Explicação necessária 1: Desde logo adianto ao caro leitor que o texto não é curto, ele tem três laudas, mas garanto que não será uma leitura tediosa e acredito que ela seja necessária para quem deseja analisar alguns importantes acontecimentos da política brasileira.
As pessoas que acompanham as minhas publicações, conhecem a minha opinião e os meus posicionamentos em relação aos atos e atitudes do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Para aqueles que não acompanharam os textos que escrevi e publiquei em minhas redes sociais, nos últimos quatro anos, farei nos próximos parágrafos um rápido resumo sobre o que disse e o que eu penso sobre ele.
Disse e acredito piamente que Bolsonaro seja um homem deselegante, tosco, mal educado, grosseiro, sem a devida polidez, não talhado para um convívio social. Um verdadeiro boçal. Mas não o incluo na lista dos criminosos, golpistas, antidemocráticos e terroristas, como fazem aqueles que, mais que seus adversários, são inimigos dele e de certa forma, são os verdadeiros golpistas dessa história.
Bolsonaro é despreparado para o exercício do poder, uma vez que não consegue entender nem aceitar o funcionamento dos mecanismos que regem a política. Ele desconhece a lógica do debate, da boa e sadia controvérsia. Ele não consegue entender e se posicionar quanto as ações corrosivas da imprensa canalha, como ela se posiciona e como ela define as “verdades” que ela impõe a sociedade. Ele não sabe como neutralizar ou minorar esses efeitos.
Ninguém acredita que Bolsonaro seja ingênuo ou mesmo burro. Quando se aventa essas possibilidades, as pessoas que o defendem, argumentam que ele, durante 34 anos exerceu mandatos parlamentares e se elegeu presidente da república, logo, alguém que tem esse currículo não pode ser nem ingênuo, nem burro. Eu discordo peremptoriamente disso. Eu o acho ingênuo e burro!
Nos primeiros meses de mandato de Bolsonaro, eu fiquei aguardando algum indício que indicasse o bom rumo que ele pudesse dar para o Brasil. Aguardei ações concretas que ele viesse a realizar no sentido de estabelecer um governo profícuo e saudável, que resultasse no fortalecimento dos princípios conservadores e das posições liberais, que ele defendia e que nós precisávamos que ocorressem, ações que colocassem definitivamente partidos e políticos de esquerda em total descrédito ou em pelo menos duradoura inutilidade, em nosso país.
Passados seis meses, e não vendo nada de concreto, nem mesmo indícios de um bom caminho para a política brasileira, eu entendi que ele não seria capaz de realmente liderar o nosso país nessa jornada, nas ações que pudesse nos garantir o não retorno da esquerda ao poder no Brasil.
Durante o tempo de governo de Bolsonaro, o Brasil obteve vitórias expressivas e importantes no que diz respeito especificamente ao agronegócio, e de modo mais geral e amplo, no que diz respeito a economia, além de ter conseguido realizar algumas pequenas reformas. Nestes casos o mérito de Bolsonaro foi tão somente o de não se meter nas ações desenvolvidas pelo ministro Paulo Guedes e seu grupo.
Um dos maiores erros ou pecados de Bolsonaro foi ter se deixado envolver em narrativas negativas em relação a suas ações pessoais, as quais quase sempre ele tinha culpa, no que dissesse respeito a pandemia de Covid-19, a comportamentos inconvenientes e deselegantes, como acusações de preconceito de diversas formas e tipos, além de sua total incapacidade de se relacionar habilmente com a imprensa.
Bolsonaro foi envolvido num turbilhão de narrativas jornalísticas, capazes de desestabilizar qualquer um, por mais experiente e competente que ele fosse. Mas sendo ele um teimoso irascível e um idiota previsível, que se deixa envolver por familiares e pessoas próximas, de maneiras completamente absurdas e inaceitáveis, alguém que tem tanto poder e que visivelmente não tem capacidade de discernimento, foi fácil que fosse envolvido negativamente pela máquina midiática.
Seus adversários na imprensa e na política sabiam onde apertar para que ele reagisse como eles esperavam que ele fizesse, para em seguida darem outra cutucada nele para que reagisse mais uma vez de maneira absurdamente previsível, para que mais uma vez fizessem algo que o fizesse reagir de modo ainda mais atabalhoado, causando cada vez mais estragos a si e àquilo que ele pretendia realizar.
Algumas vezes pensei em Bolsonaro como uma Penélope sonâmbula e inconsequente. Alguém que tece um manto de dia e pela noite o desfia, fazendo com que todo o trabalho que fizera a luz do sol fosse desperdiçado à luz da lua. A diferença, é que Penélope fazia isso com essa intenção, mas Bolsonaro não tinha noção do que fazia.
Em vários de meus textos comentei que “amigos” meus de direita me acusaram de ser esquerdista e meus “amigos” de esquerda diziam que mais que um liberal de direita, eu era bolsonarista. Uns escrotos.
Uns não aceitavam que as ações e atitudes do tal mito eram completamente desastrosas e os outros não desejavam que eu alertasse seus opositores para o desastre ao qual estavam sendo arrastados.
Eu sempre soube e sempre disse que a eleição teria um resultado contrário a direita, não a Bolsonaro, pois ele nunca foi uma opção real. Ele era apenas a opção possível, que na verdade era impossível.
Não discuto se houve ou não fraude eleitoral, pois não posso, e ninguém pode provar isso sem ter acesso aos documentos necessários para esse fim, mas posso garantir, com base no que vimos acontecer, que houve o uso descarado e criminoso da justiça eleitoral no sentido de beneficiar um candidato em detrimento do outro.
É importante que se ressalte que não interessa se um candidato era um ex-presidiário, descondenado apenas para concorrer nas eleições e o outro era o protótipo de um ditador, esperando a oportunidade para dar um golpe, como dizem os adversários de cada um deles. As narrativas construídas sobre os contendores nunca foram aceitas por mim, pois se as aceitasse, eu seria contaminado em minhas conclusões, nas análises dos fatos.
O resultado eleitoral, para mim pouco importa, até mesmo porque a diferença de dois milhões de votos me diz que a divisão política e eleitoral de nosso país é incontestável e definitiva. Ela não vai mudar.
O problema do Brasil não é quem ganhou a eleição, nem mesmo, por pior que possa parecer, o que vai fazer com o nosso país quem a ganhou, mas sim a insegurança jurídica na qual vivemos, a ditadura judicial na qual nossas instituições estão submetidas. Isso sim é gravíssimo.
A metade dos brasileiros, como pudemos auferir pelo resultado da eleição presidencial, viveu nos últimos quatro anos a ilusão de que um sujeito tosco poderia levá-los a atravessar um mar e a guiá-los por um deserto até uma terra prometida, onde haveria leite e mel para todos. Eu sempre soube que esse tal Messias não era um Moisés!
O que se viu foi uma legião de pessoas, em uma quantidade maior que a da maioria dos países do mundo, que se depara com a volta ao cativeiro no Egito, onde terão que enfrentar seu Ramsés II, o faraó careca, o Deus vivo na terra e toda sua legião de eunucos.
Explicação necessária 2: Para o título desse texto eu me apropriei do título da peça, “Quem Tem Medo de Virginia Woolf?” que na verdade é um trocadilho com o sobrenome da escritora britânica e a palavra inglesa “wolf”, que significa lobo, e a pergunta que perpassa é, na prática, “quem tem medo do lobo mau?” Cada leitor que escolha onde encaixar melhor a metáfora!…
PS: Este texto foi escrito no dia 31 de dezembro de 2022 e revisado no dia 9 de janeiro de 2023, um dia depois dos deploráveis acontecimentos ocorridos em Brasília no domingo, 8 de janeiro. Atos criminosos de vandalismo e depredação do patrimônio público, devem ser repudiados por todos, e estes selaram o destino das manifestações, até então pacíficas que aconteceram durante 70 dias em frente a quarteis do exército, em diversas cidades. Tais atos eliminaram totalmente a legitimidade de qualquer manifestação que este grupo pudesse realizar.