O que se pode entender sobre a eleição para mesa diretora da ALM
Em minha modesta opinião, o resultado da eleição para mesa diretora da Assembleia Legislativa do Maranhão, deixou claro para aqueles que ainda insistiam em não acreditar no rompimento entre Carlos Brandão e Flávio Dino, que a coisa é definitiva e séria, porém, mais que isso, demonstra que nem tudo são rosas na relação entre os deputados e o governo ou entre alguns deputados e o comando do poder legislativo estadual.
O placar de 21 a 21 no primeiro e no segundo escrutínio demonstra isso de forma numérica e categórica.
Acredito que se possa destrinchar os números dessa eleição, sem fulanizar.
Dos 21 votos obtidos por Othelino, 5 são votos que pertencem a deputados 100% identificados com Flávio Dino, outros 5 votos são de deputados que sofrem influência ou pressão coercitiva direta do ministro, enquanto 10 desses votos são de parlamentares desgostosos com o governo ou com a direção da ALM e 1 pertence a um franco atirador, que tem demonstrado ter aprendido importantes ensinamentos políticos em casa.
Quanto aos 21 votos de Iracema, eles devem ser creditados ao Palácio dos Leões e ao Palácio Manuel Beckman.
No caso de ambos os grupos, esse apoio refletido em votos, é circunstancial, com exceção de 5 deputados de um lado e 16 do outro, que podem ser considerados 100% fiéis aos seus chefes.
Dito isso, restam 21 votos na ALM que precisam ser conquistados pelo governo (na pior das hipóteses, pelo menos 12), sob pena dessa disputa equilibrada inviabilizar seus projetos no legislativo e até, quem sabe, na eleição.
Mas, há um fato que pode passar despercebido para as pessoas que não conhecem a fundo os meandros da política. O controle da mesa diretora da ALM é crucial para um governador que pretenda se desencompatibilizar para disputar, por exemplo, o senado.
Caso o governador queira deixar o governo para concorrer, em seu lugar assume o vice, que neste caso pertence ao grupo de Flávio Dino, o que por si só inviabilizaria tal projeto, pois não haveria confiança suficiente entre as partes, principalmente depois do episódio da eleição na ALM.
Com o trunfo no legislativo, o governador pode ter mais meios de convencimento através de um acordo onde todos possam sair perdendo menos, porque uma coisa é certa, haverá perdas, e essas precisarão ser medidas e pesadas para que possam ser avaliadas quanto aos seus riscos e suas compensações.
Estão recorrendo STF quanto ao dispositivo que deu a vitória a Iracema, pelo fato dela ter mais idade que Othelino. Se a justiça brasileira for minimamente séria, e não sofrer influência espúria ou corporativismo, isso será perda de tempo. Para saber se falo a verdade, basta perguntar ao deputado Carlos Lula, um dos melhores de nosso parlamento e especialista no assunto legislativo, que ele dirá que o dispositivo do regimento da ALM é legal e constitucional.
O que na verdade não poderia acontecer era a reeleição de um mesmo parlamentar, para o mesmo cargo, no segundo biênio de uma mesma legislatura, como vai acontecer agora com os presidentes da Câmara Federal e do Senado Nacional, mas isso eu venho dizendo há quase 30 anos, desde 1996.
Quanto ao futuro!… Quanto a isso eu tenho dois mantras. Um é a frase sábia do grande Lister Caldas: “Quem viver, verá”, e o outro é também uma frase sábia que meu pai não se cansava de repetir: “Um mal acordo é melhor que uma boa briga”.
Se fosse para apostar, eu apostaria que Brandão ficará no governo até o fim de seu mandato, e fará de tudo para eleger seu sucessor, dois senadores e uma grande bancada de deputados federais e estaduais…
Se fosse para escolher, eu escolheria que Brandão e Felipe se desencompatibilizassem para concorrem ao senado, que para seus lugares fossem escolhidos, na ALM, pessoas que pudessem fazer uma transição sem litígios e traumas e que os candidatos à sucessão deles pudessem nos trazer pelo menos alguma esperança de dias melhores.
Dito isso, preparem as apostas.
PS: Estou neste momento em Cingapura, onde são exatamente seis horas e dezenove minutos do dia 27 de novembro de 2024, mas nem assim eu deixo de pensar em política, no Maranhão e no Brasil.