Assisti ao filme “Belfast” e acredito que ele seja, sem sombra de dúvida, o segundo colocado na preferência de quem aprecia cinema, quanto à disputa do Oscar de 2022.
Sendo “Ataque de cães”, o franco favorito, a disputa pelo segundo lugar é quase um outro primeiro prêmio.
“Belfast” lembra muito um outro filme, “Roma”. Não que o primeiro tenha sido feito baseado no segundo, mas é uma reminiscência de uma mesma época, final dos anos 1960, começo dos 70. Os dois falam de vidas de famílias comuns, no México e na Irlanda do Norte e retratam a vida dos dois roteiristas-diretores das obras.
Kennet Branagh nasceu, como eu, em um mês de dezembro, é portanto, como eu, sagitariano. Quando ele nasceu, nevava em Belfast. Quando eu nasci, um ano antes dele, em São Luís do Maranhão, fazia muito calor e chovia.
A minha infância foi como a de todas as crianças de minha cidade, a de Buddy, personagem do filme, era normal para os iguais a ele. A diferença é que eu, católico, estudei em um colégio Batista, e isso, naquele tempo em nosso país, não era e não é, graças a Deus, nenhum problema, mas Buddy, protestante, vivia no fogo cruzado entre protestantes e católicos, num tempo e num lugar onde isso era normal.
“Belfast” não vai ganhar o Oscar de melhor filme, como “Roma“ ganhou de melhor filme estrangeiro, mas é um belo filme e precisa ser visto, por pessoas de minha idade, que vão se identificar com ele, e por pessoas mais jovens, para que saibam como era a vida naquela época.
Por fim, cheguei a uma triste conclusão. Ao contrário do que aconteceu nos casos de “Roma”, de Alfonso Cuarón, e de “Belfast”, de Kennet Branagh, uma história que eu escrevesse e filmasse, quem sabe com o nome de meu bairro, “Outeiro da Cruz”, ou de minha cidade, “São Luís”, raramente teria tanto sucesso, pois a minha, a nossa vida, não teve e não tem conflito suficiente para produzir-se um filme de sucesso, mas pelo menos deu pra aprender um pouquinho sobre cinema.