Pela primeira vez, na história do Maranhão, encontra-se à disposição de nossa comunidade cinematográfica um edital promovido pela Agência Nacional de Cinema, em conjunto com a Secretaria de Estado da Cultura, visando a realização de filmes que usem temáticas maranhenses, e pessoal preferencialmente nascido ou radicado por aqui.
Não vou dizer que isso se deve exclusivamente ao fato de o presidente da Ancine ser do mesmo partido político do governador de nosso Estado, porque, caso os governos passados tivessem procurado, nesse sentido, a entidade que organizou e tem dado um bom rumo ao cinema brasileiro, tenho certeza que outros editais já teriam sido realizados, pois estes certames são comuns em outros Estados e Municípios que se interessam em promovê-los. Mas também não posso deixar de dizer que se o governador e o presidente da Ancine não fossem próximos, esse edital não teria saído tão depressa como foi o caso.
De qualquer forma, a primeira coisa a ser dita, é que esse edital é muito bem vindo e que seja apenas o primeiro de uma série que virão para desenvolver e dinamizar o audiovisual em nossa terra.
Depois de feitos os devidos esclarecimentos e o merecido elogio, aqui vão as críticas, todas no sentido de ajudar, dentro de nossa pequena possibilidade.
O edital de cinema Ancine/Secma, que prevê o investimento de R$ 3 milhões, sendo R$ 1 milhão da Secma e R$ 2 milhões da Ancine, poderia ter sido melhor elaborado e dividido, o que talvez ainda possa ser feito, uma vez que as pessoas que fazem cinema no Maranhão não foram ouvidas antes da publicação desse edital.
Ao invés de 10 curtas-metragens de R$ 78 mil, acreditamos que deveriam ter sido R$ 20 mil de R$ 50 mil, todos destinados a cineastas principiantes, oportunizando assim uma maior participação da base nascente de nosso cinema, quando os recursos financeiros não são os ingredientes mais importantes e quando as produções realmente requerem menos recursos financeiros e muito mais criatividade e inventividade.
A subdivisão em telefilmes e longas-metragens reduz a possibilidade de apresentação de projetos. Esse critério deveria ser uma prerrogativa do produtor cinematográfico que se responsabilizaria também por escolher se faria um filme mais longo ou mais curto, estabelecendo com isso qual sua destinação, se para exibição em cinemas ou em televisão. Fazendo isso o edital engessa a produção, que poderia ser mais flexível e democrática.
Assim sendo restaria aos responsáveis pelo edital, a Ancine e a Secma, estabelecerem que R$ 1 milhão seriam destinados a projetos de documentários e R$ 1 milhão para projetos de ficção, que não fossem curtas-metragens, deixando por conta do bom senso dos produtores proponentes a mensuração dos valores de seus orçamentos. Essa divisão facilitaria também a construção dos projetos e as prestações das respectivas contas.
Seriam os produtores proponentes que teriam a obrigação de apresentar à Ancine e à Secma, projetos de orçamento condizentes com seus filmes e capazes de bem promover com sabedoria e consciência o cinema maranhense.
Alguém que apresentasse um bom projeto mas com um alto orçamento deveria ser preterido em benefício de quem apresentasse um outro bom projeto de orçamento mais baixo, que possibilitasse a realização de outras propostas, pois o interesse maior do edital não deve ser a concentração de recursos em poucos projetos, mas sim oportunizar que mais produtores realizem os seus.
Dito isso é a vez de fazer outras reivindicações, agora diretamente destinadas para a Secma: Em primeiro lugar, com relação ao próprio edital. Os produtores proponentes precisavam de esclarecimentos quanto a algumas questões que nele mesmo manda recorrer à Secma, mas lá ninguém sabia informar nada. Precisávamos de esclarecimentos imediatos, pois o prazo para apresentação das propostas é 29 de julho. Somente na última quarta-feira soubemos que Claudio Pinheiro e Edna Matos poderiam prestar esclarecimentos, o que foi feito.
Outra coisa que a Secma precisa fazer é estabelecer um organismo interno, comandado por alguém que seja do setor audiovisual, que possa manter uma boa relação com a comunidade que realiza trabalhos cinematográficos e afins no Maranhão, tanto que a Ancine colocou no edital um tal “Instituto Estadual de Cinema”, que não existe, mas que precisava existir.
Por fim, aproveitando a oportunidade, gostaria de parabenizar e agradecer.
Parabéns: Frederico Machado, que além de um bom cineasta é pioneiro em nosso Estado como distribuidor cinematográfico, com sua nacional e internacionalmente conhecida Lume Filmes; Arturo Saboia, sensível roteirista e minucioso diretor; Francisco Colombo, que se encontra em Portugal fazendo mestrado em cinema; ao inquieto e efervescente diretor Breno Ferreira; à minha querida amiga Isa Albuquerque, uma das pioneiras maranhenses nesse ofício; Mavi Simão que realiza trabalhos importantíssimos nesse setor; a um jovem de futuro brilhante, Marcos Pontes; a Rafaelle Petrini, um italiano que escolheu São Luís para ser sua Cinecittà; ao jovem Lucas Sá, nosso, quem sabe, se Deus quiser, futuro Almodóvar; a Cícero Filho que respira cinema, que o faz como sendo uma coisa que faz parte de sua alma e de seu corpo; ao pessoal dos Coletivos, como Luizes e Mulek, que fizeram filmes tão bons e importantes para o nosso cinema; à minha amiga produtora Cássia Melo e outros tantos…
Por último e nem por isso menos importante, gostaria de parabenizar e nesse caso também agradecer, aos meus queridos amigos e companheiros de trabalho no Museu da Memória Audiovisual do Maranhão, MAVAM, e que realizam comigo projetos maravilhosos através do Polo de Cinema Ficcional, Documental e de Animação do Maranhão: Joan Carlos, Beto Matuck, Francisco Colombo, Fernando Baima, João Ubaldo, Celso Borges, Renata Valdejão, André Lucap, Cinaldo Oliveira, Talvane Lucato, Elinaldo Terel, Jeferson Santos, Rosangela Guimarães, Beto e Nádia Nicácio, Iramir Araújo, Israel Silva…
Obrigado aos que começaram isso tudo, muito tempo atrás. Obrigado Murilo Santos, Euclides Moreira Neto, Nerine Lobão, Raimundo Medeiros, Ivan Sarney, Newton Lílio… Obrigado aos irmãos Bacelar, Mauro Bezerra, Lindberg Leite, dentre tantos outros!
Graças aos que começaram o cinema e o audiovisual no Maranhão e aos que continuam nessa lida, poderemos deixar um bom legado para as futuras gerações.
PS: Viajo hoje para Portugal onde receberei um prêmio pelo nosso filme “A Pedra e a Palavra”.