Melhores textos serão produzidos e publicados sobre o grande poeta José Chagas neste momento em que ele definitivamente assume a imortalidade, saindo da vida para ocupar seu merecido lugar na história da literatura maranhense, brasileira e mundial.
Este meu texto é apenas a consubstanciação de uma pequena homenagem ao amigo que fiz há trinta e seis anos atrás, nos corredores do Departamento de Assuntos Culturais da Universidade Federal do Maranhão.
Não vou tentar aqui analisar, nem mesmo comentar a obra de Chagas. Ela fala por si só. Ela grita. Vou apenas lembrar, para meu prazer e para seu conhecimento, cinco momentos que me ligam profundamente a esse “pai d’égua”.
Sou do tempo em que Chagas era vereador de São Luís e mesmo sendo muito jovem eu já via que ele era diferente dos demais.
Conhecer a obra de alguém antes de conhecer seu autor não é incomum. Conhecer o autor de Os Telhados,Lavoura Azul, Maré Memória e Canhões do Silêncio e depois descobrir que é o mesmo autor das Vitorinadas, se não é surpreendente é fascinante.
Depois de conhecer a obra conheci o autor quando fui participar de um concurso de roteiros para cinema. Não venci o certame. Tive que me contentar com uma menção honrosa. Prêmio mesmo eu ganhei ao ir buscar as cópias do roteiro, me deparar com Chagas que havia anexado uma folha ao volume comentando o texto. Dizia: “Gostei! Não sei por que, mas gostei.” Aquele foi o melhor elogio, o melhor prêmio que eu poderia ter ganhado, pois gostar-se de uma obra sem que se saiba o motivo, é a realização do objetivo primordial do autor.
Em meu próximo encontro com Chagas, ele nem estava presente. Foi em uma discussão com meu pai. Ele reclamava de mim, dizia que eu não queria saber de trabalhar nas empresas, que eu só queria saber de poesia, que eu não era nem poeta, pois nem beber eu bebia. Segundo meu pai, para que eu fosse um poeta de verdade eu teria que fazer como Chagas e Nauro, que além de grandes escritores, gostavam de uma “chupitilha”, eram grandes boêmios, varavam a noite bebendo pelos bares da cidade.
Os anos se passaram e eu reencontrei-me muitas vezes com Chagas. Uma dessas vezes foi no dia 27 de outubro de 2004, antevéspera de seu aniversário de oitenta anos, quando a Assembleia Legislativa outorgava-lhe o titulo de cidadão maranhense, comenda que já era sua por direito há muitos anos.
Naquela ocasião, quebrei o protocolo e aparteando o deputado Wilson Carvalho que saudava o nosso novo conterrâneo, falei da minha satisfação e da minha honra de participar daquele momento e disse que o Legislativo do Maranhão apenas formalizava o fato de Zé Chagas ser maranhense, até porque ele tinha mais tempo de Maranhão que eu mesmo, já havia feito mais por nossa terra que a maioria dos que aqui nasceram.
Uma quarta história que me liga a Chagas é o fato de ter ido à sua casa, fazer a visita formal, como manda o protocolo, para pedir-lhe voto para ocupar uma cadeira na Academia Maranhense de Letras. Quando cheguei, ele foi logo brincando. Disse-me que era bom que eu tivesse ido, demonstrava respeito e consideração, mas principalmente pelo fato disso significar que eu não entraria na vaga dele.
Rimos bastante, conversamos sobre o que representava o fato de fazer parte da AML e no final ele me disse: “não se preocupe meu besta, posso não votar em você pra deputado…”
Outra vez que me encontrei com Chagas foi quando eu, os cineastas Beto Matuck e Francisco Colombo, o poeta Celso Borges e o produtor Joan Carlos estávamos realizando uma serie de documentários sobre alguns membros da Academia Maranhense de Letras e é claro ele não poderia deixar de ser um dos documentados.
Primeiro tivemos que usar o poder de convencimento de Jomar e de Buzar para que ele, Chagas, aceitasse ser invadido em seu sossego por uma equipe de cinema, com uma imensa parafernália de equipamentos de luz, câmeras e cabos.
Tivemos que esperar que melhorasse seu estado de saúde que já estava bem fragilizado. No dia previsto, chegamos lá e ele estava irritado com alguma coisa. A dentadura o incomodava. Ele a tirou e colocou no bolso da camisa. Depois de tudo arrumado nos pusemos a registrar, para todo o sempre, o que representa para nós aquela figura e parte da obra daquele homem, que trazia na carne a terra maranhense e cujo sangue se misturava à água barrenta dos rios Anil e Bacanga.
Não conheço ninguém que desgostasse de Chagas. Dele ou de sua obra. Não gosto dessa conversa de unanimidade, mas se há uma unanimidade hoje em São Luis, é ele.