Eu já disse diversas vezes que, nas histórias, reais ou ficcionais, eu prefiro os personagens coadjuvantes. Talvez isso se deva ao fato de eu me identificar mais com eles, de me sentir e até de gostar de me sentir sempre num lugar secundário, até mesmo quando sou protagonista de alguma coisa que por acaso esteja realizando. É que eu me sinto mais confortável nesse lugar.
Ser coadjuvante tira de nós a responsabilidade que recai obrigatoriamente sobre os protagonistas, e faz com que quem esteja nas sombras possa se sobressair mesmo estando na penumbra, o que pode dar um volume maior a ele, caso sua performance seja realmente boa. Se for excepcional então, ela pode ofuscar até a quem estiver em primeiro plano.
Quando jogava basquete, preferia ser aquele que fazia os passes, a ser quem finalizava as jogadas. Quando jogava tênis, preferia o voleio, tanto que logo migrei para o frescobol, onde ao invés de colocar a bola longe da raquete do opositor, deveria colocar a bola o mais próximo e de forma mais fácil para a resposta do parceiro. Como político, sempre preferi os acordos às disputas radicais. Como advogado, sou adepto da tese que afirma que um mal acordo é melhor que uma boa briga. Como empresário, tenho certeza de que o lucro deve ter uma margem descente, para que ele seja o mais duradouro possível. Tudo isso é coisa de quem prefere um plano secundário, ao brilho do protagonismo.
Meu fascínio por personagens como Sancho Pança, Tonto, Gawing e Galahad, João Pequeno e Frei Tuck, Robin ou mesmo o Coringa, é facilmente explicável. Penso que Dom Quixote, Zorro, Arthur Pendragon, Robin Hood e Batman são tão insuperáveis em suas essências, que o humano mais admirável é sempre que está mais próximo a eles, seus parceiros, e é esse humano, mais simples, menos sofisticado, falível e real, quem eu mais admiro e valorizo.
Vou extrapolar absurdamente na explicação que se segue, mas por favor não me levem a mal. O meu fascínio por coadjuvantes me faz admirar mais a Paulo de Tarso que a Jesus Cristo, pois o fato do messias ser filho unigênito do Deus Pai todo poderoso, o coloca em um patamar proibitivo de almejarmos para nós, fazendo que o seu segundo seja o ideal humano mais desejável a se imitar.
Feito todo esse preâmbulo, gostaria de comentar sobre um dos personagens mais interessantes, sensacional mesmo, que eu tive conhecimento nos últimos tempos. É claro que é um personagem coadjuvante, secundário. Trata-se de Rip Wheeler, vaqueiro que trabalha no rancho “Yellowstone Dutton Ranch”, uma das maiores fazendas de gado dos Estados Unidos, na série da Paramount, “Yellowstone”. Ele é interpretado por Cole Hauser, e tem o jovem ator Kyle Red Silverstein interpretando uma versão mais jovem dele em vários flashbacks.
Rip tem tudo aquilo que eu gostaria em um amigo. Alguém que é leal, companheiro, honesto, honrado, forte e violento, mas justo. Ele é um bruto, é verdade, mas um bruto como Shane. Um bruto que ama. Ama o homem que o fez seu filho e a mulher que o enlouquece e o alegra.
Rip Wheeler é o que há de melhor em termos de construção psicologia de um personagem em toda a série “Yellowstone”. Ele é tão bom que mereceria ter um “spin off” sobre ele, ouviu Taylor Sheridan.
Eu não gostaria de ter Jonh Duttun como amigo, mas gostaria muito de que Rip Wheeler fosse para mim o que ele é para o personagem interpretado por Kevin Costner.
Assistam a série “Yellowstone” e me digam se eu não tenho razão.