Sir Arthur Conan Doyle, colocou na boca de seu mais célebre personagem, Sherlock Holmes, algumas das frases mais memoráveis da literatura, sendo estas verdadeiras pérolas da semântica pragmática dedutiva, uma vez que Holmes é um magnífico investigador, do tempo em que a maior arma desse tipo de profissional era seu cérebro, sempre no controle e no comando de seus seis ou sete sentidos.
“Uma vez que tenhamos eliminado aquilo que é completamente impossível, o que restar depois disso, não importa o quanto seja improvável e absurdo, deverá ser a verdade”. Esta frase sempre me impressionou, por sua clareza e simplicidade e por demonstrar a extrema necessidade da minuciosa e detalhada observação dos fatos e dos cenários, em qualquer aspecto ou âmbito da vida, não apenas num caso de investigação criminal.
Frases como “Todos os problemas se tornam infantis depois de explicados” chegam a ser desconcertantes por sua obviedade. Essa frase por exemplo é uma releitura do evento conhecido como ovo de Colombo, onde o grande navegador genovês foi desafiado a colocar um ovo em pé, perfeitamente equilibrado, sem oscilar, e ele o fez, quebrando levemente a pontinha do ovo, no seu lado mais abaulado.
Frases como “os pequenos detalhes são sempre os mais importantes” e “você vê, mas não enxerga”, chegaram até mim muito antes de eu ter assistido às dezenas de filmes de SH, o mestre das deduções. É que meu pai, que não era um homem de grandes estudos, costumava repetir frases como “de grão em grão, a galinha enche o papo ”ou “de grão em grão se chega ao milhão”; “quem vê e não é capaz de entender, não consegue aprender” ou “quem não sabe é como quem não vê”.
Hoje consigo entender o motivo de meu velho e sábio pai, que morreu de insuficiência cardíaca antes de completar 60 anos, dizer com orgulho que ele não havia estudado, mas que era formado pela universidade da vida.
Nessa perspectiva, Nagib Haickel, guardadas as devidas proporções e em CNTP, se é que posso alegar tal coisa, acaba sendo igual ou mesmo maior que o grande escritor escocês, pai de Holmes e Watson.
Pensando bem, Doyle nem seria ele mesmo um grande detetive! A propósito disso, há algum tempo pensei em escrever um roteiro de um filme em estilo fantástico, onde se reuniam alguns dos maiores escritores de histórias policiais, na tentativa de desvendar uma intrincada trama dos assassinatos de seus personagens que seriam eliminados sistematicamente por inimigos que não eram os seus antagonistas convencionais. Tanto que os próprios antagonistas estariam empenhados em impedir tais assassinatos, uma vez que eles acontecendo, os próprios antagonistas, também iriam desaparecer automaticamente!
Juntei Doyle, Christie, Chandler, Flaming, Simeon, e até meu amigo Pratinha numa força tarefa que tentaria impedir a eliminação de seus alter egos, Holmes, Poirot, Marple, Marlowe, Bond, Maigret e Fioravanti. É claro que no final eles iriam impedir que os satânicos Stan Lee, Jack Kirby, Jerry Siegel e Joe Shuster, eliminassem a concorrência das franquias de super heróis da Marvel e da DC Comics.
Vejam bem! Comecei falando de Doyle e Sherlock, passei pela lembrança de meu pai, juntei um sonho de ser famoso em Hollywood, escrevendo, dirigindo e produzindo um mega sucesso do cinema, para acabar aqui, numa manhã qualquer, escrevendo meu texto para mais um fim de semana em minha coluna de jornal e blog.
Me realizo pessoalmente com tudo isso, e como sublimador inveterado, me realizo, ainda mais contando pra vocês sobre os sentimentos que habitam meu pulsante coração, e as ideias que fervilham em minha vibrante mente.
Na verdade, comecei a escrever esse texto às cinco horas da manhã de uma sexta-feira, com um travo na boca e um nó na garganta, causado pela tristeza com uma pessoa a quem dedicava simpatia e amizade, mas que havia me magoado por um motivo fútil e torpe. Ao final deste texto, resolvi perdoar tal pessoa e esquecer. A literatura, o cinema e o sonho curam doenças sociais e psicológicas.