Última edição

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Não me lembro exatamente quando comecei a publicar meus textos no Jornal O Estado do Maranhão. Sei que foi em meados da década de 1980, depois que a nossa revista deixou de circular encartada nele. Acredito que tenha sido em 1986, o que faz com que esteja completando agora, em 2021, 35 anos de colaboração com esse importante veículo de informação e cultura.

Digo isso com grande pesar pelo fato dele a partir de hoje fechar suas portas, desligar suas impressoras e deixar de circular, abrindo uma lacuna intransponível em nossa sociedade.

Em defesa do JEM, poderia dizer que este é um sinal dos tempos, que o avanço tecnológico no setor da comunicação e do jornalismo, nos impõe condições praticamente impossíveis de serem suplantadas. Poderia dizer que já há muito tempo ele, assim como quase todos os jornais, revistas e a imprensa de modo geral é deficitária. Que as empresas que continuam imprimindo seus periódicos, o fazem de forma titânica, lutando contra as maiores concorrências que essa indústria já enfrentou, a avassaladora tecnologia derivada da maciça informatização do mundo contemporâneo.

Imagine se alguém tivesse contado para Gutemberg que sua máquina, a impressora de tipos móveis, invenção que havia sido até muito pouco tempo a maior responsável pelas transformações do mundo, através da informação e do conhecimento que disseminava, algo capaz de igualar pessoas desiguais, instrumento de equidade e arma para se lutar por melhores oportunidades, seria superada em apenas meia dúzia de séculos, por uma maquininha que cabe na palma de uma mão!?…

Nem mesmo o visionário William Randolph Hearst, imortalizado por Orson Wells em “Cidadão Kane” imaginaria que seu império jornalístico, um dia iria enfrentar tamanha adversidade. Que seus jornalistas, mandados para os fronts das guerras não mais precisariam se deslocar para lá, pois correspondentes com um celular seriam capazes de fazer mais e melhor que eles e numa ínfima fração de tempo, a um custo centenas de vezes menor!?

Antes do JEM, jornais muito maiores, pertencentes a conglomerados muito mais ricos e poderosos, situados nos maiores centros financeiros da Terra, fecharam suas portas. Segundo o Google, instrumento de pesquisa mais acessado do mundo, nos Estados Unidos, entre 2004 e 2018, mais de 1.800 jornais deixaram de existir.

O mesmo Google informa que no Brasil muitos grandes jornais deixaram de circular, entre eles o mais destacado e tradicional foi o Jornal do Brasil. Além dele, A Gazeta Mercantil, O Jornal da Tarde, O Estado do Paraná, o Diário do Povo, O Diário do Comércio, O Sul, e o Brasil Econômico, sem contar os milhares de jornais das pequenas cidades do país.

No Maranhão, muitos periódicos também deixaram de circular, como é o caso do Jornal de Hoje, e outros permanecem sustentando o nome apenas para justificar o trabalho de seu proprietário, que normalmente o opera sozinho e nem chega a imprimir uma tiragem justificável.

Conheço a dor que se sente ao fechar um empreendimento como este. Eu editei durante três anos uma revista que começou semanal, passou para mensal e no fim se transformou em devezenquandal, até desaparecer completamente para se fixar apenas em nossas memórias. A Revista Guarnicê.

A Gráfica Escolar, proprietária do Jornal O Estado do Maranhão tentou durante muito tempo mante-lo ativo, mas um negócio não pode ser tocado apenas com vontade e garra. Ele precisa se manter econômica e financeiramente, coisa que há muito tempo não acontecia, fazendo com que outras empresas do grupo, suprissem seus déficits, o que inviabilizou a continuidade da operação.

O Jornal O Estado do Maranhão chega à sua última edição impressa, mas todos nós sabemos da importância que ele teve no jornalismo maranhense, principalmente como tela de difusão da arte produzida por nossa gente e como caixa de ressonância da cultura de nosso estado.

Minhas últimas palavras, impressas em suas páginas, são de agradecimento a todos aqueles profissionais, das mais diversas funções, que durante todos esses anos trabalharam para fazer com que esse jornal existisse.

Muito obrigado!

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Atos de Scrooge, palavras de Jesus

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Revisava o argumento de um curta-metragem ficcional cujo enredo retrata um personagem bastante comum na vida de quase todas as pessoas, o desafeto, o adversário, o inimigo, o vilão, alguém que cujo todos os predicados são seus defeitos, pois eles são as únicas coisas relevantes em sua personalidade.

Já havia relacionado um predicado infame com cada letra do alfabeto, para adjetivar o indigitado: Argamandel, bilontra, canalha, desonesto, escroque, frasqueiro, ganancioso, hipócrita, ignóbil, joldreiro, larápio, mesquinho, nécio, ordinário, patife, quezilento, ribaldo, soez, torpe, usurpador, velhaco, xexelento e zangado.

Estava escolhendo alguns icônicos personagens da literatura nos quais pudesse basear a pesquisa para o desenvolvimento do tal personagem, quando meu telefone tocou.

Um senhor dizia ao telefone que leria para mim um versículo da Bíblia, e antes que eu dissesse que não poderia atende-lo, ele foi logo falando: “Atos dos Apóstolos, 17:11. Os bereanos eram mais nobres do que os tessalonicenses, pois receberam a mensagem com grande interesse, examinando todos os dias as Escrituras, para ver se tudo era assim mesmo.”

Ao final ele me explicou do que se travava o tal versículo. Disse que aquela passagem servia para alertar os fiéis de que todos os ensinamentos e orientações, que precisassem de Deus, poderiam ser encontradas na Bíblia, que o livro sagrado é o manual para o bem viver das pessoas.

Eu que estava pesquisando sobre vilões, seres abjetos, personagens repugnantes, já havia relacionado Iago, de Otelo; Javert, de Os miseráveis; o porco Napoleão, de A Revolução dos bichos; Fernand Mondego, de O conde de Monte Cristo; Fiquei imaginando quantos daqueles tipos haviam na Bíblia!

Foi aí que me lembrei que no ano passado, motivado pela desagradável convivência com uma figura com todos estes predicados, eu havia escrito um artigo comparando-o a Ebenezer Scrooge, imortalizado por Charles Dickens em Um conto de natal. Um personagem repugnantemente, avarento, autoritário, irascível, hipócrita, alguém a quem nem mesmo os três fantasmas da história, conseguiriam redimir.

Nessa hora entendi que se eu desejava realizar um projeto cinematográfico relevante, de sucesso, algo pra ganhar prêmio, deveria retratar o personagem central da obra como alguém que gosta de ser um biltre, que não tem amigos verdadeiros, que não valoriza nem a família, alguém como Scrooge, um ser vil, patife, torpe, como aquele nosso “conterrâneo”, cuja história certamente terá um desfecho triste como sua própria vida, fim comum a esse tipo de personagem, que só atinge a redenção por benevolência, pelo perdão de alguma alma caridosa.

Como já havia acontecido antes, quando o tal senhor ligou para ler pra mim um trecho da Bíblia, meu trabalho foi interrompido novamente quando meu netinho, o Theo, empunhando um brinquedo, entrou na sala onde eu estava. Era um boneco do Coringa, arqui-inimigo do Batman. Ele olhou para mim, fez uma cara engraçada, arregalou os olhos e dando um sorriso rasgado, como o do Coringa, se jogou sobre mim e brincamos por algum tempo.

Quando ele saiu, chispando como entrou, me dei conta que fui eu quem deu a ele o tal boneco. Lembrei inclusive do discurso que fiz ao explicar-lhe quem era o Coringa, o que era um vilão, e a relação entre heróis e vilões. Tudo bem que ele é uma criança, mas já tem bastante noção do que é certo e o que é errado.

Depois de lembrar do que eu ensinei para o meu netinho sobre o Coringa, vi que eu estava errado em não relevar as vilanias do “nosso” Ebenezer Scrooge. Lembrei também do senhor que me orientou a procurar as respostas dos problemas na Bíblia, o que me remeteu imediatamente a Lucas, 6:29, que diz literalmente: “Ao que te ferir numa face, oferece-lhe também a outra…” Foi então que resolvi escrever esse texto para dizer ao tal desafeto que o perdoo, até porque nem ele, nem ninguém, nem nada, vale o pesar.

Nessa hora, as palavras de dois de meus heróis, Pessoa e Quintana, me vieram a mente: “Tudo vale a pena, quando a alma não é pequena”, “Eles passarão, eu passarinho.”

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Baca torta

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Enquanto ocupei o cargo de secretário de comunicação de São Luís, me abstive de fazer uma das coisas que mais gosto, que é analisar os cenários políticos e comentar sobre aquilo que acredito possa vir a acontecer em cada uma das possibilidades que neles se apresentem.

Se fizesse de forma diferente, poderia parecer para alguns, que eu estaria na verdade expondo propositalmente o pensamento do prefeito Eduardo Braide, o que eu até poderia fazer se esse fosse o estilo dele, coisa que não o é. Para outros poderia parecer que eu estaria vazando informações sigilosas do prefeito, coisa que eu jamais faria, até porque uma das coisas mais difíceis no atual cenário político maranhense é ler com clareza e exatidão o que Eduardo pensa, devido ao fato dele ser extremamente discreto e contido no que diz respeito às suas estratégias e posições políticas.

O melhor que tinha a fazer era me manifestar o menos que pudesse, e foi o que eu fiz.

Hoje, já não mais na SECOM, ninguém poderá dizer que eu estou falando pelo prefeito ou deixando escapar alguma informação sigilosa vinda dele.

Dito isso, vamos direto ao assunto. Gosto de analisar cenários políticos e imaginar como eles podem ficar. Faço isso instintivamente, e como todo instinto, é difícil de ser domado.

Na tentativa de definir o que está acontecendo na política maranhense neste momento, esculpi uma frase que até parece sinopse de filme de Christopher Nolan, “À proporção que o tempo passa, o espaço se afunila”. Se bem que prefiro frases mais para títulos de filmes de Frank Capra: “Do mundo nada se leva” ou “A felicidade não se compra”.

Tudo isso parece muito óbvio, porém, os possíveis cenários políticos do Maranhão são tudo, menos óbvios. Vejam só: A distância temporal do pleito é um fator preponderante. Muito pode acontecer em um ano; As indefinições partidárias pesam no contexto, inclusive quanto a volta das coligações; A conjuntura nacional implicará decisivamente no resultado das eleições estaduais, e no Maranhão isso será ainda mais decisivo, tendo em vista a rusga pessoal entre o governador e o presidente; A grande quantidade de candidatos, inicialmente postos nas pesquisas, dificulta o claro entendimento da realidade política maranhense; A demora do governador na definição de quem será o candidato de seu grupo político, trava o tatame de combate interno do grupo palaciano e nos deixa sem perspectivas claras; As definições antecipadas de apoio a esse ou a aquele candidato, engessa a disputa e faz com que os indecisos busquem grupos onde possam ter mais visibilidade e prestígio…

Além disso, a falta de informações mais precisas e mais confiáveis, sobre como pensam e como poderão agir em cada situação possível, personagens importantes dessa ópera, como Roseana Sarney, Roberto Rocha e Josimar de Maranhãozinho, aumenta a dificuldade de leitura do contexto. Inclusive o fato de não se saber como se posicionará o prefeito Eduardo Braide, é um agravante nisso tudo.

Por falar nesses quatro destacados personagens da política maranhense, um importante analista amigo meu colocou uma pulga, grande e ruidosa, atrás de minha orelha. Garantiu a mim que há uma imensa possibilidade dos três primeiros nomes citados no parágrafo anterior, se juntarem para apoiar Edvaldo Holanda Junior, fazendo com que o ex-prefeito de São Luís, que é reconhecidamente uma boa pessoa, possa se viabilizar e garantir uma vaga no segundo turno das eleições de governador do ano que vem. Candidatura que se realmente chegar ao segundo turno, teria o decisivo apoio também do quarto nome citado, até por instinto de sobrevivência.

Nada disso é certo, mas se acontecer desta forma, a disputa pelo governo do Maranhão, deverá ser realmente entre Edvaldo e Brandão ou Weverton.

Como dizia o velho Lister Caldas: “Quem viver, verá”.

PS: Passei algum tempo sem escrever sobre política, mas pelo visto é realmente verdade que o hábito do cachimbo deixa a boca torta!…

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De volta pra casa

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Nestes nove meses em que eu tive a honra de ocupar o prestigioso cargo de Secretário de Comunicação do Município de São Luís, a convite do prefeito Eduardo Braide, busquei realizar um trabalho discreto na forma, porém agudo no conteúdo,  na missão de mostrar para as pessoas tudo aquilo que a gestão municipal realiza em prol de nossa cidade.

Eu, que havia dito que depois de passar 40 anos na política, não mais aceitaria ocupar cargo público, fosse ele eletivo ou comissionado, me dispus a aceitar tal convite, de certa forma até por vaidade, pela oportunidade de fazer parte de um momento raro na história política do nosso estado: O nascimento formal de uma nova e profícua liderança, de um novo grupo, formado por pessoas do mais alto nível, todas imbuídas nos mais elevados sentimentos de dedicação e amor pela cidade de São Luís e de fé nas palavras daquele que foi eleito para ser seu prefeito, com a missão de tornar nossa cidade melhor em todos os sentidos possíveis.

O slogan que forjamos para a administração: “Prefeitura de São Luís, por uma cidade melhor”, diz literalmente o que se pretende.

Nesses nove meses, pude contar na SECOM, com uma equipe pequena, mas aguerrida, completamente comprometida com a realização de um trabalho que tem por finalidade mostrar de forma clara e direta, todas as ações do prefeito e de seus colaboradores, tanto pelo viés jornalístico quanto pelo viés midiático.

Na SECOM, tive a oportunidade de contar com uma maravilhosa equipe, da qual ressalto Igor Almeida, a quem só conhecia de nome, mas de quem fiquei amigo, Alessandro Sousa, que já conhecia, mas não havia trabalhado com ele anteriormente, caso idêntico ao de Maud Zaidan, apenas para citar três.

O trabalho na comunicação é exaustivo e requer dedicação total e exclusiva, por esse motivo, e por acreditar que eu já tenha realizado o trabalho de implantar os métodos necessários para a realização desta importante missão, que na última sexta-feira, dia 30 de setembro, pedi ao meu particular amigo Eduardo Braide que me liberasse do compromisso de continuar exercendo o cargo de seu secretário de comunicação.

Nesses nove meses, tempo de uma gestação humana, fui muito feliz convivendo com as pessoas que formam o corpo diretivo de nossa cidade, pessoas escolhidas por Eduardo com extrema sabedoria, grupo composto de pessoas experientes e respeitadas em suas áreas de atuação e por jovens, que mesmo sem muita vivência na administração pública, compensam isso com sua imensa capacidade técnica.

Disse ao prefeito que não mais fazendo parte do corpo administrativo da Prefeitura, poderei ajudar de outras formas. Se por um lado propalando e defendendo as ações da municipalidade, por outro, criticando construtivamente naquilo que possa ajudar as ações da gestão, colocando luz onde possa ser difícil para um membro interno do grupo fazê-lo.

Tenho afirmado por onde passo que tanto o prefeito Braide quanto o grupo em seu entorno é composto de pessoas dedicadas, bem-intencionadas e imbuídas na missão de realizar um excelente trabalho, preocupados em dar solução para todos os imensos e complexos problemas que dizem respeito ao dia a dia de nossa cidade, e disso dou sempre provas apresentando os fatos.

Disse ao prefeito que tenho muita fé de que ele continuará incansável, dando o melhor de si no sentido de realizar um grande trabalho, dirigindo os destinos de nossa cidade e da gente que nela vive, e que espero que em breve ele alargue as fronteiras deste trabalho para todo o Maranhão.

Por fim desejei a ele, a toda sua família, esposa, filhos, pai e irmãos tudo de melhor que há nessa vida, e estendi esses votos aos meus amigos, seus colaboradores na administração municipal, especialmente aos membros da SECOM, a quem agradeço de público o incondicional apoio que recebi nesses nove meses.

Para quem sabe usar, o poder é algo espetacular. Ser capaz de abrir mão dele, com serenidade e tranquilidade, é algo maravilhoso, uma sensação única que você só é capaz de experimentar quando já o teve por tempo suficiente para se desapegar dele.

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