Quando o tempo não faz evoluir
Fui recentemente assistir ao novo filme baseado no romance escrito por Lew Wallace, publicado em 1880, “Ben-Hur: Uma Narrativa do Cristo”.
Essa história já havia sido adaptada diversas vezes para o teatro e para o cinema, e teve sua melhor montagem no magistral “Ben-Hur”, filme épico realizado em 1959 dirigido pelo genial William Wyler, produzido por Sam Zimbalist para a Metro-Goldwyn-Mayer, protagonizado por Charlton Heston, Jack Hawkins, Haya Harareet, Stephen Boyd e Hugh Griffith.
Ao falar sobre esta nova versão, primeiramente gostaria de abordar o aspecto da refilmagem. Os realizadores que se arriscam nesse intento têm contra si e sua obra, o amor, a paixão, o carinho, a afeição que os expectadores possam ter desenvolvido por uma obra anterior. Imaginem se alguém se atrever a refilmar “Laranja Mecânica”!
Pois bem, qualquer pessoa, e aqui me arrisco a dizer que a totalidade dos que assistiram ao “Ben-Hur” vencedor de 11 prêmios Oscar, vai preferir àquele a esse filme realizado em 2016.
Em termos comparativos, o único item que fez com que a versão de Bekmambetov superasse a de Wyler, foi a natural apropriação da maravilhosa tecnologia atualmente disponível.
Um filme como este jamais deveria ter sido produzido e de forma alguma exibido em 3D, pois se subtende que essa tecnologia sirva principalmente para cenas onde haja grandes profundidades no cenário e contundentes aproximações ou recuos da câmera, coisas que nem o roteiro nem a história pedem.
Mas até aqui tudo é aceitável. O que destrói completamente o filme é a desfiguração da história original. A supressão do personagem Quinto Arrio faz com que a história perca seu senso moral. O aspecto prosaico e novelesco, próprio do romance foi retirado da nova versão, fazendo com que um filme que tem sua força eminentemente ancorada em sua história e na forma de contá-la, passe a ser um mero filme de aventura passado no tempo de Cristo.
Há uma comparação mais cruel do que todas que se possa fazer entre um filme e outro. É no que diz respeito à trilha sonora e a música. Na versão de 1959 Miklós Rózsa faz com que qualquer coisa que se tente fazer depois dele seja destinado ao esquecimento.
Bekmambetov tenta mostrar alguns aspectos com os quais Wyler não se importou, como por exemplo, a convivência familiar entre Judah e Messala, e a existência de um grupo de resistência política e guerrilheira contra a ocupação romana da Judeia, os Zelotes.
É impossível comparar os atores que encarnam Judah e Messala, tanto Charlton Heston quanto Stephen Boyd superam em anos-luz Jack Huston e Toby Kebbell. Quanto ao elenco, excessão deve ser feita a Rodrigo Santoro e a Nazanin Boniadi como Jesus e Esther. Nem mesmo o extraordinário Morgan Freeman consegue chegar aos pés do Ilderim protagonizado por Hugh Griffith, há 57 anos.
Fui assistir ao novo “Ben-Hur” sabendo que ele seria muito menos bom do que o outro, aquele realizado no tempo em que os cenários eram feitos de madeira e gesso.
PS: Em breve veremos a refilmagem de “Sete Homens e um Destino”, filme de Jonh Sturges, baseado nos “Os Sete Samurais” de Akira Kurosawa, protagonizado por Yul Brynner, Steve McQueen, James Coburn, Eli Wallach, Charles Bronson… Se preparem para outro fiasco, mesmo sendo protagonizado por Denzel Washington, Ethan Hawke, Vincent D’Onofrio e Chris Pratt! Mesmo assim vou assistir.