Texto republicado a pedidos.
Sou cristão, mas meu cristo é um pouco diferente do cristo de outras pessoas. Olha, como estas coisas são difíceis de explicar, até mesmo para alguém que como eu, procuro me aprofundar nestes assuntos. Na verdade nem sou cristão. Sou Jesuítico! Cristão é quem acredita num cristo, num messias, num salvador.
Eu acredito nos ensinamentos de um Jesus histórico, um hebreu da Galiléia, criado sob os fundamentos das leis e da religião judaica, nos tempos do imperador Tibério. Um Jesus que a seu modo, se rebelou contra as duas esferas de dominação que oprimiam sua terra e seu povo em seu tempo. Rebelou-se contra o sistema religioso imposto pelos sacerdotes do templo de Jerusalém, que controlavam a vida de todos os hebreus, e contra o poder administrativo e militar que mantinha tais sacerdotes no topo da vida social e religiosa da Judéia: O império romano.
Sigo os ensinamentos de um Jesus geográfico que nasceu em Belém, que viveu em Nazaré, Qumram e Cafarnaum, que fugiu com os pais para o Egito, que dos doze aos trinta anos não se sabe ao certo seu paradeiro e que aos 33 anos morreu em Jerusalém. Um Jesus humano que morreu mesmo, e para mim o que menos importa é se ressuscitou.
Acredito em um Jesus que antes de ser filho de Deus, foi filho de Maria e enteado de José, um bondoso carpinteiro descendente do rei Davi, que o criou com amor e deu-lhe o que um filho mais precisa de um pai. O exemplo.
Entre os dois Jesus, um divino salvador e o outro um simples ser humano, optei em seguir o segundo, pois preciso muito mais de um amigo, de um companheiro de viagem que me mostre o caminho e me sirva de guia, que de um messias libertador.
O Jesus de Bento XVI, de padre Antonio e de minha mãe, o Jesus de meu irmão e de meus amigos evangélicos, não é melhor nem pior que o meu, até porque os dois são a mesma pessoa, apenas é visto de forma diferente.
Minha posição não é religiosa. Sou meio avesso às religiões porque na grande maioria das vezes elas são intolerantes, intransigentes, preconceituosas, inclementes e radicais. Fazem mais política que qualquer outra coisa.
Vejo as religiões como vejo os partidos políticos, cujo objetivo maior é alcançar o poder, que no caso delas é Deus. No meu entendimento Deus, por ser de todos nós, não é propriedade nem privilégio de um determinado grupo. Ele esta aberto a quem o busque através dos ensinamentos que seus profetas espalharam pelo mundo e que os discípulos destes propagaram e continuam propagando: o amor ao próximo, a bondade, o perdão, a tolerância, o respeito ao ser humano e à natureza…
Conhecedor das doutrinas que levam ao Deus único e misericordioso, ao pai de compreensão e de bondade, por que seguir o modelo de Jesus e não o de Salomão, que veio antes dele, ou o de Maomé, que veio depois?
É uma mera questão cultural. Se tivesse nascido em uma família judaica ou em um clã muçulmano, teria a religião que me fosse ensinada por meus pais e adotaria os códigos de moral de meu grupo social.
Sendo eu proveniente de uma família cristã e tendo sido criado numa sociedade ocidental, me identifico mais com a forma de pensar própria desta cultura e construi meus códigos de moral e de ética baseado nela.
Desde cedo vi que, excetuando-se o ambiente sócio-cultural em que se nasce e no qual se cresce, sejamos judeus, cristãos ou mulçumanos, todos nós buscamos os mesmos objetivos, almejamos as mesmas coisas, lutamos pelas mesmas idéias, tanto como indivíduos quanto como sociedade.
Não comungo com alguns dogmas das religiões estabelecidas por outros seguidores de Jesus. Isto é uma questão de fé e como tal acho que deve permanecer no âmbito da crença pessoal de cada um, até porque para mim importa muito mais o que disse Jesus no sermão da montanha ou o que ele quis dizer com a parábola do bom samaritano do que se Maria concebeu realmente do espírito santo.
Para mim pouco importa se Jesus ressuscitou Lázaro, se Moisés fez abrir o mar vermelho ou se Maomé subiu ao céu em uma escada de ouro. Para mim o que mais vale é o que ensinaram estes homens. Moisés ensinou o valor da liberdade, do indivíduo e da nação. Jesus mostrou a importância de amarmos aos outros como amamos a nós mesmos. Maomé fez ver que não deve haver qualquer distinção entre as pessoas.
Como acredito que os ensinamentos desses mestres buscam nos mostrar um caminho para alcançarmos uma vida melhor, mais cheia de coisas boas, de sentimentos nobres e ações corretas, é que me coloco como seguidor de um deles, sem jamais me opor, seja por preconceito ou por intolerância, às outras formas de pensamento.
É fato que pensamos e agimos de formas diferentes, mas acredito buscamos as mesmas coisas: O bem do individuo e da coletividade. Por isso acho que devamos ter a consciência histórica de nossas circunstâncias e de suas conseqüências.
Amém!
Para se candidatar para concorrer a uma vaga de representante do povo em uma das esferas do parlamento, deveria haver uma prova que os candidatos deveriam se submeter e somente os aprovados poderiam concorrer nas eleições. Claro que seriam provas diferentes para vereador, deputados estaduais, deputados federais e senadores e ainda variando de estado para estado. Essas provas deveriam ser executadas pela justiça eleitoral. Nas provas deveriam constar conhecimentos gerais, um pouco de legislação, um pouco de filosofia, lógica, ética, cidadania, humanismo… Talvez assim tivéssemos bons representantes. Acredito que o senhor seria um dos poucos aprovados em nossa Assembléia, com a maior nota, e com toda certeza até para o senado. Gostei muito do seu texto. Me identifiquei muito com ele. Parabéns.
Não acredito em Deus porque nunca o vi.
Se ele quisesse que eu acreditasse nele,
Sem dúvida que viria falar comigo
E entraria pela minha porta dentro
Dizendo-me, Aqui estou!
(Isto é talvez ridículo aos ouvidos
De quem, por não saber o que é olhar para as cousas,
Não compreende quem fala delas
Com o modo de falar que reparar para elas ensina.)
Mas se Deus é as flores e as árvores
E os montes e sol e o luar,
Então acredito nele,
Então acredito nele a toda a hora,
E a minha vida é toda uma oração e uma missa,
E uma comunhão com os olhos e pelos ouvidos.
Mas se Deus é as árvores e as flores
E os montes e o luar e o sol,
Para que lhe chamo eu Deus?
Chamo-lhe flores e árvores e montes e sol e luar;
Porque, se ele se fez, para eu o ver,
Sol e luar e flores e árvores e montes,
Se ele me aparece como sendo árvores e montes
E luar e sol e flores,
É que ele quer que eu o conheça
Como árvores e montes e flores e luar e sol.
E por isso eu obedeço-lhe,
(Que mais sei eu de Deus que Deus de si próprio?),
Obedeço-lhe a viver, espontaneamente,
Como quem abre os olhos e vê,
E chamo-lhe luar e sol e flores e árvores e montes,
E amo-o sem pensar nele,
E penso-o vendo e ouvindo,
E ando com ele a toda a hora.
” O guardador de Rebanhos ” Alberto Caeiro” (F .Pessoa)
Valeu amigo!
Joaquim,
como sempre um jeito gostoso de escrever, prazeroso de ler… um deleite para a alma!
Não vale a pena discutir religião – as questões de fé são de cunho subjetivo, cada um entende do jeito que lhe convenha, que lhe faça bem.
Acredito em Jesus como você abordou, um ser humano que existiu, que pode ser meu amigo, cujos exemplos possam me nortear, me iluminar, apesar de entender que para muitos funciona melhor o lado “divino salvador”, ” messias libertador”; e em Deus como uma força suprema, uma enregia grandiosa, sublime, que uma vez compreeendida, e seguida, leva a tudo que é mais elevado: “o amor ao próximo, a bondade, o perdão, a tolerância, o respeito ao ser humano e à natureza…”.
Não precisamos ser frequentadores assíduos de igrejas, ou seguidores obstinados de qualquer religião para agirmos segundo as “leis” de Deus. Só depende de cada um…
Abraço, amigo, e parabéns!
Joaquim,
Respeito seu modo de pensar e como penso que religião não se discute, não vou aqui impor nem a você e nem a ninguém a minha forma de pensar…o importante é que todos os caminhos nos levam ao “Pai” e se é assim o que realmente importa é termos consciência de nossas ações e as consequências delas. Parabéns pelo texto. Como sempre é um prazer ler o que você escreve, independente de suas convicções e crenças.
É VERDADE MEU CAMARADA! O FATO HISTÓRICO, NESSE OU EM QUALQUER OUTRO ASSUNTO TEM QUE SER LAVADO AO CRIVO DO CONHECIMENTO PARA QUE A OPINIÃO TENHA VALOR. VOCÊ TEM MUITA CORAGEM AO ESCREVER O QUE MUITOS TEM MEDO DE COMENTAR. PARABENS!