Um Filme das Nossas Vidas

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Em 2008, logo após realizar o filme “Pelo Ouvido”, tratei de inscrevê-lo nos mais importantes festivais de cinema do Brasil e do mundo.

O filme foi um verdadeiro sucesso, tanto de público quanto de crítica e agregou a mim o privilégio de comparecer a alguns desses festivais e neles receber alguns prêmios. Mas o maior de todos os prêmios que se pode ganhar em eventos como esses é a rede de contatos que você estabelece neles.

Entre 2008 e 2009, graças ao “Pelo Ouvido” conheci muita gente importante e boa do setor cinematográfico. Di Moretti, que se tornou meu parceiro em alguns roteiros, Jal Guerreiro, hoje uma querida amiga e um grande apoio na indústria, a cineasta Lúcia Murat, o mestre Orlando Sena, Alfredo Bertine, do Cine-PE, o cineasta Lírio Ferreira e sua alegria contagiante, isso pra falar rapidamente só de alguns…

Mas hoje quero falar com você que me lê agora, sobre o encontro que tive com três figuras fantásticas do cinema nacional. Em Huelva, na Espanha, conheci Marcelo Vindicatto e Selton Mello, com quem viria a reencontrar em Havana, desta vez na companhia de Vania Catani.

Trata-se de uma trinca de ases que costuma trabalhar juntos e já escreveram, produziram, atuaram e dirigiram três filmes. “Feliz Natal”, “O Palhaço” e “O Filme da Minha Vida”.

Recentemente fui assistir este último que acabou de ser lançado, e saí da sala de exibição com algumas sensações que não experimentava fazia muito tempo. Fiquei emocionado, comovido e feliz ao ver que em meio a tudo isso que está acontecendo pelo Brasil e pelo mundo, ainda há espaço para seres humanos especiais criarem uma obra tão sublime como esta.

Costumo dizer que há muitas maneiras de você gostar de um filme, mas dentre elas há uma que é a mais importante. É quando você sente uma mistura de felicidade e tristeza. Felicidade por ter visto um filme que o emocionou e o engrandeceu, e tristeza por não ter sido você quem o realizou, mesmo que o que está retratado nele pareça que saiu do lugar mais profundo de sua alma.

O filme é contado de forma simples e generosa. Seus realizadores narram uma história onde o tempo quase que se solidifica na tela, nos permitindo tirar lascas dele e saboreá-lo como a um delicioso bolo familiar, recheado de afeto, carinho, repleto das maravilhosas sensações de uma infância alegre e feliz.

Não vou entrar em detalhes sobre o filme. Vou comentar sobre o roteiro, que é irretocável, que nos conta uma história sólida e maciça através de pequenos pedaços, como se desfolhássemos uma tangerina antes de comê-la. O mesmo deve ser dito da inigualável fotografia de Walter Carvalho, sobre a luz e as cores das quais ele se apropria para nos dar uma genuína sensação bucólica. Das locações, da cenografia, do figurino, da maquiagem, dos cabelos e da direção de arte de Cláudio Amaral Peixoto, trabalhos que se igualam aos dos melhores filmes realizados nos Estados Unidos ou na Europa.

Há num entanto dois pontos mais altos neste filme, mais altos que os demais. As performances dos atores é um deles. Que se ressalte a atuação de todos os atores, pois ela é maravilhosa. Belíssima direção de atores! Certamente vai ganhar muitos prêmios de elenco! A outra coisa é a trilha sonora que nos leva a passear em tempos memoráveis registrados tanto em nosso consciente quanto em nosso inconsciente coletivo e individual. Entendeu!?… Se não entendeu não tem importância. Vá assistir ao filme!

Os chavões e os clichês presentes nessa obra, ao invés de diminuí-la, só a engrandecem, pois estão colocados onde se encontram, não por recurso estilístico ou esperteza, mas por necessidade imperativa de retratar a vida real que existe dentro daquela história ficcional.

Falar com porcos, apreciar as meninas se exercitando, flutuar, aprender a andar de bicicleta, o amigo mais velho que leva um menino a um bordel… Ainda agora parece que estou lá na sala, assistindo ao filme…

O final… Eu não posso contar!…

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