Tempos Difíceis Virão.
No dia 5 de abril deste ano faleceu um grande amigo meu. Meu e de muita gente por esse mundo afora. Seu nome era John Charles Carter, mas por esse nome ninguém vai saber de quem se trata. Algumas pessoas poderão até saber de quem eu falo se eu disser que ele algumas vezes atendia pelos nomes de Rodrigo, Taylor, Stewart, Moises, Gordon, Ramon, Murdock ou Judah.
Não quero fazer um joguinho de enigma e de suspense com você, mas se eu disser agora quem era esse meu amigo, vou perder toda a força e todo o impacto sobre o assunto especifico que quero tratar hoje. Enquanto isso você tem até o final dessa crônica para descobrir quem é esse amigo. E olha que eu disse “quem é esse meu amigo” porque amigo não morre, amigo é para sempre, mesmo aquele com quem você jamais se relacionou mais de perto, mais pessoalmente, como é o caso.
Esse meu amigo morreu aos 85 anos de idade e é sobre isso que eu quero falar. Na verdade alertar. Sobre a idade das pessoas que nos cercam. Sobre o tempo e sobre a responsabilidade e a função que as pessoas da minha faixa etária têm neste momento de nossas vidas, das vidas de nossos pais, de parentes e amigos mais velhos.
Tenho notado que de algum tempo para cá, os nossos pais, orientadores e amigos estão se indo com mais freqüência que dantes. È o tempo.
Não é natural que o pai sobreviva ao filho, o natural é que os filhos vejam os pais desvanecerem e é isso que infelizmente está acontecendo nesse momento em nossas vidas.
De um tempo pra cá tenho freqüentado muitos velórios, tem morrido muita gente em volta de nós. São pessoas acima dos 70 anos, muitos na faixa dos 80. São nossos pais, nossos parentes ou pais de nossos amigos. Pessoas com as quais convivemos desde que nascemos. Figuras emblemáticas, exemplos vivos para nossas vidas, parâmetros para nossas ações.
É por isso que comecei esta crônica falando desse que foi um dos maiores parâmetros que eu tive em minha vida. Não por ele, mas pelas vidas que ele encarnou, pelos exemplos que representou.
Esse amigo de quem falo, estrelou provavelmente alguns dos mais importantes filmes da historia do cinema e com certeza alguns dos mais importantes da historia da minha vida: O Maior Espetáculo da Terra, Os Dez Mandamentos, 55 Dias em Pequim, El Cid, Agonia e Êxtase, Ben-Hur, A Marca da Maldade, O Planeta dos Macacos, Terremoto, Da Terra Nascem os Homens, A Maior História de Todos os Tempos, O Senhor da Guerra, Khartoum, A Última Esperança da Terra, Aeroporto 75, A Batalha de Midway, e até Tiros em Columbine…
Trata-se de Charlton Heston, ou melhor, trata-se do meu amigo Ben-Hur, de meu herói El Cid, de meu ídolo Michelangelo, de meu camarada Brad Braden.
Trata-se de um homem que vestiu mil mascaras e ajudou com elas a formar minha cultura e a lapidar o meu caráter. Fez o mesmo que Emanuel Aroso, Samuel Gobel, Mendes Frota, Maria Castelo, Lister Caldas, Mauro Bezerra, Alberto Abdalla, Irtes Cavanhaque, Raimundo Vieira da Silva, Oliveira Ramos, Cid Carvalho, Lopes Bogéa, Alderico Silva, Cecílio Sá, dona Kyola, dona Filuca, Leôncio Rodrigues, Denizard Almeida, Conceição Aboud, Josué Montello, Luís Noronha, Ieda Cutrim Batista, Manoel Caetano Bandeira de Mello, Luis Carlos Bello Parga, Biné Duailibe e tantos outros. Todos esses amigos bem mais próximos, que também já se foram, mas que antes, fizeram de uma forma ou de outra, parte do filme real de minha vida.
É meu amigo, esses são tempos realmente muito difíceis e para alguns de nós, inclusive eu, ainda vai piorar um pouco mais. Vamos perder algumas das pessoas que mais amamos, mas pelo menos ficará a certeza de que essas pessoas foram decisivas em nossas vidas. Atores e atrizes principais de nossos filmes.