Muitos estudiosos do comportamento humano, entre antropólogos, sociólogos, filósofos e psicólogos estudam e analisam a relação entre pais e filhos há muito tempo, tendo descoberto e estabelecido padrões desses relacionamentos. Recentemente li um material muito interessante sobre isso, inclusive mostrando o exemplo icônico do gigante da indústria americana e mundial, Henry Ford, e de seus filhos e netos.
Sobre essa tentativa de superar os feitos de seus pais, posso dizer que superei meu pai em mais um item da vida. Vivi o suficiente para completar 60 anos, coisa que ele não conseguiu, pois morreu três meses antes de alcançar tal façanha.
Eu já o havia superado algumas vezes antes, quando me formei advogado, quando ingressei na Academia Maranhense de Letras e no Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, coisas que só o fiz por ele ter me dado as ideais condições para fazê-lo.
Do mesmo modo, graças a ele, fiquei a seu nível, no que diz respeito a termos sido deputado estadual e federal, mas jamais o superei naquilo que era o mais importante, quanto ao amor, ao carinho, ao respeito e a devoção que seus eleitores tinham para com ele. Quanto a isso fico conformado e orgulhoso, pois sei que ele tinha qualidades que nem eu, nem nenhum político, de seu tempo ou de hoje em dia, tinha ou têm.
É que ele compreendia verdadeiramente o seu povo, ele era realmente um deles, estava perfeitamente afinado e alinhado com seus anseios, pensamentos e necessidades. Eu não! Eu era apenas o representante daquelas pessoas, alguém que procurava realmente entendê-las para bem representá-las.
Meu pai não tinha propriamente o que se poderia chamar de ideologia. Não uma estabelecida por um filósofo ou uma corrente de pensamento alicerçada na teoria de algum deles. Ele tinha uma ideologia própria, desenvolvida, criada e estabelecida por ele mesmo, e nisso eu jamais o superarei. Ele dizia que não importava quem estivesse no governo, ele estaria atrelado sempre a ele, pois só assim poderia levar a seus amigos e eleitores os benefícios que apenas os governos podem, como acesso à educação, saúde, segurança, infraestrutura…
Como eu, um filhote dos anos 60, criado em uma sociedade manipulada pela mídia, com as mais avançadas técnicas de patrulhamento ideológico gramscista, iria transpor tais barreiras!? Impossível!…
Posso ter superado meu pai por ter tido um melhor resultado econômico e financeiro que ele, graças ao alicerce que ele mesmo deu a mim e a meu irmão, seu verdadeiro herdeiro no que diz respeito ao empreendimento braçal do comércio, mas jamais o superarei no que diz respeito à realização de um trabalho corajoso, inovador, inventivo, revolucionário e único, pois meu pai era um trabalhador incansável, um gigante da atividade comercial maranhense de seu tempo, que aprendeu com os melhores dessa atividade, gigantes como Wadi e Eduardo Aboud.
Na política, ele foi um autodidata que graças a sua incrível inteligência soube observar e juntar-se a gente como Clodomir Millet e Nunes Freire, para deles apreender suas maiores qualidades: correção, dedicação e lealdade.
Se superei meu pai em tempo de vida, acredito que jamais superarei minha mãe neste quesito. Ela já passou dos 90 anos, marca que não tenho a pretensão de igualar, pois imagino que não estarei nas mesmas boas condições físicas e espirituais que ela, quando eu começar a me aproximar dos 25.000 dias de uso desta carcaça aqui.
A respeito de minhas superações em relação a minha mãe, elas são prosaicas, todas meramente circunstanciais, resultado de coisas que eu realizei e que a ela não foi permitido ou possível. Se fosse, não a superaria.
Mas há um item no qual ela é realmente insuperável: Fé. Talvez seja por causa da fé que ela tenha na existência de um Deus que eu ainda insista em ser apenas agnóstico e não ateu. É pela inabalável certeza dela que permaneço com a minha sagrada dúvida.
Há, no entanto, itens comuns nas vidas de meu pai e de minha mãe que jamais superarei. Jamais conseguirei ter a sua extrema disponibilidade para com as pessoas, mesmo que me esforce muito, como o faço. Jamais conseguirei me doar, nem ser tão generoso como eles o foram e o são.
Completar 60 anos é um marco em minha vida. Se por um lado saio das filas das pessoas comuns, por outro vejo que as novas filas para as quais eu entro estão cheias de gente, e que eu preciso me adaptar.
Olho para trás e vejo um caminho mais longo que aquele que tenho pela frente, mas não acho isso ruim. Só espero que minha memória permaneça intacta para que jamais esqueça, enquanto vivo for, das coisas boas que vivi, dos bons lugares onde estive, das boas pessoas que conheci e das boas emoções que senti.