Seis horas em um domingo chuvoso de março

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Num domingo de março, resfriado e com dor na garganta, resolvi não sair de casa e assisti há três filmes: “Os Rejeitados”, “Uma Vida – A História de Nicholas Winton” e “American Ficcion”, na companhia de minha inseparável esposa, Jacira.

Foram na verdade mais de seis horas, contando com os intervalos para ir ao banheiro ou a cozinha providenciar alguma coisa para beliscar e beber, e para atender uma ou outra chamada ao celular, mas foram as melhores horas que nós poderíamos ter passado em um domingo chuvoso de março.

Esses três filmes não podem deixar de serem vistos, pois são o que há de melhor atualmente no cinema e nas plataformas de filmes.

Não vou fazer uma crítica mais aprofundada de nenhum deles. Quem desejar uma crítica que procure uma nos diversos sites disponíveis para isso. Vou falar um pouco de minha percepção sobre eles, de como eles me tocaram.

“Os Rejeitados” como nome diz, trata de um grupo inusitado de pessoas que por algum motivo e de alguma forma não estavam inseridos entre aqueles que estavam “convidados” em alguns aspectos ou para algum evento ou ocasião. O mais interessante é o ambiente em que transcorre a ação e as pessoas envolvidas nela, uma escola elitista de Massachussets, um controverso professor, alguns alunos problemáticos, um em particular, uma cozinheira da escola…

A simplicidade como a história é contada e o foco que a história e a direção dão a cada personagem, são que há de melhor, além das maravilhosas performances dos atores. Não percam!

“Uma Vida – A História de Nicholas Winton” faz chegar até nós a notícia real da existência de um herói quase totalmente desconhecido, que salvou 669 crianças da morte certa nas mão dos infames nazistas, numa cidade de Praga dominada durante os eventos que culminaram com a Segunda Guerra Mundial.

Nicholas Winton, que teve sua heroica história conhecida do público apenas no final dos anos 1980, quase 50 anos depois de a ter realizado, ficou depois conhecido como o Schindler inglês, por ter realizado façanha semelhante a do lendário empresário alemão retratado por Spielberg no cinema. Também imperdível.

Por fim assistimos “American Ficcion”, que com todo respeito deveria ganhar um Oscar especial e não apenas o de melhor roteiro adaptado. O Oscar especial deveria ser pela grande quantidade de ironia certeira e humor inteligente e refinado disparado contra uma sociedade hipócrita que coloca pessoas e grupos sociais em gavetas e prateleiras como se fossem meros objetos.

Ironizar e rir de si mesmo é para mim uma das fórmulas infalíveis do sucesso, seja de um livro, de um filme ou de qualquer outro tipo de manifestação intelecto-cultural, ou quem sabe psicossocial.

Mas de tudo o que eu mais gostei e me realizei foi que no final da noite, depois de mais de seis horas, minha esposa, Jacira, se virou para mim e num tom grave e eloquente, proferiu uma sentença certeira: “Esse filme é sobre você, meu bem!” .

Eu explico! Jacira estava se referindo ao fato de em 1990 eu ter feito uma coisa muito semelhante ao que fez o personagem principal deste filme, o Monk. Eu apresentei um conto em uma oficina ministrada pelo famoso Caio Fernando Abreu como tendo sido escrito pelo controverso roteirista e diretor de cinema, David Linch, quando na verdade ele fora escrito realmente por mim. O conto se chamava “Pelo Ouvido”, e como a obra de Monk, no filme, mais tarde se tornou realmente uma produção cinematográfica de sucesso.

Filmes são viagens eternas e não podem ser perdidas.

PS: Caso você deseje assistir ao filme “Pelo Ouvido”, acesse o link:  https://www.youtube.com/watch?v=f_IPEo0xmac&list=PL1CRSF1DLcjy3I099RjYmPinddfHsKxfz&index=4

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