Mesmo depois de uma noite como há muitos anos não se via, na ultima terça-feira, dia 5, acordei cedo, como sempre. Mas havia no ar, um forte cheiro que me lembrava mãe Didi.
Êta paragrafozinho que carece de explicação! Pelo menos três explicações se fazem imprescindíveis para que alguém entenda o que tentei dizer aí em riba.
A primeira é sobre a noite de segunda-feira, dia 04. Há muitos anos não presenciava tamanho vendaval. Foi uma chuva fortíssima, de ventos intensos e em várias direções. Coisa de filme de terror ou de cinema catástrofe.
A segunda explicação que se faz necessária, é: Quem é mãe Didi. Raimunda Leite era o seu nome. Ela foi a mulher que ajudou minha avó a criar seus filhos, principalmente minha mãe, então uma criança magrinha e asmática.
E finalmente, em terceiro lugar, porque acordei sentindo o cheiro de mãe Didi! Não que ela usasse algum perfume especial. Usava leite de rosas. Mas não era esse o cheiro que me chamava atenção. Era um dos cheiros de minha infância e olha que a minha infância foi repleta de cheiros. O cheiro de plástico, que era uma substancia nova para a época. Do cheiro do rinoceronte Cacareco eu nunca esqueci. O cheiro de asfalto queimado, a cidade estava sendo literalmente pinchada. O cheiro diferenciado da Pepsi e da Coca e o cheiro cor de rosa da Jesus. O cheiro (não a visão) da cozinha do Jaguarema. A gasolina tinha outro cheiro na minha infância. As manhãs tinham um cheiro diferente. O cheiro do sabão de coco ainda é o mesmo, mas outro dia peguei uma barra de sabão (Andiroba?) e é completamente diferente.
Mas na terça feira, a casa exalava um cheiro que me remetia à mãe Didi. Saí procurando de onde vinha tal odor até chegar na cozinha e dar de cara com Lili esquentando pão numa grelha. Ai minha memória voltou como se tivesse rebobinando uma fita VHS. Só faltava fazer aquele barulhinho característico. Voltei no tempo. Dei um pause no momento em que mãe Didi esquentava um pão num fogareiro usando uma grelha. Lembrei que às vezes, quando não havia grelha, ela enfiava o pão em um garfo e ficava rodando ele até assar igualmente. Quem de vocês que nasceu entre 55 e 65 que nunca presenciou uma cena dessas?
O cheiro de mãe Didi era o cheiro do pão grelhado que tomou conta da casa, das minhas narinas, do meu cérebro e da minha memória.
Agora, aqui, escrevendo, relembro de dois outros cheiros que me remetem até mãe Didi. O primeiro é curioso. É o cheiro das cascas de laranjas secas com as quais ela fazia chá e o segundo é cheiro abafado das mil caixinhas de metal onde ela guardava de um tudo: Linhas, botões, agulhas, broches, papeis, retratos, rótulos, caixas de remédios velhas…
Lembro-me que já bem velhinha, ela fazia questão de levar ela mesma a comida para o vigia, mesmo já andando com dificuldade. E pobre de quem tentasse impedi-la. Ficava zangada.
Lembro-me também que foi dela a primeira tentativa de explicação que eu ouvi de alguém para o amor. Certa vez, ela me viu meio quieto, o que sempre foi muito raro, notou que eu estava pensativo, quase triste, e foi falar comigo, perguntar o que eu tinha. Como é de mim, e sempre foi, desconversei, disse que não era nada. Ai ela me saiu com essa: Jotinha, tu sabe o que é o amor? Eu fiquei sem entender nada. Devia ter uns doze anos e me perguntava! O que saberia sobre o amor àquela velha mulher que jamais havia sequer tido um namorado? É quando agente não pensa em outra coisa. Quando o coração da gente dispara, parecendo que vai sair pela boca e quando os joelhos da gente não param de tremer, mas não é medo. Na hora achei engraçado. Só vim entender o que ela queria me dizer, tempos depois, quando senti aqueles sintomas descritos por ela com tanto perfeição.
Afinal de contas porque estou falando tanto de mãe Didi? Deve ser porque estou sentindo falta do que ela tinha de melhor para oferecer a esse mundo: solidariedade através de ensinamentos simples e generosidade através de pequenas ações. Esse pouco, feito por muitos, é tudo.
Quem não teve uma “mãe Didi” em sua infância, não teve infância!
Quem não tem as memórias dos cheiros e dos sons da infância, não teve infância!
Quem não teve uma boa infância, não terá uma boa velhice!
Parabéns e obrigado Joaquim, ao ler seu texto tive a sensação de estar ouvindo a mim mesmo, me lembrando de minhas próprias memórias.
O texto é maravilhoso. Mostra seu elevado grau de sensibilidade e de compreensão da realidade. Mas a última frase dele é impagável, é tudo que o mundo está precisando: Solidariedade através de ensinamentos simples e generosidade através de pequenas ações. Esse pouco, feito por muitos, é tudo.
Caro JOAQUIM NAGIB HAICKEL.PERMITA-ME POR UM INSTANTE APROVEITAR ESTE ESPAÇO PARA O MEU LAMENTO EU TE MOSTRAR. SOU FILHO DESTA TERRA,NASCIDO E CRIADO POR ELA COM MUITO AMOR,CARINHO E NA CERTEZA DE QUE NELA MORREREI NÃO POR OUTRA OPÇÃO MAS, POR AMA-LA COM PAIXÃO… ESPERO CONTAR COM O SEU CORAÇÃO DE POETA PARA ME AJUDAR A REALIZAR O SONHO DE LANÇAR O MEU PRIMEIRO LIVRO DE POESIA,POIS ESTOU SEM CONDIÇÕES PARA CUSTEAR A GRÁFICA E ASSIM MOSTRAR À ESTA TERRA O MEU AMOR POR ELA.SE POSSÍVEL FOR ME INDIQUE PESSOAS OU EMPRESÁRIOS QUE POSSAM ME AJUDAR NESSE MEU PRIMEIRO DEGRAU,POR FAVOR, EU TE SUPLICO.