Outro dia tive um sonho interessante: Estava eu em companhia de um grupo de amigos, deste e de outros tempos, apreciando o mural que retrata a fundação de São Luis, que se encontrava pendurado na parede do Salão de Atos do Palácio dos Leões.
Comigo estavam Japiaçu, principal chefe das aldeias de Upaon-Açu; Davi Migan, o língua, gaulês que foi trazido para os trópicos ainda menino e que aqui chegando, assimilou e foi assimilado pela cultura nativa, o que lhe propiciou a função de tradutor e diplomata dos tupinambás; Charles de Vaux e Jacques Riffau, misto de negociantes e corsários; os empreendedores Daniel de La Touche, senhor de La Ravardiere, François de Rasilly, senhor Almers e Nicolau de Herley, senhor de Sancy; os padres capuchinhos Claude d’Abbeville e Yves d’Évreux.
Estavam também Jerônimo de Albuquerque, Diogo de Campos Moreno, Alexandre de Moura e o engenheiro-mor Francisco de Frias, responsável pelo primeiro desenho urbanístico de nossa cidade.
Mais atrás vinham Simão Estácio da Silveira, fundador do Senado da Câmara de São Luís e o padre Antonio Vieira, que dispensa qualquer aposto. Vinham seguidos de um sizudo Manuel Bequimão, a quem todos devem conhecer.
Em meu sonho estava também o político, escritor e jornalista João Francisco Lisboa e dona Ana Jansen que vinham acompanhados pelo igualmente político, escritor e jornalista Erasmo Dias, o pintor Floriano Teixeira, autor do magnifico mural, o poeta Valdelino Ceccio, o fotografo Dreyffus Azoubel, os historiadores Mário Meireles e Carlos de Lima, o famoso maluco local “Bota Pra Moer”, que trazia atenciosamente pelas mãos minha espevitada filha Laila, de sainha plissada e maria chiquinhas, do tempo em que ela ainda era uma menininha perguntadeira. Hoje, mesmo que ainda perguntadeira, já é uma bela mulher.
Todos apreciavam o quadro de seu ponto de vista. O velho índio via sua gente parda, lindamente retratada pelo artista que ao fundo apreciava sua obra, e mais ainda, apreciava a apreciação e o deslumbramento dos demais.
Os franceses se acharam garbosos. Os portugueses não se viam registrados. Os padres se viam elegantemente retratados. Mas Vieira, como era de seu temperamento, já se preparava para dizer que ali começava a exploração dos silvícolas pelo branco.
O clima não era de disputa. Não havia tensão no ar. Havia comtemplação. A obra de Floriano, mesmo se não represente a verdade dos fatos acontecidos, retrata solidamente aquele tempo feito luz e cor.
Lembro da primeira vez que vi aquele quadro. Ainda menino, fui levado por meu pai ao Palácio, não me lembro bem por qual motivo. Ao passar por uma das salas vi aquela imensa pintura, a maior que veria por muitos anos e me apaixonei por ele, pela história que cada um daqueles personagens contava.
Mesmo que não tivesse movimento em si, os desenhos pareciam se mexer. Os personagens tinham vida, corriam, falavam, sorriam…
De repente o Salão de Atos do PL, locação inicial de meu sonho, transformou-se em uma espécie de corredor por onde passavam todos os personagens que participaram da história de São Luís nesses 400 anos.
No meio do sonho, lembrei que da primeira vez que fui ao Palácio vi um outro quadro que me comoveu bastante. Tratava-se de uma pintura que trazia um índio sobre uma prancha de madeira e nela, a seus pés, jazia morto um homem, que de imediato perguntei de quem se tratava e me foi respondido que aquele era o poeta Gonçalves Dias.
Em minha procura daquele quadro, no sonho, acabei por encontrar um outro, que até aquele instante me era desconhecido.
Tratava-se de uma obra moderna, iconográfica, cheia de informação, ícones culturais. Em estilo lembrava Andy Warhol. Havia no meio dessa tela, que trazia por trás de si uma luz que oscilava de um lado para outro, uma série de números: “…398, 399, 400, 401, 402…”.
Todos haviam ficado para trás. Em frente aquele quadro estavamos apenas eu, minha filhinha perguntadeira, o padre Vieira e “Bota Pra Moer”.
Laila perguntou o que significava aquele quadro. Eu calei. Vieira franziu a testa, suspirou e levou as mãos justapostas ao peito, como se rezasse. Só o maluco foi capaz de expressar claramente o que via. Segundo ele aquele quadro recomendava que tratássemos de comemorar os 400 anos de São Luís da melhor maneira possivel, mas que mais importante que isso, seria comemorarmos com igual entusiasmo e com cada vez maior empenho os aniversários vindouros, buscando preservar nossa cidade para as gerações futuras.
Acordei sobressaltado. Aquilo tudo pareceu tão real, tão verdadeiro. Fiquei triste por ter acordado e parado de sonhar.
Deitei novamente, fechei os olhos e busquei me concentar naquele sonho, tentando alcançar novamente aquelas imagens, aqueles sons, aquele filme que havia sido interrompido. Não consegui voltar ao sonho, mas acordado mesmo, passei a desenhá-lo em minha mente.
De tudo que pensei, o mais importante foi reflexo direto do que disse “Bota Pra Moer”: As comemorações dos 400 anos de São Luís são importantes, porém, mais que isso será no ano que vem comemorarmos os 401 anos de nossa cidade podendo oferecer a ela e a seus habitantes, nós, uma melhor qualidade de vida, uma cidade mais bem tratada, mais preservada, mais amada, mais respeitada.
Esse será sempre o melhor presente que poderemos dar à nossa terra mãe.
Ouvi a entrevista do nobre deputado hoje na Mirante, e cheguei a conclusão: se no Brasil todo homem público fosse educado e atencioso com as pessoas como o senhor, certamente nós teríamos bons serviços públicos.
Lindo Texto!
Concordo com o Paulo da Cohama.
Parabéns deputado Nagib e continue assim.
É preciso que se sonhe sempre com uma cidade melhor!
Que se sonhe e que se realizem os bons sonhos para nossa cidade.
joaquim, essa foi a forma que encontramos para homenagear nossa cidade, eu, Ismael Filho e Hernando Cunha fizemos esse pequeno video.
grande abraço
http://www.youtube.com/watch?v=z8Gu0HrxJ8A&feature=youtu.be
Adorei esse texto “sonho”. Parabéns!