O momento atual comprova aquilo que eu sempre disse: na política mudam-se as pessoas e até algumas práticas, mas a mecânica da política não muda facilmente. Ela é regida por leis rígidas como as da convivência humana, leis da antropologia, da sociologia e da psicologia.
No dia 2 de fevereiro vimos o governador comparecer à abertura da sessão legislativa na Assembleia Legislativa de nosso Estado e não se fazer representar, como era costume. Aqui a prática mudou! Vontade discrissionária do agente. O atual governador deseja contracenar mais de perto com os atores políticos. Isso é muito bom.
Nesta mesma semana, este mesmo governo, que disse que não iria interferir nas acomodações dos blocos parlamentares e eleição da Mesa da Assembleia Legislativa, o fez de maneira direta.
Não o condeno por isso. Manobras como esta fazem parte do jogo político, mas ocorre que essas práticas eram recriminadas anteriormente e agora, no uso do poder, quem antes criticava o que era feito, continua fazendo igual. Aqui, neste ponto, nada mudou!
É muito importante que se reconheça que algumas coisas que os políticos dizem e fazem faz parte do roteiro que eles têm que seguir para construir uma imagem. Dizer-se republicano e democrático é condição indispensável para um político ser bem aceito, mesmo que na prática, algumas vezes, isso não aconteça. Não que isso seja uma mentira deslavada, mas existem coisas com as quais não concordamos em algum momento e que nos vemos realizando em outro! Esse não é um pecado apenas dos políticos. Este é um pecado de todos nós, seres humanos. Ocorre que na política isso se sobressai.
Alguém poderia dizer que agir assim seria pura incoerência! Não é tão simples como parece! É a mecânica da política, que alguns fazem questão de não reconhecer que é assim, é o que faz com que as coisas aconteçam dessa forma. Fritar ovos exige primeiro que eles sejam quebrados!
Vou refrescar rapidamente a memoria dos mais esquecidos ou relatar para os que desconhecem os precedentes: Durante 10 anos o ex-deputado Manoel Ribeiro se elegeu presidente do nosso Legislativo sempre com a interferência direta dos governadores de então. Isso aconteceu até que um grupo de deputados se rebelou e resolveu não obedecer à imposição do Executivo e elegeu Tatá Milhoemem para presidir a ALM.
Não houve mudança do equilíbrio político nem da Assembleia, nem do governo. O que aconteceu foi que não permitimos que o Executivo nos obrigasse a eleger alguém que não queríamos.
No caso atual, entendo que as coisas sejam diferentes, os deputados e até a sociedade reconhecem que o melhor nome para presidir a ALM é o de Humberto Coutinho. Eu mesmo concordo com essa tese. Não é possível que os deputados não saibam disso! Mas o que está em foco aqui não é isso, é a participação do Executivo neste cenário.
Acontece que o que o Executivo deseja realmente neste caso é garantir, não apenas a reeleição do presidente, mas também a reeleição do primeiro vice-presidente, o que garantirá uma administração mais “tranquila”, do ponto de vista dos Leões. Sou obrigado a concordar que, do ponto de vista do governo, esta postura está completamente correta.
Das interferências que eu já presenciei essa será uma das menores, mas é bom que se repita, interferências estão ocorrendo.
Comecei na política como assessor em 1978, aos 18 anos. Antes disso eu era mero expectador, meu pai era deputado desde que eu tinha oito anos e até onde me lembro, as coisas aconteciam dessa forma. É assim que as coisas acontecem.
Feliz ou infelizmente esse tipo de coisa não vai mudar, pois faz parte da natureza, da mecânica da ação. Não recrimino, apenas constato, faço aquilo que algumas pessoas teimam em não fazer.