De uns tempos pra cá a atividade audiovisual em todo nosso estado, e não só em São Luís, tem se desenvolvido de maneira bastante satisfatória.
Para apoiar e avalisar essa afirmação preciso fazer um pequeno retrospecto da história recente do cinema maranhense.
Em minha opinião o cinema maranhense contemporâneo nasceu efetivamente 35 anos atrás com a criação pelo Departamento de Assuntos Culturais da Universidade Federal do Maranhão da Jornada Maranhense de Super-8.
Antes de 1978 já havia quem fizesse cinema por aqui. Podemos citar a TV Difusora e a TV Educativa como celeiros dos primeiros cineastas de nossa terra. Nelas trabalharam alguns dos homens que desenvolveriam o nosso audiovisual, como Lindenberg Leite, Murilo Campelo e Mauro Bezerra. Mais tarde, proveniente da TVE, surgiria Murilo Santos. Um pouco mais adiante seria a vez de Euclides Moreira, João Ubaldo de Moraes, Ivan Sarney, Newton Lílio, Nerine Lobão, Luis Carlos Cintra, Cláudio Farias, dentre outros.
O cinema como ocupação era difícil e caro. Poucos podiam se dedicar a ele. Com o avanço tecnológico e a popularização dessa tecnologia, o cinema foi ficando mais acessível.
Se a Jornada de Super-8 marca o nascimento do nosso movimento cinematográfico organizado, a sua mudança de nome para Festival Guarnicê de Cinema em 1990, marca a nossa primeira tentativa de emancipação, logo amansada pelos afazeres pessoais de cada um.
Em meados da década de 90, José Louzeiro tentou arregimentar forças para estabelecer aqui um polo organizado de realização cinematográfica. Não conseguiu, mas a ideia ficou.
O Maranhão sempre teve excelentes agências de publicidade. Elas, em todo lugar do mundo, são os berços da produção cinematografica. Vide Fernando Meireles e outros grandes cineastas que sairam da publicidade.
As universidades colocam anualmente no mercado profissionais dos setores de comunicação, propaganda e marketing, desejosos de trabalhar no setor audiovisual. Massa de modelar, combustivel para essa indústria.
A criação da seccional local da Associação Brasileira de Documentaristas – ABD também foi um bom avanço.
Mais recentemente tivemos a implantação do Museu da Memória Audiovisual do Maranhão da Fundação Nagib Haickel que vem ao encontro do anseio de muitos que acreditam que se deva ter um polo de apoio ao cinema, para auxiliar quem deseja produzir obras audiovisuais em que a nossa cultura e a nossa memória, de alguma forma, estejam retratadas.
Mais uma vez aconteceu uma outra grande onda de avanço tecnológico que possibilitou a maior democratização dos meios e um efetivo desenvolvimento de aptidões relativas ao setor audiovisual.
Aparecem entre outros, cineastas como Cícero Filho que realiza a partir de Poção de Pedras, o longametragem “Ai que vida!…”, onde apresenta histórias de pessoas comuns do interior do Maranhão, do interior do Brasil. Ele faz isso de maneira alegre e descontraída. A produção de seu filme conta com pouquíssimo recurso financeiro e com quase nenhum recurso técnico, mas o resultado é retumbante.
Apesar dos críticos cinematográficos o acharem “trash”, seu filme conquista grande audiência através de cópias de DVDs vendidos por camêlos em feiras e pela disponibilização dele na internet.
São do Maranhão duas das maiores e melhores distrbuidoras de filmes independentes de nosso país. Uma é a Petrini Filmes, que pertence a um italiano filho de maranhense que desde 2010 distribui daqui para o resto do Brasil, filmes de diversos países do mundo. A outra é a Lume Filmes de Frederico Machado, que apostou na distribuiçao de um gênero jamais tentado antes por nenhuma empresa do ramo, alcançando grande sucesso.
Apartir de 2011, a Lume passou a promover um festival internacional de cinema em nossa capital, atraindo para cá o olhar de boa parte do mercado cinematografico em seu nicho.
Enquanto uns exploram um tipo de cinema, outros buscam setores distintos dessa arte. Nesse contexto temos Arturo Sabóia, Francisco Colombo, Ione Coelho, Breno Ferreira, Beto Matuk, Cícero Silva, Júnior Balby, José Maria Eça de Queiroz, Luis Fernando Baima, João Paulo Furtado, Denis Carlos, Gleizer Azevedo, Márcio e Vinícius Vasconcelos…
Vêm de Imperatriz dois outros realizadores de longametragens. Gildásio Amorim com “Renúncia” e Nilson Takashi com “Marilha”.
Os dois, cada um a seu modo, realizam obras únicas. O primeiro com um tema evangélico e o segundo realizando um folhetim que muito pouco deixa a desejar se comparado a produções semelhantes realizadas no sul do país.
Takashi em homenagem a São Luís, batiza os personagens de seu filme com os nomes de bairros e praias de nossa cidade. São pessoas comuns com quem convivemos no dia a dia, que prenchem um enredo que prende a atenção e emociona o expectador.
Temos também a nosso favor a existência dos maravilhosos cenários arquitetônicos e ecológicos, o que nos previlegia imensamente quando da escolha de locações para grandes produções como foi o caso de Carlota Joaquina e Casa de Areia.
Que fique registrado nos anais da história jornalística de nosso estado que no dia de hoje, foi dito pela primeira vez que no Maranhão tem cinema, que pela primeira vez se afirma que já podemos dizer que temos em nossa terra uma embrionária, mas promissora indústria cinematográfica.
Parabéns aos pioneiros dessa nova industria.
PS: Os mais novos cineastas maranhenses são Marcos Pontes, Vander Ferraz e Laila Farias Haickel, que tem em fase de pré-produção um filme inspirado num conto do acadêmico José Ewerton Neto.
Secretário, parabéns pela matéria. Gostaria apenas de acrescentar mais um registro: recentemente a Petrini Filmes ganhou o direito de exibir o polêmico “A Serbian Film” em todo território nacional. A viyória veio por meio de uma Ação Civil Público manejada pela Procuradoria da República que por sua vez pretendia proibir a exibição da película “A Serbian Film”. Com o nosso patrocínio, ele conseguiu essa vitória histórica. Apesar de ter repulsa ao conteúdo do filme, entendi que não caberia a censura do filme, devendo, pois, prevalecer o direito de livre expressão da atividade artística, a liberdade de manifestação do pensamento e a liberdade de expressão. Hoje lemos milhões de matérias expostas em blogs espalhadas pelo mundo inteiro, onde cada escritor pode exprimir seus pensamentos, suas razões sem restrição. Isso é liberdade de expressão! Lutamos muito para conseguir isso. A censura é retrocesso. Parabéns ao Raffaele Petrini por essa ousadia e por ter conseguido o poder de exercer a livre exploração da atividade econômica. Forte Abraço.