Discurso do Deputado Yglésio Moises em homenagem ao ex-deputado Nagib Haickel

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Senhora presidente, senhoras e senhores deputados

Hoje assumo essa tribuna para falar de um personagem único na história de nosso Estado e principalmente na história desta Casa.

Refiro-me ao deputado Nagib Haickel, que presidiu o Poder Legislativo do Maranhão entre fevereiro e setembro de 1993, quando fatidicamente no dia 7 daquele mês, veio a falecer, em uma solenidade comemorativa à independência do Brasil, na cidade de Coroatá.

Nagib Haickel bem poderia ter nascido no Líbano, uma vez que seus pais, Elias e Maria Haickel, primos legítimos, eram provenientes daquele país, mas por obra do destino Nagib veio ao mundo na cidade de Pindaré Mirim, que se localiza numa das milhares de curvas do Rio Pindaré, que serpenteia pelo nosso estado, desde a Serra do Gurupi até desembocar no Rio Mearim, quase ao chegar na Baía de São Marcos, que abraça a cidade de São Luís em seu lado ocidental.

Quando o avô de Nagib, Tanus Haickel chegou ao Brasil, aportou em Belém para em seguida vir para São Luís. Aqui, fez contatos com seus patrícios e resolveu ir para Viana, mas por lá também não ficou, dirigindo-se para o então povoado de São Pedro, no município de Monção, que mais tarde se tornaria Pindaré Mirim. Lá chegando se acomodaram bem próximos ao pátio do Engenho Central São Pedro, onde logo passaram a comercializar gêneros de primeira necessidade com a população.

Não demorou muito para a família Haickel se tornar uma das mais influentes no comércio da região, uma vez que compravam gêneros dos produtores locais, vendiam para os industriais de São Luís e traziam para sua cidade outros artigos que seus vizinhos necessitavam, como ferramentas, tecidos, combustível…

Nagib é o terceiro filho de Elias e Maria, que como não poderia deixar de ser, mandaram seus filhos estudarem na capital. Nagib veio estudar, mas com apenas 13 anos de idade começou a trabalhar na empresa Chames Aboud, que também pertencia a imigrantes libaneses.

Meus caros amigos e colegas deputados e deputadas, alguns poucos de vocês tiveram a oportunidade de conhecer ou pelo menos ouvir falar de Nagib Haickel. Quem o conheceu, como o deputado Arnaldo Melo, sabe que eu falo de um homem extraordinário, de uma inteligência incomum, de uma sensibilidade aguçada, de um coração gigantesco, tanto que veio a falecer de uma doença cardíaca, comumente conhecida como “coração grande”.

Quem o conheceu, como alguns dos ainda funcionários desta casa, como o secretário geral da mesa, Braulio Martins, que ainda muito jovem assessorou o então presidente Nagib Haickel, lá na velha sede de nosso poder Legislativo, na Rua do Egito, sabe do valor daquele homem simples que dizia frases contundentes, que aparentava rudeza, mas que no fundo era um homem atencioso.

Muitos de nós só conhece Nagib Haickel, porque ele dá nome ao plenário de nossa casa.

Acredito que registrar os acontecimentos da vida de homens como Nagib Haickel é importante para possibilitar que os pesquisadores do futuro possam saber um pouco de nossa história, possam saber por exemplo, que Nagibão era comerciante varejista, que criou a primeira loja aberta durante 24 horas do Brasil, “A Meruoca”, que ele implantou o “supermercado em sua porta”, enchendo Kombis de mercadorias e saindo pela cidade vendendo aos pequenos comércios dos bairros mais distantes.

Alguém já disse que Nagib começou sendo um gênio no comércio e depois passou a ser genial na política. Ele dizia que dava um boi para não entrar em uma briga, mas dava uma boiada para não sair dela, e explicava que ele fazia de tudo para não entrar em um embate, em uma polêmica, mas que só saia dela se fosse com a vitória, caso contrário lutaria até o fim.

Outra frase famosa de Nagib era “O difícil se faz logo. O impossível só demora um pouco mais”. Com isso ele queria dizer que o trabalho e a perseverança são as coisas mais importantes na vida de um empreendedor ou de um político.

Nagib Haickel se autointitulava “O caboclo do Vale do Pindaré” e dizia mais, “que era acostumado a comer tapiaca e mandubé”.

Conversando com Joaquim Haickel, filho mais velho de Nagibão, ele me disse que uma vez perguntou ao seu pai por que ele fazia questão de dizer que ele era incondicionalmente governista, uma vez que essa posição o deixava vulnerável em relação ao próprio governo, que já sabendo de sua automática posição, não o iria valorizar. A resposta do velho mascate libanês não poderia ter sido mais genial, nem que fosse proferida pelo próprio Maquiavel, ou mesmo por Zé Sarney.

Nagib explicou ao seu filho, quando este ainda iniciava na política, no início dos anos 1980, que o fato do governador e dos governistas saberem de seu apoio automático e incondicional, fazia com que eles procurassem primeiro a ele que aos outros deputados, o que fazia dele uma espécie de líder não oficial do governo, sem que tivesse as mesmas e difíceis responsabilidades do líder oficial.

A segunda parte da resposta é tão ou mais genial, tanto do ponto de vista político, como do ponto de vista publicitário e principalmente do ponto de vista lógico e pragmático, coisa que Nagib Haickel era acima de tudo.

Ele disse para Joaquim que somente o governo poderia propiciar a ele as condições necessárias para levar aos seus correligionários e aos municípios onde ele fazia política, as melhorias que eles precisavam, como escolas, postos de saúde, estradas, segurança e empregos. Além disso, todos que ouviam suas histórias e feitos na proximidade do poder governamental, queriam se juntar a ele, aumentando assim a legião de apoiadores que tinha.

No início dos anos 1970, Nagib presidiu o Moto Clube de São Luís, e foi o responsável por levar um time maranhense a disputar pela primeira vez o campeonato brasileiro de futebol. Essa parte da história de Nagib Haickel eu conheço bem, pois também ocupei esse cargo e tenho pelo Moto a mesma paixão que Nagib tinha.

Nagib era um marqueteiro nato. Ele descobriu que distribuindo bombons para as crianças ele poderia chamar a atenção não apenas delas, mas principalmente dos pais delas, pois o carinho com o qual ele tratava as crianças comovia a todos.

Por ter passado mais de 20 anos distribuindo bombons por onde quer que ele fosse, Nagib Haickel ficou conhecido como “Deputado Bombom”.

Nagib Haickel viveu muito pouco, não chegou a completar 60 anos, Ele trabalhou no comércio dos 13 aos 59 anos, já a política, ele vivenciou dos 23 aos 59, mesmo assim tendo vivido tão pouco tempo realizou feitos inacreditáveis.

Ele foi deputado estadual durante vinte anos, deputado federal durante oito e durante quatro serviu como secretário de estado e como primeiro administrador do recém criado município de Zé Doca.

Nagib ocupou por pouco mais de 7 meses a presidência dessa Assembleia Legislativa, e ainda hoje, 30 anos depois de sua morte, é considerado pelos funcionários desse Poder, um dos melhores presidentes que essa Casa já teve, graças a forma humana e fraternal que tratava a todos, inclusive os deputados da oposição que eram distinguidos com as mesmas prerrogativas, coisa que antes dele jamais havia acontecido.

Senhora presidente, Joaquim Haickel me contou alguns fatos interessantes sobre a forma de Nagibão agir enquanto era presidente dessa Casa. Me disse que diariamente Nagib visitava todos os deputados em seus gabinetes para saber se eles estavam precisando de alguma coisa e fazia isso principalmente com os deputados de oposição.

Sobre os deputados de oposição, Joaquim me disse que Nagib, dedicava atenção especial a eles, e que era neles que ele se apoiava quando precisava fazer valer a força desse poder, quando precisava se opor a alguma decisão do executivo que contrariasse os desejos da maioria do legislativo.

Funcionários mais antigos dessa Casa ainda hoje comentam que quando do infarto do deputado Vila Nova, que tivera uma briga com Nagib, quase chegando às vias de fato, contrariando todas as expectativas, foi Nagib quem primeiro socorreu Vila Nova e só saiu de seu lado quando ele já estava hospitalizado e fora de perigo.

Nagib costumava dizer que não tinha inimigos, que tinha adversários, mas que as diferenças que houvessem entre eles acabavam junto com o debate.

Eu não tive o privilégio de ter convivido com Nagib Haickel, mas quem teve, diz que ele era uma pessoa incrível, um homem de grande inteligência, uma figura carismática, um amigo com quem se podia sempre contar.

Pelo que pude perceber ao fazer o dever de casa para escrever essas mal traçadas linhas, que entrarão para os anais desta casa, Nagib Haickel, tanto no comércio quanto na política foi um mestre. Um mestre como não existe mais nos dias de hoje.

No último dia 7 de setembro, fez 30 anos que Nagib Haickel nos deixou, mas para quem o conheceu e conviveu com ele, parece que ontem mesmo ele ainda estava entre nós. Sensações como essa só acontecem em relação aos grandes homens. 

Nagib é daquelas pessoas que não deixam apenas saudade, ele é daquelas pessoas que fazem falta. 

Salve Nagib Haickel!…

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