“Poeta, contista e cronista, que, quando sobra tempo, também é deputado”. Era essa a maneira como Joaquim Elias Nagib Pinto Haickel aparecia no expediente da revista cultural Guarnicê, da qual foi o principal artífice. Mais de três décadas depois disso, o não mais, porem eterno parlamentar, ainda sem as sobras do tempo, permanece cronista, contista e poeta, além de cineasta.
Advogado, Joaquim Haickel foi eleito para o parlamento estadual pela primeira vez de 1982, quando foi o mais jovem parlamentar do Brasil. Em seguida, foi eleito deputado federal constituinte e depois voltou a ser deputado estadual até 2011. Entre 2011 e 2014 exerceu o cargo de secretario de esportes do Estado do Maranhão.
Cinema, esportes, culinária, literatura e artes de um modo geral estão entre as predileções de Joaquim Haickel, quando não está na arena política, de onde não se afasta, mesmo que tenha optado por não mais disputar mandato eletivo.
Cinéfilo inveterado, é autor do filme "Pelo Ouvido", grande sucesso de 2008. Sua paixão pelo cinema fez com desenvolvesse juntamente com um grupo de colaboradores um projeto que visa resgatar e preservar a memória maranhense através do audiovisual.
Enquanto produz e dirigi filmes, Joaquim continua a escrever um livro sobre cinema e psicanálise, que, segundo ele, “se conseguir concluí-lo”, será sua obra definitiva.
Comecei minha jornada na política em 1978, como assessor parlamentar. De lá para cá fui deputado estadual, deputado federal constituinte e secretário de Estado, voltando depois a ocupar uma cadeira na Assembleia Legislativa do Maranhão, mas desde janeiro de 2011, não sou mais político, pelo menos desses com mandato eletivo. Depois dali ainda exerci funções como secretário de esportes do Estado e de comunicação do Município de São Luís.
Ao todo foram 40 anos de vida pública, cujo saldo, em meu ponto de vista, acredito tenha sido bastante positivo.
Nunca perdi uma eleição; não trago nenhuma mácula moral ou ética no meu currículo; não cultivei inimigos e fiz nesse trajeto uma infinidade de bons companheiros e amigos, e até mesmo os poucos adversários que tive, sempre me trataram de forma respeitosa.
Estou comentando isso aqui hoje, pelo fato de mesmo sem manter nenhum cargo ou laço formal com os poderes constituídos, ainda sou procurado por pessoas, no sentido de ajudá-las a resolver algum assunto de seu interesse. Isso acontece não apenas comigo, mas com qualquer pessoa que tenha sido político, ou que mantenha algum nível de poder, mesmo que só informal ou aparente, como é o meu caso.
Mas a razão pontual e específica de abordar esse assunto, se deve ao fato de eu ter sido procurado por um amigo, no sentido de ajudar uma pessoa que precisava tratamento médico de urgência, pois corria risco de perder a vida se não fosse atendido imediatamente.
Não me lembro da última vez que eu tenha ficado atônito com um caso assim. O fato de não conhecer o secretário de saúde do Estado me deu certa sensação de obsolescência, e essa é uma sensação horrível, posso garantir a vocês.
Imediatamente, meu temperamento irreverente e brincalhão fez troça de mim mesmo e me fez pensar que se não conheço o secretário de saúde, conheço o chefe dele, que foi meu contemporâneo no Colégio Batista, e é um dileto amigo meu, mas resolvi não recorrer a COBF e pedi ajuda à um outro querido amigo, que ainda está na política e tem o instrumento necessário para ajudar as pessoas. Poder.
O senhor que precisava de tratamento urgente foi atendido e passa bem, graças à ajuda daquele meu bom amigo e das pessoas a quem ele deve ter acionado para resolver tal questão.
Quando soube do desfecho satisfatório do caso, vi que a sensação de estar ficando obsoleto é inversamente proporcional a de conseguir ajudar alguém, de fazer o bem para uma pessoa. Essa em minha opinião é a função principal do poder.
Esse acontecimento serviu para reafirmar uma das primeiras lições que aprendi na minha vida, e que já foi até tema de propaganda de um banco, no tempo em que eu ainda era criança. “Melhor um amigo na praça do que muito dinheiro no caixa”.
Eu sempre acalentei um sonho. Na verdade, não é um sonho comum, desses que se tem quando está dormindo. Sonho aqui é figura de linguagem, metáfora para exemplificar uma ideia, algo que gostaria que fosse realidade. Meu sonho é viver em uma sociedade minimamente justa, onde o bom senso e a coerência prevaleçam.
Thomas Morus chamava isso de Utopia, eu chamo de Estado Democrático de Direito, onde todos estão sujeitos às mesmas regras, têm os mesmos direitos e os mesmos deveres, onde as regras não podem ser desrespeitadas e onde ninguém pode transgredir quanto a elas.
Eu sempre quis viver num lugar onde as pessoas pudessem valer pelo que elas são, e que aquilo que elas tivessem fossem apenas recursos extras que elas pudessem usar para viver melhor. Eu sempre acreditei que vive melhor quem vive cercado de pessoas que também possam viver bem, não necessariamente de maneira igual, mas minimamente bem.
Durante quase toda a minha vida, acreditei erradamente que meu posicionamento político e ideológico era de centro esquerda, mas já az mais de vinte anos que descobri que na verdade eu e minhas ideias estamos de maneira mais coerente e realista no escaninho exatamente oposto àquele em que eu me via. Sou realmente de centro direita.
Ter consciência de sua real e verdadeira posição no espectro político, é muito importante, principalmente para aqueles que militam na política.
É muito fácil e bonito ser de esquerda, pois quem está nessa posição não tem que fazer muito esforço, uma vez que o ser humano está naturalmente nesta latitude. Os humanos têm suas características mais marcantes, no que diz respeito a antropologia, psicologia, sociologia e filosofia, vinculadas aos pensamentos comuns ao quinhão à esquerda do centro do espectro político e ideológico.
Nosso subconsciente, nossa memória ancestral, nos remete aos tempos primitivos, em que vivíamos em bandos no início das civilizações, e desde lá nós nos acostumamos a gostar dos amparos, dos apoios e dos benefícios que possam nos ser proporcionados. O nosso humanismo inato, por si só é uma ideia e um sentimento poderoso, e tudo isso se enquadra muito mais nas ideias da esquerda, mas este não é o caso da esquerda estremada.
Essas mesmas sensações e sentimentos são comuns àqueles que se posicionam à direita do centro, mesmo que algumas de suas teses políticas e econômicas, deem motivos para que as pessoas possam simpatizar menos com os pensamentos destes.
Os moderados de direita não são completamente contra os amparos, os apoios e os benefícios aos cidadãos, eles apenas estabelecem critérios restritivos e rígidos para esses privilégios. Os de Direita não acreditam na mera doação, eles querem que ela seja proveniente de algo mais, uma troca positiva e honesta entre o indivíduo e a sociedade.
As diferenças fundamentais entre os antagonistas que estão no meio do espectro político, dos de centro esquerda com os de centro direita, são meramente questões semânticas e diplomáticas, coisas que se resolve com um pouco de conversa, bom senso e boa vontade.
Já no que diz respeito aos que estão nesta posição intermediária, de direita e de esquerda, além de muito mais diplomacia, há uma necessidade bem maior de entendimento semântico e de concessões estratégicas de lado a lado.
Entre estes grupos de direita e esquerda há um outro diferencial. Os de direita privilegiam os deveres do cidadão e os de esquerda, dão mais ênfase aos seus direitos. No caso dos dois grupos antagônicos mais próximos do centro, o equilíbrio entre deveres e direitos está mais presente.
No tocante àqueles que estão nos polos extremos do espectro político, suas diferenças são praticamente irreconciliáveis, pois essas pessoas são irracionais e irascíveis. Eles acreditam tão piamente em suas teses, que muitas vezes elas se transformam em verdadeiras religiões. Eles chegam a eleger verdadeiros profetas, messias salvadores, a quem seguem cegamente, o que normalmente causa grandes problemas, por um lado e pelo outro.
Lembro que quando estava pesquisando para fazer as leis de incentivo à cultura e ao esporte do Maranhão, o que eu tinha em mente era a reclamação daqueles que diziam que o governo de então ajudava muito mais a um determinado grupo de artistas e esportistas, que aos outros.
Fiz essas leis para proporcionar a igualdade e a equidade entre quem desenvolvesse trabalhos naqueles setores. O governo, qualquer que fosse ele, apenas autorizaria que o empresariado escolhesse quais projetos mais se encaixavam no seu perfil. Aquelas leis foram concebidas e criadas para serem ferramentas de política de Estado, uma política equânime e igualitária.
Meu pai gostava de repetir ditados populares. Ele dizia que não se importava em dar peixe àqueles que precisavam comer, mas que mais importante que dar o peixe era ensinar as pessoas a pescar e dar a elas condições para isso.
As Leis de Incentivo à cultura e ao esporte do Maranhão são leis que apoiam, amparam e beneficiam as pessoas dos respectivos setores. Elas não são de esquerda, nem de direita. Elas são Leis. Lei não tem lado.
Explicação necessária 1: Desde logo adianto ao caro leitor que o texto não é curto, ele tem três laudas, mas garanto que não será uma leitura tediosa e acredito que ela seja necessária para quem deseja analisar alguns importantes acontecimentos da política brasileira.
As pessoas que acompanham as minhas publicações, conhecem a minha opinião e os meus posicionamentos em relação aos atos e atitudes do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Para aqueles que não acompanharam os textos que escrevi e publiquei em minhas redes sociais, nos últimos quatro anos, farei nos próximos parágrafos um rápido resumo sobre o que disse e o que eu penso sobre ele.
Disse e acredito piamente que Bolsonaro seja um homem deselegante, tosco, mal educado, grosseiro, sem a devida polidez, não talhado para um convívio social. Um verdadeiro boçal. Mas não o incluo na lista dos criminosos, golpistas, antidemocráticos e terroristas, como fazem aqueles que, mais que seus adversários, são inimigos dele e de certa forma, são os verdadeiros golpistas dessa história.
Bolsonaro é despreparado para o exercício do poder, uma vez que não consegue entender nem aceitar o funcionamento dos mecanismos que regem a política. Ele desconhece a lógica do debate, da boa e sadia controvérsia. Ele não consegue entender e se posicionar quanto as ações corrosivas da imprensa canalha, como ela se posiciona e como ela define as “verdades” que ela impõe a sociedade. Ele não sabe como neutralizar ou minorar esses efeitos.
Ninguém acredita que Bolsonaro seja ingênuo ou mesmo burro. Quando se aventa essas possibilidades, as pessoas que o defendem, argumentam que ele, durante 34 anos exerceu mandatos parlamentares e se elegeu presidente da república, logo, alguém que tem esse currículo não pode ser nem ingênuo, nem burro. Eu discordo peremptoriamente disso. Eu o acho ingênuo e burro!
Nos primeiros meses de mandato de Bolsonaro, eu fiquei aguardando algum indício que indicasse o bom rumo que ele pudesse dar para o Brasil. Aguardei ações concretas que ele viesse a realizar no sentido de estabelecer um governo profícuo e saudável, que resultasse no fortalecimento dos princípios conservadores e das posições liberais, que ele defendia e que nós precisávamos que ocorressem, ações que colocassem definitivamente partidos e políticos de esquerda em total descrédito ou em pelo menos duradoura inutilidade, em nosso país.
Passados seis meses, e não vendo nada de concreto, nem mesmo indícios de um bom caminho para a política brasileira, eu entendi que ele não seria capaz de realmente liderar o nosso país nessa jornada, nas ações que pudesse nos garantir o não retorno da esquerda ao poder no Brasil.
Durante o tempo de governo de Bolsonaro, o Brasil obteve vitórias expressivas e importantes no que diz respeito especificamente ao agronegócio, e de modo mais geral e amplo, no que diz respeito a economia, além de ter conseguido realizar algumas pequenas reformas. Nestes casos o mérito de Bolsonaro foi tão somente o de não se meter nas ações desenvolvidas pelo ministro Paulo Guedes e seu grupo.
Um dos maiores erros ou pecados de Bolsonaro foi ter se deixado envolver em narrativas negativas em relação a suas ações pessoais, as quais quase sempre ele tinha culpa, no que dissesse respeito a pandemia de Covid-19, a comportamentos inconvenientes e deselegantes, como acusações de preconceito de diversas formas e tipos, além de sua total incapacidade de se relacionar habilmente com a imprensa.
Bolsonaro foi envolvido num turbilhão de narrativas jornalísticas, capazes de desestabilizar qualquer um, por mais experiente e competente que ele fosse. Mas sendo ele um teimoso irascível e um idiota previsível, que se deixa envolver por familiares e pessoas próximas, de maneiras completamente absurdas e inaceitáveis, alguém que tem tanto poder e que visivelmente não tem capacidade de discernimento, foi fácil que fosse envolvido negativamente pela máquina midiática.
Seus adversários na imprensa e na política sabiam onde apertar para que ele reagisse como eles esperavam que ele fizesse, para em seguida darem outra cutucada nele para que reagisse mais uma vez de maneira absurdamente previsível, para que mais uma vez fizessem algo que o fizesse reagir de modo ainda mais atabalhoado, causando cada vez mais estragos a si e àquilo que ele pretendia realizar.
Algumas vezes pensei em Bolsonaro como uma Penélope sonâmbula e inconsequente. Alguém que tece um manto de dia e pela noite o desfia, fazendo com que todo o trabalho que fizera a luz do sol fosse desperdiçado à luz da lua. A diferença, é que Penélope fazia isso com essa intenção, mas Bolsonaro não tinha noção do que fazia.
Em vários de meus textos comentei que “amigos” meus de direita me acusaram de ser esquerdista e meus “amigos” de esquerda diziam que mais que um liberal de direita, eu era bolsonarista. Uns escrotos.
Uns não aceitavam que as ações e atitudes do tal mito eram completamente desastrosas e os outros não desejavam que eu alertasse seus opositores para o desastre ao qual estavam sendo arrastados.
Eu sempre soube e sempre disse que a eleição teria um resultado contrário a direita, não a Bolsonaro, pois ele nunca foi uma opção real. Ele era apenas a opção possível, que na verdade era impossível.
Não discuto se houve ou não fraude eleitoral, pois não posso, e ninguém pode provar isso sem ter acesso aos documentos necessários para esse fim, mas posso garantir, com base no que vimos acontecer, que houve o uso descarado e criminoso da justiça eleitoral no sentido de beneficiar um candidato em detrimento do outro.
É importante que se ressalte que não interessa se um candidato era um ex-presidiário, descondenado apenas para concorrer nas eleições e o outro era o protótipo de um ditador, esperando a oportunidade para dar um golpe, como dizem os adversários de cada um deles. As narrativas construídas sobre os contendores nunca foram aceitas por mim, pois se as aceitasse, eu seria contaminado em minhas conclusões, nas análises dos fatos.
O resultado eleitoral, para mim pouco importa, até mesmo porque a diferença de dois milhões de votos me diz que a divisão política e eleitoral de nosso país é incontestável e definitiva. Ela não vai mudar.
O problema do Brasil não é quem ganhou a eleição, nem mesmo, por pior que possa parecer, o que vai fazer com o nosso país quem a ganhou, mas sim a insegurança jurídica na qual vivemos, a ditadura judicial na qual nossas instituições estão submetidas. Isso sim é gravíssimo.
A metade dos brasileiros, como pudemos auferir pelo resultado da eleição presidencial, viveu nos últimos quatro anos a ilusão de que um sujeito tosco poderia levá-los a atravessar um mar e a guiá-los por um deserto até uma terra prometida, onde haveria leite e mel para todos. Eu sempre soube que esse tal Messias não era um Moisés!
O que se viu foi uma legião de pessoas, em uma quantidade maior que a da maioria dos países do mundo, que se depara com a volta ao cativeiro no Egito, onde terão que enfrentar seu Ramsés II, o faraó careca, o Deus vivo na terra e toda sua legião de eunucos.
Explicação necessária 2: Para o título desse texto eu me apropriei do título da peça, “Quem Tem Medo de Virginia Woolf?” que na verdade é um trocadilho com o sobrenome da escritora britânica e a palavra inglesa “wolf”, que significa lobo, e a pergunta que perpassa é, na prática, “quem tem medo do lobo mau?” Cada leitor que escolha onde encaixar melhor a metáfora!…
PS: Este texto foi escrito no dia 31 de dezembro de 2022 e revisado no dia 9 de janeiro de 2023, um dia depois dos deploráveis acontecimentos ocorridos em Brasília no domingo, 8 de janeiro. Atos criminosos de vandalismo e depredação do patrimônio público, devem ser repudiados por todos, e estes selaram o destino das manifestações, até então pacíficas que aconteceram durante 70 dias em frente a quarteis do exército, em diversas cidades. Tais atos eliminaram totalmente a legitimidade de qualquer manifestação que este grupo pudesse realizar.
Todo mundo, em algum momento da vida já foi insultado. Comigo não foi diferente. Já me chamaram de gordo, de careca, de feio, de vascaíno, de malufista, de sarneyzista e de direitista, entre outras coisas. Em nenhuma dessas oportunidades eu me ofendi, pois eu era ou fui ou sou tudo isso mesmo. Ninguém pode ou deve se ofender com a verdade. Hoje um grande amigo meu, só para me provocar, me chamou de bolsonarista e com isso eu fiquei muito zangado, pois isso eu nunca fui, não sou, e de forma alguma jamais serei. Sou muita coisa, mas não sou burro!
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Melhor coisa que poderia acontecer para o Brasil seria a prisão de Bolsonaro. Caso ele seja preso, duas coisas maravilhosas iriam acontecer: Ele teria a punição que merece, por nos devolver aos braços de Lula e da esquerda e também ficaria claro que hoje nosso país vive em um regime de exceção.
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Para tudo há um preço, e isso é normal e correto. Anormal e incorreto é você fixar um preço baixo demais para a sua coerência e para o seu caráter. Depois você não poderá reclamar de quem resolver pagar por eles.
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A história está cheia de exemplos de erros graves cometidos por pessoas celebres. Quem não os conhece, acaba por repeti-los! Aqueles que primeiro defenderam o uso da guilhotina durante a Revolução Francesa, mais tarde se tornaram vítimas dela, viu meu camarada!…
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Um amigo meu me mandou uma mensagem fazendo algumas perguntas interessantes. Por que será que nossas mães, quando tentavam nos orientar em relação a alguma coisa errada que fazíamos, sempre diziam: “Te endireita!…” E não, “Te esquerda!…” Por que será que o semáforo vermelho obriga o motorista a parar e o verde permite que ele siga? Por que será que no plano cartesiano, os valores a direita da linha vertical são positivos, e os da esquerda dela, são negativos? Por que em italiano a palavra esquerda é “sinistra”?
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A língua nos oferece o privilégio de dar nome as coisas. Um boi é um boi, um lápis é um lápis, um infame é um infame. Quando se chama um manifestante de golpista e um vândalo de terrorista, do que vamos chamar um juiz parcial e um homem bomba?
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Para investigar, basta que haja dúvida. Para condenar é indispensável que se tenha certeza.
É impossível não comentar os acontecimentos de ontem, em Brasília.
Sobre eles eu me manifestei nesta madrugada, hora em que pude terminar de me informar sobre tudo que aconteceu com mais detalhes.
Em minha postagem disse que “O Estado Democrático de Direito deve ser defendido. Nada justifica o uso da violência e a depredação do patrimônio público. A liberdade não pode ser usada como escudo para o crime. Atos como os que aconteceram ontem em Brasília devem ser repudiados por todos.”
Os manifestantes que estavam acampados durante os últimos 70 dias na frende das unidades do Exército, em diversas cidades, não haviam até ontem, cometido nenhum crime previsto em nenhuma lei vigente em nosso país, mesmo que as narrativas de muitos meios de comunicação e órgãos governamentais e jurídicos afirmassem o contrário. Ontem, no entanto, eles ultrapassaram a barreira da legalidade, cometendo diversas arbitrariedades e crimes, claramente tipificados em nossos códigos legais.
Não interessa que digam que houve agentes infiltrados nas manifestações que cometeram tais crimes, pois se eles não tivessem feito as tais ações, daquela forma, estes “infiltrados”, não poderiam ter se juntado e se misturado a eles, que segundo dizem, pretendiam fazer manifestações pacíficas.
As perguntas que ficam para essa gente são muito simples e diretas: Vocês são burros, idiotas ou apenas completamente despreparados? Vocês não imaginaram que aquilo que aconteceu iria acabar acontecendo, de uma forma ou de outra? Qual vocês acham que é a diferença do que aconteceu ontem, em Brasília, para aquilo que acontece nas invasões de terras e de propriedades, realizadas pelo MST, que vocês enchem a boca para condenar? Vocês acreditam que algum político vai defender aquilo que aconteceu ontem? Vocês não são capazes de entender que Bolsonaro não é líder de nada e de ninguém? Que merda é que vocês têm na cabeça para jogar fora a bela trajetória de 70 dias de manifestações pacíficas, numa ação criminosa como a de ontem?
Nenhuma das respostas que essas pessoas possam dar será capaz de justificar minimamente o que aconteceu no dia 8 de janeiro de 2023 na capital brasileira.
Outras perguntas precisam ser respondidas pelas autoridades do Distrito e do Governo Federal: Como não prever e se precaver quanto aos eventos ocorridos ontem? Os prédios depredados, não possuem seguranças? Por que tudo aconteceu sem que ninguém fizesse nada? Um roteirista de filmes sobre conspiração diria que parecia que o acontecido era na verdade o desejado pelas autoridades. Que o criminoso é também a vítima.
A luta de quase a totalidade daqueles que estavam nos acampamentos em frente aos quartéis, sempre foi inglória, nunca houve, e continua não havendo como mudar o resultado da eleição, sem que se comprove que houve fraude, e para isso é necessário ter acesso aos códigos fontes das urnas, coisa que não iria e não vai acontecer.
O que havia de bom naquelas manifestações eram tão somente elas, as pessoas pacificamente demonstrando sua insatisfação. Quando essas manifestações deixaram de ser pacíficas, elas perderam toda e qualquer justificativa defensável.
Ninguém, em sã consciência pode concordar com vandalismo, com a depredação do patrimônio público, com uma série de crimes cometidos neste dia triste e desastroso, de uma história que mesmo não tendo sucesso, não se realizando da maneira que seus agentes esperavam, era a demonstração dos anseios de uma parte significativa da população brasileira.
Vão para casa, vão.
Mas vão para casa, não por causa do “Perdeu Mané”. Esta frase deve ser encarada por vocês como uma espécie de símbolo, como a prova de que sua luta era justa, mas nem sempre o que é justo é viável.
Vão para casa porque aquilo que vocês tinham a favor de vocês, a legitimidade, não existe mais.
Depois de passar os últimos cinco dias falando de nossas produções audiovisuais, falarei hoje sobre o embrião de todas essas ações, e para isso peço licença a você que me lê agora, para postar o texto no qual o meu mestre, José Louzeiro, comentou sobre uma conversa que tivemos, ele, eu e Ivan Sarney, há quase 40 anos, a respeito da necessidade de criarmos um polo de produção cinematográfica em São Luís do Maranhão.
“Lá pelos idos de 1985 eu estive nesta nossa cidade, em estreito contato com os amigos Ivan Sarney e Joaquim Haickel. Conversávamos sobre muitas coisas e, em especial, sobre cinema.
Joaquim via todos os filmes e falava com entusiasmo daqueles que mais gostava, citava nomes de diretores, muitos deles que eu nem conhecia. Ivan, por sua vez, tinha feito alguns trabalhos na bitola do Super-8 e pelo que depreendi, só não foi em frente, até alcançar o 35 mm, por falta de estímulo, pois produzir um curta que seja é coisa complicada, envolve muita gente, os custos eram elevados.
Minha conversa com esses amigos tinha um objetivo: criarmos em São Luís, onde já havia o Festival Guarnicê de Cine e Vídeo, um Polo de Cinema. Na época havia festivais em Fortaleza, no Rio de Janeiro, em São Paulo, Curitiba e Gramado, no Rio Grande do Sul. Botar as mãos num “Kikito” (troféu gaúcho) era a glória para muitos realizadores.
O polo cinematográfico funcionaria amparado pelas leis de incentivo e São Luís, já conhecida por aqui como terra de escritores, poetas, pintores e intelectuais, se tornaria ainda mais importante com seus cineastas em atividade.
O tempo passou, os festivais entraram em crise, junto com o cinema nacional, mas Joaquim Haickel seguiu cinéfilo e com muita garra para viabilizar suas invenções e vencer desafios.
Nessa época em que estivemos juntos Haickel marcava-se pela inquietação, extrema curiosidade e a mania de tudo querer renovar, virar pelo avesso, na condição de poeta rebelde e contista insatisfeito. Nunca desejou escrever conforme a cartilha oficial, sempre se inclinou pelas técnicas mais ousadas
No conto “Pelo Ouvido, número 12 da coletânea intitulada “A Ponte” (São Paulo, 1991) ele chega ao atrevimento de brincar com a lógica gramatical, debocha de pensamentos tidos e havidos como normais, aprofunda-se nessa coisa humana, porém misteriosa, que é a sensualidade, o desejo de um corpo.
Os anos se passaram, o polo de cinema não aconteceu, Haickel e Ivan transitaram e transitam pelos caminhos da política, sem deixar o que para eles é básico: o amor pela arte de escrever. Com isso Ivan colhe poesia e Haickel inebria-se com a sensualidade.
Seu conto “Pelo Ouvido”, o mais breve da coletânea, é aquele que nos leva ao universo da felicidade plena, essa coisa tão simples da mulher e do homem que têm afinidade e que se amam.
Em “São Luís – Uma Cidade no Tempo” Ivan compôs, através da junção de crônicas, um poema difícil de algum dia ser igualado. Com “A Ponte, o poeta Joaquim Haickel (O Quinto Cavalheiro”) firma-se na literatura como contista de grandes méritos e, agora, pelo que estou informado, como diretor cinematográfico premiado, inclusive no exterior.
Curiosamente, sua obra no cinema tem o mesmo título do conto número 12. E pelo que consta na sinopse do curta, imagino que foi a partir dessa história (década de 90), que saiu o roteiro para a produção que vem fazendo sucesso e mostrando que Haickel é maranhense de múltiplos talentos!
Se o polo de cinema, sobre o qual tanto conversamos, não aconteceu, é para mim, motivo de alegria saber que Haickel, é hoje, além de poeta e ficcionista, um diretor premiado e tem tudo para ir em frente, pois seu curta-metragem, tema desta nossa crônica, funciona como verdadeiro teste para quem ingressa, com a cara e a coragem, no mundo mágico das imagens”.
Este texto foi originalmente publicado na coluna semanal que Louzeiro mantinha no Jornal O Estado do Maranhão.
JOSÉ LOUZEIRO faleceu em 2017. Ele era jornalista, escritor, roteirista e membro da Academia Maranhense de Letras.
Hoje o Polo de Cinema do Maranhão é uma realidade e São Luís tem uma rica e extensa produção audiovisual, graças a ideia cultivada com a ajuda de José Louzeiro, o patrono do cinema maranhense.
Nosso próximo passo é a criação do SIAMA, Sindicato da Industria do Audiovisual do Maranhão.Louzeiro teria ficado muito feliz com essa notícia.