Ombudsman dos outros

Tenho assistido, e acredito que você também, tantas barbaridades e idiotices que têm sido prolatadas em vários programas jornalísticos das mais diversas emissoras de televisão e de rádio de nosso país, que como produtor e diretor de conteúdos audiovisuais, resolvi pensar em um jeito de, se não de solucionar esse gravíssimo problema, pelo menos de minorá-lo de maneira criativa e extremamente positiva.

Depois de ter analisado um pouco toda essa situação e por ter passado a minha vida inteira envolvido com comunicação e jornalismo, posso garantir que terá sucesso extraordinário, um programa de televisão, como também sua versão para emissoras de rádio, que apresente, de forma analítica, ponderada, criteriosa e coerente, análises sobre aquilo que dizem e comentam outros programas que sejam jornalísticos e opinativos.

Seria exatamente como aquilo que sugere o curioso título deste texto, seria um programa que serviria como “Ombudsman dos outros”, onde fossem analisadas, com critérios apurados, aquilo que os jornalistas e seus convidados dizem.

Levando-se em consideração que o conhecimento e a opinião da sociedade atual, do século XXI, ao contrário da sociedade do “odiento” século XX, que eram formadas pelo convívio familiar, por boas escolas e universidades,  e que é hoje formada essencialmente pelas notícias que se ouve e assiste nos mais diversos meios de comunicação e nas redes sociais, conhecimento e informação da espessura de uma folha de papel, o “Ombudsman dos outros” filtraria e analisaria o que fosse dito nesses programas, de forma criteriosa, usando a lógica, o bom senso, o conhecimento histórico e científico, faria ponderações e mostraria ao público a consistência e a inconsistência daquilo que ali foi dito.

Lembro para quem não se lembra e digo para aqueles que não sabem o que é um Ombudsman. Ele é um profissional contratado por um órgão, instituição ou empresa com a função de receber críticas, sugestões e reclamações de seus usuários, e que sua função no jornalismo é essencial, tanto que são chamados de editores públicos, advogados dos leitores ou editores de leitores.

A primeira vez que essa função foi utilizada foi em dois jornais na cidade de Louisville, no estado de Kentucky, nos Estados Unidos, em 1967. Três anos depois, o The Washington Post seria o primeiro grande jornal a contratar um profissional para exercer essa importante função.

Apenas para exemplificar o que aconteceria no programa “O ombudsman dos outros”, veja o que disseram alguns jornalistas de uma certa emissora de televisão sobre o fato de um ministro do STF ter tomado atitudes “legais” no sentido de investigar a atuação de uma ONG, uma instituição de defesa dos direitos dos cidadãos que demonstrou preocupação com o aumento da corrupção no Brasil: “… essa é uma agenda pessoal do ministro …”.

Ora, esse comentário leva o espectador a achar normal, natural, certo, que um ministro do STF tenha uma agenda própria, sua, pessoal, faz com que quem por acaso assista o que ali esteja sendo dito, pense que a atitude do ministro está correta, quando a função do jornalista âncora, comentarista, opinativo, editorialista, é antes de tudo analisar o fato e a notícia por trás dele, do ponto de vista daquilo que é ético, certo, sensato e deve ser feito, ou pelo menos dar espaço para que aquilo tudo tenha um contraponto, uma ponderação.

Em momento algum os jornalistas ou comentaristas daquele programa teceu algum comentário sobre o fato de um ministro do STF ter uma agenda própria, sobre isso não condizer com a função de juiz, muito menos com a função de um ministro de uma corte suprema. A agenda de um juiz deve ser o processo, e seu manual, a sua bíblia, deve ser a lei, usada com sabedoria, sensibilidade e bom senso. São comentários como esse que enfraquecem o nosso senso de cidadania, bem como a falta de crítica a atitudes como essa, do tal ministro.

Talvez, se tivermos um ombudsman dos outros, possamos voltar a assistir alguns programas sem a imensa preocupação de filtrarmos as barbaridades que a maioria dos programas e dos jornalistas vomitam sobre nós a todo instante.

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Perfil

“Poeta, contista e cronista, que, quando sobra tempo, também é deputado”. Era essa a maneira como Joaquim Elias Nagib Pinto Haickel aparecia no expediente da revista cultural Guarnicê, da qual foi o principal artífice. Mais de três décadas depois disso, o não mais, porem eterno parlamentar, ainda sem as sobras do tempo, permanece cronista, contista e poeta, além de cineasta.

Advogado, Joaquim Haickel foi eleito para o parlamento estadual pela primeira vez de 1982, quando foi o mais jovem parlamentar do Brasil. Em seguida, foi eleito deputado federal constituinte e depois voltou a ser deputado estadual até 2011. Entre 2011 e 2014 exerceu o cargo de secretario de esportes do Estado do Maranhão.

Cinema, esportes, culinária, literatura e artes de um modo geral estão entre as predileções de Joaquim Haickel, quando não está na arena política, de onde não se afasta, mesmo que tenha optado por não mais disputar mandato eletivo.

Cinéfilo inveterado, é autor do filme “Pelo Ouvido”, grande sucesso de 2008. Sua paixão pelo cinema fez com desenvolvesse juntamente com um grupo de colaboradores um projeto que visa resgatar e preservar a memória maranhense através do audiovisual.

Enquanto produz e dirigi filmes, Joaquim continua a escrever um livro sobre cinema e psicanálise, que, segundo ele, “se conseguir concluí-lo”, será sua obra definitiva.

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