Existem pessoas que não morrem!

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Amanhã, 15 de junho de 2015, se vivo fosse, João Mohana faria 90 anos.

Tenho certeza que muitos de meus leitores sabem quem é João Mohana… Isso mesmo! Quem é, pois o fato dele ter morrido, fisicamente, não impede que sua existência, que suas realizações, que seu trabalho o faça imortal, não apenas pelo fato dele ter pertencido à Academia Maranhense de Letras, mas por sua obra ter efeitos e consequências tamanhas que o faz presente cada vez que alguém lê um de seus livros ou põe em prática algum de seus ensinamentos.

Se tenho certeza que as pessoas de minha geração e até algumas de gerações mais novas que a minha conhecem João Mohana, também tenho certeza de que as gerações mais recentes nunca ouviram falar dele e infelizmente não sabem o que estão perdendo. Infelizmente essa pena que sinto das gerações mais novas não se restringe a não terem conhecido João, mas a também não terem conhecido Erasmo Dias, Maia Ramos, Bernardo Almeida, e tantos outros que já se foram.

João era filho de Anice, uma prima de minha avó Maria. As duas vieram do Líbano… Mas isso foi há muitos anos e eu só entrei nessa história por volta de 1965, quando com 5 aninhos, era levado da rua da Saúde para a Afonso Pena, para passar as tardes na casa da angelical tia Anice.

Antigamente, toda família que se prezasse tinha que ter um médico, um engenheiro, um advogado, uma professora, um comerciante, um político e um padre. Acho que na Família Mohana não tinha número suficiente para chegar ao padre, mas o médico fez o gosto do pai se formando doutor de corpos. Depois do falecimento do severo genitor ele conversou com sua mãe e entrou para o seminário, ordenando-se padre.

João trouxe do nascimento a vocação sacerdotal. Sempre quis trilhar esse caminho, no entanto o destino o levou primeiro à medicina que seria de grande valia no entendimento da vida humana.

E assim foi que nos idos de 15 de junho de 1925 a cidade de Bacabal viu nascer o primogênito do casal de imigrantes libaneses Miguel e Anice Mohana, “João”. Miguel como todos de sua ascendência era comerciante, comprava gêneros e vendia produtos.

Segundo o meu duas vezes confrade acadêmico, de Imperatriz e de São Luís, desembargador Lourival Serejo, os vianenses reivindicam parte da biografia de João Mohana, pois saindo de Bacabal, sua família morou por 15 anos em Viana, onde ele receberia as primeiras aulas de teatro da professora Anica Ramos.

O tempo se passou, João que já havia deixado Bacabal, deixara agora Viana e logo deixaria também São Luís, pois iria estudar para ser médico em Salvador.

Com a morte de seu pai em 1955, João estava livre para seguir outro caminho, que curiosamente vem a ser o título do livro com o qual ganhou em 1953 o prêmio que leva o nome de nosso conterrâneo, Prêmio Coelho Neto, distinção da Academia Brasileira de Letras.

João Mohana foi ordenado padre aos 35 anos, em 1960, pelo Seminário de Viamão, no Rio Grande do Sul. Em 1970, o padre Mohana foi eleito para ocupar a cadeira número 3 da Academia Maranhense de Letras e o motivo disto, hoje fica claríssimo, pois sua obra continua viva e dando frutos.

Além do trabalho sacerdotal, psicológico, humanista, literário, João Mohana é responsável pelo salvamento de grande parte da memória musical maranhense, através da maravilhosa pesquisa realizada por ele nesse setor.

Escreveu mais de 40 livros, divididos em diversos temas: literatura e teatro, religião, espiritualidade, psicologia e sexualidade.

Na literatura, o ponto de destaque são os dois romances: “O Outro Caminho” e “Maria da Tempestade”. Escreveu também “Sofrer e Amar”, “O Mundo e Eu”,Plenitude Humana”,Amor e Responsabilidade”, “Ajustamento Conjugal” e “A Vida Sexual dos Solteiros e Casados”. Alguns de seus livros foram traduzidos para o inglês, espanhol, alemão e italiano.

Ao registrar a passagem dos 90 anos do nascimento, não apenas de um primo libanês, mas de um homem que esperou pacientemente a oportunidade para realizar seu destino e construiu uma obra pioneira, não apenas para o Maranhão, como também para o Brasil e para o mundo, não posso me esquecer de dizer que foi João quem primeiro viu em mim o potencial de um dia eu vir a ser um escritor pelo menos razoável.

Temerosa pela minha dificuldade de leitura e pela minha dificuldade de concentração, minha mãe me levou até ao primo padre que me vez frequentar suas missas na Igreja da Sé, que me apresentou Khalil Gibran, que teve comigo muitas conversas sobre as coisas da vida e me disse que com dedicação e afinco conseguiria alcançar meus objetivos tanto na literatura como na política.

Lembro que uma vez João me disse uma coisa que só vim a entender totalmente depois que meu pai morreu. Disse que eu não tentasse superar meu pai naquilo que eu não soubesse fazer e que ele fazia como ninguém. Orientou-me no sentido de superá-lo em suas deficiências, que assim eu estaria dando a ele, de presente, uma coisa que ele jamais possuiria.

É uma pena que minha filha Laila e tantos outros jovens não tiveram a sorte de conhecer João Mohana, mas que pelo menos, saibam que ele existe. Eu disse e repito: Ele existe!

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Visita à Assembleia

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Estive na Assembleia Legislativa, na última terça-feira, 2 de junho. Fui ver como estava a tramitação de uma mensagem do governador de interesse da Academia Maranhense de Letras e aproveitei para conversar com alguns bons e velhos amigos.

Fiquei em plenário desde a abertura dos trabalhos até o início do grande expediente, onde um parlamentar pode se inscrever a cada 15 dias para tratar de um determinado assunto e usar da palavra, na tribuna, pelo prazo de 30 minutos, concedendo o direito aos seus colegas de aparteá-lo.

Durante o tempo em que permaneci em plenário, pude presenciar fatos que me fizeram ter vontade de voltar a ser deputado novamente, mas não na próxima legislatura, pois nem candidato serei. Quis ser deputado naquela hora, por ver coisas que com pequeninos consertos mecânicos fariam daquela manhã de trabalhos legislativos um verdadeiro concerto sinfônico.

Naquela manhã tive o prazer de cumprimentar outros dois ex-deputados que também estavam por lá. Luís Pedro, diretor adjunto de comunicação do Legislativo estadual e Zé Raimundo, cobrindo os trabalhos para seu programa de TV.

Ao me ver em plenário, como manda o protocolo e a boa educação, o presidente Humberto Coutinho, para registro nos anais da casa, destacou a minha presença.

Cumprimentei todos os parlamentares e conversei com alguns velhos amigos, para depois sentar-me ao lado do único parlamentar remanescente de meu primeiro mandato naquela magnífica legislatura de 1983 a 1987: Edivaldo Holanda Braga.

Aqueles quatro anos foram decisivos em minha formação como homem e como parlamentar.

Ainda frequentava a faculdade de Direito, vinha de uma rápida experiência como chefe de gabinete do governador Castelo, e aquele convívio com Bento Neves, Gervásio Santos, Celso Coutinho, Raimundo Leal e tantos outros, fez de mim parte do que sou hoje.

Não estarei errado em dizer que aquela foi uma de nossas melhores legislaturas, se não foi a melhor de todo o século XX.

O que eu vi na terça, 2, foi algo diferente do que aconteceu 32 anos atrás. Vi alguns bons jovens deputados, (não tão jovens como eu era naquela época, pois tinha 23 anos), mas não vi os mestres que poderiam fazer com que aqueles jovens saíssem desses quatro anos com um mestrado em política.

Se em 1983 tínhamos além de mim, outros jovens políticos iniciantes, como Chico Coelho, Luís Pedro, Alberico Filho, Haroldo Saboia, Ricardo Murad, Cesar Bandeira, que poderiam vir a ser políticos pelo menos razoáveis no futuro, tínhamos também grandes mestres para orientá-los. Mestres hoje não existem, em que pese tenhamos alguns bons parlamentares mais antigos, mas mestre é outra coisa.

Em matéria de política o mestre é escolhido pelo discípulo. É o neófito que escolhe qual dentre os mais evoluídos deve guiar seu passos. No meu caso escolhi dois mestres opositores, pois eu queria dominar proporcionalmente a arte do argumento e do contra-argumento, pois buscava aprender e controlar a arte do equilíbrio, da ponderação e da compreensão do momento político. Escolhi Bento Neves e Gervásio Santos para serem meus mestres. Penso que fiz uma ótima escolha.

Mas deixemos o passado um pouquinho de lado e vejamos o presente. Quando estive na ALM pude ver a boa performance de quatro jovens deputados. Três em seu segundo mandato e um no primeiro, mas tendo vivido toda sua vida envolto em política.

De um lado estavam Adriano Sarney e Edilázio Júnior e do outro Rogerio Cafeteira e Eduardo Braide. De pronto o que se vê é que pelo menos três deles são oriundos de famílias de políticos tradicionais e o quarto também o é, indiretamente.

Eu e “Dedé” (é como chamo Edivaldo Holanda) passamos boa parte do tempo analisando as performances desses e de outros parlamentares.

Observamos a grande dedicação de Eduardo, seu empenho pelo processo legislativo, sua obsessão pela legalidade, pelo regimento e pela Constituição. Um parlamentar indispensável em qualquer legislatura.

Do outro lado vimos um Adriano elegante, bem articulado, coerente, argumentando contra o governo e para isso usando o mesmo argumento usado por um de seus membros quando era oposição. Brilhante, mas menos eficiente do que poderia ser, tendo em vista que falta-lhe tempo, traquejo! Ele será um grande parlamentar.

Quanto a Rogerio, sou suspeito para analisar com total isenção a performance do líder do governo, pois confiei a ele boa parte de meus redutos eleitorais, mas posso dizer sem medo de errar que ele tem uma das mentes mais ágeis e um dos pensamentos mais práticos que eu conheço e é dono de uma grande inteligência. No entanto tem que aprender a se controlar mais, não ser tão explosivo, tem que, como Zeca Diabo, contar até 10.

O último dos quatro em tela é Edilázio, deputado que para mim foi a mais grata surpresa da legislatura passada. Confesso que não esperava tanto dele, pensei que seria um deputado episódico, mas demostrou que eu estava errado a seu respeito. Bem articulado, coerente, trabalhador, coloca-se de maneira clara no cenário, mas também precisa de lapidação.

A minha visita à ALM não foi para fazer análise sobre os trabalhos dos deputados, mas aconteceu!…

Vi coisas que com um pouco mais de tempo, de experiência e de traquejo não aconteceriam ou aconteceriam de maneira diferente, de forma mais eficiente, eficaz e efetiva.

Nosso Legislativo atual não é o mesmo dos tempos de Cabanos e Bem-te-vis, quando Sotero e Lisboa se digladiavam, ou do tempo em que Erasmo destilava sua virulenta verve em plenário, nem do tempo em que Santos e Neves debatiam. Nosso Legislativo hoje é desses jovens deputados que lutam para ser verdadeiros parlamentares. Vamos dar-lhes tempo para que possam mostrar a que vieram.

PS: No dia em que eu estive na ALM, não estavam lá três outros jovens, promissores e polêmicos deputados, Roberto Costa, Andreia Murad e Alexandre Almeida.

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