“O Caso Celso Daniel”

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Assisti recentemente a excelente minissérie “O Caso Celso Daniel”, uma obra como poucas, produzida em nosso país, sobre um evento contemporâneo tão importante.

Acredito que essa minissérie traz em si todos os ingredientes e principalmente o equilíbrio necessário e indispensável que uma obra deste tipo e desta importância deve ter para que seja considerada uma obra de referência honesta sobre fatos de nossa história.

Realizada o mais possível sem paixões políticas ou cores ideológicas, todos os oito episódios de “O Caso Celso Daniel”, mostram quase tudo que é possível um levantamento jornalístico abranger num caso como este.

Ao final de uma maratona de mais de 400 minutos, ou seja, mais de seis horas e meia de filme, cheguei às minhas conclusões sobre tal evento, coisa que qualquer pessoa que use minimamente o bom senso poderá fazer e chegar a uma conclusão bem parecida com a minha.

O prefeito de Santo André, Celso Daniel, foi vítima de um crime urbano, muito comum na Grande São Paulo no começo dos anos 2000, crime de extorsão mediante sequestro, não tendo havido participação de nenhuma figura envolvida nos esquemas de propina e corrupção implantados na prefeitura de Santo André, até porque estes nada ganhariam com isso, uma vez que fica claro durante a minissérie, que o esquema funcionava normalmente e com o conhecimento, consentimento e integral apoio do prefeito.

O que houve foi uma inacreditável falta de sorte de Celso e de seu parceiro Sérgio Gomes, que estavam no lugar errado e na hora errada, naquela noite.

Pontos claros sobre os fatos:

  1. Ao atacar o carro onde estava o prefeito, os sequestradores dispararam indiscriminadamente contra o veículo e poderiam ter atingido o motorista, que segundo o ministério público, seria o mandante do crime.
  2. Ainda sobre o carro de Sergio ter tido problema, isso é completamente plausível. Eu mesmo já tive um veículo deste tipo e a inabilidade em seu manuseio causou, em algumas ocasiões situação semelhante, pelo fato de sem querer esbarrar na alavanca de redução do carro, fazendo-o perder completamente a tração.
  3. Depois do sequestro realizado, se isso tivesse sido feito para intimidar e controlar o prefeito, ele teria sido solto em seguida, pois o recado já teria sido dado, e a morte dele colocaria um corpo estranho na armação, o vice-prefeito, que poderia trazer seu grupo para operar o esquema.
  4. A presença do Sérgio no momento do sequestro, faria dele um suspeito automático, coisa da qual ele não precisaria, bastava armar tal ação de outra forma.
  5. A tese da libertação mirabolante de um perigoso criminoso de uma penitenciária de Guarulhos, para comandar aquela ação, completamente atabalhoada, realizada por bandidos mequetrefes, dois dias antes do sequestro, é completamente delirante.
  6. As acusações feitas pelos irmãos do prefeito assassinado, motivadas pela vontade de descobrir a verdade sobre o caso, se deixou contaminar por suas vontades, fato que ocorreu também com os promotores do caso e com os empresários prejudicados pelo esquema de corrupção implantado na prefeitura de Santo André.

E por aí vão as inúmeras inconsistências do caso formulado pelo ministério público. Por outro lado, a série apresenta de forma orgânica, como nunca vi antes em uma obra cinematográfica brasileira, policiais, advogados e promotores incrivelmente capacitados e hábeis em suas explicações.

Em resumo:

  1. Havia um pesado esquema de extorsão e de corrupção estabelecido na prefeitura de Santo André e o prefeito Celso Daniel sabia dele, no mínimo o aceitava, como forma de manutenção de seu grupo político.
  2. A morte do prefeito foi uma fatalidade, ocorreu como tantas outras que acontecem em nosso país.
  3. O PT não é o responsável pela morte do prefeito de Santo André, mas se beneficiava do esquema de corrupção ali implantado.
  4. O ministério público criou neste caso uma narrativa para justificar seu trabalho.

Só me resta parabenizar os realizadores dessa obra, que além de muito boa do ponto de vista cinematográfico, é indispensável para o conhecimento e entendimento desses eventos, e olha, quem diz isso é alguém que imaginava que a morte de Celso Daniel era uma queima de arquivo, por parte de seus comparsas empresários ou partidários, coisa que com esta série fica claro que não é. Celso na verdade era parte importante do esquema de manutenção do da estrutura empresarial e partidária.

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