A causa e seus argumentos.

Gostaria de desenvolver o nosso bate papo deste domingo em cima de uma frase do filosofo alemão Friedrich Hegel: “Quem exagera o argumento, prejudica a causa”.
O conhecimento e o entendimento que resultam da analise desta sentença é simples como um ovo. E poucas coisas são tão simples, eficientes e completas como um ovo.
A historia tem demonstrado que, todas as vezes que se carregou muito a mão nas tintas dos argumentos, as causas que os mesmos defendiam, caiam para um plano inferior, tornavam-se secundarias, dando origem, muitas vezes, a outras causas bem diferentes daquelas originalmente defendidas tão ferozmente por seus argumentos.
Um exemplo disso é o macartismo. Joseph McCarthy, obscuro Senador pelo pequeno estado de Michigan, presidiu o comitê permanente de investigação de operações do governo, no inicio dos anos 50 do século passado. No intuito de investigar, a principio, a infiltração comunista na administração publica, ele implantou nos Estados Unidos um clima bem parecido ao da santa inquisição, estendendo as investigações a toda sociedade americana, principalmente nos meios jornalísticos e artísticos.
As causas não devem jamais ser suplantadas por seus argumentos. Argumentos excessivos têm a capacidade de invalidar causas muitas vezes perfeitas, corretas e justas.
Outro exemplo é o nacional socialismo na Alemanha. No inicio, ele tinha como causa fundamental o ressurgimento da nação e o fortalecimento do moral do povo alemão, derrotado em uma guerra suja que se dizia ter sido feita para acabar com todas as guerras, e usurpado por um tratado de paz humilhante e escorchante.
Depois de ter chegado ao poder, o partido nazista, deu demasiada ênfase a alguns argumentos radicais que defendiam sua causa, que no tocante à restauração do funcionamento eficiente do estado alemão, no restrito beneficio de seu povo, era uma causa muito justa. Mas com a exacerbação de seus argumentos, com a elasticidade moral, ética e lógica deles, sua causa que antes era justa, tornou totalmente abominável e inaceitável.
O projeto que visa reverter a doação do Convento das Mercês, legalmente feita pelo Estado, através de projeto de lei formalmente votado e aprovado pelo poder legislativo à Fundação da Memória Republicana, é o uso exagerado de argumentos em defesa de uma determinada causa, mais recente e próximo de nossa realidade. Isso para não se falar, nos tais trinta milhões de dólares que, segundo alguns, quando liberados, irão resolver o problema da miséria e da pobreza no Maranhão! Como se esse dinheiro fosse realmente para resolver tal problema!
A Fundação da Memória Republicana é possuidora de imenso e magnífico acervo histórico, artístico e cultural, e desenvolve ações de cunho social e assistencial em nossa comunidade, notadamente em sua circunvizinha.
Imagino que os adversários do ex-presidente José Sarney tenham muita vontade de vê-lo fora do comando político de nosso estado, coisa que acredito, não acontecerá tão cedo. Mas exagerar nos argumentos para defender essa sua causa não vai levá-los a lugar algum. Talvez só a mais uma derrota.
É bom que se diga que o prédio do Convento das Mercês, antes, estava totalmente destruído e que foi reformado através de recursos federais destinados ao Maranhão quando Sarney era presidente da republica.
Pra que devolver-se ao estado um prédio, onde funciona, e bem, o nosso museu mais visitado? A devolução do prédio do convento significará desmontar-se um museu que recebe milhares de visitantes todos os anos, o desmantelamento da Banda do Bom Menino e a condenação do prédio ao abandono, da mesma forma em que se encontram outros monumentos históricos e culturais de nossa terra.
Tal projeto, só existe, na vã e torpe tentativa de, com ele, atingir-se a pessoa de José Sarney. Uma figura, a quem alguns se opõem politicamente, mas que nem por isso deve ser atacado tão covardemente, através da tentativa de se destruir esse projeto só por ser de sua concepção e autoria. Projeto que só engrandece a nossa terra e principalmente às pessoas humildes que vivem no bairro do Desterro.
Quem quiser se opor politicamente à Sarney, que se oponha a ele nos palanques ou nas urnas. Porque exagerar nos argumentos quando a causa na verdade é outra?
O que a Fundação da Memória Republicana e o Convento das Mercês têm a ver com o fato de um deputado, um governador ou mesmo todo um grupo político, se oporem à Sarney?
Qual o desserviço que causa ao Maranhão e a sua gente o ótimo Funcionamento da Fundação da Memória Replubicana no prédio do Convento das Mercês?
A reversão do convento ao Estado vai resolver o seu problema de IDH? Vai solucionar nossos problemas de educação, saúde, água, energia elétrica, estradas, emprego, agricultura…?
Se isso for resolver os problemas que afligem o nosso Estado e a nossa gente, eu, como deputado, votarei a favor. Como sei que essa é apenas e tão somente mais uma manobra política para tentar atingir objetivos estratégicos e fragilizar Sarney, e o que é pior, causando grave prejuízo para nosso patrimônio cultural, votarei contra.
Ao exagerar nos argumentos para tentar ganhar de Sarney, seus adversários comprovam o entendimento da frase de Hegel: quem exagera nos argumentos, é porque não tem uma causa digna para defender.

2 comentários em “A causa e seus argumentos.”

  1. Concordo com a tese filosófica. Ela é perfeita e foi aqui muito bem apresentada. Só não concordo com o fato, o convento deve voltar a pertencer ao governo do Maranhão.

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Perfil

“Poeta, contista e cronista, que, quando sobra tempo, também é deputado”. Era essa a maneira como Joaquim Elias Nagib Pinto Haickel aparecia no expediente da revista cultural Guarnicê, da qual foi o principal artífice. Mais de três décadas depois disso, o não mais, porem eterno parlamentar, ainda sem as sobras do tempo, permanece cronista, contista e poeta, além de cineasta.

Advogado, Joaquim Haickel foi eleito para o parlamento estadual pela primeira vez de 1982, quando foi o mais jovem parlamentar do Brasil. Em seguida, foi eleito deputado federal constituinte e depois voltou a ser deputado estadual até 2011. Entre 2011 e 2014 exerceu o cargo de secretario de esportes do Estado do Maranhão.

Cinema, esportes, culinária, literatura e artes de um modo geral estão entre as predileções de Joaquim Haickel, quando não está na arena política, de onde não se afasta, mesmo que tenha optado por não mais disputar mandato eletivo.

Cinéfilo inveterado, é autor do filme “Pelo Ouvido”, grande sucesso de 2008. Sua paixão pelo cinema fez com desenvolvesse juntamente com um grupo de colaboradores um projeto que visa resgatar e preservar a memória maranhense através do audiovisual.

Enquanto produz e dirigi filmes, Joaquim continua a escrever um livro sobre cinema e psicanálise, que, segundo ele, “se conseguir concluí-lo”, será sua obra definitiva.

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