Três assuntos

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O primeiro, rápido, a respeito do lançamento de meu livro “Contos, Crônicas, Poemas e Outras Palavras”, na última quinta-feira, dia 9, na Academia Maranhense de Letras, cuja solenidade foi bastante prestigiada por amigos de todas as áreas: Devo além de agradecer a presença, dizer que, não pela grande quantidade de exemplares autografados, 157, mas pela satisfação dos presentes, aquela noite foi um sucesso. Espero que todos tenham gostado tanto quanto eu.

O segundo, mais demorado, sobre literatura e outras artes: acredito que o frescor do trabalho de um escritor se deve ao fato dele saber manter, mesmo depois de muitos anos nessa lida, a capacidade de praticá-la com o mesmo prazer juvenil, com os mesmos ares do início, juntando a estes a maturidade do tempo, espelhando-se o mais possível no menino eterno que havia em Machado de Assis.

Para mim está claro, já faz algum tempo, que em termos de literatura, sou melhor contista do que cronista e melhor cronista do que poeta. Devo ressaltar que de tudo, o que mais gosto de fazer é cinema, pois nele junto em um único meio de expressão todas as artes que eu tanto aprecio, e onde posso exercitar mais livremente toda essa minha alma inquieta e multifacetada.

Se por um lado acredito que há uma porção considerável de autobiografia em quase tudo que produz um artista, principalmente um escritor, no que diz respeito a mim, esse fato também é marcado pela ocorrência de histórias curtas que, muitas vezes desenrolam-se na inquietante fronteira entre a crônica e o conto, frutos da simples observação dos acontecimentos, dos quais, mesmo que distante, sou personagem. Para mim e acredito que seria o mesmo para qualquer escritor, escrever desta maneira dá muita satisfação, o texto apropria-se de uma narrativa cinematográfica, tem um ritmo visual, híbrido de “causo” e reportagem.

Pensando bem, talvez eu me identifique realmente muito mais com o que há na fronteira entre a crônica e o conto. Lugar onde a crônica passa a ser uma história contada de forma resumida e o conto torne-se uma simples linha de tempo. A fusão da crônica e do conto é talvez o marco da minha literatura. A forma com que escrevo reduz o tamanho das histórias. Consigo concatenar uma ideia, uma narração de forma precisa. Se por um lado isso é bom, por outro nem tanto, pois tendo boas ideias para histórias, bons argumentos que poderiam virar novelas ou até mesmo romances, acabo transformo-os em simples contos.

Talvez minha paixão pelas histórias curtas e pelo cinema seja consequência de minha dislexia, dificuldade de leitura e aprendizado da qual sou vítima e que uso de forma a aprimorar minha maneira de escrever e produzir filmes. Convivo com esta característica peculiar há algum tempo, o que não me impediu de produzir minhas obras literárias e cinematográficas, graças à forma com que transformo a deficiência dessa disfunção em arma contra seus efeitos.

É que para escrever mais e melhor, desenvolvi uma “literatura auditiva” que vai além das palavras escritas. Para que consiga o resultado esperado, uso minha mulher como voz, como eco do que escrevo.

Tenho extrema dificuldade de leitura, o que com o tempo foi acarretando muitos aborrecimentos e preguiça. Então desenvolvi um método que me ajuda bastante. Sempre escrevia e lia em voz alta. O som do que escuto é que estabelece o conteúdo do que venho a escrever. Tenho feito isso desde sempre, mas de uns quatro anos para cá, escrevo e peço para Jacira ler pra mim. É a leitura dela que faz com que eu mude preposições, artigos, vírgulas, ou mesmo expressões inteiras. A minha literatura é muito audível, afinal o mundo nos vem em primeiro lugar pelo ouvido.

Recentemente tornei-me um usuário compulsivo de um tipo diferente de literatura, a auditiva: ouvir em áudio livros obras como “O Príncipe” de Maquiavel, “Utopia” de Thomas More, “Dom Casmurro” de Machado de Assis, “Contos Escolhidos” de Artur Azevedo, e “A Vida Como Ela É” de Nelson Rodrigues, entre outros, me traz uma dimensão que não consigo alcançar quando simplesmente leio esses mesmos livros.

O terceiro, curto, mas tão ou mais relevante: Apesar de hoje ser Dia dos Pais tenho que falar de um assunto delicado. Estive presente em algumas das partidas finais dos Jogos Escolares Maranhenses, categoria infantil, e pude, para minha tristeza, observar que alguns pais não estão preparados ou para serem pais ou pelo menos para torcerem por seus filhos.

Em mais de uma oportunidade vi homens e até mesmo mulheres perdendo a compostura e insultando os atletas e as equipes adversárias de seus rebentos, todos imensos, apesar da ainda pouca idade.

Na hora fiquei horrorizado, mas dei um desconto, pelo fato de estarem no calor da disputa. Depois, pensando melhor, cheguei à conclusão de que é exatamente por causa desse calor, que o exemplo que os pais devem dar aos filhos tem muito mais importância. Deveriam se comportar de maneira completamente diversa daquela. Mostrarem o “fair play” necessário para todo atleta e para todo ser humano, pressuposto básico para se encarar tanto o jogo quanto a vida.

O esporte deve, antes de qualquer coisa, ensinar os jovens que a competição traz em si, antes e de forma mais importante, o espírito nobre, a elegância e a honra. Depois é que vêm as qualidades atléticas, técnicas e táticas inerentes a cada modalidade.

 

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