Estive no aniversário do filho de um amigo e notei que enquanto muitas crianças estavam correndo e brincando, um garoto estava num canto chorando. Observei-o por alguns instantes e resolvi falar com ele.
Perguntei-lhe o que estava acontecendo, mas ele não estava muito pra conversa. Insisti e perguntei-lhe quantos anos ele tinha e qual era seu nome. Ele me olhou com uma cara zangada e disse: “Alexandre… Sete”.
Sorri e vi ali uma oportunidade de conversar com ele. Perguntei-lhe se ele gostava de história. Ele levantou a cabeça e com a cara ainda amarrada, aquiesceu.
Disse a ele que faço parte de um grupo de pessoas que trabalha com história e que ainda por cima faço filmes. Ele arregalou os olhos.
Pedi que ele me ouvisse. Ele a princípio não se mostrou acessível, mas eu insisti, dizendo que iria lhe contar algumas coisas que iriam fazer com que entendesse por que ele não deveria estar chorando. Ele ficou ainda mais enfezado, mas pelo menos não saiu correndo.
Perguntei se ele já tinha ouvido falar de um outro Alexandre, o Alexandre da Macedônia, Alexandre, o Grande. Ele fez cara de desdém e disse: “Eu sou só uma criança”. Não me contive e dei uma gargalhada, o que fez com que ele também risse.
O caminho estava aberto para nossa conversa, que eu sabia, não poderia ser demorada nem complicada, pois a atenção dele não seria fácil de prender por muito tempo.
Disse a ele que seu xará, o grande Alexandre, havia entrado para o exército aos sete anos, a mesma idade dele. Ele arregalou os olhos e pronunciou a primeira palavra espontânea de nossa conversa: “Sério?”
Eu expliquei que no tempo daquele outro Alexandre as coisas eram diferentes. Disse que ele era um príncipe e que depois da morte de seu pai ele se tornou rei, e que conquistou quase todo o mundo. Contei-lhe alguns fatos sobre a vida de seu homônimo, disse-lhe que o outro Alexandre teve como professor o homem mais inteligente que existia naquela época, Aristóteles, que ele era tão inteligente que até hoje nós estudamos o que ele disse e escreveu, e o menino foi relaxando e se interessando pela conversa.
Disse a ele que infelizmente Alexandre, o Grande, havia morrido muito jovem, aos 32 anos, ao que ele perguntou: “Ele morreu lutando em uma guerra?”
Expliquei, sem me aprofundar, como havia sido o final da vida de Alexandre.
Perguntei novamente a ele qual era o motivo de estar chorando, e agora mais relaxado ele disse que era porque seus amiguinhos não queriam deixar que ele participasse de um jogo, pois ele não jogava bem.
Foi aí que entrei no assunto no qual queria chegar desde o início. Perguntei se ele sabia que estava havendo, naquele mesmo momento em que estávamos ali, conversando, guerras horríveis, onde cidades eram destruídas e pessoas morriam. Ele sacudiu a cabeça, indicando que sim.
Disse a ele que para as crianças que estavam no meio dessas guerras, seria muito difícil brincar, pois o mais importante era que elas se protegessem. Disse que os pais de muitas delas, haviam morrido na guerra. Disse que aquelas pessoas estavam passando fome e nem tinham água para beber.
À proporção que eu falava, meu jovem interlocutor ia ficando sério. Ele não mais chorava, nem tinha em sua face feições refratárias. Sua fisionomia era de um homenzinho que parecia ter entendido o verdadeiro valor do choro.
Ele se levantou e eu junto com ele me levantei. Ele levantou a cabeça para me olhar no rosto. Me encarou com um semblante pesaroso, passou a mão no rosto, limpando as lágrimas, esticou a mão para me cumprimentar, ao que eu retribuí, e ele saiu correndo e foi brincar com os amiguinhos.
… Super bacana, Joaquim!
Um texto sensível, comovente…
Prendeu a minha atenção, do começo ao fim..
BOM DIA.
ADORO SEUS ARQUIVOS.
PARABÉNS.