Os homens que escolhem os deuses

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Não pense que tratarei aqui da epidemia de fé religiosa que tomou conta do cenário político do Maranhão e do Brasil. É mais quem quer ser dono de Deus, patrocinado por esta ou por aquela igreja. Não é nada disso! Acho o cúmulo da apelação, inclusive já recusei vários convites para me filiar a partidos que em suas legendas fazem alusão direta a religiões, ou que são patrocinados por igrejas.

Devo dizer que o título acima é de autoria de meu querido e bom amigo, confrade da Academia Maranhense de Letras, Luiz Phelipe Andrés, que, com excessiva modéstia, proferiu essas palavras numa sessão da AML onde nós fazíamos a lista dos mais importantes luminares de nossa cultura e de nossa arte que irão compor o novo Panteão Maranhense, com bustos expostos em praça pública, em frente de nossa maior Biblioteca.

A frase de Phelipe deveu-se ao fato de que, em nossa conversa, estávamos discutindo quem eram realmente os expoentes máximos de nossa terra de tantas e tão grandes inteligências. Luiz Phelipe brincava dizendo que não ele não podia deixar de imaginar o cenário bem iluminado de nossa sala de reuniões, em torno de grande mesa, coberta por toalha bem alva, com o branco dos mantos gregos, o branco das nuvenzinhas onde cada um de nós estaria confortavelmente sentado e concentrado, na imensa responsabilidade daquela tarefa…

Sebastião Moreira Duarte, uma espécie de semideus, filho de um Deus errante com uma daquelas pobres e belas mortais da Paraíba, levanta a voz pra dizer da alegria e da honra que devemos ter, nós maranhenses, pois em seu rincão natal, um Panteão igual só teria três bustos. No Ceará, se muito seriam uns seis; em Pernambuco e Minas Gerais uns 12; Bahia, Rio de Janeiro e São Paulo talvez empatem conosco, todos os outros estão abaixo, enquanto nós, aqui no Maranhão, estávamos estabelecendo limites numéricos, pela grande quantidade de luminares que nossa terra produziu no passado e, mesmo em menor escala, ainda continua produzindo.

Eram doze, em alusão aos deuses do Olimpo. Número insuficiente para abrigar tanta gente boa. Subimos para dezesseis. Naquele dia descobrimos que ainda nos faltava percorrer boa parte do horizonte intelectual maranhense e que mais oito figuras deveriam fazer parte desse nosso exército de gênios da maranhensidade.

Estabelecemos que o número deveria ser par e que sua disposição física seria em uma alameda, um busto de frente para o outro, em ordem alfabética, obedecendo ao nome pelo qual ficou conhecido o homenageado.

Fui designado pelos meus pares para capitanear esse projeto que inclui interface com o Poder Executivo, municipal e estadual, com os poderes legislativos nas duas esferas, com instituições e empresas que possam ajudar de alguma forma e com a sociedade de um modo geral.

Existe uma lei municipal que estabelece que a municipalidade implante, mantenha e conserve o Panteão Maranhense, erigindo bustos a importantes personalidades de nossa cultura, indicados e escolhidos pela Academia Maranhense de Letras.

O Governo do Estado reformou a Biblioteca Benedito Leite, o Governo Municipal está concluindo a reforma da Praça Deodoro, que a abriga, inclusive o espaço em frente à biblioteca, onde deverá ser colocado nosso panteão, o mesmo lugar onde eu costumava brincar quando era criança.

Existe nisso tudo uma nota triste. Nenhum dos acadêmicos presentes nas reuniões que decidiram sobre este assunto foi favorável a que os bustos originais, de bronze, que se encontram nos jardins do Museu Histórico do Maranhão, fossem recolocados na praça, porque o nosso povo, ou melhor, os vândalos imbecis que se misturam à nossa boa gente não permitiriam que o Panteão Maranhense permanecesse em bom estado. Mesmo com a promessa de manutenção e conservação da municipalidade, achamos melhor não arriscar. Quem sabe um dia…

A solução que encontramos foi fazer réplicas em material resistente, porém não tão nobre e cobiçado como o bronze, para erigir os bustos dos pais do Maranhão.

Como estabelece a lei municipal já citada, a Academia resolveu que o Panteão Maranhense será recomposto com a seguinte composição: Almeida Oliveira, Aluísio Azevedo, Antônio Lopes, Artur Azevedo, Cândido Mendes, Catulo da Paixão Cearense, Celso Magalhães, César Marques, Coelho Neto, Gomes de Sousa, Gonçalves Dias, Graça Aranha, Henriques Leal, Humberto de Campos, João Lisboa, Joaquim Serra, José Cândido de Moraes, Nina Rodrigues, Odorico Mendes, Raimundo Correia, Raimundo Lopes, Sotero dos Reis, Sousândrade e Teixeira Mendes.

Muitos e importantes nomes ficaram de fora, mas os critérios escolhidos foram a importância incontestável e a relevância inquestionável até a metade do século XX.

Com toda certeza não agradaremos a todos. Alguém dirá que falta um ou outro nome, e até pode ser verdade, mas dos 24 incluídos não imaginamos nenhum que pudesse estar fora. No futuro faremos outras alamedas e disporemos nomes de outros importantes maranhenses, para que sejam lembrados e reverenciados por nossa brava gente, que merece e precisa conhecer sua historia.

1 comentário para "Os homens que escolhem os deuses"


  1. Roberto Salgado

    Bombou na net! …… …. solta peido em pleno debate na TV Difusora

    Resposta: Desculpa Roberto, mas não vou aceitar seu post com um um link de montagem

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