São Luís

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Outro dia, conversando com alguns amigos, comentávamos sobre os locais e as coisas que mais gostamos, que mais nos aprazem em nossa cidade, essa jovem e encantadora mulher, que no ano que vem vai completar 400 anos.

A primeira vista é fácil dizer um ou outro lugar, citarmos uma ou outra atividade que mais nos cause alegria ou felicidade nesse cenário maravilhoso em que vivemos.

Eu imediatamente disse que o lugar que mais me agradava era o Centro Histórico, suas ladeiras e suas ruelas, as paredes azulejadas e seu calçamento de paralelepípedos… Depois fui vendo que, apesar do conjunto arquitetônico me emocionar, de ficar imaginando quantas moças bonitas ficaram nas sacadas, quantos casais de namorados se encontraram à porta dos casarões, quantos negócios foram feitos nas lojas, apesar disso fui lembrando de outros recantos e de outras histórias que me faziam a cada uma mudar de opinião sobre qual lugar eu mais gosto.

Cada um de nós ia dizendo as suas preferências: Havia quem preferisse as praias e delas nós estamos bem servidos, em que pese as condições não recomendáveis para banho em algumas delas. Precisamos resolver esse problema. Esse é um dos presentes que devemos dar a nossa mais constante namorada, a nossa cidade.

Naquela ocasião confessei que muitas vezes, há alguns anos atrás, quando precisava relaxar, eu pegava meu carro e ia passear de madrugada pelo centro, quando as ruas estavam vazias, quando as pessoas estavam dormindo. Muitas vezes eu consegui sentir o pulsar das ruas, como se o compasso de seu coração desse ao meu, o ritmo que ele precisava para relaxar. Alguns amigos reconheceram que também já haviam feito isso.

Alguém lembrou da casa dos pais de sua mãe, em plena Rua do Sol, uma daquelas moradas inteiras, onde havia um pátio interno cercado de alpendres que davam acesso a um quintal onde os meninos chutavam suas bolas de meia e as meninas desfilavam suas roupas novas. Lembrei da casa de minha avó Maria Haickel na Rua da Saúde, do sobrado de meu avô Joaquim Pinto, na Rua da Inveja… Lembrei dos maravilhosos nomes que nossas ruas tem, de seu traçado cartesiano, formado por paralelas e transversais. Lembrei das sombras frescas que os prédios criam ao esconder o sol, do cheiro da tarde na Praça Deodoro, da Mãe D’água da Pedro II, do frio na barriga ao passarmos pela Montanha Russa.

Lembrei dos cinemas de minha adolescência: O Éden, o Roxy, o Cine Passeio, o Monte Castelo, o Rialto, o Rex e até o Anil…  

Lembrei da fonte do Ribeirão, talvez o maior símbolo de mistério de nossa terra, mas lembrei também da deliciosa Fonte das Pedras, onde muitas vezes fui namorar, mesmo que fosse contra as regras do administrador…

Hoje vejo que a grande maioria dos lugares que nós comentamos naquele dia são de uma cidade do passado, de um lugar que já passou em nossa vida, individual ou coletiva. Mesmo quem disse que adora o Teatro Artur Azevedo ou o Museu Histórico, ou a Biblioteca Publica, ou a Escola de Música, ou o Sítio do Físico, ou o Tamancão, ou mesmo que disse que adora ir para seu sítio no Maracanã… Mesmo esses, se referem a uma cidade de outro tempo, uma cidade onde nós éramos outros, um cenário no qual nós pudéssemos congelar o tempo e passá-lo como se folheia as páginas de um álbum de fotografias.

Depois daquela conversa eu fiquei pensando… Não se pode pensar em uma cidade, qualquer que seja ela, sem levar em consideração as pessoas que nela vivem. A cidade, por mais concreta que seja, por mais monumentos que tenha, recebe uma carga definitiva, uma porção fundamental de energia provenientes das pessoas que dão a ela o sopro da vida.

Hoje analisando o que mais gosto em minha amada São Luis, fico dividido entre o nosso centro histórico, seus prédios e monumentos, suas frias pedras de cantaria, os arcos de seus portais, a velha madeira de suas portas, e a gente que vive nele; as mulheres de vida difícil, os pregoeiros escassos, os peixeiros do portinho, os octogenários que insistem em fazer companhia às suas velhas paredes, a seus vergados telhados, e os jovens descendentes deles…

No final ficamos imaginando qual o melhor presente poderíamos dar a cidade em seu aniversário de 400 anos e dentre tantos que ela tanto precisa me fica a vontade de juntar esforços para transformar o inútil Sítio Rangedor em um parque Zoo-Botânico que pudesse agregar a nossas vidas um pouco mais de lazer e conforto.

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A outra

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Que Diana Spencer foi um ícone da história inglesa e mundial isso ninguém duvida. A plebeia que virou princesa e poderia ter se tornado rainha, daquele que já foi o império mais poderoso do nosso planeta, apaixonou a todos que a conheceram, souberam a sua história, as circunstâncias de sua vida e as consequências de suas ações e de suas escolhas. Sua vida foi de comum ao conto de fadas e terminou em tragédia.

Mas eu não quero falar sobre a bela Lady Di. Gostaria na verdade de falar de uma outra mulher, uma outra figura que surge como surgem quase todos os personagens da história, inexoravelmente, por necessidade natural que toda história tem de tornar-se de alguma forma marcante, para que nós seus apreciadores possamos descobrir aspectos que possam ser comentados e discutidos.

Gostaria de falar sobre uma mulher que, ao contrário de Diana, que era doce, meiga, simpática, elegante, charmosa e linda, me parece que sempre foi feia, não se veste como as mulheres elegantes o fazem, não parece ser simpática, não demonstra nenhum charme, parece não ser meiga e muito menos doce. Falo de uma mulher que aparentemente se opõe em quase tudo a Diana. Falo de Camila Parker-Bowles, atual mulher do príncipe Charles.

Essa crônica poderia acabar bem aqui se a minha intenção fosse apenas comparar o que era público e conhecido sobre Diana e o que da mesma forma o é sobre Camila. Em uma competição comparativa, imagino que a princesa ganharia da megera em todos os quesitos, no entanto há um ponto no qual eu acredito que Diana perderia para Camila. Refiro-me ao item amor.

Na vida existem muitos mistérios inexplicáveis e aqueles que envolvem essa faceta humana, o amor, são os mais controversos de todos.

Como um homem, em sã consciência poderia preferir uma mulher como Camila, em detrimento de outra como Diana? Muito pouca gente consegue automaticamente imaginar como isso pode acontecer, é preciso primeiro que a ficha caia, que a maturidade se imponha e só depois de algum tempo é que vamos entender como funcionam verdadeiramente alguns dispositivos do comportamento humano.

De cara, apenas de olhar, à distancia, poucas pessoas podem imaginar as qualidades que possam existir escondidas por detrás da figura mal apessoada de Camila. Ninguém pensa que ela possa ser bem humorada, divertida, culta, inteligente, dedicada, carinhosa, compreensiva, solidária, até porque ela foi a mulher que de uma forma ou de outra destruiu o maior conto de fadas do século XX. Isso não é lá bem verdade. Existem pelo menos duas dúzias de contos de fadas como esse, e alguns muito mais bem sucedidos. Ocorre que esse foi retransmitido via satélite, em tempo real para o mundo todo, invadiu as nossas casas, as nossas vidas. Posicionamo-nos confortavelmente em frente da televisão e como se assistíssemos a uma partida de futebol ou ao capítulo final de uma novela, passamos a participar dessa história, que ao contrário dos folhetins televisivos, era muito real, além de ser da Realeza.

Mas o que eu queria mesmo no dia de hoje, era chamar a atenção para três fatos. O primeiro é que apesar de feia, e isso ela é mesmo, apesar de imaginarmos que ela seja uma megera, Camila Parker-Bowles, tudo leva a crer, realmente ama e é amada por Charles. Para mim isso é o bastante.

Há também o fato de nós termos nos transformado em espectadores privilegiados dessas histórias e quase sempre não procurarmos a verdade sobre elas, nos contentando com a versão mais publicável, mais popular.

Porém há outro aspecto importante que eu acredito que deva ser levado em consideração. Em minha modesta opinião não há personagem em qualquer que seja a história, real ou ficcional, que não apresente alguma faceta que o credencie a ser de algum modo envolvente. Todo personagem tem seu charme, seu valor, só precisamos observar e descobri-lo.

Fica aqui uma sugestão. Veja qual personagem, dentre os menos nobres, entre os mais desimportantes, entre os vilões mesmo, qual deles mais chama sua atenção, qual mais lhe agrada, em uma obra como, por exemplo, “Os Miseráveis” de Vitor Hugo. Talvez alguém chegue à mesma conclusão que eu. Quem sabe alguém concorde comigo e ache que depois de Jean Valjean e Javert, o mais fascinante personagem dessa obra clássica, é Éponine, a filha do miserável vigarista Thénardier. Eu a acho bem mais interessante que a própria Cossete, pois seu amor a Marius a torna capaz de atos de extrema nobreza, atos revestidos em um sentido de honra, existente apenas nos principais personagens das histórias. O amor a torna maior.

PS: Me espantei há duas semanas quando vi que a revista Veja publicou matéria com tema semelhante, falando sobre as mais conhecidas amantes da história, acontece que eu venho tecendo essa crônica já faz algum tempo, desde que sonhei que dirigia um filme sobre a vida de Camila Parker-Bolwes, filme este que era protagonizado pela maravilhosa Meg Smith, também velha, também feia, mas ma-ra-vi-lho-sa!

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