Comecemos pelo significado da palavra entourage. Ela é de origem francesa e significa grupo social, conjunto de indivíduos com quem convivemos habitualmente. Pessoas que vivem em volta de uma espécie de líder, de senhor, de governante.
Para efeito desse texto vou abrasileirar a expressão francesa. Usarei em seu lugar a palavra anturragem.
Os poderosos, de todos os tamanhos, de todas as procedências e em todos os tempos sempre cultivaram em torno de si um grupo de pessoas que algumas vezes se assemelham a uma flora, outras vezes a uma fauna, dependendo do tipo de poder que detenham ou da propensão de cada um para exercitar seu poder.
Todo poderoso deve antes de qualquer coisa ter consciência de que não pode viver sem pessoas em seu entorno e por isso mesmo deve se cercar dos melhores espécimes ao seu dispor. Aqui não me refiro apenas à competência laboral, falo de caráter, da formação cultural, moral e ética.
Um Barão medieval ou mesmo um príncipe da renascença tinham muitas pessoas a seus serviços. Tinham gente das mais diversas procedências e ocupações, até mesmo assassinos, mas estes, com raríssimas exceções, não faziam parte do séquito de seu senhor. Ficavam restritos aos seus covis.
Se observarmos melhor, todos nós temos uma anturragem, pois todos nós, uns mais outros menos, detemos alguma espécie de poder, o que cria em torno de nós um círculo de relações nas quais desenvolvemos nossas vidas.
Detalhados registros históricos nos dão conta que muitas vezes o senhor, o governante, passa facilmente do papel de manipulador de sua anturragem ao de manipulado por ela, por um grupo dentro dela ou por alguém dentre seus convivas.
Reis poderosos como Henrique VIII cometeram atrocidades motivadas por aqueles que o cercavam mais de perto. Henrique desterrou companheiros, mandou matar o seu melhor amigo e conselheiro, e inclusive, incensado por figuras de seu staff, mandou decapitar duas de suas mulheres.
Há um, porém! O poderoso ou o governante é no final das contas o único responsável por tudo aquilo que sua anturragem faz. Ele é o responsável direto pelas ações de quem o cerca, por todos os conselhos que ouve, principalmente pelos maus que aceita e até pelos bons que rejeita.
Vejamos o caso de Luís XVI e Maria Antonieta! A anturragem criou em volta deles um mundo restrito, embaçando sua visão de mundo. Não os deixavam ver além de seus umbrais. Minto. Na verdade eram o rei e a rainha da França que não queriam ver o que acontecia fora de seus portões. Por esse motivo acabaram sendo apartados de suas cabeças.
A anturragem diz muito sobre um líder. Uma análise das pessoas que gravitam em torno de alguém pode nos desenhar clara e facilmente um fiel retrato de seu vértice.
Quando era criança minha mãe sempre dizia: “Diz-me com quem andas que te direi quem és”. Ao que meu tio Stenio retrucava: “Toda regra tem exceção”.
Não serei aqui hipócrita ao ponto de desconhecer que precisamos ter em nossa anturragem algumas figuras das quais não temos lá muita satisfação em tê-los em nosso círculo de convivência. Não falo dos cães assassinos de César Bórgia, falo de uma cambada de bajuladores e capachos, falo da escória que todo líder parece precisar ter para que se sintam “amados”. Falo dos lacaios, alguns até de nível cultural elevado, às vezes bem mais elevado que do tal líder, mas que se diminuem por ter que lamber as botas de seu príncipe.
Não guardo maior rancor do rato que faz isso, fico mais indignado com o dono desses roedores. Poderia ter em torno de si animais menos pútridos.
Não há nenhuma espécie de poder, de qualquer tipo ou qualidade, que não atraia uma anturragem. Logo uma coisa que me parece fundamental, escolher cuidadosamente as pessoas que nos cercam.
Como já disse, todos nós precisamos de gente em nossa volta. Os mais poderosos, os líderes, precisam muito mais. Precisam de pessoas que exerçam as mais distintas funções. Qual governante vive sem um motorista, um secretário, um servente ou um garçom?
O que essa pessoa, detentora de uma relevância tem que saber é que não pode se deixar manipular por sua anturragem. O líder deve saber que os que estão bem próximos, à sua volta, desfrutam, pelo simples fato de estarem ali posicionados, de um poder incrível. A qualquer instante, através de um comentário “inocente”, um simples garçom pode passar uma informação inverídica ou propositalmente facciosa e transformar os aurículos do chefe em úteros envenenados. As consequência disso podem ser catastróficas.
Muita coisa errada nesse mundão de meu Deus já foi e continua sendo perpetrada dessa forma infame!
Sábias palavras!Espero que alguns desses “privilegiados” as tomem como lição de vida.