Inércia; Dinâmica; Ação e Reação.
O texto abaixo foi escrito em março de 2014. Na época, apesar de sabê-lo oportuno, resolvi guardá-lo. Relendo-o na semana passada, vi que o texto continua atual e resolvi publicá-lo. Espero que apreciem!
Alguém poderia imaginar que a física em nada influa na política. Pensando assim incorreria em grave erro. A física está intimamente ligada a tudo o que existe, até mesmo à política.
As primeiras noções desta ciência, como de certa forma quase tudo o que existe, nasceram na Grécia antiga, nos tempos dos grandes mestres da filosofia.
Nunca é demais falar sobre filosofia. Ela é o estudo das questões relacionadas à existência do universo, da natureza e do homem. A tradução literal do grego antigo da palavra filosofia é amor à sabedoria. Ela dedica-se ao conhecimento de forma geral, à verdade, aos valores morais e estéticos, à mente e à linguagem.
Existem algumas leis da física que pouca gente imagina que possam estar intimamente ligadas às práticas cotidianas da política, bem como em quase tudo na vida.
Dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço, assim como um político não pode ocupar o mesmo mandato de outro. Para que isso aconteça tem que haver um intervalo de pelo menos quatro anos. Aí entra outro fator importante nessa equação, o tempo.
Descobri cedo que tanto quanto Maquiavel, Newton é um dos grandes postuladores da ciência política. Senão vejamos! Newton observou três fatos que transformou em leis fundamentais da física. Estas passam despercebidas, mas são usadas comumente na política.
1) “Todo corpo continua em seu estado de repouso ou de movimento uniforme em uma linha reta, a menos que seja forçado a mudar aquele estado por forças aplicadas sobre ele”; 2) “A mudança de movimento é proporcional à força motora imprimida, e é produzida na direção de linha reta na qual aquela força é imprimida”; 3) “A toda ação há sempre uma reação oposta e de igual intensidade: ou as ações mútuas de dois corpos um sobre o outro são sempre iguais e dirigidas em sentidos opostos”.
Popularmente conhecidas como lei da inércia, lei fundamental da dinâmica e lei da ação e reação, poderiam muito bem se chamar lei do político inapetente, lei da força de oposição e lei das circunstâncias e consequências.
Um político não pode ficar estático, apático. Já dizia Neném Prancha, “quem pede recebe, quem se desloca tem preferência”. Um samba famoso diz que “Camarão que dorme a onda leva”. Essas são alusões à primeira lei de Newton: Político bom é político que está sempre se movimentando, aberto ao diálogo, vivendo e bem convivendo com o antagonismo e defendendo suas posições abertamente, sem subterfúgios.
Como resultado direto de sua primeira lei, Newton formula a segunda, ela depende de uma força opositiva específica que faça o corpo, no nosso caso, o político se movimentar. Ruim é quando se avisa e ninguém ouve. O dito popular estabelece que “quem avisa amigo é”, mas por essas bandas parece que o bom é ser surdo.
No caso da terceira lei, também diretamente ligada às duas anteriores, ela é muito mais clara e facilmente ilustrativa. Ditado popular aparentemente violento exemplifica bem este caso: “quem com ferro fere, com ferro será ferido”. Eu prefiro algo mais ameno, com mais urbanidade e civilidade. O próprio enunciado vulgar da lei: Para cada força X, existe uma Y de igual valor e direção contrária.
Falo em Newton e me lembro do desenho de um de meus livros onde havia um sujeito de peruca, sentado debaixo de uma árvore e uma pequena fruta, uma maçã, caindo-lhe sobre a cabeça. Ainda bem que na Inglaterra não há jaqueiras!
No entanto, há entre as leis da física uma que é a mais extraordinária de todas. Aquela que relativiza o tempo e o espaço.
Newton usou a seu favor os 2.000 anos que o separavam de Arquimedes, Pitágoras e Heráclito, mas foram necessários apenas 200 anos para que o genial Albert Einstein revisasse definitivamente, com a significativa ajuda do progresso adquirido nesse tempo, as lei de Newton, e provasse que o tempo é um fator extremamente preponderante, que jamais pode ser esquecido.
Os políticos deveriam saber essa lição. Na política o tempo deve ser usado não para a espera, mas para o movimento, para a construção.
Existem outras áreas do conhecimento das quais podemos tirar ensinamentos importantes, entre elas a antropologia, a sociologia, a psicologia, a dialética… Em todas elas se espelham a lide política, que por mais que se diga e queira que mude, continua sendo a mesma coisa, tal e qual as leis mecânicas do universo.
Quem quiser se enganar que se engane. Não há como fazer uma omelete sem quebrar os ovos.
Postulado político atemporal e definitivo: Há governo, está errando! Ou, em se falando de governos, acerto é exceção, não regra!