, sabe como é quando ele se empolga com algo e só consegue falar disso, sabe como ele se vicia em uma música e a faz escutar a mesma toda hora, sabe que ele não consegue largar o violão e sabendo que ela não agüenta mais ter que ser platéia, ele toca uma música da banda preferida dela, sabe qual é a sensação do melhor abraço do mundo, sabe que ele faz carinho como se tivesse acariciando um cachorro. Giu sabe muito também, e dá valor pra coisas que ele talvez nem imagine que ela lembra. Ela costuma pensar que o dia em que eles saíram só os dois pela primeira vez é feriado por causa deles, porque definitivamente é motivo de feriado, e fica imaginando se ele continua ruim de datas ou se lembrou que é hoje.

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