A recente crise entre Israel e a Palestina não é o motivo que me fez inicialmente escrever este texto. Ele já estava esboçado há algum tempo, mas confesso que o adaptei especialmente para esse momento em que o estado de guerra entre esses dois povos se acirra e demonstra para aqueles que não estão diretamente envolvidos o quão grave é aquela situação e o quanto para nós, é distante aquela realidade.
Gostaria de saber muito mais do que o pouco que sei sobre a religião muçulmana e sobre a história do Islã. Em que pese eu ler tudo o que posso sobre esse assunto, ver todos os filmes referentes ao povo árabe e aos não árabes que defendem a fé de Maomé, mesmo assim as informações que tenho são poucas para fazer um melhor juízo sobre essa religião e as pessoas que a professam. Se isso acontece comigo, alguém que se interessa, que quer saber sobre esse assunto, imagine o que ocorre com as pessoas que não se interessam e engolem sem contestação tudo o que ouvem ou lêem sobre isto!? Pior ainda, os que nem ouvem nem lêem nada e ficam apenas nas manchetes ou chamadas dos jornais!?
A mais jovem das três grandes religiões ocidentais, sendo a primeira o Judaísmo e a segunda o Cristianismo, o Islamismo ao mesmo tempo em que me fascina e me deixa curioso, me amedronta, pois é mais fácil não gostar-se daquilo que não se conhece, ou daquilo que se conhece de forma errada, desfocada, distorcida, preconceituosa.
Eu não quero ter medo do Islamismo, da mesma maneira que não tenho medo do Judaísmo. Eu quero conhecê-lo melhor, analisá-lo com a menor incidência possível de distorções antropológicas, sociológicas, culturais ou morais. Eu quero compreender seus ensinamentos e quero poder tirar minhas conclusões sem que eu seja contaminado pelos humores provenientes da ignorância e do medo.
Antes de falar do Islã, gostaria de lembrar que todos nós conhecemos o Judaísmo mesmo sem estudá-lo, pois a religião cristã, predominante em nosso país e nas Américas, saiu de dentro dele. Lembremo-nos que o Cristo Jesus era judeu. Penso inclusive que ele nunca pensou em deixar de sê-lo, que ele queria continuar judeu. Acredito que, mesmo não parecendo, Jesus defendia a fé de seus ancestrais. Ele só queria ter o direito de interpretá-la a sua maneira, queria renová-la, e foi o que fez.
Na verdade ele não renovou o judaísmo, nem mesmo foi ele que criou o cristianismo. Quem fez isso, foram seus seguidores. Eles romperam o vínculo com o Judaísmo criando uma outra religião, baseada integralmente na religião de Moisés. Os cristãos herdaram dos judeus até a lenda do messias, a mesma que quem se dispuser a procurar vai encontrar também no Islamismo.
A criação do Cristianismo como religião deve-se principalmente a três homens bem diferentes: Pedro, um pescador da Galileia, Saulo de Tarso, uma espécie de policial, que viria adotar o nome de Paulo e Constantino, imperador de Roma.
A criação do Islamismo deve-se exclusivamente a Maomé.
O Judaísmo tem menos, mas o Cristianismo, como sabemos, tem muitas subdivisões, muitas igrejas, muitas denominações. Mesmo que discordantes na forma, sobre alguns dogmas, quanto aos métodos e as práticas, de um modo geral os cristãos são ligadas às mesmas tradições.
Vejamos o caso do Reino Unido onde católicos e protestantes anglicanos têm se matado durante séculos. Em Israel, de forma muito menos violenta judeus moderados e ortodoxos se opõem fortemente quanto à forma de gerirem seu país.
Os muçulmanos não divergem dos demais quanto a isso. A cisão entre eles acontece logo depois da morte do profeta, conseqüência direta das disputas em torno de sua sucessão.
Eles se matam há mais de 1.300 anos. Tanto sunitas quanto xiitas, onde e quando podem, se opõem das mais variadas formas. Manifestam seu desacordo recorrendo a ações que vão da simples e salutar oposição pacífica até ao abominável genocídio.
Esqueçamos um pouco as comparações, esqueçamos os judeus e os cristãos e nos fixemos nos muçulmanos.
Você já parou para ver como o povo que professa essa fé é igual aos outros. Como eles sofrem das mesmas dores, como eles têm as mesmas necessidades, sendo que na maioria das vezes eles estão em situação muito pior que os cristãos e principalmente que os judeus!?
Pare e pense apenas nisso. Tente se colocar no lugar deles. Veja as coisas como eles vêem, sinta as angústias e os anseios como eles sentem.
Esse é apenas o primeiro degrau desse aprendizado que procurarei construir com você, sempre que puder, de agora em diante.
Nas quatro mil palavras que o editor desta página me franquia a cada domingo, é impossível resumir esse assunto, por isso sempre que puder vou voltar a ele no intuito de lembrar que os muçulmanos são iguais a nós, só falam outras línguas, moram em outros lugares, se vestem de formas diferentes da nossa, mas amam o mesmo Deus de nossas mães, só que de forma diferente, com tradições diferentes usando dogmas diferentes, coisas que não os fazem melhor ou pior do que nós.
Na verdade gostaria que todos pudessem saber mais sobre esse assunto. Que todos tivessem conhecimento, sem nenhum tipo de proselitismo, contrário ou favorável. Assim, quem sabe, o mundo pudesse ser um pouco melhor.
A guerra incessante que hora se intensifica, há muito tempo não é mais meramente religiosa. Os imbecis que a fazem escondem-se debaixo dos quipás dos rabinos judeus e por trás das Jalabas dos xeiques muçulmanos para pegarem em armas e matarem crianças inocentes. As crianças que conseguirem escapar, serão criadas num ambiente de intenso ódio, e por isso apenas com ódio, infelizmente, saberão retribuir.