Ontem tive uma discussão feia, que quase descambou para um atrito sério, com duas das pessoas que mais amo. Meu irmão e minha esposa.
Em 2018 cada um de nós pensava em votar em um candidato diferente para presidente da república. Eu iria votar em Alckmin, Jacira votaria em Amoedo e Nagib votaria em Bolsonaro.
À proporção que se aproximava o dia da eleição, fui vendo que o voto útil, aquele que se dá a um candidato que não tem a menor chance de disputar um eventual segundo turno, seria uma temeridade, uma vez que o que eu não desejava mais era ter um presidente de esquerda, alguém que pertencesse a um grupo que jogou nosso país em um abismo de aparelhamento ideológico, corrupção e a beira de uma efetiva guerra de classes.
Tanto eu quanto Jacira acabamos votando em um candidato detergente, desinfetante. Nós não votamos nele acreditando que ele seria um grande estadista. Ninguém em sã consciência fez isso! Quem votou nele com o mínimo de discernimento entre realidade e mito, votou para se ver livre do PT e da gangue que dominou o Brasil durante 16 anos.
Ocorre que ninguém imaginou que o detergente, o desinfetante que escolhemos, tivesse tantos efeitos colaterais, que viesse tão contaminado por outras toxidades que tornasse impraticável o bom e salutar convívio com ele, com suas ideias equivocadas do que é o melhor para o país e seu povo. Não que todas as ideias dele estejam erradas, mas pelo menos a maioria das formas dele as colocar em prática, de se comunicar com a nação e o mundo, estão.
Discordar disso é ser cego e surdo. Quem não consegue ver que o atual governo tem ações extremamente positivas, mas tenta implementá-las de maneira tão desastrosa que as torna completamente ineficazes e completamente atacáveis, destruindo tudo que elas poderiam ter de bom, está completamente fora da realidade.
Quatro anos depois, mesmo desiludido com as ações do presidente, meu irmão ainda prefere votar nele que cogitar a ter novamente no comando de nosso país a gangue de hipócritas, sectários e maniqueístas, corruptos e canalhas ligados a esquerda e ao PT.
Minha esposa não cogita votar novamente em Bolsonaro. Isso está completamente fora de questão para ela. Ocorre que ela não cogita votar também em Lula, por todos os motivos que são do conhecimento geral.
Quanto a mim, que fui político durante mais da metade de minha vida, me encontro sem opção, uma vez que não há em nosso país uma terceira via capaz de acolher pessoas que pensem e se posicionem como eu. Mais que isso! Eu não admito o voto útil. Ele é um dos motivos de termos desastres políticos de proporções megalíticas.
Você sabe por que a democracia americana é tão sólida? Porque lá não há espaço para uma terceira via. A diferença real entre democratas e republicanos é mínima e ocorre em aspectos que dizem respeito apenas a forma de convivência entre as pessoas. Além disso a alternância cíclica e sistemática do poder, faz com que as políticas de um lado e de outro não criem raízes suficientes para aparelhar o estado de maneira definitiva e criminosa, como acontece farta e largamente em países como o Brasil.
Na discussão de ontem, meu irmão não quis entender que se Lula e o PT voltarem ao poder, o maior culpado será unicamente Bolsonaro. Por outro lado, minha esposa disse que prefere ser comandada por um ladrão que por um sujeito completamente insensível às fundamentais necessidades das pessoas.
Quanto a mim!… Fico no meio dessas duas teses absurdas, discordando delas mais que concordando com elas, mas sem uma opção plausível. Talvez a minha seja a pior situação!…