O Novo Coronavírus

Depois de nove meses fugindo deste microscópico flagelo, fui alcançado por ele.

É impossível dizer ao certo como fui contaminado, pois muitas são as portas de acesso que essa peste pode usar para invadir nossos indefesos corpos, sempre abertos a esses indesejados convidados “pra esta festa pobre”.

Durante todo este tempo, quase um ano, falei pouco sobre esta pandemia. Não que ela não fosse importante, mas pelo fato de sabemos quase nada dela, não gostaria de ser mais um a repercutir achismos como a maioria das pessoas tem feito.

Dizer que esta doença foi premeditadamente criada e espalhada por um determinado país, como forma de guerra avassaladora, supera muito a minha capacidade de ficcionista e muito mais ainda a minha fé na humanidade.

Usar essa catástrofe como aríete para demonizar ou endeusar líderes políticos pelo mundo afora, é outra coisa que não cabe em minha cabeça.

Não saber se comportar devidamente como pessoa, ser humano, cidadão, governante ou cientista, é coisa que não tem tipificação nos códigos legais, a menos que esses comportamentos ultrapassem o limite das palavras, do discurso, da narrativa, e deságue no campo da ação criminosa, causando prejuízos e vítimas fatais.

Quanto a mim, descobri que estava infectado um dia antes de meu aniversário de 61 anos. De março até aquela data eu havia ficado gripado diversas vezes, e em cada uma delas fiz exames para saber se aquela gripezinha era Covid-19. Nunca foi até aquele dia. Cheguei até a engordar, pois fazia ludicamente, um teste particular, comendo guloseimas para saber se meu paladar havia sido afetado pela doença, o que seria um sinal de contágio.

Após sair de um almoço da confraria que carinhosamente chamamos de Senado, senti uma leve dor na garganta e comecei a tossir. Preocupado, pois no dia seguinte iria almoçar com minha família comandada por minha mãe e minhas tias, todas com idades entre 86 e 91 anos, resolvi fazer mais um exame. Liguei para minha amiga, dra. Raquel, do Laboratório Cedro que providenciou tudo e em menos de duas horas soube do resultado. Nunca fiquei tão feliz por perder um almoço de aniversário na casa de minha mãe, pois o mais importante era preservar minhas velhinhas.

Os sintomas que estou sentindo são unicamente uma leve dor na garganta e um pouco de tosse, que nem é seca, como consta na lista dos sintomas.

Exatamente na véspera do dia do meu aniversário descubro que estou infectado, o que foi um presente de grego, mas não me fiz de rogado. Fiquei preocupado com as pessoas com as quais convivi mais de perto naquele dia e comuniquei a elas o ocorrido. Espero do fundo de minha alma que ninguém tenha sido contaminado.

Quanto a mim, não tenho medo da doença em si, mas sim das complicações que podem resultar dela.

Sempre achei que o maior problema dessa doença era, em primeiro lugar, a falta de conhecimento sobre ela. Em segundo lugar, a incapacidade do sistema de saúde, e não estou falando do SUS, mas do sistema médico nacional, em tratar as complicações clínicas decorrentes dela. Em terceiro lugar, mas tão grave quanto os demais problemas, é a politização dessa pandemia, uma coisa absurda contra a qual devemos nos indignar e combater.

Já entrei na segunda semana do contágio e os sintomas continuam leves, fato que indica que meu organismo está reagindo bem ao ataque do vírus.

A minha postura como infectado foi dizer ao médico que está me tratando, meu querido e bom amigo Ibrahim Assub Júnior, que ele poderia receitar qualquer tipo de remédio que ele como médico acreditasse que poderia ajudar em minha recuperação, até porque o médico é ele, eu sou o paciente, que depositei minha saúde e a minha esperança de recuperação, nas mãos dele.

Quanto à vacina, penso que ela, como instrumento de saúde pública deva ser obrigatória, uma vez que a não vacinação de um indivíduo pode causar a contaminação de diversos outros. Se a vacina fosse destinada a uma doença cujo contágio e a letalidade não fossem fatores de altíssimo risco, penso que ela não deveria ser obrigatória.

Acabadas as polêmicas, só me resta passar por essa fase, para retornar ao meu ritmo normal de vida e voltar a conviver com outros tipos de vírus aos quais estamos comumente expostos, sejam eles microscópicos ou grandes mamíferos bípedes e de cérebros complexos.

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Perfil

“Poeta, contista e cronista, que, quando sobra tempo, também é deputado”. Era essa a maneira como Joaquim Elias Nagib Pinto Haickel aparecia no expediente da revista cultural Guarnicê, da qual foi o principal artífice. Mais de três décadas depois disso, o não mais, porem eterno parlamentar, ainda sem as sobras do tempo, permanece cronista, contista e poeta, além de cineasta.

Advogado, Joaquim Haickel foi eleito para o parlamento estadual pela primeira vez de 1982, quando foi o mais jovem parlamentar do Brasil. Em seguida, foi eleito deputado federal constituinte e depois voltou a ser deputado estadual até 2011. Entre 2011 e 2014 exerceu o cargo de secretario de esportes do Estado do Maranhão.

Cinema, esportes, culinária, literatura e artes de um modo geral estão entre as predileções de Joaquim Haickel, quando não está na arena política, de onde não se afasta, mesmo que tenha optado por não mais disputar mandato eletivo.

Cinéfilo inveterado, é autor do filme “Pelo Ouvido”, grande sucesso de 2008. Sua paixão pelo cinema fez com desenvolvesse juntamente com um grupo de colaboradores um projeto que visa resgatar e preservar a memória maranhense através do audiovisual.

Enquanto produz e dirigi filmes, Joaquim continua a escrever um livro sobre cinema e psicanálise, que, segundo ele, “se conseguir concluí-lo”, será sua obra definitiva.

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