Posse no IHGM

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Auditório Fernando Falcão da Assembleia Legislativa do Maranhão
13 de setembro de 2011


DISCURSO DE RECEPÇÃO A
JOAQUIM ELIAS NAGIB PINTO HAICKEL
NA CADEIRA 47 DO
INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRAFICO DO MARANHÃO,
PATRONEADA POR JOAQUIM SERRA,
PROFERIDO POR LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ


Deram-me a missão de apresentar o Joaquim e dar-lhe as boas-vindas a este sodalício. Joaquim, apenas, como o conheci lá pelos idos de 1976, jogando basquete no Ginásio Costa Rodrigues; era setembro. Ao me apontarem os jogadores em treinamento, disseram: aquele é o Joaquim, filho do Nagib…

Recém chegado a este estado, não sabia quem era Nagib… Vim a saber depois. Joaquim aproximou-se, sorridente, e me cumprimentou, estendendo a mão. Esse nosso primeiro contato… Mesmo gesto que se repetiria ao longo desses anos todos, sempre educado, atencioso…

Nesses trinta e cinco anos, então, tenho acompanhado a carreira de Joaquim Elias Nagib Pinto Haickel, primogênito de Nagib Haickel e Clarice Pinto Haickel; hoje, pai de Laila Farias Haickel, marido de Jacira. Membro das academias imperatrizense e maranhense de letras, contista, poeta, cronistas e cineasta. Ex-atleta. Por mais de 30 anos, militou na política, como deputado estadual, deputado federal e constituinte, hoje Secretario de Estado de Esporte… Novamente o esporte surge em nossos encontros; neste momento em que esse velho amigo – pois Joaquim é assim, amigo de todos – ingressa nesta casa.

Ao ingressar na Academia Maranhense de Letras, disse ser duplo, Joaquim e Nagib, referencia ao seu pai, o Caboclo do Pindaré, o Deputado das Balinhas; refere-se, ainda, em seu discurso de posse na AML, que seu pai poderia afirmar, naquela ocasião que “esse menino chegou mais longe do que poderia imaginar. Para quem tinha extrema dificuldade em ler, para quem não sossegava um só instante, o lucro foi grande.”

Nascido em São Luís a 13 de dezembro de 1959, enquanto estudante do Pituchinha, e depois do Batista e do Dom Bosco viveu a efervescência dos anos 70 – a década em que houve o renascimento dos esportes no Maranhão através do empenho de Cláudio Vaz dos Santos, o Alemão, do Prof. Dimas, responsáveis pela criação dos Jogos da Juventude, depois Jogos Escolares Maranhenses (1972), do Prof. Laércio, do Prof. Lino, do Marcão, do Zartú. Como já dito, jogava basquete… Concluída a fase juvenil, ingressou na Universidade Federal do Maranhão, onde se bacharelou em Direito.

Ah os anos 70… Anos de rebeldia; culto à juventude. A televisão chegando a São Luis… As mudanças de hábitos com as novidades da telinha e a unificação do linguajar, todos falando – ou procurando imitar – o carioquês… E aquele jovem “boleiro”, seguindo a tradição da Atenas brasileira, dedica-se também às letras. Joaquim é um dos expoentes da nova geração de intelectuais que surgia naqueles idos. Dedica-se as lides das letras e da cultura, na época do Guarnicê. Desde então tem no cinema uma de suas paixões…

Seu primeiro livro, Confissões de uma caneta, é gestado ainda naqueles anos de 1975/76, embora lançado apenas em 1980; premiado no Concurso Cidade de São Luis… No ano seguinte, aparece O quinto cavaleiro, poemas; seguido do livro de contos Garrafas de ilusões, de 1982, premiado também, desta vez pelo Concurso SECMA/ SIOGE/ Civilização Brasileira.

Nesse mesmo ano de 1982, Joaquim junto com Celso Borges, e coadjuvados por Roberto Kenard, Ivan Sarney, Ronaldo Braga, e Nagibinho (seu irmão), produzia e apresentava o programa “Em tempo de Guarnicê”, levado ao ar pela Mirante FM; programa que falava de literatura, arte, cultura e tocava música maranhense; esses “novíssimos atenienses” se serviam do meio de comunicação de sua época, para discutir a cultura maranhense. Para quem conhece um pouco de nossa História, mais um movimento, qual Fênix, ressurge das cinzas… Já se passara um tempo da geração de 45…

Essa nova geração que surgia, credito eu herdeira da “Geração de 53”, daqueles jovens atletas, também herdeiros da geração dos “R”…

A Geração dos “R” era formada por Ronald Carvalho, Rinaldi Maia, Rubem Goulart, José Rosa, Djard Ramos Martins, Raul Guterres; dentre outros; a geração de 53 é a de Cláudio Alemão, dos irmãos Itapary, dos Fecury, Alim Maluf, José Reinaldo… Cláudio viria criar os Jogos da Juventude, e sacudir nossas escolas…

Para participar dos Jogos, necessário ser bom aluno… Joaquim está nesse meio… Pertence à geração seguinte a essa, que surge nesses anos 70/80… Aquele programa de rádio foi o embrião do que viria ser, logo em seguida, a mais importante revista cultural maranhense daquele tempo.

Seu segundo livro de poemas, Manuscritos, é de 1983, mesmo ano em que começou a editar a revista Guarnicê. No ano seguinte, Joaquim e seus comparsas lançam a Antologia poética Guarnicê; seguida da Antologia crítica Guarnicê (1985). É de 1986 o livro de contos Clara cor de rosa. Após uma breve interrupção, eis que surge Saltério de três cordas, com a parceria de Rossine Correa e Pedro Braga dos Santos (1989).

Mas é o próprio Joaquim que as tem como ‘obras menores’, considerando-as ensaios do que estava por vir: lança, pela Global, sua coletânea de contos A ponte, bem recebida pela crítica, merecendo elogios de Artur da Távora e Nelson Werneck Sodré, sendo que este reconhecendo Joaquim como um bom contador de histórias…

Essa sua característica, de um contador de histórias, Joaquim leva para outro meio: o cinema! Prova disso é sua produção The Best Friend, o Amigão, com o qual conquistou prêmios no Festival Guarnicê de Cinema e Vídeo, em 1984. Continuando nessa mídia, recebeu menção honrosa por um roteiro apresentado em concurso realizado pela UFMA; tratava-se de A Vingança, adaptação para o cinema de um conto inserido no livro Garrafa das ilusões.

Quando das comemorações dos 20 anos da revista Guarnicê (2003) foi publicado o Almanaque Guarnicê (Clara e Guarnicê), espécie de ensaio-entrevista-reportagem, em que é narrada a trajetória do semanário e de seus idealizadores. É desse ano, e pela Clara Editora, uma coletânea de seus artigos publicados no sitio Clara on-line.

O inquieto e indisciplinado Joaquim – no dizer de José Louzeiro – novamente recorre aos amigos para cometer, em Paço do Lumiar, o curta Padre Nosso, de 59 segundos, também baseado em poema de sua autoria. É ainda desse ano de 2008, também roteiro a partir de conto Pelo Ouvido, publicado em A Ponte; roteiro, produção e direção, o sonho de realizar um filme estava concretizado. E selecionado para participar de inúmeros festivais de cinema, no Brasil e exterior; para ser mais exato, a 128 eventos, ganhando nada menos que 18 até agora…

Mas seus projetos não param por aí. Como disse dele Louzeiro, é um inquieto. Mas indisciplinado? Creio que não, haja vista sua determinação em produzir sempre, levando seus sonhos para o concreto, como Dito & Feito, registro de suas crônicas aparecidas em o Estado do Maranhão; ou O Múltiplo dos Quatro, reunindo o melhor de sua produção. De seu “avatar” de político, pretende reunir os seus discursos em A palavra quando acesa, título em homenagem a José Chagas; para 2012… Vamos aguardar, pois certamente terão a chancela de nosso IHGM…

Joaquim – o indisciplinado e inquieto – além de atleta, foi ‘cartola’, exercendo a presidência da Federação Maranhense e a vice-presidência da Confederação Brasileira de Tênis – outra de suas paixões – e da Associação Desportiva Mirante; membro-fundador do Instituto de Cidadania Empresarial do Maranhão – ICE. Joaquim é ainda vice-presidente do Forum Nacional de Secretários de Esporte e Lazer.

E não podemos esquecer a Fundação Nagib Haickel; o Museu da Memória Audiovisual do Maranhão – MAVAM -, futuro pólo de cinema a ser implantada no Maranhão, realização de mais um sonho de juventude…

Mas onde está o político, o deputado atuante? Um pouco mais de paciência, para contar: inicia a trabalhar ainda em 1978, como assessor na Assembléia Legislativa, onde seu pai era deputado… Em 1979, está em Brasília, trabalhando ao lado de Nagib, seu pai, então deputado federal; de volta a São Luis, passa a atuar como oficial de gabinete do então Governador João Castelo…

Lembro, nos contatos que tivemos por essa época, que recebia a todos com cortesia e atenção, tratando as pessoas com simpatia e deferência.

Passa, então, “a aprendiz de feiticeiro”, indo trabalhar com o chefe da Casa Civil, José Burnet… Mas seu mestre, mesmo foi Nagib, com quem aprendeu a ser leal, honrado, coerente, simples, como um ‘caboclo’…

Elegeu-se deputado estadual em 1982; federal em 86, sendo um dos Constituintes… Passou a Secretário de Assuntos Políticos (Governo Lobão); Secretário de Educação (Governo Fiquene)…

De 94 a 98, afastando-se das lides políticas, dedicou-se as empresas da família, retornando em 1998 à Assembléia, lá permanecendo até a última legislatura. Não concorreu às ultimas eleições, fiel às determinações do grupo político a que pertence. Mas antes de sair, deixou importantes contribuições à ciência e à cultura maranhense, através de emendas parlamentares. Fomos, o IHGM, aquinhoados, dentre outras instituições…

Atualmente, está de volta às origens, vamos dizer assim – mesma quadra onde o conheci à 35 anos passados: é o nosso Secretário de Estado de Esporte…

Bem vindo, Joaquim!

 

DISCURSO DE POSSE

DE

JOAQUIM ELIAS NAIGB PINTO HAICKEL

NO

INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO


Senhora Presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão,

professora Telma Bonifácio dos Santos Reinaldo,

Ilustres Sócios,

Minhas senhoras e meus senhores…

Bem, gostaria que vocês soubessem que eu sempre quis, pelo menos uma vez na vida, subverter a ordem, e vou fazer isso agora, agradecendo em primeiro lugar aos de corpo e alma presentes.

Refiro-me a Excelentíssima Presidente, Telma Bonifácio e ao meu particular amigo Leopoldo Vaz, pelo convite que me fizeram para ingressar nesta entidade.

Sinto-me muito honrado pelo convite.

Igualmente agradeço aos demais diretores e associados deste Instituto, pela carinhosa acolhida.

Aqui irei conviver com queridos amigos como Elizabeth Rodrigues, Manoel dos Santos Neto, Nivaldo Macieira, João Francisco Batalha, Edomir Oliveira, José Marcio Leite entre tantos outros com quem a partir de agora poderei estreitar laços de sincera amizade.

Agradeço também a todos que me distinguem, nesta noite, com sua presença e sua paciência. O meu muito obrigado.

Minhas palavras agora são de respeito e reconhecimento, pois tenho a honra de suceder nesta Casa, a Kalil Mohana, ilustre professor, homem carismático e batalhador, que lutou pela vida até o seu último suspiro. Pessoa extremamente afetuosa, sempre com a preocupação de estimular a juventude, Kalil Mohana gostava de refletir sobre os mistérios e as peculiaridades da consciência humana.

Gostava de analisar os sentidos da vida usando para isso aquilo que ela tem de mais verdadeiro: os exemplos da história, da filosofia e da humanidade.

Esse valoroso maranhense que faleceu em São Luís no dia 24 de dezembro de 2010, era filho de Miguel e Anice Mohana, libaneses e cristãos maronitas que se mudaram para o Brasil, dentre outros motivos, em razão da perseguição dos turcos islamitas contra os de sua crença em um Líbano sitiado.

Resolveram se estabelecer consecutivamente nas cidades de Coroatá, Bacabal e Viana, sendo que nesta última foi o local onde Kalil nasceu no dia 10 de novembro de 1935.

Cursou o Primário e o Ginásio no Colégio Marista. Já o científico no Ateneu Teixeira Mendes e no São Luís. Fez os cursos de Geografia, História e Didática na Faculdade de Filosofia, semente da Universidade Federal do Maranhão.

Lecionou no Marista, na Escola Normal do Estado, em vários cursinhos Pré-Vestibular, na Federação das Escolas Superiores sendo dos fundadores da Universidade Estadual do Maranhão, onde foi catedrático durante vários anos.

Formou sucessivas gerações de maranhenses e conheceu o mundo inteiro por meio de suas viagens. Realizou aproximadamente 130: cerca de 35 com alunos do Colégio Marista e mais de 90 com formandos universitários, sem contar com as que sozinho.

Além de membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, ele ocupava a cadeira de nº 8 da Academia Vianense de Letras, patroneada por seu irmão, o médico, escritor e padre, João Mohana.

Autor de diversas obras, dentre elas o livro “Viajando e Educando: As grandes Viagens”, o meu antecessor nesta Cadeira era oriundo de família tradicional maranhense, composta por sete irmãos: João, Alberto, Laura, já falecidos, e Ibraim, Julieta e a professora Olga Mohana, ainda entre nós.

De todos, Kalil era o mais receptivo e inquieto. Bom amigo e aconselhador, passar-se à tarde pela Rua Afonso Pena e não encostar-se na Casa Mohana para bater um bom papo não tinha sentido, pois ele estava sempre lá pronto para recepcionar e trocar idéias com os inúmeros amigos que conquistou ao longo de vida.

Sobre Kalil e a família Mohana há um fato que devo citar: passei os primeiros anos de minha vida vivendo praticamente na casa de minha avó paterna, Maria Haickel, que ficava na Rua da Saúde, uma travessa da Afonso Pena. Quase todos os dias ela me levava para tomar benção para tia Anice, mãe de Kalil. É que para os libaneses, os amigos mais queridos são como parentes, como irmãos mesmo.

Na Casa Mohana eu era tratado como um principezinho, tanto pelo padre, que mais tarde seria decisivo em minha opção pela literatura, como pelo vibrante Kalil, mas principalmente por Julieta que era amiga de minha tia, Rose Mary.

Hoje, aqui, tenho a nítida sensação de suceder um parente, um tio, um primo bem mais velho.

Senhoras e Senhores,

Não posso deixar de fazer o registro de que, antes do professor Kalil, dois outros ilustres intelectuais – Domingos Chateaubriand e Domingos Vieira Filho – ocuparam esta Cadeira Nº 47, que é patroneada por Joaquim Serra, que também é o patrono da Cadeira Nº 21 da Academia Brasileira de Letras, por escolha de José do Patrocínio, e da de Nº 12 da Academia Maranhense de Letras.

Não há como negar o espírito universal das obras de meu xará, Joaquim Serra, o qual em suas crônicas maravilhosas no “Semanário Maranhense” e em outros jornais, sempre relacionava a economia com o progresso, e o trabalho com a técnica.

Sua peça “Quem tem boca vai a Roma” faz-nos pensar na velocidade com que as ondas eletromagnéticas levam o som e a imagem pelos meios modernos de comunicação, e também a facilidade com que aquele e outros maranhenses aprendem línguas estrangeiras.

Joaquim Serra era filho do dono do imenso sobrado que ficava no Largo de São João, que ficou conhecido como Palácio das Lágrimas, pois uma linda escrava que servia na casa, pareceu ao dono, ser a assassina, por envenenamento, de seus dois filhos menores, irmãos de nosso patrono. Como o caso não foi esclarecido, a escrava foi enforcada. Quando a verdade foi descoberta, o pai de Serra, Leonel, enlouqueceu.

Mas nosso mentor na Cadeira 47 não se tornou abolicionista apenas para fazer justiça póstuma à negra bela que seu pai mandou executar. Tudo leva a crer que meu homônimo desejava para o Maranhão a solução encontrada por São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul: a imigração estrangeira.

Joaquim Serra conhecia bem os progressos da Revolução Industrial assim como seus malefícios trabalhistas. Era humanista como Cândido Mendes, César Marques e Sousândrade. Pensava numa economia forte, grande produção, mas com produtividade: ou seja, o máximo de frutos, com o menor esforço possível. Aliás, essa é a filosofia da computação e da eletrônica modernas.

Ele escreveu também a peça “O salto de Leucade”. Leucade, como sabem, é uma ilha grega com um alto penedo, de onde eram atirados ao mar os condenados à morte. Assim, JS sonhou com a velocidade horizontal em “Quem tem boca vai a Roma”, e com a vertical em “O salto de Leucade”. Com certeza, o grande maranhense pensava na escrava inocente enforcada, ao escrever essa peça.

Joaquim Serra nasceu em São Luís, no ano de 1838, e faleceu no Rio de Janeiro em 1888, ano da abolição da escravatura e com quase dois anos a menos que a idade que tenho hoje.

Já Domingos Chateaubriand, no íntimo, talvez pensasse como La Fontaine; o poeta via na zoologia e na entomologia, parábolas da vida humana, em seus aspectos belos ou sombrios; Vieira Filho estudava o folclore como alguém que analisa a alma do povo

Falar de Serra e Chateaubriand faz lembrar de dois outros ilustres membros do IHGM: os professores Ronald de Carvalho e Mário Meireles.

Enquanto Ronald de Carvalho ensinou geografia, apontando para a história, Mário Meireles ensinava história, focando a base física das civilizações. A história e a geografia entrosam-se, abraçam-se, influenciam-se, revelam mutuamente seus segredos.

Lendo-se as crônicas de Joaquim Serra, seus poemas, ou suas peças de teatro, mesmo as humorísticas, temos diante de nós um espírito inteligente, culto, otimista, ao mesmo tempo profundamente brasileiro e internacional, cultuador dos direitos humanos e desejoso de ver a democracia reinar de direito e de fato sobre a imensa nação brasileira.

Há um forte laço que une Serra e Vieira. É notável o fato de que em pleno século XIX Joaquim Serra era um fervoroso amigo da raça negra, e de se admirar que Domingos Vieira Filho na década de 50 do século XX, escreveu algo tão notável e precoce para seu tempo, em relação ao prestígio dos irmãos de pele de João do Vale.

No livro “Folclore Sempre”, Vieira Filho, professor de geografia humana, comenta que em São Luís do Maranhão os brancos aceitam sem reserva a competição do negro e sua consequente ascensão social.

Em Serra encontra-se a mesma elegância física, mental e literária de Vieira.

Domingos tanto fez pela cultura do Maranhão, que sua atuação fez surgir a Secretaria de Estado da Cultura, sucessora ampliada dos órgãos culturais que dirigiu.

Em seus escritos ele cita autores de muitos países e dá sempre a etimologia dos fatos que estuda e não apenas dos nomes.

Dizem que o semblante reflete a pessoa. Os títulos dos livros são como os semblantes dos escritores, revelando sua alma.

É notável o fato de Serra ter titulado dois de seus livros assim: “Epicédio à morte de Odorico Mendes” e “A Capangada”. Capangada é um termo bastante popular, e epicédio é uma flor erudita do vocabulário, usada para designar uma ode fúnebre.

Em outros livros como “Um coração de mulher” e “Os melros brancos” vemos que o mesmo Joaquim Serra que foi um enamorado, um apaixonado, vergastava com classe os espertalhões e finórios como podemos observar no uso e no sentido do termo melro.

Pietro de Castellamare era um de seus pseudônimos, o que revelava seu espírito jocoso e internacional. Traduziu muitos poetas franceses e praticava verdadeira exegese, pois não se cingia à tradução literal; muitas vezes usava expressões um pouco diferentes do original, para ser mais fiel ao pensamento do autor. Algo como, traduzindo o português de Portugal para o brasileiro, a melhor versão de “Rapariga”, seria “moça donzela”.

Joaquim Serra nasceu quando espocou a Revolta da Balaiada, pouco antes de ser declarada a maioridade de Dom Pedro II.

Como se sabe, Serra traduzia fluentemente do francês, conhecia o alemão, sabia latim, usou um pseudônimo italiano, estava por dentro de toda a etimologia grega de nossa língua culta e bela.

Em São Luís era comum ouvirem-se pelas ruas e praças conversas em grego, latim, francês e alemão. Em sua fazenda de Itapecuru, Gomes de Sousa lia Goethe, no original. Sousândrade ensinava grego. Sotero era exímio em línguas.

Assim se explica porque Joaquim Serra possui um estilo tão atávico, um pensamento tão claro, uma pedagogia tão didática no escrever, conversar, planejar e agir.

Explica-se muito mais: porque aquela São Luis era chamada de Atenas Brasileira.

Meus caros amigos,

Estou muito feliz, honrado e emocionado. Vivo um momento importante em minha vida, um momento muito gratificante, pois a geografia sempre me fascinou e a história sempre foi o meu maior fator de aprendizado para a vida.

Acredito piamente que nós não somos apenas nós, mas sim, nós, as nossas circunstâncias e nossas conseqüências; nós e a época em que vivemos; nós e as viagens que fazemos, os mares que singramos, as histórias que lemos e aquelas que escrevemos.

Entusiasmo-me com a época em que vivo, a assumo em pleno e com ela me identifico. Mas devo dizer que adoraria ter, como tenho certeza que todos vocês também, uma máquina do tempo, que me permitisse passar a limpo, se não todos, mas muitos dos acontecimentos da história.

Sobre mim há pouco a dizer, mas que fique registrado para que no futuro quando alguém, quem sabe, for pesquisar quem teve a honra de representar Joaquim Serra e suceder Domingos Chateaubriand, Domingos Vieira Filho e Kalil Mohana na cadeira 47 deste Instituto, possa saber que Joaquim Elias Nagib Pinto Haickel era o primogênito de Nagib Haickel e Clarice Pinto Haickel, pai de Laila Farias Haickel e que quando aqui tomou posse, era o amantíssimo marido de Jacira, mais bela que a lua cheia, mais doce que o mel, mais forte que o jatobá.

Que se diga que esse dito Joaquim era membro das academias imperatrizense e maranhense de letras, que tentava com afinco e dedicação ser contista, poeta, cronista e cineasta.

Que se diga que esse maranhense, por mais de 30 anos, militou na política, ora como deputado estadual, ora como deputado federal e constituinte, ora como secretário de estado. Que sempre soube a hora certa de entrar e de sair de cena.

Que por fim se diga, principalmente quem for um dia suceder este JH, que eu fui acima de tudo um homem feliz, que tive a sorte de fazer o que gosto e de gostar do que faço. Um homem para quem as jornadas foram passeios e que as guerras nada mais que juvenis jogos de basquete.

Balzac dizia que “é um sinal de mediocridade ser-se incapaz do entusiasmo”. Eu não desejo ser medíocre e “como jamais se faz algo de grande sem entusiasmo”, no pensar de Ralph Emerson, eu vivo os momentos que me rodeiam, envolvo-me e faço parte deles sempre fugindo da solidão.

Nos idos do ano de 1682, Bartolomeu Bueno da Silva, hoje conhecido como o Bandeirante Anhanguera, afirmava como bandeira de sua vida: “Ou encontro o que procuro, ou morrerei na empreitada”.

Sou discípulo desse pensamento e herdeiro dessa vontade e é talvez por isso que tenha chegado até aqui e é também por isso que vou continuar com vocês até onde a nossa história nos levar.

Muito obrigado!

3 comentários para "Posse no IHGM"


  1. ARI

    DEU NO BLOG DO JORGER ARAGÃO

    Blog recebe nova denúncia contra prefeito de Altamira

    qua, 14/09/11

    por jorgearagao |

    categoria Maranhão

    | tags Altamira do Maranhão, Arnaldo Gomes

    O Blog recebeu no início desta semana, mais uma denúncia contra a gestão do prefeito de Altamira do Maranhão, Arnaldo Gomes (PT). Desta vez a denúncia é referente a construção de unidades habitacionais no município.

    Segundo a denúncia, a prefeitura de Altamira do Maranhão realizou no dia 21 de maio de 2009, uma licitação para contratação de empresa especializada em construção de unidades habitacionais. As unidades habitacionais seriam construídas no povoado Caldeirão.

    No dia 15 de julho de 2009, a prefeitura de Altamira do Maranhão assina o contrato com a empresa J.B. Consruções LTDA, conforme Diário Oficial da União do dia 07 de outubro de 2009.

    A referida empresa seria responsável pela construção de 33 casas no povoado Caldeirão, no valor de R$ 442.493,17 (quatrocentos e quarenta e dois mil, quatrocentos e noventa e três reais e dezessete centavos), no período de 15 dias.

    Entretanto, causa estranheza na população de Altamira, que passado dois anos da assinatura do contrato com a empresa, não foi construída nenhuma casa no povoado.

    O Blog publica fotos de algumas casas que existem no povoado Caldeirão e que tiveram a esperança de dias melhores, mas por enquanto esses dias ainda não chegaram.

    Ainda segundo a denúncia, além de não ter realizado a construção das casas em benefício da população, o prefeito Arnaldo Gomes perdeu as chances de incluir a cidade de Altamira no programa Minha Casa Minha Vida.

    O Blog tentou um contato com o prefeito Arnaldo Gomes para ouvir a sua versão sobre o caso, mas não obteve sucesso e a informação obtida foi que o gestor estava viajando.

    Essa não foi a primeira denúncia que o Blog recebeu contra a administração Arnaldo Gomes em Altamira do Maranhão (reveja).

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    Blog do Jorge Aragão
    Radialista e advogado formado pela Universidade Federal do Maranhão. [email protected]

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  2. leopoldovaz

    Joaquim

    Mais uma vez, parabéns e bem-vindo ao IHGM. Tenho certeza que, juntos, vamos fazer um trabalho de resgate da memoria e da historia de nosso esporte, tendo o respaldo do IHGM.
    Obrigado pela amizade, que deve se estreitar ainda mais, com a convivencia, pelo menos, reunindo-nos uma vez no mes, para discutir os rumos do esporte maranhense, nas AGO.
    E por (re)publiccar o discurso… já o havia postado em meu Blog… e deve sair na revista do IHGM…

    Leopoldo

  3. Marcelo Simões

    Caro Amigo,

    Parabéns professor.
    Nesse novo desafio lhe desejamos muito sucesso e prosperidade.

    Atenciosamente,

    Marcelo Simões

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