
Quem conheceu o meu pai, Nagib Haickel, sabia que ele não tinha educação escolar formal completa, que ele só cursou até o primeiro ano do curso médio de contabilidade, mas que era uma pessoa extremamente inteligente e procurava se informar sobre tudo.
Certa vez, quando ele era deputado federal e eu era deputado estadual, saímos os dois de casa, para irmos a uma solenidade no Palácio dos Leões e no meio da conversa que mantínhamos no carro, ele me saiu com uma história hilária que muito bem representa o que acontece com a maioria das pessoas.
Me disse ele que uma das frases que ele achava mais inteligentes fora pronunciada por Júlio César. Eu e imagino que quase todo mundo só se lembra de uma frase de César, mas mesmo assim perguntei a ele qual era essa frase, louco para que ele dissesse outra. Mas qual nada! Ele respondeu em tom de brincadeira, como era do seu jeito bonachão, tentando arranhar um latim castiço: “Veni, vidi, vici.”, ou seja, “Vim, vi, venci.”.
Ocorre que não entendi por que falar aquela frase no contexto dos assuntos que estávamos conversando, perguntei a ele o porquê!
Ele, ao volante de seu fusquinha vermelho, virou um pouco para o meu lado e explicou: “Eu não suporto essas solenidades, palestras, jantares, coisas pomposas, só compareço por obrigação de ofício, por isso adaptei a frase de “julhinho” para essas ocasiões: Eu venho!…Chego, faço um ou dois estardalhaços, dou umas duas daquelas minhas conhecidas gargalhadas, faço dois giros pelo salão, um indo e outro voltando, cumprimento as pessoas que importam e dou no pé. Faço o mesmo que César – vim, sou visto, e venço no rumo da casa!”
Esse era o meu pai, cuja sabedoria inata, usava Júlio César como exemplo de vida, mesmo que em outro contexto.