A Tocha

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Outro dia, assistindo ao Jornal Nacional, me peguei sonhando em ser um dos escolhidos para carregar a Tocha Olímpica em sua passagem por São Luís.

Imaginei aquele menininho que era levado pelo pai para ver os jogos do Moto no velho Estádio Santa Isabel, ou que ganhara do tio Samuel as flámulas dos times de futebol de salão dos anos 1950: Cometas, Drible, Saturno, Riachuelo…

Depois minha imaginação me levou ao Jaguarema e ao Lítero, para as tardes e noites esportivas, nas terças e quintas. Para as primeiras aulas de basquete com Sergio, Gafanhoto e Paulão. Mais tarde, para os animados jogos de tênis com Cléon, Ratinho, Jaime, Mario Filho, Alexandre, Maia Ramos, Heraldo Guimarães…

Ao mesmo tempo em que eu pensava nisso, minha autocrítica dizia pra mim que só isso jamais me faria merecedor de tal honraria. Então resolvi turbinar meus motivos, afinal eu tinha sido um bom jogador de basquete, seleção maranhense… Joguei tênis razoavelmente, venci diversos torneios, fui um grande duplista de meu tempo… Isso tudo ainda me parecia muito pouco para toda aquela honra.

Apelei! Desferi um golpe abaixo da linha da cintura nos argumentos que se opunham ao fato de eu desejar carregar a tocha. Eu havia sido o autor da lei de incentivo à cultura e ao esporte. Lei que é a responsável pelo grande e excelente desempenho desses setores em nosso estado, principalmente no esporte, o que propiciou a construção de diversas praças esportivas, a realização de grandes eventos locais e nacionais, a conquista de diversos títulos para nosso esporte, inclusive o de campeão da Liga Nacional de Basquete Feminino pelo Sampaio.

Sempre me orgulhei muito de ter desenvolvido o bom senso como forma de me posicionar em relação ao mundo, e ele, meu bom senso, naquele momento, deu um tapa, de mão aberta, na minha cara.

Em meio aqueles pensamentos, como um balde de água fria, raciocinei a seguinte coisa. Quais seriam os convidados para carregar a Tocha em nossa cidade? Imaginei que deveriam ser pessoas importantes para o esporte, pessoas de relevância na comunidade. Comecei imediatamente a fazer uma lista daquelas pessoas que eu imaginava tivessem muito mais legitimidade que eu em ter aquele privilégio.

O professor Dimas, pioneiro no ensino de modalidades esportivas em nosso estado; Claudio Alemão, um dos nossos primeiros dirigentes esportivos, responsável pela primeira geração de grandes atletas de nossa terra; Manoel Martins, pesquisador e historiador do futebol; Alfredo Menezes, jornalista esportivo; Jota Alves, radialista e incentivador do esporte; Hamilton ou Juca Baleia, representando os jogadores de futebol; professor Mangueirão, responsável pelo esporte paraolímpico em nossa terra; professor Mesquita, a alma do JEMs; professor Eduardo Teles, representando os abnegados treinadores de nossa terra; os atletas olímpicos que representaram o Maranhão em outros jogos, Tania, Ana Paula, Silvia, Joelma, Codó, China, entre outros.

Passou o nome de tanta gente boa e mais merecedora que eu pela minha cabeça! Uma infinidade de professores e atletas, uma enorme quantidade de dirigentes esportivos e educacionais, personalidades importantes na cidade, como dr. Generoso, diretor do Hospital do Câncer…

De repente me lembrei daqueles dirigentes esportivos comunitários que não saiam da Sedel, pleiteando material, transporte, e apoios de um modo geral para desenvolverem o esporte em suas comunidades. Todos mereciam muito mais do que eu aquela honraria.

Lembrei-me também da equipe de deficientes visuais do futebol de salão, que sem enxergar, chutavam uma bola com muito mais garra que eu. Depois disso caí na realidade e me conformei em não ter sido convidado para carregar a Tocha Olímpica. Foi ai que a desilusão de não realizar aquele sonho deu lugar a uma grande satisfação proveniente da constatação da grandeza de nosso esporte e das queridas pessoas que construíram e constroem a sua história.

Sinto-me plenamente representado por elas, mesmo que elas também não tenham sido convidadas para carregar a Tocha Olímpica, em sua passagem por São Luís!

 

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A Hora e a Vez!…

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É chegada a hora e a vez do deputado, e agora novamente ministro do Meio Ambiente, José Sarney Filho, eleito pelo voto popular pela primeira vez em 1978, portanto há quase 40 anos trilhando os caminhos da política, assumir definitivamente o comando de seu grupo.

Ele tem tudo para isso! É experiente, culto, bom orador, bem articulado, bem relacionado, respeitado por todos, inclusive por seus adversários, que sempre o tiveram em um bom conceito.

Zequinha, como ele é chamado pelos mais íntimos, é correto cumpridor de seus acordos, simpático e elegante no trato da vida social e na política, sempre desenvolveu a atividade parlamentar de forma um tanto independente do posicionamento de seu pai, tanto, que por diversas vezes ficaram em campos legislativos opostos.

É lógico que a nomeação dele para o ministério do presidente em exercício, Michel Temer, é ainda reflexo do poder e da influência que Zé Sarney mantém, principalmente dentro do PMDB, mas também no cenário político nacional. No entanto, só o prestígio de Sarney não seria suficiênte para emplacar alguém em um ministério. O indicado precisaria ter nome capaz de valorizar a indicação e suportar as pressões que advêm dela.

Sarney Filho desenvolveu em sua passagem pelo Ministério do Meio Ambiente, durante o segundo governo de Fernando Henrique, entre 1999 e 2002, um excelente trabalho, elogiado por diversos ambientalistas. Nos útimos anos aprofundou seu conhecimento no setor, transformando-se em referência na política nacional sobre o tema.

Na política doméstica, aqui na paróquia, se manteve discreto, desenvolvendo seu trabalho parlamentar, sempre em estreito contato com os prefeitos, vereadores e correligionários que o apoiam.

Pelo menos uma vez ele teve prestes a ser candidato a governador de nosso estado, mas foi cogitado também em outras ocasiões. O certo é que nunca foi candidato ao governo, mas sempre se elegeu deputado com extrema facilidade, tendo sido inclusive o deputado mais votado dentre todos.

É muito dificil que os mecanismos da política permitam o protagonismo de duas pessoas da mesma famíla, por isso, a ascenção de Roseana à condição de governadora do Maranhão, cargo que ocupou por 14 anos, colocou Zequinha, de certa forma, na penumbra do poder.

Mas ele, muito cedo, adquiriu a capacidade de voar com suas próprias asas, o que fez com que consolidasse em torno de si um nicho de representantes importantes de seu grupo político, e desenvolveu com os demais um relacionamento afável, respeitoso e confiável, o que agora lhe dá a possibilidade de reclamar para si o comando de todo o seu grupo, uma vez que seu pai, Zé Sarney, já ultrapassou a barreira dos 86 anos e que sua irmã, Roseana, já afirmou, reinteiradas vezes, que não mais deseja participar da vida eleitoral do Maranhão, tanto que jogou fora, em 2014, uma eleição ganha para o Senado. Sarney Filho poderá agora ser a amálgama que unirá as forças políticas que gravitam em torno de si.

Tenho vívidas lembranças de fatos que o ligam a dois políticos bem diferentes entre si. O primeiro foi o então deputado estadual Haroldo Saboia, que saindo de uma noitada de boa comida para mim e de boa bebida para ele e para outros parlamentares, no extinto restaurante La Boheme, de Tália Rola e Teresa Martins, me disse um tanto alto: “Brigo com o Sarney Filho, mas sei que ele é o que de há melhor na famíla Sarney… Acontece que ele jamais será governador do Maranhão…”

O outro político que comentou sobre ele foi meu pai, Nagib Haickel, num dia em que estávamos só nós dois, voltando para casa, ele como sempre, dirigindo seu Chevetinho: “Meu filho, eu sei que Fernando é verdadeiramente teu amigo, que ele gosta de ti e demonstra isso, mas o melhor deles, em termos de política, é Sarney Filho!…” Meu pai me disse isso poucos dias antes de morrer, em setembro de 1993, a propósito de especulações sobre quem da família Sarney seria candidato a governador do Maranhão.

Por tudo isso, porque as circunstâncias o beneficiam e porque o seu grupo precisa realmente se reciclar, passar por uma profunda faxina e uma importante reforma, adaptando-se verdadeirmente às novas formas de fazer política, é que eu acredito que seja a hora e a vez de Sarney Filho liderá-lo.

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Mais do Mesmo

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O processo de impeachment é de natureza eminentemente política, tendo, no entanto, obrigatoriamente, que se basear em lastro jurídico.

Por causa da natureza ambígua de seu objeto fático, algo proveniente de mera manifestação da vontade política, com pressuposto regramento legal, fica complicado definirmos o que configura, sem que sobreviva a menor dúvida, um crime de responsabilidade, capaz de levar um presidente da Republica a perder o mandato que lhe foi outorgado pelo povo, nas urnas.

Que fique bem claro que uma coisa é a eleição que coloca o governante no poder, outra coisa é a destituição deste governante por cometimento de irregularidade suficiente para tanto. As duas coisas podem coexistir e coexistem em nossa Constituição, sem que nenhuma supere a outra em legalidade.

Se no Direito Penal a dúvida deve ser contabilizada em favor do réu, no caso do processo de impedimento de um agente público, essa lógica deve ser invertida, pois desses agentes esperamos a mais completa correção e a indispensável lisura no trato da coisa pública. Logo, a instauração de um processo dessa natureza deve ser acatada, a menos que não haja o menor indício para tanto.

O que parece cristalino para mim é turvo e opaco para outras pessoas. Observados através de filtros ideológicos, políticos e partidários, coisas que para uns são tão nitidamente aceitáveis do ponto de vista jurídico e legal, para outros são absurdos que subvertem o estado de direito, abalam os alicerces da República e comprometem a democracia.

Quem está certo!? A resposta a essa pergunta resultará consequentemente na constatação do erro de alguém!?

Em meio a tudo isso, sentimentos abomináveis afloram. Intolerância, sectarismo, maniqueísmo, preconceitos de diversos matizes, autoritarismo, cinismo, hipocrisia…

Aprendi muito cedo que se deve sempre conversar, dialogar, debater, discutir… Todas essas gradações crescentes da função parlamentar que tanto prezo. Vejam que não usei os verbos insultar, cuspir, agredir ou brigar!

Digo isso para comentar a horrível sessão do plenário da Câmara dos Deputados que aprovou a continuidade do processo de impeachment e seu envio ao Senado Federal. Foi uma das cenas mais constrangedoras que eu já presenciei e confesso que ela quase faz perder o brilho de ver a lei sendo cumprida.

Quanto ao processo político em si, acredito que tenha ficado claro para muita gente, da mesma forma que ficou para mim, o fato de os apoiadores da presidente Dilma Rousseff terem construído em “benefício” dela, uma defesa utópica, baseada por um lado, na vitimização do réu, e por outro, na utilização midiática dessa bandeira, o tal do “golpe”! Bandeira essa que foi desfraldada inicialmente na intenção de garantir o apoio da militância em torno de uma causa praticamente indefensável.

A alegação de que a imprensa mobilizou-se, orquestradamente, de comum acordo com a oposição, era apenas mais um capítulo da novela cujo enredo apresentava a tese recorrente de golpe geral, onde todos que se posicionavam contra os interesses do governo, eram e são golpistas, fascistas, e estavam lutando para reverter as conquistas sociais que os governos do PT implementaram em nosso país. Com isso usavam o medo como arma de convencimento, como já haviam feito antes, na época da eleição.

Dilma e seus correligionários usaram dois tipos de argumentos em sua defesa: A negação da existência de crime de responsabilidade e a alegação de que outros agentes públicos cometeram as mesmas irregularidades elencadas na ação pelos denunciantes.

Foram de certa forma, infantis. Era como se dissessem algo do tipo: “Papai, faz um tempo, peguei um dinheiro em sua carteira, mas ontem recoloquei no lugar!”, e “Mamãe, eu bati no meu coleguinha hoje, mas fulano também bateu!”.

Isso tudo, pouco importa agora. O que realmente importa é que o novo governo possa agir no sentido de recuperar a economia de nosso país, possa trabalhar para gerar empregos e fazer retornar a credibilidade do Brasil a patamares aceitáveis no contexto das nações.

 

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Menos Três!

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Na semana passada experimentei uma sensação deveras angustiante. É que ocorreu o falecimento de três homens ligados à minha família, um por laço sanguíneo e os outros dois por fortes laços fraternais.

Trata-se de Reynaldo Aragão Pinto, meu tio, irmão de minha mãe; Alvimar de Oliveira Braúna, amigo dos mais amados por toda nossa família; e Lauro Berredo Martins, amigo de meus pais que nós aprendemos a admirar por sua impecável personalidade.

Dos três, aquele com quem eu tive menos proximidade foi com o desembargador Lauro, mas o fato de não convivermos proximamente não invalidou a admiração que aprendi a ter por esse cavalheiro, no modo de portar-se, e por esse cidadão de postura republicana exemplar, que tendo sido grande amigo de um dos maiores amigos que meu pai teve, Newton Bello Filho, mereceu a transferência dessa amizade para toda nossa família.

Ainda sobre Lauro Berredo prevalece o conceito que minhas queridas amigas Ceres Murad e Elizabeth Rodrigues tinham de seu tio Lauro, incentivador de seus sonhos e de seus voos culturais pelo mundo encantado do conhecimento.

Outro falecimento que abalou nossa família na semana que passou foi o de meu tio Reynaldo. Um tio que se não era efetivamente presente em nossas vidas, pois a vida às vezes nos leva por caminhos distantes, era um tio com quem invariavelmente nos encontrávamos nas recorrentes festas de família, aniversários, casamentos, batizados… O ruim é que depois de passado algum tempo as famílias começam a se encontrar mais recorrentemente em velórios.

Tio Reynaldo era aquele tio que fascinava por seus olhos incrivelmente azuis, herdados de seus avós de ascendência portuguesa e por sua constante alegria. Rey, como meu avô Pinto chamava o filho que trabalhava com ele, primeiro na Ideal, depois no Pap’s Lanches, situado no andar térreo do Grêmio 1º de Janeiro, ali na Praça João Lisboa, era empresário do setor de alimentação e entretenimento, tendo sido proprietário da famosa boate Tijupá, do restaurante Panela de Barro e diretor do clube social do Banco da Amazônia.

Quase todas as recordações que tenho de tio Rey me vêm sempre acompanhadas da presença espirituosa e irônica de vovô Pinto, o que pra mim é uma maravilhosa reminiscência.

Por fim perdemos Braúna. Tio Braúna, como desde criança fomos ensinados a chamar Alvimar. Um grande e querido amigo… Um verdadeiro irmão para meu pai, cunhado para minha mãe…

Alvimar Braúna sempre foi reconhecidamente um homem bom, um benemérito dos menos favorecidos, um pai para os pobres que o procuravam em busca de alguma ajuda.

A presença de centenas de pessoas humildes no velório de Braúna me fez ter a certeza da grande quantidade de órfãos que ele deixou, alguns deles bem mais velhos que ele próprio.

Depois da morte de nosso pai, eu e meu irmão Nagib, sempre que tínhamos que tomar uma decisão importante, nos aconselhávamos com tio Braúna. Agora nos encontramos mais sós. Perdemos um homem que na ausência de nosso pai era um parâmetro em nossas vidas.

Estamos mais pobres, mais tristes, mais sozinhos… Em uma única semana foram-se três importantes referenciais…

Que todos nós, que de alguma forma dependíamos destes bons homens, possamos, não os esquecendo jamais, trilhar os caminhos de seus ensinamentos e exemplos.

 

PS: Enquanto redigia esse texto, na quinta-feira, 5, fui informado que nosso bom amigo Fernando Lameiras falecerá no dia anterior, vitima de complicações derivadas do diabetes.

O mundo tá ficando pequeno!

 

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