Hoje eu quero me dirigir especialmente àqueles cujos filhos estão na faixa dos 12 aos 18 anos, os pais dos tais adolescentes. Vocês têm ido ao cinema com seus filhos? Tenho certeza que não, porque olha… Eu estive num domingo desse aí no cinema e tenho certeza de que os filhos de alguns de vocês estavam lá, e posso prestar um depoimento sincero sobre o que é estar no cinema com eles: é um inferno.
Tenho certeza que vocês procuram educá-los da maneira mais correta possível, mostrando-lhes como devem se comportar no convívio social, mas quando eles fogem de suas vistas e concentram-se em grupo, perdem qualquer chance de ser perdoados. O filme era muito interessante, abordava um assunto intrigante: o convívio do ser humano com um bando de gorilas, na África, mas a platéia fazia com que o cenário, da tela, às vezes saltasse nas cadeiras do cinema, pois a sala parecia uma selva, e aqueles jovens, alguns dos quais, seus filhos, eram os primatas. Pior ainda, pois eles sabiam que estavam incomodando, sabiam que apesar de não serem os macacos da história, agiam como se fossem. Primeiro entraram no cinema quando o filme já tinha começado. Entraram não é bem o termo, acho que o mais apropriado é invadiram.
Adentraram falando, gritando e assim continuaram até se tocarem. Não sei. Será que se tocaram? De qualquer forma, este episódio serviu de mote para eu começar a indagar aos pais pais, alguns que são amigos meus – sobre o comportamento dos filhos adolescentes. Conversando muito, escutando bastante, cheguei à conclusão de que os pais têm dificuldade de lidar com esses seres precoces e não escondem o quanto torcem para o tempo passar depressa. Querem se livrar do período da adolescência com o menor número de arranhaduras, neles próprios e nos filhos. Queixam-se de que os adolescentes se trancam demais no quarto, que falam demais ao telefone. Acusam os filhos de desatenção e também se queixam do excesso de gírias usado por esses jovens. Eu já passei por isso, e ainda estou passando.
O fato é que, nós os pais de hoje legamos um mundo complexo a nossos filhos. Há mais liberdade, independência, mas tudo isso tem um preço. Aliás, uma das coisas que mais me chamam a atenção é um certo vácuo de ideais na geração mais jovem de hoje. Certamente, ainda há espaço para idealismo. Mas as causas não são tão interessantes. Talvez falte alguma coisa mais forte para os nossos adolescentes acreditarem, além da conveniência de defender as baleias, o Rio Itapecuru ou as florestas da Amazônia.
Tudo leva a crer que os adolescentes de hoje estão mais unidos pelos bens que consomem do que por uma cultura comum ou pela sadia cumplicidade da vida em grupo. Nos anos 60, a geração que chegava às portas do mundo dos adultos tentou viver uma nova ética e fracassou. Nada aconteceu depois disso. A impressão que se tem é a de que os garotos e as garotas de agora estão ainda num intervalo de espera e possivelmente têm a sensação de que alguma coisa está para acontecer.
A imprensa, os meios de comunicação em geral têm alguma culpa nisso? Pode ser. Mas, nas novelas que estão na TV, os jovens são seres estranhos, sempre metidos em casos complicados com namoradas neurastênicas, mães e pais neuróticos, mordomos inúteis – e todo mundo louco, só pensa em sexo e romance o tempo todo. Eu e audiência gostamos, tudo bem, mas se sabe o que é brincadeira e o que é realidade.
O que pode estar faltando é um sonho qualquer, uma utopia. A geração dos pais deixou na estrada um monte de maus exemplos e outras maravilhosas invenções, alguém precisa mostrar-lhes a diferença. Juntamente com o carinho e a educação formal, ensinar a nossos filhos o caminho perdido do idealismo, é a nossa maior contribuição para as suas vidas e sua felicidade (e a nossa também).
Muito bem colocado!
Este é o diagnóstico da situação que passa a nossa juventude. Uma revista brasileira, na semana passada, trouxe uma matéria sobre o alcoolismo em que apresenta algumas estatísticas trágicas, entre as quais, a que afirma que o primeiro porre do adolescente se dá em companhia dos pais, ou seja, sob a cumplicidade daqueles que detém o poder familiar e que, teoricamente, deveriam agir com maturidade e responsabilidade na educação de seus filhos. De fato, temos nossa parcela de culpa pelo legado deixado à nossa prole. Parabéns pela bela análise.
Obrigado Josevan.
Só gostaria de salientar ao amigo que esta crônica, postada aqui hoje, foi na verdade publicada pela primeira vez no Jornal O Estado do Maranhão em 2003. Essa é uma antiga constatação que a todo instante se repete e se reafirma. Temos que estar sempre atentos e preocupados com a formação de nossos filhos.
Grande abraço e participe sempre com seus comentários.