É impossível não falar do assunto do momento. O tapa que Will Smith deu em Chris Rock, durante a cerimônia do Oscar, e as discussões cruciais sobre tal conjuntura, no mundo, hoje. De um lado a liberdade de dizermos ou fazermos o que se quiser, sem limites ou preocupação com quem atingimos e as consequências que tais coisas possam gerar nas pessoas, e de outro lado a reação que essas pessoas possam ter em relação ao que for dito ou feito, a capacidade ou a incapacidade de absorção de tais palavras ou ações e as consequências das consequências que podem transformar tudo isso em um redemoinho infindável de ações e reações, aquilo que é comumente conhecido como intolerância.
Sempre achei que algumas piadas são completamente sem graça e outras além de sem graça, são agressivas e aviltantes. Coisas sem sentido e desnecessárias. As tais brincadeiras de mau gosto.
Da mesma forma que sempre achei que reagir a essas coisas com força, com violência, não é o caminho correto. Sempre achei que esse tipo de reação tira a razão de quem sofreu a injúria, calúnia, difamação ou mesmo o insulto ou a ridicularização.
Essa temperança, esse senso de equilíbrio, é aquilo que há de mais importante na condição humana. O humorista que deve saber o limite da piada e quem se sentiu atingido por ela, que deve saber o limite da reação.
Nem Chris Rock deveria ter cometido tal grosseria, nem Will Smith poderia ter cometido tal violência. Todos dois estavam passando dos limites. A coisa mais comum no mundo de hoje quando os meios de comunicação nos permitem dizer e fazer coisas que até Deus duvida.
O que se tem visto, diariamente, em todo lugar do mundo, é a exacerbação desses DIREITOS. E isso é inadmissível.
Eu uso recorrentemente três ditados populares que bem representam essa situação: “Quem diz o que quer, ouve o que não quer”, “Eu perco o amigo, mas não perco a piada”, e “Quem não aguenta com o pote que não pegue na rodilha”. A sábia distribuição das ideias contidas nessas palavras, adubadas com temperança e tolerância, é a base de uma boa convivência.
Não quero que a liberdade de dizer e fazer seja ferida de qualquer forma, nem que o direito de reagir ou de agir possa ser restringido, tirando do indivíduo a sua soberana responsabilidade sobre seus atos, só quero que isso seja feito com consciência.
No final, chego à conclusão que o erro de Rock levou ao erro de Smith, e que em um caso onde todos estão errados, além de ninguém estar certo, nada tem a ser feito, a não ser se parar e repensar como se deve agir.