Há muito não escrevo e por isso não tenho publicado nada neste espaço. Isso não significa que eu não tenha o que dizer ou o que comentar com vocês. Muito pelo contrário, a cada instante surge um assunto que gostaria de tratar, um tema que acredito ser importante que discutíssemos.
Muita gente, amigos próximos, outros nem tanto e até pessoas que eu nunca vi antes me abordam e perguntam por que não tenho mais publicado crônicas aqui, nem postado no meu blog.
Não é apenas por falta de tempo. Escrevi este texto às quatro horas da madrugada do dia15 de fevereiro de 2012. Deitei por volta da meia noite, adormeci assistindo pela trigésima vez, o filme “Palavra e Utopia”, acordei com uma imensa vontade de escrever e me danei a catar milho no teclado do PC.
O que ocorre é que os processos criativos de que me sirvo para escrever nem sempre são possíveis de serem utilizados e muitas vezes, ultimamente todas elas, esse esforço criativo tem se transformado em outra forma de energia motriz de minha existência: a sublimação.
Nesse meu período de afastamento já tive vontade de falar sobre o trabalho que desenvolvemos em 2011 na Secretaria de Esporte, onde com um orçamento de apenas seis milhões de reais realizamos ações e eventos de grandes e importantes proporções.
Pensei que pudéssemos comentar, mais uma vez, sobre a nossa Lei de Incentivo ao Esporte e à Cultura que em muito boa hora a governadora sancionou e que já começa a dar frutos.
Imaginei que seria muito bom falarmos sobre política, lato sensu. Falar dela como filosofia, como um caudaloso rio que serve ao mesmo tempo de caminho e de veículo de transformação, ou simplesmente falar do aspecto prático e eleitoral dela, no que diz respeito à eleição municipal que se aproxima.
Estava certo de que poderíamos falar, mais uma vez, aproveitando a comemoração dos 400 anos de nossa capital, sobre trabalharmos no sentido de mudarmos a forma de como nós, cidadãos, podemos agir para salvarmos o nosso patrimônio histórico arquitetônico, para oferecermos opções sadias de lazer e entretenimento aos nossos jovens, para juntar esforços e alinharmos ações que possam melhorar a nossas vidas.
Estava certo que falaríamos sobre os diversos trabalhos que eu e um grupo de amigos estamos começando a realizar na tentativa de preservar a memória de alguns de nossos importantes personagens do setor cultural e resgatar a memória de outros relevantes vultos de nossa história, além da realização de um documentário sobre o padre Antonio Vieira, um desenho animado sobre a fundação de São Luis e um longa-metragem onde seis diretores ludovicenses, contando histórias que se passam em nossa cidade, desenhem em linguagem cinematográfica uma homenagem, uma declaração de amor a ela.
Cogitei falar da crise que assola a Europa e comentar sobre como nós estamos, pelo menos aparentemente, passando ao largo dela. Imaginei falar sobre a eleição americana e a loucura que é a escolha partidária de um candidato a essa disputa.
Durante esse tempo em que estive ausente aconteceu um fato ou factoide que tive vontade de comentar. Um contrato que um órgão público teria celebrado com um prestador de serviço para aluguel de veículos num valor absurdo, algo que estava na cara que só poderia ser resultado de um erro, um engano, um equivoco e transformou-se em nossa imprensa em um fato retumbante. Gostaria de falar disso, dessa loucura em que tem se transformado a imprensa de nossa terra e de nosso país, onde os jornalistas e as empresas desse setor disputam, pelejam, brigam mais que os verdadeiros contendores.
Não lembro a última vez que em aqui publiquei uma crônica, mas Ademir Santos, jornalista responsável por essa página, liga semanalmente me cobrando e tenho respondido a ele tal qual Michelangelo fez com Julio II, “…Quando for o tempo…” Parece que o tempo é agora.
Uma coisa me fez despertar, levantar e escrever esse texto para publicar infelizmente num dia em que poucos deverão lê-lo, já que hoje é domingo de carnaval.
Essa coisa de que falo foi uma profunda angústia que tomou conta de mim, começando por secar minha garganta e alastrando-se por todo o meu corpo, imobilizando meus braços, enrijecendo minhas pernas, assim que soube da morte do sobrinho de minha querida amiga Heloisa, garoto de 13 anos de idade, neto de meu confrade Sálvio e filho de meu amigo Flávio. A partir desse momento o dia ficou turvo e o meu ânimo que normalmente é agitado, arrefeceu, fiquei abatido e à proporção que o dia avançava, ficava pior.
Fui ao velório do professor Pompílio Albuquerque, pai de Roberto e avô de Sérgio, e lá vi o retrato de uma existência realizada, um homem que ajudou a escrever uma página de nossa história e que, expirado seu tempo de serviço, reformou-se, definitivamente.
Mas a morte de um menino de 13 anos, isso eu não consigo assimilar.
Fiquei imaginando como podem algumas pessoas reclamar da vida, se maldizer, se lastimar… Fiquei tentando imaginar o tamanho, a intensidade, a contundência da dor daquela mãe, daquele pai, dos irmãos, dos avós, da tia… Senti-me pequenino, insignificante.
Ficou claro para mim que normalmente reclamamos da vida sem razão, ficou claro que há sempre alguém em pior situação que nós.
Não sou capaz de imaginar palavras que traduzam o que sente quem passa por uma coisa como essa. Só sei dizer que as dores que já senti e aquelas que tenho sentido, são infinitamente menores.
Sou um dos que não leu esse texto no jornal no domingo e acredito que o senhor devesse republicar, pois todos precisam ler.
É um texto simples, mas nos leva a passear pelos assuntos que poderiam ser comentados e desagua num que não poderia
deixar de ser aludido e o senhor o faz com extrema competencia e elegancia.
Mesmo estando tanto tempo sem publicar nada, como senhor mesmo disse, continua em forma, com um estilo que é só seu.
Parabéns!