O poder, ah!… o poder!…

Não quero falar sobre poder dando qualquer conotação adjetiva a ele. Poderia falar de poder, verbo, sem ligar se ele pode ser transitivo direto, indireto ou intransitivo, ou ainda irregular e também auxiliar. Quero analisar poder simplesmente como algo que expressa a possibilidade de fazer ou deixar de fazer, de conferir a alguém a capacidade de usar força bruta ou moral, ou de ter alguma influência ou valia.

Há quem diga que poder é o exercício da autoridade, é a faculdade de impor ou conquistar alguma coisa. Assim como, há quem diga que o poder a imposição de uma vontade sobre outrem, para compor interesses diferentes e até mesmo divergentes, ou para fazer valer uma norma capaz de promover a harmonia nas relações humanas, o que deixa claro que o poder é um importante fator da vida em sociedade.

Em última análise o poder é a expressão da habilidade de alguém impor sua vontade sobre os outros.

Mas também há o poder substantivo, que significa a posse de alguma coisa ou superioridade absoluta de quem chefia, governa ou administra, por meio de sua influência ou da obediência de outros. É aquilo que emana da autoridade exercida por alguém.

O verbo e o substantivo se confundem, mas não é nesse universo gramatical que reside meu foco ou minha análise. Quero me fixar em como esse verbo e esse substantivo são utilizados e como eles se refletem e interferem em nossas vidas.

Faz muito tempo que me dedico em observar e analisar pessoas que detêm poder. Dos mais altos signatários, dos ungidos por Deus ou a tronos reais, passando por detentores de mandatos eleitorais, em diversas esferas e camadas, até chegar a cargos subalternos de menor importância e quase nenhuma relevância. Em todos os casos o poder está presente.

Albino Luciani, também conhecido como Papa João Paulo I, exerceu enorme importância e grande relevância por pouco mais de 30 dias e quase não exerceu nenhum poder, mas o poder de seu sorriso sereno e da ternura que ele transmitia ficou marcado para sempre na memória de quem o viu. O que me faz pensar que o poder pode ser breve e pode nem ser exercido com contundência, mas mesmo assim surtir efeitos profundos, mesmo que imperceptíveis.

Karol Wojtyla (Papa João Paulo II) usou o poder como poucos homens já o fizeram na história. O que ele fez mudou o mundo em muito pouco tempo.

Joseph Ratzinger (Papa Bento XVI) não soube ou não conseguiu usar o poder que poderia ter.

Jorge Bergoglio (Papa Francisco) tem usado seu poder em toda sua extensão e de forma bastante contundente.

Observem como exercia o poder a Rainha Elizabeth II e como o faz seu filho e sucessor Charles I, e mais que isso, observem como o fará o sucessor deste, seu filho William. O que veremos não será apenas uma variação funcional, mas temporal, cultural, e principalmente pessoal.

Os tiranos de todos os tempos, de todas as procedências, de todas as latitudes filosóficas exerceram seu poder de forma a registrarem suas passagens pela história da humanidade pelo adjetivo pelo qual são indicados neste parágrafo. Tiranos. Átila, Gengis Khan, Napoleão, Hitler, Mao Tse Tung e Stalin, usaram o poder que estava a seu alcance de maneira a impor as suas vontades, e por causa desse poder e da forma como o exerceram é que são julgados.

Existem pessoas poderosas que usam seu poder de maneira inadequada, às vezes por não terem a verdadeira noção do quanto ele é fugaz e passageiro, às vezes por não terem a capacidade de mensurar a extensão ou a profundidade que seu poder tem, às vezes por se deixarem enebriar por ele ao ponto de ficarem cegos e surdos e se deixarem envolver em erros e desacertos. Existem aqueles que às vezes exercem o poder que possuem de maneira inapropriada do ponto de vista ético e moral, transformando tal poder em uma arma que em algum momento será usada contra si mesmo e ainda existem aqueles a quem o poder sobe à cabeça e faz com que seus detentores se tornem mais arrogantes e prepotentes, e acabem cometendo todos os pecados aqui citados.

Certa vez, tive oportunidade de conhecer em uma repartição pública de nossa cidade, um funcionário subalterno que exercia o pequeno e limitado poder que detinha de maneira mais eficiente, eficaz e efetiva que o seu superior mais graduado, o que fazia com que muitos a ele recorressem para resolver problemas que as esferas superiores, ou não resolviam ou demoravam muito para fazê-lo.

No que diz respeito aos poderosos de minha terra, o que tenho visto nesses quase 50 anos em que observo, somados aos estudos que fiz sobre aqueles que vieram antes deles, é que ciclicamente repetem os erros dos outros. Parecem que não são capazes de aprender com os exemplos que têm.

Sobre poder, meu pai tinha uma frase que gostava de repetir para mim, assim como outras, como uma espécie de mantra, talvez tentando me fazer entender e aprender como lidar com qualquer poder que por acaso eu viesse a ter: “Poder não é para quem tem. Poder é para quem sabe”.

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Perfil

“Poeta, contista e cronista, que, quando sobra tempo, também é deputado”. Era essa a maneira como Joaquim Elias Nagib Pinto Haickel aparecia no expediente da revista cultural Guarnicê, da qual foi o principal artífice. Mais de três décadas depois disso, o não mais, porem eterno parlamentar, ainda sem as sobras do tempo, permanece cronista, contista e poeta, além de cineasta.

Advogado, Joaquim Haickel foi eleito para o parlamento estadual pela primeira vez de 1982, quando foi o mais jovem parlamentar do Brasil. Em seguida, foi eleito deputado federal constituinte e depois voltou a ser deputado estadual até 2011. Entre 2011 e 2014 exerceu o cargo de secretario de esportes do Estado do Maranhão.

Cinema, esportes, culinária, literatura e artes de um modo geral estão entre as predileções de Joaquim Haickel, quando não está na arena política, de onde não se afasta, mesmo que tenha optado por não mais disputar mandato eletivo.

Cinéfilo inveterado, é autor do filme “Pelo Ouvido”, grande sucesso de 2008. Sua paixão pelo cinema fez com desenvolvesse juntamente com um grupo de colaboradores um projeto que visa resgatar e preservar a memória maranhense através do audiovisual.

Enquanto produz e dirigi filmes, Joaquim continua a escrever um livro sobre cinema e psicanálise, que, segundo ele, “se conseguir concluí-lo”, será sua obra definitiva.

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