Hoje quero falar de um gênio na mais pura concepção da palavra: Haroldo Olympio Lisboa Tavares.
Mas não vou me deter falando de sua doce mãe nem de seu importante pai, mesmo tendo ele também sido, algumas décadas antes do filho, prefeito de São Luís.
Não me deterei falando de seu cunhado, Pedro Neiva de Santana, também prefeito da capital e governador do Estado do Maranhão. Não comentarei sobre sua irmã nem sobre seu sobrinho que também tiveram sua importância em nossa história
Quero falar menos do jovem engenheiro que tendo se formado fora, veio ser aos trinta e três anos, em 1966, no governo de José Sarney, Secretário de Viação e Obras Públicas. Nem vou lhe contar que ele foi chegando e foi logo criando moda. É que aqui não havia escola de engenharia e ele se achou na obrigação de criar uma, já que as obras que o Maranhão iria precisar para sair do século XIX não poderiam ser feitas apenas por mestres de obras, por melhores que eles fossem.
Esse mesmo jovem que em apenas quatro anos comandou a construção do Porto do Itaqui, das pontes do São Francisco e do Caratatíua, da Barragem do Bacanga. Que saneou, urbanizou e implantou bairros como o Anjo da Guarda, a Areinha, o São Francisco e a Ponta D’areia. Que iniciou a construção dos muitos Conjuntos Habitacionais de nossa cidade. Que pavimentou a rodovia São Luis-Terezina e que construiu a São Luís-Açailandia, ajudou a transformar o Maranhão.
Não vou me deter aqui falando do sujeitoque para uns era visionário, para outros, sonhador, para outros ainda, era um louco. Vou simplesmente dizer a você que me lê agora e não conheceu Haroldo, que não sabe o que ele fez, que ele era tudo isso, em maior ou menor quantidade e intensidade, mas digo também que ele era, apesar disso tudo, um pragmático que preferia sempre a obra civil à obra de arte. Ou seja, preferia o aterro e a barragem ao invés da ponte ou do viaduto, pois acreditava em soluções simples, naturais e mais baratas.
Será impossível não falar aqui que aos trinta e nove anos ele assumiu a prefeitura de São Luís e a frente dela realizou obras tão importantes que se não fossem elas, o caos em que nos encontramos hoje seria muito maior e pior.
Nem vou lhes dizer que ele, anos antes de se tornar realidade, aventou a possibilidade da construção da Estrada de Ferro Norte-Sul, que deveria ficar quase no mesmo paralelo em que portugueses e espanhóis dividiram o Brasil quinhentos anos antes, fazendo com que as riquezas do centro-oeste brasileiro e do sul do Maranhão ganhassem o mundo pelo Porto de Itaqui, que ele, por ordem de Sarney, construiu para nós.
Chamá-lo de doido passou a ser uma prática corriqueira na cidade. É que as pessoas não estavam acostumadas com alguém que pensasse para frente, que fizesse agora o que precisaríamos amanhã, até mesmo porque o hoje já estava comprometido.
Diziam que Haroldo rasgava avenidas que ligavam nada a lugar algum. Sem essas obras, hoje não teríamos avenidas como Franceses, Holandeses, Africanos, Guajajaras, artérias pelas quais escorrem as nossas vidas.
Durante o tempo em que Haroldo Tavares esteve à frente da Prefeitura de São Luís ele não cuidou apenas da construção de obras físicas. Preocupou-se também com a valorização de nossa arte, nossa tradição, nosso patrimônio histórico e arquitetônico. Fez exposições de obras dos nossos pintores e escultores, festivais de música popular, apoiou as manifestações folclóricas, gravou discos de diversos sotaques de bumba boi, criou as festas da juçara e da mandioca, escolinhas de artes e esportes, e criou um cinturão viário em volta do centro histórico, protegendo nosso casario.
Uma vez perguntaram para Haroldo qual seria, em sua opinião, a obra mais importante que ele realizou. Todos pensaram que ele iria dizer ser o porto, a barragem, a ponte ou o anel viário, ele saiu com uma conversa de que era a obra de contenção da Lagoa da Jansen, uma obra menor, menos importante. Ele disse isso simplesmente pelo fato dela não ter custado quase nada e ter sido feita em um final de semana.
Quero falar de outro Haroldo Tavares. Quero falar do marido de Vera, moça bonita e rica que roubou seu coração. De Márcia, de Cristina, de Adriana, de Valéria e de Jaime, filhos que tiveram a sorte de ter um pai que conhecia, como poucos em nossa terra, a história, as artes, a filosofia e que puderam na convivência com ele desfrutar de seu oásis.
Gostaria de falar de sua paixão pela música, pela obra do seu compositor favorito, a quem ele chamava carinhosamente de “João Sebastião Bar”, da prática do violino que abandonou há muitos anos.
Devo falar do empreendedor, do industrial, do construtor de tratores anfíbios, de bugres, de barcos de pesca e de catamarãs de luxo.
Preciso falar do Haroldo que tinha fé, que acreditava na existência de uma força maior, mas que desprezava todas as formas de escravização do homem através da religião.
Durante o tempo em que convivi com a família Martins Tavares, enquanto namorei Cristina, pude conhecer e aprendi a admirar não apenas o ex-prefeito, o ex-secretário, mas o homem, a pessoa de Haroldo Tavares. Genial maluco beleza. Visionário, irônico e pragmático.
Sarney acertou em cheio ao convidar Haroldo para ser seu secretário em 66, mas errou redondamente em ter escolhido outro engenheiro para ser seu menino de ouro. Sarney sabia que por trás da loucura de Haroldo havia sua clara genialidade, coisa que pouco combina com a função política formal. Ele então optou por um burocrata medíocre que ao invés de ter ideias geniais, dizia amém a tudo que seu mestre mandava, até que, taludo, abandonou o velho mestre.
Até hoje eu acreditava que o rompimento entre Sarney e Pedro Neiva havia sido uma tolice. Coisa da política. Agora vejo que foi muito mais que isso, que se não tivesse acontecido o rompimento entre eles, talvez os amigos de Haroldo tivessem conseguido concretizar o projeto HOLT que consistia em transformar Haroldo Olympio Lisboa Tavares em um verdadeiro político e quem sabe fazê-lo governador do Maranhão.
Conhecendo Haroldo, sabendo como ele pensava e agia, seria praticamente impossível fazer com que ele jogasse o jogo da política como deveria ser jogado.
Pessoas como Haroldo não morrem. Vão em uma viagem sem volta, mas deixam para nós sua maravilhosa obra e sua eterna lembrança.
Como já lhe disse, não sou do Maranhão, mas vivo aqui há bastante tempo e já havia ouvido falar do prefeito que transformou a cidade de São Luís, porem é sempre bom saber um pouco mais sobre a história do lugar onde vivemos.