Como se eleger Deputado.

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Semana passada, um amigo me pediu que lhe explicasse detalhadamente como é que acontece uma eleição para deputado, pois ele ficou sabendo da candidatura de uma determinada figura e achou que se o tal podia pensar em se eleger, ele também poderia. Achei a idéia boa e vou tentar falar sobre isso de maneira simples e direta, sendo didático sem querer ser professoral.

Eleger-se deputado não é coisa impossível para ninguém. Tarefa mais difícil é a de tentar explicar como fazer isso em 750 palavras.

Para que alguém se eleja deputado, seja federal ou estadual, basta que para tanto ele siga um conjunto de regras obrigatórias e indispensáveis. É uma equação simples, que se executada com auxílio da fórmula correta, a fórmula 3E, que junta efetividade, eficiência e eficácia, será difícil dá errado.

A primeira coisa que o candidato deve fazer é se filiar em um partido que, segundo as regras das eleições vigentes, possa lhe propiciar uma eleição, digamos, mais plausível e viável.

Para que um partido eleja um deputado, terá que atingir o coeficiente eleitoral, valor que é conseguido dividindo-se o número de votos válidos pela quantidade de vagas oferecidas, 18 no caso de deputado federal e 42 para deputado estadual. Quem entende desse assunto imagina que esses coeficientes em 2010 fiquem entre 70.000 e 75.000 para estadual e 170.000 e 175.000 para federal. Logo o partido ou coligação que não atingir esse patamar mínimo de votos não elegerá nenhum deputado.

O candidato tem que mensurar isso com antecedência de um ano. Tem que saber se seu partido vai se coligar com algum outro e se eles tem em seus quadros candidatos no mesmo nível que o seu, pois caso contrário, será engolido pelos colegas de chapa.

A eleição para deputado (e para vereador também) em última instância é uma festa onde só conseguirão entrar os primeiros da fila. A luta consiste em ser um dos primeiros dessa fila no caso das coligações ou partidos com muitos votos, que elegerão 10 ou 15 deputados ou ser o primeiríssimo no caso dos pequenos que só irão eleger 1 ou quem sabe 2.

Em 1998 me elegi pelo PRP, um pequeno partido que naquela eleição conseguiu eleger 2 parlamentares, um direto, eu, com pouco mais de 13.000 votos, e um na sobra, Maurinete Gralhada, com quase 11.000.

A sobra é a quantidade de votos que excede o coeficiente e que não sendo suficiente para eleger mais um, mesmo assim o faz, pois as sobras tem uma hierarquia. Quem tem mais, elege mais um primeiro, antes que os demais.

Para eleição subseqüente me transferi para o PTB e em seguida, por motivos “partidários”, fui para o PMDB, onde passei a concorrer numa faixa mais alta e onde consecutivamente me elegi em 2002 e 2006 com algo em torno de 23.000 e 33.000 votos respectivamente.

Existem ingredientes indispensáveis para uma eleição vitoriosa de deputado: A pessoa que se propõe a esse intento tem que ser do ramo, saber o que está fazendo e porque está fazendo. Não deve ser um curioso ou um pára-quedista, sob pena de se estatelar no chão.

É indispensável ter dois grupos que o apóie, um acima de si e um abaixo, seus líderes e seus liderados. Não se faz política sem grupo. Precisa-se ter um território, um reduto, uma área de atuação.

De talento pessoal, o candidato precisa no mínimo saber se expressar e se não for bom nisso tem que ter alguém que o faça por ele.

Possuir os pré-requisitos citados até aqui significa ter a metade de uma eleição, porém um todo não é feito de apenas uma metade, mas de duas.

O candidato precisa investir dinheiro nessa empreitada. O mais recomendável é que ele use o seu próprio dinheiro, mas pode também ser dinheiro de um grupo de amigos, de uma entidade ou de uma classe que queira ter um representante no parlamento. O fato é que sem dinheiro ninguém se elege, pois carro de som custa dinheiro, combustível custa dinheiro, cartazes, panfletos e santinhos custam dinheiro, plotagem de veículos custa dinheiro, deslocamentos emergenciais de avião custam dinheiro, comícios custam dinheiro. Nem adianta tentar que não se faz uma eleição sem dinheiro, tanto que para isso, muita gente bem se preparou para as próximas eleições.

E tem mais, quem quiser se eleger e manter o seu mandato, terá que seguir rigorosamente as regras eleitorais. Essa parece que será a missão mais difícil nessas eleições, pois os legisladores originários fizeram uma legislação cheia de furos, o que propicia aos tribunais eleitorais em suas duas instâncias “dirimir” as dúvidas que por acaso se apresentem.

Não está inclusa na formula 3E, mas o texto a seguir é aconselhável a todo aquele que deseja se eleger e a todo aquele que deseja ter sucesso na vida. “Oração de Jabez”: Abençoe-me Senhor! E alargue minhas fronteiras. Que tua mão esteja sobre mim. E me preserve do mal, de modo que não me sobrevenha aflição.

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Decepcionado e triste.

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Não deveria estar decepcionado, pois nunca me iludi sobre as virtudes de caráter de certas pessoas. Mas mesmo assim estou decepcionado, porque no fundo, bem lá no fundo, nutria uma tênue esperança de que eu estivesse equivocado em meu juízo de valor e pelo menos algumas dessas pessoas, as que tinham tudo para provar que eu estava errado, se salvassem do patíbulo comum da decapitação pública pelo crime de extorsão, pela venalidade.

Saudade de Walter Rodrigues. Todos sabem que ele não era uma figura fácil, mas nunca se soube que ele tenha usado a função de jornalista para extorquir quem quer que fosse. Nunca se soube que ele desfrutasse da intimidade de algum “poderoso” para em seguida cobrar-lhe a conta, verba, mídia para seu jornal, sua coluna ou seu blog. Isso não.

Mas por essas bandas, isso não é novidade que aconteça. Sempre aconteceu! Aqui e em muitos lugares, mas não pensei que pudesse acontecer com quem se diz tão honrado e sério, defensor dos mais altos e nobres sentimentos de justiça, paladino da moralidade e defensor de um jornalismo comprometido com as mais altas causas da sociedade.

Que desperdício de talento. Alguém que já quis ter a alma leve como a de Quintana, que quis trilhar os caminhos das pedras de Drummond. Alguém que amava Rimbaud, que lia Whitman na intenção de absorvê-lo, que tinha Pessoa como régua e compasso, mas que pelo que tudo indica, no final, vai acabar tendo do seu lado apenas um único de seus antigos ídolos: Bukowski e sua garrafa de gin.

Estou triste. Mas a minha maior tristeza é por ver comprovada a sina de algumas pessoas, por ver que não adianta tentar. De pedra não se tira água.

Mas mesmo assim me resta um último consolo, refletido num trecho de um belíssimo poema, muito antigo, mas bem atual e que vale tanto para o pau quanto para o machado.

Tudo tem seu tempo,
há um momento oportuno
para cada empreendimento
debaixo do céu.

Tempo de nascer,
e tempo de morrer;tempo de plantar,
e tempo de colher

Tempo de matar,
e tempo de sarar;
tempo de destruir,
e tempo de construir.

Tempo de chorar,
e tempo de rir;
tempo de gemer,
e tempo de dançar.

Tempo de atirar pedras,
e tempo de ajuntá-las;
tempo de abraçar,
e tempo de se separar.

Tempo de buscar,
e tempo de perder;
tempo de guardar,
e tempo de jogar fora.

Tempo de rasgar,
e tempo de costurar;
tempo de calar,
e tempo de falar.

Tempo de amar,
e tempo de odiar;
tempo de guerra,
e tempo de paz.

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…Alargue minhas fronteiras…

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Tenho andado assoberbado, como há muito tempo não acontecia.

Não tenho tido tempo nem para escrever, coisa que gosto muito de fazer e de que preciso, tanto quanto comer ou dormir.

Não tinha nada para postar aqui nesse domingo. Não queria falar de política, de candidaturas, de impugnações, nem de futebol, de Seleção Brasileira ou da Argentina. Se bem que não posso deixar de dizer que sinto mais orgulho dos vizinhos uruguaios que dos canarinhos sem graça de Dunga. Esporte de nível é o que apresentou a equipe uruguaia, força, garra, determinação, brio. Coisa bonita de se ver, mesmo perdendo. Comentar sobre Bruno, goleiro do Flamengo, isso nem cogito, da mesma forma que sobre Alessandro Martins.

Pois bem, sem saber o que postar, entrei em meu carro na intenção de ir para minha casa, em busca de algo que valesse a pena. Depois de enfiar a chave na ignição e ligar o motor, ato contínuo, liguei o rádio. O último a dirigi-lo havia deixado o rádio sintonizado na FM 92,3 , onde uma voz feminina disse uma frase que me Salvou: “Faça como Jabez!”. Essa frase resolveu o meu problema. Ela me deu o mote que eu precisava para escrever algo do qual eu pudesse me orgulhar e que não fosse apenas para cumprir tabela.

Meses atrás meu irmão Nagib Filho, que agora é evangélico, me mandou a “Oração de Jabez”. Uma oração simples, mas que resume tudo que se deve pedir a Deus.

O fato é que eu não tenho uma memória muito boa. Em verdade, não tenho uma memória normal, ela é seletiva, às vezes funciona, às vezes não. Não guardo nomes nem datas, mas o sentimento, isso eu não esqueço, isso eu apreendo.

Não conseguia me lembrar da oração e não queria nem podia recorrer ao Google, pois estava dentro do carro. Recorri a minha Jacira, que fez das palavras de Jabez sua oração mais freqüente. Liguei para ela e ela me mandou por SMS.

Abaixo você poderá ler a minha versão dessa que é, em minha opinião, a prece mais simples, bonita e eficaz que há.

“Oração de Jabez”

Abençoe-me Senhor!

E alargue minhas fronteiras.

Que tua mão esteja sobre mim.

E me preserve do mal, de modo que não me sobrevenha aflição.

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Aprendizado nas manhãs de domingo

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Desde que entrei para a Academia Maranhense de Letras, aos domingos, visito sempre que posso o confrade Jomar Moraes, em sua residência. Lá, costumam ir, entre outros acadêmicos, Lourival Serejo, Mont’Alverne Frota, José Carlos Sousa Silva, Ney Bello Filho, José Joaquim Ramos Filgueiras, Ceres Costa Fernandes, José Ewerton, (este último, apesar de morar quase em frente, sempre chega depois dos demais). Também comparecem com regularidade alguns professores como os dois Alan Kardec, o Pacheco e o Duailibe.

As conversas sempre variam da boa e velha arte, em todas as suas expressões, com prevalência para a literatura, secundada pelo cinema, passam pela política, seja ela municipal, estadual, nacional e internacional, e depois descambam para as amenidades, algumas vezes chegando até nas fofocas das diversas colunas sociais e políticas de nosso arraial.

O Jomingo, como ficou conhecido esse encontro, combina Jomar com domingo e para mim muito tem servido como fonte de aprendizado e prazer, rara oportunidade de conversarmos, lembrarmos fatos marcantes da nossa história, para comentarmos aspectos controversos de determinados acontecimentos e inclusive conhecermos algumas coisas novas.

Os encontros acontecem no paraíso do bibliófilo, sua biblioteca. Uma sala em L cujas paredes são forradas de estantes que comportam duas fileiras de livros. Um desses lugares em que qualquer pessoa que ame esses objetos mágicos, os livros, adora estar.

A impressão que me dá é que Jomar dorme lá. Um dia, discretamente, saí procurando para vê se havia escondido, por detrás de alguma daquelas estantes, um par de armadores de rede, pois não consigo imaginá-lo alojado em outro cômodo daquela casa.

Um domingo desses, depois de colocar os assuntos em dia, observei um dorso de um livro onde estava escrito, “Almanak 1866”, que logo comecei a folhear.

Nele descobri que na São Luis de 1866 havia coisas que hoje, 144 anos depois, não temos mais, coisa que eu e alguns amigos, conterrâneos e patrícios estamos querendo, em parte, resgatar.

Havia aqui naquela época seis representações consulares além de 19 vice-cônsules.

Hoje, que eu saiba, temos apenas uns três vice-consulados.

Quase 150 anos atrás, São Luis, o Maranhão, estava, vamos dizer assim, mais inserido no mapa-múndi que hoje, éramos mais vistos, procurados, importantes. É lógico que 150 anos depois, as necessidades e as exigências, devido aos modernos meios de transporte e comunicação propiciam isso, além da economia que isso possa acarretar, favorecem a não existência de consulados por aqui. Mas não deixa de ser um fato curioso, um século e meio atrás tantos países terem representações diplomáticas em nossa terra enquanto hoje, nós, descendentes de libaneses no Maranhão estarmos pleiteando, já há bastante tempo, um consulado libanês para nossa cidade. Para isso mostramos recentemente aos representantes do governo daquele país que nós somos, excetuando-se os africanos das várias procedências, e depois dos portugueses, a maior colônia de imigrantes estrangeiros no Maranhão. Mas isso é outra história, voltemos ao Jomingo e ao “Almanak 1866”.

Continuei folheando o livro, encadernado em capa dura, e me deparei com a lista das autoridades, entre eles, deputados, senadores e conselheiros. Entre os nomes, havia um que me soava conhecido: Lafayette Rodrigues Pereira, o conselheiro Lafayette, presidente da Província.

Elegi-me deputado pela primeira vez em 1982 e nunca soube que esse moço, nome de rua no Rio de Janeiro e de município em Minas Gerais havia governado o Maranhão. Naquele momento minha mente, como num velho e hoje quase obsoleto vídeo-cassete, rebobinou. Dava até para ouvir aquele ruído peculiar. Levou-me à Grécia antiga, onde vi o velho Sócrates, passeando com seus discípulos pelas alamedas de Atenas, dizendo “o que sei é que nada sei”. Realmente sabemos muito pouco e devemos aproveitar todas essas oportunidades para sabermos um pouco mais.

Depois daquele clic temporal, voltei ao Jomingo e já ouvi Jomar me chamando para ver uma foto do conselheiro Lafayette em um livro sobre dom Pedro II.

Isso é outra coisa incrível, quando quer mostrar alguma coisa em um de seus quase 20 mil livros, Jomar se levanta, vai até uma das estantes, pega um livro e abre na página onde está o assunto que deseja abordar.

Acabei de lembrar de um outro evento de domingo pela manhã que me foi muito engrandecedor. Trinta anos atrás, quando namorava Cristina Tavares, quando ia buscá-la em sua casa, antes de irmos à praia, eu passava por uma espécie de sabatina ou aula com seu pai, Haroldo Tavares, um dos homens mais cultos de nossa terra. Haroldo é responsável por hoje o nosso trânsito não ser ainda mais caótico, pois é dele a obra urbanística que possibilita andarmos de carro em São Luis.

Pois bem, Haroldo nos sentava ao seu lado para assistirmos Concertos para Juventude, um programa de música clássica com o maestro Isaac Karabitchevisky e depois dele, Globo Rural, quando esse programa era instrutivo e informativo e não um catálogo de compras e oportunidades de negócios como é hoje.

Os domingos, dias insípidos, inodoros e incolores, como água, foram e são, ontem e hoje, dias de aprendizado e amadurecimento onde tive e tenho o privilégio de ter mestres como Haroldo Tavares e Jomar Moraes.

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Republicando a pedido

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ILUSTRE DEPUTADO,

EM SUA RESPOSTA AO DESPREPARADO E MAL INFORMADO PSEUDO JOÃO DO RIO, UMA COISA ME ATRAIU NA LEITURA. NÃO A SUA RESPOSTA ATÉ POR QUE ENTENDO QUE NÃO PRECISARIA, OS DESINFORMADOS E RECALCADOS, SÃO CAPAZES DE QUALQUER COISA PARA SATISFAZEREM SEUS EGOS VAZIOS. POR OUTRO LADO ENTENDO SUA PREOCUPAÇÃO EM RESPONDÊ-LO, POIS É TIPICO DAQUELES QUE PRIMAM PELA VERDADE E PELA MANUTENÇÃO DA SUA HONRA NÃO PERMITIR POR OUTROS O FALSEASMENTO DOS SEUS ATOS E ATITUDES. É PERFEITAMENTE POSSIVEL , SEM BUSCAR AS DEVIDAS PROVAS, IMAGINAR QUE UM HOMEM COMO VOSSA EXCELENCIA COM TANTAS QUALIDADES PESSOAIS E PELOS CARGOS JÁ OCUPADOS, TER NÃO APENAS UM ARTUR DA TAVOLA COMO AMIGO, MAS UMA CENTENA DE OUTROS TÃO IMPORTANTES QUANTO O HORA CITADO. ENTRETANTO SENTIR-ME ATRAIDO QUANDO ARTUR NESTE CONTO CITOU O CONTO “ENGENHO CENTRAL, PINDARÉ”, OBRA ARQUITETONICA E HISTORICA, PELA QUAL SOU PROFUNDAMENTE APAIXONADO, FRUTO DAS MINHAS BATALHAS POLITICAS, NA PESPECTIVA DE VÊ-LO UM DIA TRANSFORMADO EM ESPAÇO CULTURAL E QUE CERTAMENTE VOSSA EXCELENCIA TAMBÉM GOSTARIA. MESMO SEM SER DEPUTADO NA PROXIMA LEGISLATURA, VOSSA EXCELENCIA CONTINUARÁ SENDO UM HOMEM IMPORTANTE. LHE FAÇO UM PEDIDO EM NOME DOS MUNICIPES PIMDAREENSES, FAÇA ALGO PELO ENGENHO NESSE NOVO GOVERNO DE ROSEANA. SOLICITO-LHE AINDA POSTAR EM SEU BLOG OU DIRETO NO MEU E-MAIL ESSE CONTO QUE TRATA DO ENGENHO.

GRATO.

PEDRO DE AMORIM AQUINO-NENEM DO PINDARÉ.

Resposta: O referido conto não trata do Engenho, o prédio, mas da cidade em torno dele, a velha Engenho Central, hoje, Pindaré-Mirim.
Esse conto já foi postado, mas vou recolocá-lo na próxima quarta-feira.
Grato,
JH.

Vou inaugurar uma nova fase de postagem nesse blog. Já que com a mudança editorial do Jornal  O Estado do Maranhão, passei a escrever naquele matutino apenas quinzenalmente, na semana que eu não publicar naquele veículo, publicarei aqui contos, crônicas e poemas publicados em meus livros ou de algum amigo.

Começo hoje com o prefácio que meu querido companheiro de Assembléia Nacional Constituinte, Artur da Távola, fez para meu livro “A Ponte”, editado pela Global Editora em 1991.

Em seguida lhes ofereço um pouco do “Engenho Central, Pindaré”, feito com a inestimável colaboração da maravilhosa memória e da imensa sensibilidade de minha tia Josefina.

FACÚNDIA

Joaquim Haickel é um facundo.  Na vida como na literatura.  Raros escritores são, na arte, o que na vida são.  E sua facúndia existencial estende-se para a literatura. É um célere, um devorador.  Afoito, prefere as pedras preciosas in natura.  Seu afã é descobri-Ias, jamais o paciente ato de as lapidar.  A mistura de velho árabe sábio com garoto levado que lhe marca a tipologia e o temperamento aparece nos contos.  Ora, a surpreendente inversão e economia dos contos “Agenda”, “Ambulante”,” Padre Nosso” e ” Geladeira”, ora o vezo regional de maranhense empedernido dos contos “As Moças do Curralzinho e os Rapazes do Pau Furado” ou o flagrante da Coluna Prestes pelo interior de seu estado, ou ainda o seu intenso e belo conto “Engenho Central, Pindaré”.

Não importa que o facundo Joaquim salte da cidade de Imperatriz, no Maranhão, para qualquer sartreana angústia existencial ou para o erotismo sadio que o atormenta tanto na vida pessoal quanto na literatura. Assim são os facundos: generosos, dispersivos, estróinas do talento. O mesmo Joaquim Haickel que pode ser visto jogando de cortador e saltando alto com seus 110 kg no voleibol ou viajando para aprofundar-se na cultura chinesa, por certo sentado ao lado da mais bonita morena presente no avião; o mesmo Joaquim Haickel que pode ser visto a trabalho sério como deputado federal ou ouvido na estrepitosa gargalhada de que são pródigos os felizes e saudáveis, pode ser encontrado, também, na ternura simples por personagens femininos que inventa e pressente como a comovente ” Clara Cor-de-Rosa’ ou a visão trágipatética de Francimar o menino que era menina por vontade da mãe.

Joaquim Haickel é, pois, um facundo.  Sua literatura imita-lhe a vida.  E sua vida (ah! que alívio) é venturosa.  Sim, enfim, senhores, eis que surgiu alguém naturalmente feliz e que do fundo da alegria de viver é capaz de encontrar a tragicidade, o espanto, a parada sensível.  E assim como atira-se a viver, sem tréguas, lamúrias ou timidez, vai criando e devorando vivências e personagens com apetite invejável.  Invejável, sim.  Nós outros, temerosos, prudentes, ora ficamos com raiva do desperdício à espera de que ele amadureça os temas e trabalhe os textos, o teor das histórias, a sua ideologia e rigor temático, ora ficamos é mesmo com inveja de tanta seiva, riqueza e talento, o que o leva, pródigo mas feliz, ao desperdício de quem nasceu forte, alegre, e concebe a vida como deliciosa aventura e, não, como penosa tarefa a enfrentar.

Artur da Távola

Engenho Central, Pindaré

Sei, por sua mãe, que você é curioso quanto às velhas histórias do Pindaré, berço de seu pai.  E agora que voltei, estou mandando para sua apreciação as reminiscências de um passado.

O que mais me admirou foi o aumento da população, o muito de desconhecidos que tomaram conta da terra, já que nós, os filhos do lugar, processamos em estranhas plagas arriar ferro.

E quedeí-me a pensar naquela manhã em que meu avô, imigrante libanês, chegou num velho gaiola que fazia a carreira do rio Pindaré.  Chegou, descarregou as malas, e ali mesmo, no pátio da fábrica de açúcar – que naquele tempo era a maior riqueza do Maranhão – foi abrindo as malas e vendendo à prestação para os operários, as roupas de carregação e as bugigangas de que se munira no comércio de São Luís.

Era o ano de 1909.  Por esse tempo, o Município de Engenho Central, hoje Pindaré, constava de três ruas, com casas bem distantes umas das outras.  As casas das três ruas foram se aconchegando mais.

Foi ali que nasci e cresci.  Bons tempos aqueles em que todos se conheciam, e a gente sabia tudo um da vida do outro.  Sabia-se, por exemplo, quanto vendera a loja do Dr. Mamede ou o que se almoçava em casa do Dr. Florindo; e, quando os pais surravam os filhos, se ouviam de longe os gritos e a taca comendo no lombo e pernas dos garotos que não obedeciam, respeitavam ou temiam os mais idosos. E os passantes ainda gritavam num apoio irrestrito aos pais que corrigiam os filhos: ‘-‘Bate, que perdida é a que bater no chão”” ‘ Uma execução em regra para crescerem disciplinados e educados.  Assim conversavam entre si os nossos pais.

As mulheres da vida eram poucas, pela manhã os interessados cochichavam com quem dormira a Elpidia e a Florentina.  Bons tempos!  Na venda do Dico Coelho era a reunião diária, à boca da noite, do pessoal de segunda, para um dedo de prosa e um ou outro gole de cachaça.  E quando estava lá o Alexandre, o riso era ouvido com mais freqüência. Ele gostava de contar anedotas e lembro-me ainda de sua mão grossa de vaqueiro espalmada mostrando-me nos dedos o passar dos anos e o murchar do sexo dos homens. Mostrando o polegar, ele dizia, olha vinte, no indicador, olha trinta, no médio, olha quarenta, no anular, olha cinqüenta e, com o mínimo, bem aberto, e apontando para baixo, olha sessenta.Todos ríamos, porque aquela era a verdade que todos esperavam com o passar dos anos.

Na farmácia de Tunico Melo se reunia o pessoal de primeira, e como a família morasse na mesma casa, as moças casadoiras iam até lá e ficavam na sala de visita, enquanto nós, os rapazes, ficávamos na calçada olhando de quando em vez pela janela aberta.

Quando havia alguma festa de aniversário, o chocolate com bolo de roda, broa ou manuê era uma verdadeira delícia!  E era também uma boa ocasião para brincadeira de prendas ou cantoras acompanhadas por violão.

Aos domingos, o terço rezado na capela por “Seu Mano” era um pretexto para os vestidos novos das moças e a pintura no rosto que só nos domingos podiam usar.

Missa só duas vezes por ano: no tempo do Natal e em junho, na festa do padroeiro, com procissão, ladainhas, foguetes, sinos, orquestra (vinda de outra cidade) e tabuleiro de doce.  O luar iluminando o largo da capela e roupa nova para o baile.
Padre Hellíerd era o vigário da região que vinha desde Vitória do Mearim até Boa Vista por esse mundão de matos por povoar.

Certa vez, depois de dizer missa em Plndaré, seguiram viagem para Monção e Boa Vista.  Era costume alguns senhores da região viajarem com o padre de um a outro lugar, todos montados em gordos burros de selas com coloridos coxinilhos, arreios enfeitados de moedas de prata e os pás enfiados em caçambas de bom metal

Pois bem, certa vez seguiram com o padre alguns senhores de Pindaré e, entre eles, Chico Pinto, coronel das terras de Mato-dos-Boís.  Lá pras tantas, já anoitecendo, o guia, contrafeito, avisou ao padre que havia perdido o roteiro. Estavam perdidos na mata.  Casas eram difíceis de encontrar numa região que não as tinha.  Todos ficaram apreensivos, e o padre acabou dando esta opinião: “Já que estamos perdidos, soltemos as rédeas aos animais e deixemos que eles nos levem a algum lugar”

Chico Pinto pulou do burro e, soltando uma palmada na sela, berrou no silêncio da mata: “”Forte miséria, padre”. “O que foi, Chico?” perguntou o padre, alarmado.

– Forte miséria, você passar 11 anos no seminário e hoje deixar-se levar pela cabeça de um burro!

Os gaiolas iam de mês a mês, e a civilização nos chegava atrasada e em conta-gotas.  Líamos jornais com trinta dias de atraso!

E, quando outra noite, um avião perdido nas rotas aéreas roncou nos céus da minha terra, a mulher do Chico Esfola Bode, que há muito vinha traindo o marido, jogou-se aos pés do pobre como e confessou seu erro.  Quando ficou constatado que não era um pedaço do céu que vinha se quebrando, houve tabefes e facadas.

O primeiro rádio chegou!Levado por seu Chibinho Rabelo.  Duvido muito que qualquer outro acontecimento neste vasto País tenha barateando e marcado uma população por quanto nos barateou.  Marcou época porque, por mais de cinco anos, foi o único rádio do lugar.  E nesses cinco anos a gente contava as coisas e dizia: foi antes do rádio chegar, foi no ano que o rádio chegou, foi depois Je chegada do rádio.

E o rádio avisou até a morte da mãe de “‘Leite (2uente”‘, um preto que nasceu no ano da liberdade.  Um dia em que ele passava pela casa dos Rabelo, ouviu o rádio dizer.  “,Só Leite, ta mãe morreu” E ele contava: “quando uvi o bicho dizê eu taquê pé, taquê pé e cheguei lá a véia tava dura”

Minha tia Alzira e dona Jerusa eram as professoras do Pindaré e procuravam explicar da melhor maneira o que e como era o rádio.  Mas não dava para entender e muito menos acreditar.  Era mais compreensível acreditar num homenzinho de voz possante que se alimentava com coisas estranhas saídas de bateria.  E quando as baterias, certa vez, enfraqueceram, o rádio ficou mudo; teve quem levasse ovos e leite para “alimentar” o enfraquecido homenzinho.  Era assim o Pindaré.

E agora, eis-me aqui, no pátio da bonita casa de meu irmão, há relembrar aqueles tempos.  Não, não vou dizer que no meu tempo era melhor.  Os muitos anos, as desilusões e as tristezas que por mim passaram e me fizeram de vista curta é que me impedem de apreciar a beleza de que a atual geração é privilegiada.  Ainda há fome.

É noite de luar, e eu acabo de ver que é a mesma lua e a mesma brisa, o mesmo céu e o mesmo Deus de minha geração.  E isto é um conforto.

Dedico este conto a minha querida e saudosa tia Josefina,
mulher à frente de seu tempo.

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Mobília

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Só os móveis permanecem lá

impávidos

imóveis

compondo o cenário previamente desenhado para o espetáculo.

Os personagens principais mudam

mas não mudam os serventes

não mudam os garçons

nem as arrumadeiras.

Mudam os cães que não mudam,

latem

e a caravana passa.

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Desconstruindo

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Não tenho postado textos às quartas-feiras, mas o comentário de um tal João do Rio, pseudônimo claramente falso, de alguém que além de não ter coragem, não tem também senso do ridículo, me fez postar este de hoje.

No post anterior, nesta página, contei uma história que aconteceu comigo e com minha mulher. Lendo juntos nossos e-mails, descobri um maravilhoso texto de um saudoso amigo, o escritor e político carioca Artur da Távola. Comentei o fato e transcrevi seu maravilhoso texto, o que foi o suficiente para o tal João do Rio mandar-me o seguinte comentário:

Que mentira! De onde é que esse deputadinho do Maranhão vai ser amigo de um grande político e escritor como foi o Artur da Távola? Vê se se enxerga cara! Para de mentir.

Ao qual postei a seguinte resposta:

Resposta: Caro João do Rio, porque eu iria mentir em meu blog sobre um assunto tão facilmente comprovável. É muito fácil dirimir sua dúvida, para isso basta que você entre no site da Câmara dos Deputados, procure pela Assembléia Nacional Constituinte e veja se é verdade ou não que fomos eu e Paulo Alberto Moretzsonh Monteiro de Barros (Artur da Távola) deputados federais na legislatura de 1987 até 1991. E mais, se você não estiver satisfeito e ainda assim achar que eu esteja mentindo, procure em alguma das livrarias de São Luis o meu livro de contos, “A Ponte”, nele você irá encontrar um prefácio escrito por Artur. Como imagino que você não vai se dar ao trabalho de procurar, passo a transcrever o referido prefácio a seguir.

FACÚNDIA

Joaquim Haickel é um facundo.  Na vida como na literatura.  Raros escritores são, na arte, o que na vida são.  E sua facúndia existencional estica-se para a literatura. É um célere, um devorador. Afoito, prefere as pedras preciosas in natura.  Seu afã é descobri-Ias, jamais o paciente ato de as lapidar. A mistura de velho árabe sábio com garoto levado que lhe marca a tipologia e o temperamento, aparece nos contos.  Ora, a surpreendente inversão e economia dos contos “Agenda”, “Ambulante”, “Padre Nosso” e “Geladeira”, ora o vezo regional de maranhense empedernido dos contos “As Moças do Curralzinho e os Rapazes do Pau Furado” ou o flagrante da Coluna Prestes pelo interior de seu estado, ou, ainda, o seu intenso e belo conto “Engenho Central, Pindaré’.

Não importa que o facundo Joaquim salte da cidade de Imperatriz, no Maranhão, para qualquer sartreana angústia existencial ou para o erotismo sadio que o atormenta tanto na vida pessoal quanto na literatura.  Assim são os facundos: generosos, dispersivos, estróinas do talento. O mesmo Joaquim Haickel que pode ser visto jogando de cortador e saltando alto com seus 110 kg no voleibol ou viajando para aprofundar-se na cultura chinesa, por certo sentado ao lado da mais bonita morena presente no avião; o mesmo Joaquim Haickel que pode ser visto a trabalho sério como deputado federal ou ouvido na estrepitosa gargalhada de que são pródigos os felizes e saudáveis, pode ser encontrado, também, na ternura simples por personagens femininos que inventa e pressente como a comovente “Clara Cor-de-Rosa” ou a visão tragipatética de Francimar o menino que era menina por vontade da mãe.

Joaquim Haickel é, pois, um facundo.  Sua literatura imita-lhe a vida.  E sua vida (ah! que alívio) é venturosa.  Sim, enfim, senhores, eis que surgiu alguém naturalmente feliz e que do fundo da alegria de viver é capaz de encontrar a tragicidade, o espanto, a parada sensível.  E assim como atira-se a viver, sem tréguas, lamúrias ou timidez, vai criando e devorando vivências e personagens com apetite invejável.  Invejável, sim.  Nós outros, temerosos, prudentes, ora ficamos com raiva do desperdício à espera de que ele amadureça os temas e trabalhe os textos, o teor das histórias, a sua ideologia e rigor temático, ora ficamos é mesmo com inveja de tanta seiva, riqueza e talento, o que o leva, pródigo mas feliz, ao desperdício de quem nasceu forte, alegre, e concebe a vida como deliciosa aventura e, não, como penosa tarefa a enfrentar.

Artur da Távola

Fico indignado com pessoas como esse João do Rio, pois é muito fácil tentar enxovalhar alguém, mas eu não aceito esse tipo de coisa.

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O verdadeiro valor do amor.

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Estávamos eu e Jacira em casa, cada um com seu notebook, lendo nossos emails, quando ela pediu que eu parasse um pouco e ouvisse um que ela havia acabado receber de nossa amiga Bruna Maciel.

O texto que ela leu para mim, vocês terão a oportunidade de lê-lo mais abaixo. Mas o curioso é que enquanto ela lia, eu ia tendo um Déjà vu. Era como se eu já tivesse ouvido aquelas palavras.

Antes que ela chegasse ao meio do texto eu pedi que parasse e perguntei quem era o autor, pois aquelas palavras me pareciam conhecidas. Nunca havia lido aquele texto, mas ele me soava muito familiar.

Ao final estava escrito o nome de seu autor: Artur da Távola. Foi então que caiu a ficha.

Conheci Artur da Távola, em 1987 quando fomos colegas, deputados federais na Assembléia Nacional Constituinte. Ficamos amigos, pois tínhamos interesses comuns: Literatura, cinema, música, filosofia, psicologia, política…

Uma vez saímos da Câmara dos Deputados, depois de uma daquelas sessões que começavam às nove da manhã e se prolongavam até nove da noite e fomos jantar no restaurante Piantella. Lá pelas tantas surgiu essa conversa sobre o peso dos sentimentos, a importância do amor na paleta de tintas do pintor ou na escala das notas musicais do maestro de nossas vidas, das sensações que eu e ele tínhamos sobre isso. Ele inclusive comentou que já havia escrito um texto sobre esse assunto.

Até Jacira ler para mim o tal texto, ele me era totalmente desconhecido, mas há nele frases inteiras que me remetem àquela conversa, tida há mais de vinte anos. Grande Artur!

O texto abaixo é para vocês, como uma espécie de presente do dia dos namorados que aconteceu ontem e que em minha opinião deve ser comemorado diariamente.

Leia esse presente e depois releia com a pessoa que você ama.

“Aos que não casaram, aos que vão casar, aos que acabaram de casar, aos que pensam em se separar, aos que acabaram de se separar. Aos que pensam em voltar…

Não existem vários tipos de amor, assim como não existem três tipos de saudades, quatro de ódio, seis espécies de inveja.

O amor é único, como qualquer sentimento, seja ele destinado a familiares, ao cônjuge ou a Deus. A diferença é que, como entre marido e mulher não há laços de sangue, a sedução tem que ser ininterrupta…

Por não haver nenhuma garantia de durabilidade, qualquer alteração no tom de voz nos fragiliza, e de cobrança em cobrança, acabamos por sepultar uma relação que poderia ser eterna.

Casaram. Te amo pra lá, te amo pra cá. Lindo, mas insustentável. O sucesso de um casamento exige mais do que declarações românticas. Entre duas pessoas que resolvem dividir o mesmo teto, tem que haver muito mais do que amor, e às vezes, nem necessita de um amor tão intenso. É preciso que haja, antes de mais nada, respeito. Agressões zero.

Disposição para ouvir argumentos alheios. Alguma paciência… Amor só, não basta. Não pode haver competição. Nem comparações. Tem que ter jogo de cintura, para acatar regras que não foram previamente combinadas. Tem que haver bom humor para enfrentar imprevistos, acessos de carência, infantilidades. Tem que saber levar.

Amar só é pouco. Tem que haver inteligência. Um cérebro programado para enfrentar tensões pré-menstruais, rejeições, demissões inesperadas, contas para pagar. Tem que ter disciplina para educar filhos, dar exemplo, não gritar.

Tem que ter um bom psiquiatra. Não adianta, apenas, amar. Entre casais que se unem, visando à longevidade do matrimônio, tem que haver um pouco de silêncio, amigos de infância, vida própria, um tempo pra cada um. Tem que haver confiança. Certa camaradagem, às vezes fingir que não viu, fazer de conta que não escutou. É preciso entender que união não significa, necessariamente, fusão. E que amar “solamente”, não basta.

Entre homens e mulheres que acham que o amor é só poesia, tem que haver discernimento, pé no chão, racionalidade. Tem que saber que o amor pode ser bom, pode durar para sempre, mas que sozinho não dá conta do recado.

O amor é grande, mas não são dois. Tem que saber se aquele amor faz bem ou não, se não fizer bem, não é amor. É preciso convocar uma turma de sentimentos para amparar esse amor que carrega o ônus da onipotência. O amor até pode nos bastar, mas ele próprio não se basta.

Um bom Amor aos que já têm! Um bom encontro aos que procuram! E felicidades a todos nós!”

Ave Artur, os que amam e os que vão amar te saúdam!

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Analogia

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Quando se encontra o que se procura

as outras ofertas perdem o seu valor.

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Verdades e Mentiras

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Credita-se a Joseph Goebbels, ministro da propaganda da Alemanha nazista de Adolf Hitler, a frase “uma mentira repetida mil vezes torna-se uma verdade”.

Abraham Lincoln, presidente dos Estados Unidos da América, disse que: “Pode-se enganar todos durante algum tempo, pode-se enganar alguns durante todo tempo, mas não se pode enganar todos por todo tempo”.
Em sua genialidade, o autor de 1984 e Revolução dos Bichos, o inglês George Orwell, disse que: “Em tempos de fraude universal, dizer a verdade se torna um ato revolucionário”.

Certa vez Jesus tentou mostrar a seus discípulos o que era realmente verdade: “Digo-lhes a verdade: não foi Moisés quem lhes deu pão do céu, mas é meu Pai quem lhes dá o verdadeiro pão do céu”.

O parabólico e metafórico nazareno queria simplesmente dizer que o adorado deve ser o detentor do poder e da glória, não seu agente, não seu obreiro.

Quando Jesus disse que ele era o “caminho, a verdade e a vida”, quis dizer mais do que entendemos em suas palavras traduzidas do hebraico ou do aramaico. Ele, em verdade, nos dizia que só se terá redenção, só se chegará na glória divina sendo como ele, sendo minimamente bom em tudo em nossas vidas, tendo em nós mais as boas qualidade do que as más.
Mas afinal de contas o que é mesmo verdade?

Em verdade vos digo, por ser poeta e político acho melhor não dar minha opinião, mas ir buscar em outros, explicação condizente com tarefa tão difícil.

O grande cientista Niels Bohr explica filosoficamente não apenas a mecânica dos elementos, mas a mecânica da vida enquanto seu parâmetro. Disse ele certa vez que existem verdades triviais e grandes verdades. Disse também que o contrário das verdades triviais é claramente falso, mas que já no caso de uma grande verdade, seu contrário é também verdadeiro.
Essa afirmação bagunçou minha cabeça. Passei muito tempo digerindo o que disse Bohr, que antes só conhecia das aulas de física e de química.

Havia então duas constatações a levar em conta. A primeira é que, obrigatoriamente, um cientista, antes de tudo, teria que ser um humanista, um filósofo. A segunda, se for realmente verdade o que disse Bohr, teria que reformular minha opinião sobre o demônio, satanás. Para mim ele não existe. É tão insignificante perto de Deus, onipotente, onipresente e onisciente, que nem cogito sua existência. Em minha concepção, o que há é o livre arbítrio humano, que na maioria das vezes, quando posto em prática, assemelha-se muito ao trabalho do Demo, do coisa ruim.

Pois bem, sendo Deus uma grande verdade, satanás, segundo Bohr, também o é. Confesso que não gosto dessa idéia, ela dá margem para muita especulação.

Em meu socorro aparece Nietzsche, mas acaba por bagunçar ainda mais minhas idéias, dizendo: Toda verdade é simples – Não será essa uma mentira composta?

Lembro então que meu pai dizia que algumas verdades eram tão preciosas que precisavam ser garantidas por uma série de mentirinhas.
Meu pai dizia umas coisas curiosas para um homem de pouco estudo. Uma vez, falamos sobre isso em uma de nossas viagens pelo interior desse Maranhão. Foi entre o ensaio dos discursos que iria proferir naquele dia e a eterna transmissão de um jogo de futebol entre Arsenal e Manchester, que ele ouvira pelo rádio, quando eu ainda nem era nascido.

Falando sobre como agir na política, como deveríamos nos portar enquanto políticos, fazendo uma comparação entre o mundo do comércio e o da política, mundos onde ele habitava, me disse ele que “a verdade é uma mercadoria complicada de se transportar e mais ainda de se negociar”. Que ela “tem que ser dita de tal maneira que se acredite nela, se assim não for, parecerá simplesmente mais uma mentira”.

Foi com ele que aprendi que é infinitamente melhor, se dizer a verdade, pois dá menos trabalho, é menos cansativo, mais prazeroso. Que só se deve lançar mão da mentira quando for impossível usar a verdade. E ele mesmo completou: ”O difícil é saber fazer a diferença”.

Comecei a escrever esse texto porque estava me indagando sobre minhas verdades, fato que me trouxe até aqui, esse beco sem saída. Só me resta lançar mão de um grande amigo meu, um mágico das palavras, grande conhecedor do pensamento e da alma humana, Luigi Pirandello, talvez o único capaz de solucionar esse dilema: “Assim é, se lhe parece”.

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