ILUSTRE DEPUTADO,
EM SUA RESPOSTA AO DESPREPARADO E MAL INFORMADO PSEUDO JOÃO DO RIO, UMA COISA ME ATRAIU NA LEITURA. NÃO A SUA RESPOSTA ATÉ POR QUE ENTENDO QUE NÃO PRECISARIA, OS DESINFORMADOS E RECALCADOS, SÃO CAPAZES DE QUALQUER COISA PARA SATISFAZEREM SEUS EGOS VAZIOS. POR OUTRO LADO ENTENDO SUA PREOCUPAÇÃO EM RESPONDÊ-LO, POIS É TIPICO DAQUELES QUE PRIMAM PELA VERDADE E PELA MANUTENÇÃO DA SUA HONRA NÃO PERMITIR POR OUTROS O FALSEASMENTO DOS SEUS ATOS E ATITUDES. É PERFEITAMENTE POSSIVEL , SEM BUSCAR AS DEVIDAS PROVAS, IMAGINAR QUE UM HOMEM COMO VOSSA EXCELENCIA COM TANTAS QUALIDADES PESSOAIS E PELOS CARGOS JÁ OCUPADOS, TER NÃO APENAS UM ARTUR DA TAVOLA COMO AMIGO, MAS UMA CENTENA DE OUTROS TÃO IMPORTANTES QUANTO O HORA CITADO. ENTRETANTO SENTIR-ME ATRAIDO QUANDO ARTUR NESTE CONTO CITOU O CONTO “ENGENHO CENTRAL, PINDARÉ”, OBRA ARQUITETONICA E HISTORICA, PELA QUAL SOU PROFUNDAMENTE APAIXONADO, FRUTO DAS MINHAS BATALHAS POLITICAS, NA PESPECTIVA DE VÊ-LO UM DIA TRANSFORMADO EM ESPAÇO CULTURAL E QUE CERTAMENTE VOSSA EXCELENCIA TAMBÉM GOSTARIA. MESMO SEM SER DEPUTADO NA PROXIMA LEGISLATURA, VOSSA EXCELENCIA CONTINUARÁ SENDO UM HOMEM IMPORTANTE. LHE FAÇO UM PEDIDO EM NOME DOS MUNICIPES PIMDAREENSES, FAÇA ALGO PELO ENGENHO NESSE NOVO GOVERNO DE ROSEANA. SOLICITO-LHE AINDA POSTAR EM SEU BLOG OU DIRETO NO MEU E-MAIL ESSE CONTO QUE TRATA DO ENGENHO.
GRATO.
PEDRO DE AMORIM AQUINO-NENEM DO PINDARÉ.
Resposta: O referido conto não trata do Engenho, o prédio, mas da cidade em torno dele, a velha Engenho Central, hoje, Pindaré-Mirim.
Esse conto já foi postado, mas vou recolocá-lo na próxima quarta-feira.
Grato,
JH.
Vou inaugurar uma nova fase de postagem nesse blog. Já que com a mudança editorial do Jornal O Estado do Maranhão, passei a escrever naquele matutino apenas quinzenalmente, na semana que eu não publicar naquele veículo, publicarei aqui contos, crônicas e poemas publicados em meus livros ou de algum amigo.
Começo hoje com o prefácio que meu querido companheiro de Assembléia Nacional Constituinte, Artur da Távola, fez para meu livro “A Ponte”, editado pela Global Editora em 1991.
Em seguida lhes ofereço um pouco do “Engenho Central, Pindaré”, feito com a inestimável colaboração da maravilhosa memória e da imensa sensibilidade de minha tia Josefina.
FACÚNDIA
Joaquim Haickel é um facundo. Na vida como na literatura. Raros escritores são, na arte, o que na vida são. E sua facúndia existencial estende-se para a literatura. É um célere, um devorador. Afoito, prefere as pedras preciosas in natura. Seu afã é descobri-Ias, jamais o paciente ato de as lapidar. A mistura de velho árabe sábio com garoto levado que lhe marca a tipologia e o temperamento aparece nos contos. Ora, a surpreendente inversão e economia dos contos “Agenda”, “Ambulante”,” Padre Nosso” e ” Geladeira”, ora o vezo regional de maranhense empedernido dos contos “As Moças do Curralzinho e os Rapazes do Pau Furado” ou o flagrante da Coluna Prestes pelo interior de seu estado, ou ainda o seu intenso e belo conto “Engenho Central, Pindaré”.
Não importa que o facundo Joaquim salte da cidade de Imperatriz, no Maranhão, para qualquer sartreana angústia existencial ou para o erotismo sadio que o atormenta tanto na vida pessoal quanto na literatura. Assim são os facundos: generosos, dispersivos, estróinas do talento. O mesmo Joaquim Haickel que pode ser visto jogando de cortador e saltando alto com seus 110 kg no voleibol ou viajando para aprofundar-se na cultura chinesa, por certo sentado ao lado da mais bonita morena presente no avião; o mesmo Joaquim Haickel que pode ser visto a trabalho sério como deputado federal ou ouvido na estrepitosa gargalhada de que são pródigos os felizes e saudáveis, pode ser encontrado, também, na ternura simples por personagens femininos que inventa e pressente como a comovente ” Clara Cor-de-Rosa’ ou a visão trágipatética de Francimar o menino que era menina por vontade da mãe.
Joaquim Haickel é, pois, um facundo. Sua literatura imita-lhe a vida. E sua vida (ah! que alívio) é venturosa. Sim, enfim, senhores, eis que surgiu alguém naturalmente feliz e que do fundo da alegria de viver é capaz de encontrar a tragicidade, o espanto, a parada sensível. E assim como atira-se a viver, sem tréguas, lamúrias ou timidez, vai criando e devorando vivências e personagens com apetite invejável. Invejável, sim. Nós outros, temerosos, prudentes, ora ficamos com raiva do desperdício à espera de que ele amadureça os temas e trabalhe os textos, o teor das histórias, a sua ideologia e rigor temático, ora ficamos é mesmo com inveja de tanta seiva, riqueza e talento, o que o leva, pródigo mas feliz, ao desperdício de quem nasceu forte, alegre, e concebe a vida como deliciosa aventura e, não, como penosa tarefa a enfrentar.
Artur da Távola
Engenho Central, Pindaré
Sei, por sua mãe, que você é curioso quanto às velhas histórias do Pindaré, berço de seu pai. E agora que voltei, estou mandando para sua apreciação as reminiscências de um passado.
O que mais me admirou foi o aumento da população, o muito de desconhecidos que tomaram conta da terra, já que nós, os filhos do lugar, processamos em estranhas plagas arriar ferro.
E quedeí-me a pensar naquela manhã em que meu avô, imigrante libanês, chegou num velho gaiola que fazia a carreira do rio Pindaré. Chegou, descarregou as malas, e ali mesmo, no pátio da fábrica de açúcar – que naquele tempo era a maior riqueza do Maranhão – foi abrindo as malas e vendendo à prestação para os operários, as roupas de carregação e as bugigangas de que se munira no comércio de São Luís.
Era o ano de 1909. Por esse tempo, o Município de Engenho Central, hoje Pindaré, constava de três ruas, com casas bem distantes umas das outras. As casas das três ruas foram se aconchegando mais.
Foi ali que nasci e cresci. Bons tempos aqueles em que todos se conheciam, e a gente sabia tudo um da vida do outro. Sabia-se, por exemplo, quanto vendera a loja do Dr. Mamede ou o que se almoçava em casa do Dr. Florindo; e, quando os pais surravam os filhos, se ouviam de longe os gritos e a taca comendo no lombo e pernas dos garotos que não obedeciam, respeitavam ou temiam os mais idosos. E os passantes ainda gritavam num apoio irrestrito aos pais que corrigiam os filhos: ‘-‘Bate, que perdida é a que bater no chão”” ‘ Uma execução em regra para crescerem disciplinados e educados. Assim conversavam entre si os nossos pais.
As mulheres da vida eram poucas, pela manhã os interessados cochichavam com quem dormira a Elpidia e a Florentina. Bons tempos! Na venda do Dico Coelho era a reunião diária, à boca da noite, do pessoal de segunda, para um dedo de prosa e um ou outro gole de cachaça. E quando estava lá o Alexandre, o riso era ouvido com mais freqüência. Ele gostava de contar anedotas e lembro-me ainda de sua mão grossa de vaqueiro espalmada mostrando-me nos dedos o passar dos anos e o murchar do sexo dos homens. Mostrando o polegar, ele dizia, olha vinte, no indicador, olha trinta, no médio, olha quarenta, no anular, olha cinqüenta e, com o mínimo, bem aberto, e apontando para baixo, olha sessenta.Todos ríamos, porque aquela era a verdade que todos esperavam com o passar dos anos.
Na farmácia de Tunico Melo se reunia o pessoal de primeira, e como a família morasse na mesma casa, as moças casadoiras iam até lá e ficavam na sala de visita, enquanto nós, os rapazes, ficávamos na calçada olhando de quando em vez pela janela aberta.
Quando havia alguma festa de aniversário, o chocolate com bolo de roda, broa ou manuê era uma verdadeira delícia! E era também uma boa ocasião para brincadeira de prendas ou cantoras acompanhadas por violão.
Aos domingos, o terço rezado na capela por “Seu Mano” era um pretexto para os vestidos novos das moças e a pintura no rosto que só nos domingos podiam usar.
Missa só duas vezes por ano: no tempo do Natal e em junho, na festa do padroeiro, com procissão, ladainhas, foguetes, sinos, orquestra (vinda de outra cidade) e tabuleiro de doce. O luar iluminando o largo da capela e roupa nova para o baile.
Padre Hellíerd era o vigário da região que vinha desde Vitória do Mearim até Boa Vista por esse mundão de matos por povoar.
Certa vez, depois de dizer missa em Plndaré, seguiram viagem para Monção e Boa Vista. Era costume alguns senhores da região viajarem com o padre de um a outro lugar, todos montados em gordos burros de selas com coloridos coxinilhos, arreios enfeitados de moedas de prata e os pás enfiados em caçambas de bom metal
Pois bem, certa vez seguiram com o padre alguns senhores de Pindaré e, entre eles, Chico Pinto, coronel das terras de Mato-dos-Boís. Lá pras tantas, já anoitecendo, o guia, contrafeito, avisou ao padre que havia perdido o roteiro. Estavam perdidos na mata. Casas eram difíceis de encontrar numa região que não as tinha. Todos ficaram apreensivos, e o padre acabou dando esta opinião: “Já que estamos perdidos, soltemos as rédeas aos animais e deixemos que eles nos levem a algum lugar”
Chico Pinto pulou do burro e, soltando uma palmada na sela, berrou no silêncio da mata: “”Forte miséria, padre”. “O que foi, Chico?” perguntou o padre, alarmado.
– Forte miséria, você passar 11 anos no seminário e hoje deixar-se levar pela cabeça de um burro!
Os gaiolas iam de mês a mês, e a civilização nos chegava atrasada e em conta-gotas. Líamos jornais com trinta dias de atraso!
E, quando outra noite, um avião perdido nas rotas aéreas roncou nos céus da minha terra, a mulher do Chico Esfola Bode, que há muito vinha traindo o marido, jogou-se aos pés do pobre como e confessou seu erro. Quando ficou constatado que não era um pedaço do céu que vinha se quebrando, houve tabefes e facadas.
O primeiro rádio chegou!Levado por seu Chibinho Rabelo. Duvido muito que qualquer outro acontecimento neste vasto País tenha barateando e marcado uma população por quanto nos barateou. Marcou época porque, por mais de cinco anos, foi o único rádio do lugar. E nesses cinco anos a gente contava as coisas e dizia: foi antes do rádio chegar, foi no ano que o rádio chegou, foi depois Je chegada do rádio.
E o rádio avisou até a morte da mãe de “‘Leite (2uente”‘, um preto que nasceu no ano da liberdade. Um dia em que ele passava pela casa dos Rabelo, ouviu o rádio dizer. “,Só Leite, ta mãe morreu” E ele contava: “quando uvi o bicho dizê eu taquê pé, taquê pé e cheguei lá a véia tava dura”
Minha tia Alzira e dona Jerusa eram as professoras do Pindaré e procuravam explicar da melhor maneira o que e como era o rádio. Mas não dava para entender e muito menos acreditar. Era mais compreensível acreditar num homenzinho de voz possante que se alimentava com coisas estranhas saídas de bateria. E quando as baterias, certa vez, enfraqueceram, o rádio ficou mudo; teve quem levasse ovos e leite para “alimentar” o enfraquecido homenzinho. Era assim o Pindaré.
E agora, eis-me aqui, no pátio da bonita casa de meu irmão, há relembrar aqueles tempos. Não, não vou dizer que no meu tempo era melhor. Os muitos anos, as desilusões e as tristezas que por mim passaram e me fizeram de vista curta é que me impedem de apreciar a beleza de que a atual geração é privilegiada. Ainda há fome.
É noite de luar, e eu acabo de ver que é a mesma lua e a mesma brisa, o mesmo céu e o mesmo Deus de minha geração. E isto é um conforto.
Dedico este conto a minha querida e saudosa tia Josefina,
mulher à frente de seu tempo.