Dentre todas as histórias bíblicas, as que eu mais gostava de ouvir, daquelas contadas por minha avó Maria Haickel, que em português era quase analfabeta, eram as que retratavam o rei Salomão.
Ela me punha sentado ao seu lado e lia a bíblia soletrando. Nos intervalos comentava algumas passagens. Quando ela me contou a história do filho cortado ao meio, resolvi que seria aquele o poder que eu queria para brincar. O super homem, meu super-herói favorito, havia sido definitivamente superado.
Deus teria perguntado a Salomão, o que ele preferia, riquezas infindáveis ou sabedoria. Ele então preferiu a segunda, pois com sabedoria conseguiria não só grande quantidade de riqueza, mas também todas as outras coisas que a riqueza seria incapaz de comprar. Só soube bem mais tarde, que Salomão teve seiscentas esposas e oitocentas concubinas. Era também um homem muito corajoso!
Quem me conhece sabe de minha fome de saber, de minha vontade por conhecer. Aliada a isso tenho uma incondicional admiração por figuras históricas. Esses fatos acabaram por levar minha busca pela sabedoria através do conhecimento da história dessas pessoas, fato que contribuiu muito para a minha formação, em todas as áreas da vida.
Os ídolos formadores de meu caráter vão de pessoas bem próximas, como minha mãe e meu pai até aquele herói quase anônimo que sacrificou sua vida para salvar um garoto que caiu no fosso das ariranhas no zoológico de Brasília. Seu nome: Sílvio Delmar Hollenbach.
Vai desde Buda, passando por Confúcio, Jesus, Maomé, até chegar à Madre Teresa de Calcutá. Admiro T. E. Lawrence, Gandhi e Mandela. Sun Tzu, Sócrates, Platão, Aristóteles, Hipácia de Alexandria, Maquiavel e Thomas More. Elisabeth I, Churchill, Da Vinci, Shakespeare, Cervantes, Vieira, Moliere, D. W. Griffith, Darwin, Einstein, Freud, Machado, Nelson Rodrigues e Stanley Kubrick dentre muitos outros.
Conhecendo a vida e a obra dessas pessoas, aprendi coisas que parecem ser pouco importante se analisadas separadamente, mas quando reunidas, a serviço de uma vivência, o que parece pouco se avoluma e consubstancia.
Algumas coisas parecem irrelevantes. Veja por exemplo o que diz Maquiavel quando qualifica as três espécies de inteligências que os príncipes possuem. Diz ele que há uma, excelente, que entende as coisas por si. A inteligência nata, pessoal, orgânica; outra, muito boa, que discerne as coisas através do que os outros entendem. Através de seus próximos, seus ministros. Adquirida pelo do aprendizado, a cultural ou social; e uma terceira, inútil, que não entende nem por si nem por intermédio dos outros. Uma inteligência arrogante, que pensa que tudo sabe ou aquela que é simplesmente incapaz de compreender as coisas mais simples.
Exclua o príncipe a quem Nicolau se refere e coloque em seu lugar uma pessoa qualquer, um de nós. Alguém que seja príncipe apenas de sua própria vida e comprovaremos que precisamos muito saber desse ensinamento, aparentemente tolo, mas indispensável para que tenhamos consciência de como podemos ser inteligentes ou não sê-lo. Ensinamento que se complementa ao que pregava um outro gênio, Sócrates, que dizia que devemos antes de tudo conhecer a nós mesmos.
Tenho um grande e bom amigo, ex-padre e professor de filosofia, que nas horas vagas, coisa que ele pouco tem, é também teólogo e cientista político amador. Certa vez ele me disse uma frase que jamais esqueci: “Existem algumas batalhas “religiosas”, que se as ganharmos, na melhor das hipóteses, ganhamos apenas o dízimo. Se as perdermos, é possível que se perca o próprio Deus”.
A propósito de lutas, de pelejas, sempre me lembro do que disse meu pai uma vez quando conversávamos sobre a semelhança que há entre a política e a guerra. Ele me fez entender que o bom general escolhe as batalhas que deve lutar, o campo onde dispor suas tropas, a ocasião em que atacar ou defender, quando deve avançar ou recuar. O bom general sabe quando deve ser duro e quando deve ser suave.
A esse ensinamento incorporei uma observação minha: o manejo da espada, arte que Salomão pouco dominava, pode ser comparado ao exercício da vida ou mesmo da convivência com uma mulher, áreas em que o sábio rei se sobressaía. Com ambas precisamos ser fortes, mas também suaves, pois desse equilíbrio resulta o sucesso da luta com uma e a felicidade com a outra.
Para consubstanciar efetivamente a sabedoria que ganho conhecendo a vida daqueles que uso como régua e compasso, recorro sempre a um artifício importante, pergunto: O que faria fulano nessa situação? O que cicrano faria se isso acontecesse com ele? Como resolveria Beltrano esse dilema?
Acredito que a simples conjectura dessas questões nos levará certamente a encontrarmos as respostas para as perguntas que nelas residem, pontos de luz em nossa jornada.