Moura e Tarantino. Carlos e Charles.

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Passado algum tempo e já tendo se dissipado o calor em torno do assunto, resolvi entrar na polêmica do filme “Marighella”, dirigido por Wagner Moura, a quem reputo um de nossos mais completos atores.

O fato de discordar ideologicamente de Moura e muito mais ainda do guerrilheiro Carlos Marighella, retratado por ele em seu filme, em nada invalida o talento do ator-diretor nem a qualidade artística de sua obra.

Acho importante que todos possam assistir a este filme, até porque o obscurantismo nunca ajudou ninguém em nenhuma época e nem em qualquer situação. Vejam o que aconteceu com o fechamento da União Soviética para o mundo! Essa tática é a dos comunistas, não a dos liberais.

Isso não quer dizer que iremos aceitar a verdade deles só porque eles são quem o são.

Na verdade, o grande ator Wagner Moura tem agido de forma asquerosa, maculando a imagem de nosso país, na tentativa de atingir objetivos políticos, ideológicos e partidários, o que é deplorável.

O filme de Wagner Moura sobre Marighella é na verdade uma obra de propaganda ideológica e, como tal, traz em si uma série de erros grosseiros e propositais, tanto de contexto quanto de historicidade, como o fato de um ator negro, Seu Jorge, encarnar um personagem que no máximo poderia se dizer moreno. Marighella era filho de pai italiano e mãe mulata!

Resumindo a opereta: sou contra a tentativa de restringirem e boicotarem o lançamento e a exibição do filme “Marighella”. Penso que todos devam ter o direito de assistir a todos os filmes que porventura sejam produzidos. No entanto, é importante que fique muito claro que existem filmes históricos que são feitos seguindo critérios respeitáveis e confiáveis, outros que são feitos como alegorias de algum fato ou personagem histórico, onde o autor insere alguns detalhes e ingredientes ficcionais para melhor construir a dramaticidade da obra, e outros que são meramente filmes de propaganda ideológica, de doutrinação e aparelhamento social, como é o caso deste.

Enquanto escrevia este texto, recebi de um amigo uma montagem onde aparecem, lado a lado, o guerrilheiro Marighella e o quadrilheiro Marcola. Percebe-se bem a semelhança física entre eles. Seus modus operandi são bem semelhantes e conhecidos, pois os quadrilheiros aprenderam com os guerrilheiros todas as suas táticas.

Por outro lado, assisti recentemente ao mais novo filme de Quentin Tarantino, “Era uma vez em Hollywood”, onde o diretor se baseia em um fato real, para contar uma história ficcional, que na verdade é o retrato da realidade sobre um aspecto da indústria cinematográfica americana.

Tarantino cria dois personagens ficcionais encarnados por dois atores ícones de nosso tempo, Leonardo Di Caprio e Brad Pitt, para contar uma história, velha conhecida nossa: a montanha-russa que é a vida dos astros de cinema. Nessa aventura, ele conta alguns fatos da história de astros do cinema, que aparecem de soslaio, como Steve McQueen, Roman Polanski e Sharon Tate.

Incrivelmente, a criação alucinada desse controverso diretor distorce propositalmente a realidade e impede que a “família” de Charles Manson, mate Sharon e seus amigos, em uma noite sombria, de loucura, violência desmedida e magia negra.

Ao fazer isso, descaradamente, Tarantino é honesto, pois claramente nos oferece um filme de ficção sobre uma realidade conhecida, enquanto Moura, em seu “Marighella”, pretensiosamente construído na intenção de nos apresentar sua versão sobre esse personagem como sendo a verdadeira, tenta estabelecer com este filme uma verdade histórica que passe a ser aceita por todos.

Enquanto o diretor americano usa da ficção para ressaltar a verdade sombria do fato na cabeça das pessoas, o diretor brasileiro usa sua concepção ideológica para impingir ao espectador a verdade que ele deseja estabelecer.

É bem aí que consiste a diferença básica entre o sucesso do bom (mas intrincado, para quem não conhece a história) filme de Tarantino e o fracasso da tentativa panfletária de Moura ao contar a sua versão da história de Marighella.

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Sobre política e políticos

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Estou ficando cansado!… Cansado de ver, de ouvir e de saber de tanta idiotice e barbaridade cometidas em nome do direito e da democracia, quando na verdade esses atos torpes são perpetrados simplesmente em nome de uma “política” que na verdade deveria ser chamada de politicalha, que serve tão somente para levar uma pessoa, e o grupo em que ela se apoia, ao poder.

O caso envolvendo os moradores do Cajueiro demonstrou isso de forma repugnante! Quem antes, na oposição, defendia panfletariamente os moradores e ocupantes daquela área, hoje, no governo, defende o direito de propriedade da empresa que ali irá construir um porto! Quem antes, no governo, defendia os interesses da empresa proprietária, hoje defende os ocupantes das terras! Todos uns canalhas!…

A palavra política, “politiké” em grego, abrange tudo o que é relacionado a grupos específicos que integram a pólis, a Cidade-Estado, que no apogeu da civilização grega clássica, era o que hoje se entende comumente como nação, como país.
Um político, “politikós” na língua de meus amados tios Samuel e Giovane, deveria ser algo maior que isso que temos hoje. Deveria ser na prática o que prevê o sentido grego de sua concepção: “Cidadão hábil na administração de negócios públicos”. E esta habilidade não deve ser entendida como a artimanha capaz de simplesmente levar o tal cidadão ao poder, mas antes de qualquer coisa, precisa ser a capacidade desse cidadão saber o que deve ser feito para proporcionar segurança, crescimento, emancipação e progresso para as pessoas e para o Estado, como fizeram grandes homens a exemplo de Clístenes, Temístocles e Péricles.

O termo política é derivado do grego antigo, politeía, que indicava todos os procedimentos relativos à pólis, que por extensão poderíamos entender como comunidade, coletividade ou sociedade.
Politeía é, curiosamente, o título original do livro A República do grande filósofo grego Platão, do qual só tivemos conhecimento graças à luz que seu discípulo, Sócrates, aquele filósofo humilde que reconhecia que pouco ou nada sabia, colocou sobre suas ideias. Já Aristóteles, o mais importante dos alunos de Sócrates, acabaria por gravar em pele de carneiro e pedra, a frase que estabeleceria o nosso entendimento comum e banal sobre políticos: “O homem é, naturalmente, um animal político”.

Ao dizer isso, Aristóteles estabeleceu duas verdades soberanas em nossos dias: Todo homem QUER SER POLÍTICO e todo homem É ANIMAL, infelizmente em suas concepções menos sofisticadas.

Nos dias de hoje e no sentido comum, vago e às vezes um tanto impreciso, política, como substantivo ou adjetivo, compreende a arte de guiar ou influenciar o modo de governar e organizar um grupo ideológico ou partido político, pela influência da população, normalmente através de eleições.

Na conceituação erudita, lato sensu, política, segundo Hobbes, é a utilização dos meios adequados à obtenção de qualquer vantagem, ou “o conjunto de meios que permitem alcançar os efeitos desejados”. Já para Russell, política é “a arte de conquistar, manter e exercer o poder”, tese que se baseia na noção dada, mas jamais dita explicitamente, por Maquiavel, em O Príncipe.

Numa conceituação moderna, política é a ciência moral, normativa do governo e da sociedade.

Depois de queimar as pestanas estudando, tenho que me contentar com a realidade que esfrega em minha cara que a política, como forma de atividade ou de práxis humana, está estreitamente ligada ao poder. E que o poder político é, em primeira e em última análise, o poder de um homem sobre outro homem, ou pior que isso, de um homem à frente de um grupo ideológico, sobre todos os homens de uma nação, de um país, de um Estado.

Estou cansado! Principalmente por intuir que é muito difícil que se mude a realidade em que vivemos, pois aqueles que exercem a política hoje em dia, além de não saberem nada disso, não estão nem um pouco interessados em saber como transformar os enunciados do que é política e do que são os políticos, em algo bom para a sociedade, pois eles visam somente chegar e se manterem no poder. O poder para eles é o fim e não o meio para que façam como fizeram Clístenes, Temístocles e Péricles… O que de melhor puderam fazer para protegerem e servirem os seus pares.

PS: Se esses caras não sabem quem foram Clístenes, Temístocles e Péricles, sem recorrer ao Google, como vão saber votar ou estabelecer metas governamentais, sobre qualquer assunto, em defesa dos cidadãos!?

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Um tradutor para o presidente, please!

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De tudo que vi e ouvi nas últimas semanas, o que mais me chamou a atenção foi o comentário que o presidente Jair Bolsonaro fez a um de seus ministros.

Aparentemente, Bolsonaro usou o termo “paraíba” para se referir aos governadores do Nordeste. Em minha opinião essa expressão traz em si o mesmo sentido de chamarmos militares de “milicos”, palmeirenses de “porcos” ou um cearense de “cabeça chata”! Nada mais!…

É bem verdade que isso não é coisa que um presidente da República deva dizer, mas para isso não acontecer nós deveríamos ter elegido no lugar do Bolsonaro o Sergio Vieira de Melo, mas infelizmente ele já morreu. Na verdade, mesmo eu adoraria ter o Sergio Vieira de Melo como nosso presidente, mas temos que nos contentar com Bolsonaro, por enquanto.

Sobre o presidente, preciso dizer a você que me homenageia com sua leitura, que eu consigo entender perfeitamente o que ele fala. Entendo sem nenhuma das distorções causadas por sua falta de tato e de polidez. Consigo entender a sua intenção, o texto por trás do subtexto e do contexto dos quais ele não consegue se desenredar, pelo contrário, ele se enrola cada vez mais. Eu o entendo pelo fato de que meu pai era um homem muito direto e às vezes até pouco polido. Reconheço que as pessoas que não estão acostumadas a esse tipo de gente terão muita dificuldade de entender as suas colocações, e o que é pior, ele não faz nenhum esforço para fazer-se compreender.

Pouco diplomático, o presidente Jair Bolsonaro, não deseja ser diferente, no que está completamente equivocado, pois seu estilo direto e pontiagudo, ao contrário de só ser uma vantagem, está se mostrando ser aquilo que seus adversários precisam para desacreditá-lo e desqualificá-lo. Em última análise, ele é o seu maior e pior adversário. O pior é que ele não vê isso!

Outro grave erro do presidente é acreditar que não é importante qualquer coisa que possam dizer seus adversários, sejam eles dos partidos políticos de esquerda, da imprensa, ou mesmo pessoas comuns que não sendo destas facções, discordem pontualmente de sua forma de agir. É importante sim! É muito importante, pois o que seus adversários dizem pode acabar se tornando mais decisivo que qualquer coisa que o presidente e seu governo possam vir a fazer de bom para o Brasil e para nossa gente.

Sobre ele ter se referido a governadores como “de Paraíba”, confesso que ele fala tão mal que a princípio nem entendi. Depois aceitei que ele estivesse falando dos governadores do Nordeste, menos por serem nordestinos, mas por serem todos de esquerda, todos seus adversários, que lhes chamam de nazista. Não identifiquei nisso nenhuma forma ou intenção de racismo.

Sobre ele citar o governador do Maranhão como sendo o pior de todos, não consegui entender em sua fala uma discriminação específica contra o Estado do Maranhão ou a nossa gente.

O presidente tem o direito de achar Flávio Dino o “pior de todos”, da mesma maneira que Flávio Dino não se cansa de proclamar suas opiniões, sempre demeritórias sobre o presidente do Brasil.

“Não tem que ter nada para esse cara” é uma frase política, que em minha interpretação significa simplesmente o seguinte: Não faremos nada no Maranhão através do governo do Estado. Tudo que tivermos que fazer lá, deve ser feito diretamente pelo governo federal, como a duplicação da BR-135, as obras de melhoria da cidade de São Luís, que já estão sendo realizadas pelo IPHAN, o apoio direto aos municípios e às instituições, como o Hospital Aldenora Bello e nossas ações na Ferrovia Norte-Sul, o que levará as riquezas do Maranhão para o sul, por preços mais competitivos!

Ao dizer isso, Bolsonaro imita o próprio Flávio Dino, quando o governador do Maranhão se refere a um ou outro produtor cultural que busca apoio para um projeto por meio da lei de incentivo a cultura do Estado: “Não tem que ter nada para esse cara”. É triste, mas é do jogo!…

Eu não me arrependo de ter votado em Bolsonaro! Se alguém deveria se arrepender de alguma coisa é ele! Não só se arrepender, mas também parar de dizer e fazer tanta bobagem, correndo o grave risco de desperdiçar a grande oportunidade de soerguimento do Brasil que ele mesmo está propiciando!

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