março 2023 - Joaquim Haickel

Algumas regras fundamentais da política

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Numa animada conversa entre alguns bons e velhos amigos, surgiu a ideia de listar algumas regras fundamentais da política, que às vezes, ou não são observadas, ou não são nem do conhecimento de alguns políticos atuais.

Naquela conversa ficou decidido que cada um citaria uma regra que achasse ser fundamental no exercício da política, e que se possível citasse um caso ou exemplo que corroborasse tal regra.

Resolvemos também que não colocaríamos as regras em ordem numérica ou de importância, pois acreditamos que não há hierarquia nesse tipo de coisa. Regra é regra, ainda mais quando ela é discutida por velhos políticos numa mesa de bar.

– Bom cabrito não berra. Se berrar, precisa ter chifres e pernas fortes o bastante para sair dando cabeçadas e tentar sobreviver. Se não berrar pode virar governador.

– Existem atitudes que não devem ser tomadas forma alguma, tais como ser arrogante, prepotente, intolerante, perseguidor, hipócrita, corrupto… No entanto existem outras que são obrigatórias, como ser simpático, empático, disponível, compreensivo, diplomático, coerente e honesto. Ter os atributos da primeira lista ou por outro lado não ter os da segunda, não é garantia de insucesso. Infelizmente muita gente que é como os da primeira lista tem mais sucesso e muito mais poder que os que são como os da segunda, mas em contrapartida, normalmente, eles têm vidas mais curtas na política.

– Um vereador, um deputado, estadual ou mesmo federal, até consegue se eleger sozinho, sem precisar decisivamente de alguém ou de um grupo político! Já para ele se reeleger, vai precisar de ajuda, caso contrário não terá sucesso. Um candidato a prefeito, a governador, a presidente da república, ou mesmo a senador, jamais conseguirá se eleger sem um grupo que o apoie. O político que não entender isso, pode ter presente, mas certamente não terá futuro.

– Para ficar conhecido, um político não precisa ser eloquente e discursar bem, não precisa comparecer a todas as sessões plenárias, não precisa apresentar mil propostas legislativas, nem mesmo precisa estar diariamente nas redes socias e nos Blogs. Para um político ficar conhecido basta que ele se meta em alguma confusão, que não honre a palavra empenhada ou não seja cumpridor de seus compromissos, que ele desconheça ou não leve em consideração regras básicas de convivência social, como atender o telefone ou retornar uma ligação. Viu, senhores secretários!…

– Para ser um bom político, ou pelo menos para tentar ser um bom político, é indispensável que o indigitado conheça um pouco da história política do seu Estado e de seu País. Conhecer os fatos da história não garante a ninguém ser um bom político, mas desconhecê-los, garante que essa pessoa não será um político de sucesso, pois certamente cometerá os mesmos erros que outros cometeram antes.

– Há uma diferença enorme entre um membro do poder legislativo e um parlamentar. Para alguém ser membro do poder legislativo, seja como vereador, deputado estadual e federal ou mesmo senador, basta que o dito cujo seja eleito para esse fim. Para ser um parlamentar, o eleito deve estar preparado e capacitado para exercer integralmente as funções do parlamento, coisas que vão além da contingência de uma mera eleição.

– Dois fatores subverteram muito a atuação dos políticos nos últimos anos. O grande avanço da tecnologia de comunicação através das redes sociais, fazendo com que cada pessoa possa ser um verdadeiro jornalista, distribua sua opinião por todos os lados, de maneira quase sempre tóxica,  e o advento das emendas parlamentares, que transformou os políticos em verdadeiros ordenadores de despesas, feitas nem sempre de maneira republicana e correta. O mundo da política hoje é movido pelos Blogueiros e pelas emendas.

– Cada safra é uma safra, cada eleição é uma eleição. Uma eleição é como uma lavoura. Assim como o arroz, o milho ou o feijão precisam ser cultivados, também os votos precisam ser cultivados. Quando fazemos tudo certo no plantio da lavoura, é certa uma boa colheita, e o mesmo acontece com a eleição. Prova disso é o que aconteceu com três deputados que foram os mais votados em uma eleição, superando individualmente os coeficientes eleitorais de suas legendas, e na eleição seguinte não conseguiram se eleger nem na sobra, pelo simples fato de não terem feito corretamente o que deveriam.

Muitas outras regras foram citadas naquele delicioso bate papo, sendo que o ônus da prova além de não caber ao acusador, nem precisava ser trazido a baila, pois nessas ocasiões o que vale mesmo é o bom papo e a camaradagem.

PS: Uma coisa ficou certa naquela prazerosa ocasião, existem pessoas que deveriam prestar atenção a essas regras, ah, isso há!..

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Sobre Processos Criativos

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Fui convidado por meu amigo Miguel Abdala para dar uma palestra sobre processos criativos para uma turma de alunos de Propaganda e Marketing do CEUMA. Não foi exatamente uma palestra, foi um bate papo sobre quais e como são meus processos cognitivos e criativos.

Comentei que quando eu era criança, preferia assistir aulas que estudar em casa. Em mim, o lúdico sempre se sobressaiu mais que qualquer outra coisa, e eu sempre achei que as aulas eram lúdicas, pois via os professores como contadores de histórias, sendo que os professores das matérias exatas contavam histórias de terror, gênero do qual jamais gostei.

Falei a eles sobre minha professora particular, Dona Terezinha, que notou que quando ela lia os textos para mim, meu aprendizado era muito melhor. Casualmente ela descobriu que eu era dislexo, síndrome muito pouco conhecida naquela época. Com o passar do tempo fui descobrindo como usar minha dislexia em meu benefício, fazendo com que minha audição e minha visão compensassem a minha dificuldade cognitiva de leitura e amenizem bastante meu TDAH, que naquela época era conhecido comumente por “menino danado, com falta de atenção”.

Os livros ilustrados tinham minha preferência. As revistas em quadrinhos eram meu mundo, mas havia também as enciclopédias ilustradas e os fascículos, e eu os consumia avidamente.

Foi nessa época que passei a amar os meios de comunicação eletrônicos, rádio e televisão. Daí ao cinema foi um pulo.

Falei a eles que toda vez que meu pai ia nos levar para o Colégio Batista, ele ensaiava, em voz alta, os discursos que ele faria naquele dia na Assembleia Legislativa, e ouvi-lo fez com que desde cedo eu aprendesse como fazer aquilo que mais tarde usaria em minha atuação política.

Expliquei que antes de tudo eu sou um contador de causos, como “Seu” Sergio, o caseiro do sítio que tínhamos no Ingaúra, que se sentava toda noite na porta da casa do sítio e contava suas histórias para uma plateia curiosa e atenta.

O fato de gostar de ouvir histórias me fez aprender a contá-las, me fez descobrir a morfologia dos personagens e identificar seus arquétipos. Isso me possibilitou aprender a desenhar o esqueleto das histórias e colocar nelas a musculatura necessária para fazer esse esqueleto ficar de pé e andar por onde eu desejasse. Ser escritor, produzir textos ou qualquer coisa relacionada a eles, depende unicamente disso.

Normalmente costumo acordar muito cedo, e assim que levanto começo a escrever. Quando acabo um texto, faço uma primeira leitura e o reviso, e o leio novamente, e torno a revisá-lo. Faço isso umas seis vezes. Em seguida peço que minha esposa, Jacira, o leia para mim. Enquanto escuto a leitura, vou revisando, pois as palavras que ouço precisam se encaixar perfeitamente. Quando elas não se encaixam, doem em meu ouvido.

Uma preposição, um adjetivo, ou um substantivo mal colocado, doem como se fosse um beliscão.

Feito isso deixo o texto descansar por uns dias. Na verdade, me distancio dele, para que quando volte a lê-lo ou a ouvi-lo, três dias depois, possa ter um melhor senso crítico sobre ele, e então o reviso por uma última vez, ou até que ele se torne uma verdadeira Skol, e desça redondo.

Normalmente uso Três métodos de processos criativos.

Inspiração, que também chamo de psicografia mediúnica ou “sopro no ouvido”, que é quando do nada aparece em minha mente a ideia de um texto, que as vezes vem prontinho, quase como se alguém o soprasse em meu ouvido.

Suspiração, que chamo de trabalho de pesquisa ou modelagem ou esculturação, que é quando para realizar um trabalho, é necessário que se pesquise sobre o assunto a ser desenvolvido, que se analise aspectos que precisam ser abordados, que se molde o texto para que ele seja melhor narrado e mais bem recebido pelo leitor.

Observação e Vivênciação, que eu também chamo de “Janela indiscreta” ou “Eu cobaia de mim”, que é quando ao observar ou vivenciar alguma coisa, eu escrevo um texto ou crio um enredo baseado no que vi ou fiz.

Contei aos alunos que Lavoisier dizia que “na natureza nada se perde, nada se cria e tudo se transforma”, e que um marqueteiro safo parodiando o químico francês disse que no mundo de hoje, “nada se cria, tudo se copia”, mas argumentei que para que não se seja um mero plagiador, precisamos saber como fazer essas releituras para se possa reaproveitar tais ideias de maneira original.

Foram quase três horas de uma agradável conversa. No final pude ler para eles alguns textos, mostrando cada processo criativo utilizado em suas produções e exibi os filmes “Pelo ouvido” e “Lockdown, como não fazer um filme”, mostrando a eles os textos dos quais se originaram.

Acredito que os alunos tenham gostado de nosso bate papo. Eu adorei.

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As efemérides de 2023

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O ano de 2023 está repleto de efemérides.

Essa palavra grega designava a tabela astronômica onde, em intervalos de tempo regulares, registrava-se a relativa posição de um corpo celeste, com os quais astrônomos, astrólogos, magos e navegadores se orientavam no exercício de cada uma de suas diversas atividades.

Quando essa palavra foi absorvida pelo idioma e pela cultura romana ela passou a designar aquilo que se convencionou chamar de memorial ou diário, onde se anotava os acontecimentos de cada dia.

Nos dias atuais o termo efemérides se relaciona com a lista de fatos marcantes que aconteceram em determinados dias e anos. Datas que se tornaram relevantes por marcarem, de alguma forma, a história das pessoas e da sociedade.

Particularmente para mim 2023 é um ano de muitas e importantes efemérides.

Neste ano meu pai fará 30 anos de falecido. Se vivo fosse, completaria 90 anos de idade. Para marcar esta data, a Fundação Nagib Haickel resolveu doar à Assembleia Legislativa do Maranhão, onde ele exerceu diversos mandatos e chegou a ser presidente, um busto para ser colocado na entrada do plenário que leva o seu nome.

Um outro busto será colocado no Prédio Nagib Haickel, no Complexo Administrativo do Estado, no Calhau, e uma estátua, em tamanho natural, será erguida na praça que leva seu nome, em sua cidade natal, Pindaré Mirim.

2023 marca o quadragésimo aniversário de posse de meu primeiro mandato eletivo, legislatura em que fui o mais jovem parlamentar do Brasil. Em comemoração, no mês de setembro, receberei na Assembleia Legislativa, as Medalhas de Mérito, João do Vale e Canhoteiro, que me foram outorgadas em 2021 pelos relevantes serviços prestados ao nosso Estado, ao criar as leis de incentivo à cultura e ao esporte do Maranhão.

Também neste ano comemorarei, junto com meus queridos amigos Celso Borges, Roberto Kenard, Paulo Coelho, Érico Junqueira Aires, Dulce Brito, Cordeiro Filho e Ronaldo Braga, dentre muitos outros, os 40 anos da Revista Guarnicê, que deu origem a um dos mais importantes movimentos artísticos e culturais de nossa terra, e que lançou muitos nomes de nossa literatura.

Para marcar essa data, lançaremos a minissérie “Guarnicê – uma história pra contar”, que narra a trajetória daqueles jovens que não sabendo que era impossível fazer aquilo tudo, foram lá e fizeram.

Entre tantas datas importantes que teremos em 2023, uma se destaca mais que qualquer outra. Trata-se da comemoração do bicentenário de nascimento de nosso maior poeta, Antonio Gonçalves Dias.

Essa efeméride será o centro das atenções da Academia Maranhense de Letras, que em parceria com o Governo do Maranhão, por iniciativa do governador Carlos Brandão, realizará diversos eventos em louvor àquela que é a figura central de nossa cultura.

Entre as diversas atividades e eventos, como palestras, seminários, concursos literários, concessão de medalhas comemorativas, recitais, espetáculos teatrais, haverá também a realização de um filme sobre a vida e a obra do poeta.

Duas outras efemérides marcam esse ano no que diz respeito a minha pessoa. Em 1973, há exatos 50 anos, comecei a escrever textos com intenção de publicá-los, e naquele mesmo ano começaram a ser disputados os JEM’s, Jogos Estudantis Maranhenses, que revelaram alguns de nossos maiores atletas. Inclusive estamos produzindo uma minissérie para registrar a história daquela geração e das que a sucedeu.

2023 promete ser um ano bem movimentado.

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Sobre aquilo que mais precisamos

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A politician at a podium making an announcement

No começo de nossa república, os órgãos governamentais mais cobiçados pelos políticos eram os que envolviam a fazenda pública, a segurança e a instrução, pois neles estavam a fiscalização das empresas, a arrecadação dos impostos e os pagamentos dos fornecedores, o controle das ações civis e penais das pessoas e o acesso ao conhecimento com a respectiva possibilidade de nomeações de professores e seus auxiliares.

A sociedade evoluiu e com ela a máquina administrativa também passou a ser vista e utilizada de outras formas. Os órgãos citados anteriormente continuam sendo de grande importância, mas deixaram de ser os mais cobiçados, com exceção da Educação.

A fazenda pública hoje só arrecada e não mais tem função pagadora. A segurança, pela existência de uma grande quantidade de direitos e regras que devem ser respeitadas e obedecidas, não mais enche os olhos dos políticos. A instrução pública que hoje se chama erradamente de educação, pois educação é algo imensamente maior que a mera transferência de conhecimento, é a única que mantém a sua importância, não mais pela possibilidade de semear pessoas em cargos, pois hoje todos eles são preenchidos por concurso público, mas pela possibilidade de pautar e controlar a sociedade e o povo que dela faz parte, através dos conteúdos e matérias que se estabelece na grade curricular.

Setores como o planejamento que foi desmembrado da fazenda pública, passou a ter bem mais importância, pois em que pese não arrecadar, é o setor que efetivamente planeja os investimentos e os gastos do Estado, prioriza e autoriza os pagamentos. Meio ambiente, que nem existia, passou a ser uma forma de controle dos meios de produção, pois é ele que diz onde pode a sociedade implantar suas casas e seus negócios. Organismos ligados às pessoas, que antes nem eram cogitados, passaram a ter grande relevância, pois uma das formas mais modernas e eficientes de politização, são os direitos sociais. O setor de infraestrutura que antes era chamado apenas de obras públicas, ganhou uma importância imensa, uma vez que a melhoria dos ambientes onde vive a população é de suma importância, coisa que antes não era crucial.

Essa mudança de paradigma requer um novo político, que se preocupe com coisas diversas, que tenha um olhar mais abrangente e menos focado, que observe o periférico simultaneamente com o pontual, requer alguém não só mais sensível, mas também mais múltiplo, alguém que possa dosar a importância do meio ambiente, do agronegócio, da indústria e da construção civil, sem que uma atividade interfira negativamente na outra. Este político é o que há de mais importante hoje e o que é mais raro em nossa sociedade.

Acredito que apenas o liberalismo responsável é capaz de produzir um político assim. Alguém que saiba o valor de preservar o meio ambiente, mas que entenda que de nada ele servirá à população se ela não tiver alimentos bons e baratos, que existem certos custos que a indústria deve pagar para que o meio ambiente seja preservado, mas que a produção não deve e não pode ser reprimida.

Responsabilidade social e política não se refere apenas a garantir direitos e igualdades às pessoas, mas garantir a elas uma vida mais produtiva e feliz, e isso não apenas aos menos favorecidos que devem é claro ser priorizados, mas os cuidados com eles não podem desqualificar o respeito aos demais.

A extremada politização das causas que criou o “nós contra eles” em todos os âmbitos do convívio social, é a arma que os incapazes usam ao se recusarem a entender isso que eu hoje comento aqui.

O respeito, o compromisso com o correto e com o justo, a fraternidade, a tolerância e a dedicação à realização de coisas boas para todos de forma racional, mesmo que se saiba o quanto isso é complicado e difícil, é o que define o bom político, hoje e eternamente.

PS: Ofereço esse texto àqueles que considerado os melhores secretários da administração estadual anterior: Felipe Camarão, que foi eleito vice governador; Carlos Lula que agora é deputado estadual; Marcellus Ribeiro Alves, que para o bem de nosso Estado continua na Secretaria da Fazenda; e Ted Lago que fez um primoroso trabalho frente a EMAP.

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